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Julien Baker
Julien Baker

Mais oito bandas indie pop a ter debaixo de olho em 2018

Longe dos holofotes e da atmosfera circense dos “concursos de talentos”, fervilham centenas de novas bandas verdadeiramente dotadas que lutam por um lugar ao sol. Talvez 2018 seja o ano do reconhecimento para um destes nomes

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Já partilhámos oito bandas indie pop a ter debaixo de olho em 2018. Mas há mais. Suficientes para uma nova lista.

Mais oito bandas indie pop a ter debaixo de olho em 2018

Men I Trust

“Adoramos sons suaves, melodias calmas e ritmos simples” – é assim que os Men I Trust se definem e não anda longe da verdade. Surgiram em 2014 em Montreal, Canadá, e consistem num núcleo formado por Dragos Chiriac (teclados, vídeos), Jessy Caron (baixo, guitarra) e Emmanuelle Proulx (voz, guitarra), que é praticamente auto-suficiente, assegurando gravação, mistura e produção da música e dos videoclips. Após o álbum homónimo de estreia, lançaram em 2015 o seu segundo álbum 2015, Headroom, preenchido com uma pop-soul minimal, ultra-cool, aveludada e serena.

[“I Hope To Be Around”]

Frankie Cosmos

A nova-iorquina Greta Kline (n.1994) é filha de actores famosos, o que dá sempre um empurrão a uma carreira no showbiz, mas escolheu um nome artístico que não deixa adivinhar que o pai é Kevin Kline e a mãe é Phoebe Cates (antes de ser Frankie Cosmos, Greta Kline usou também o pseudónimo de Ingrid Superstar). Após as primeiras demos e espectáculos a solo – iniciados com a tenra idade de 15 anos – passou a ser acompanhada por uma banda – Lauren Martyn (teclados), David Maine (baixo) e Luke Pyenson (bateria) – e gravou os álbuns Zentropy (2014) e Next Thing (2016), preenchidos por canções muito curtas (o primeiro disco avia 10 canções em 20 minutos) e falsamente ingénuas e amáveis, já que há subtileza, malícia e, às vezes, sarcasmo, sob a fachada sonora evocativa da pop dos “girls bands” da década de 60.

Veja-se, por exemplo, o olhar que “Art School” lança sobre a vida dos adolescentes: “A escola de artes deixa-te fora de controlo/ A escola real faz-te querer andar pedrada/ A escola secundária leva-te à loucura/ A escola secundária fez-me chorar// Para começar, sou tímida/ É este o diagnóstico/ Não consigo concentrar-me/ E não consigo acompanhar o ritmo, porque estou sempre a fugir para longe// Todos os teus amigos são bêbedos e descontrolados/ Todos os meus amigos são deprimidos/ O meu pai é bombeiro/ E a tua mãe, actriz”. O videoclip respectivo carrega na ironia, com Kline a surgir como uma rapariguinha que sonha com Justin Bieber.

[“Art School”, do álbum Zentropy]

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Snail Mail

Os Snail Mail nasceram no quarto de Lindsey Jordan, em Baltimore, Maryland, como projecto unipessoal de pop lo-fi, e converteram-se num trio com a entrada de Ryan Vieira (baixo) e Shawn Durham (bateria). Os Snail Mail fizeram a primeira parte de um concerto dos Priests, que ficaram tão bem impressionados que logo os convidaram a lançar um disco na sua editora, Sister Polygon. Jordan ainda não tinha completado 17 anos quando entrou em estúdio para gravar o EP Habit, que surgiu em 2016 e recolheu críticas favoráveis e despertou a atenção de uma das principais editoras indie dos EUA, a Matador Records, que entretanto já ofereceu um contrato aos Snail Mail.

Os Snail Mail têm sido comparados com os Big Thief e os Hop Along, mas em “Static Buzz” fazem lembrar os Red House Painters numa versão mais expansiva e emocional. Quando alguém revela esta intensidade e este domínio do songwriting em adolescente, que poderá esperar-se quando atingir a maturidade?

[“Static Buzz”, do EP Habit, numa versão ao vivo em estúdio nas sessões Audiotree Live, 2017, com Alex Bass (baixo) e Ray Brown (bateria)]

The Marías

Apesar do plural, só há aqui uma María, que nasceu em Porto Rico e cresceu em Atlanta, nos EUA. Esta Maria porto-riquenha, em vez de ir para Nova Iorque e ver-se enredada nas lutas de gangs entre Jets e Sharks, como a Maria de West Side Story, foi para Los Angeles, onde se cruzou com o produtor (e baterista) angelino Josh Conway. O duo – reforçado por Jesse Perlman (guitarra), Edward James (teclados) e Carter Lee (baixo) – formou The Marías, banda que se auto-rotula-se como “psychedelic soul” e pratica uma pop onírica, tingida de soul e jazz. Estreou-se em disco com o EP Superclean vol. 1 (2017).

[“Only in My Dreams”, do EP Superclean vol. 1]

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Hovvdy

Os Hovvdy, de Austin, Texas, são, essencialmente, o duo Charlie Martin (voz, teclados, guitarra) e Will Taylor (voz, guitarra), a que se juntam um baixista e um baterista para os concertos. Estrearam-se em disco em 2017 com Taster, e o seu sucessor, Cranberry, está prometido para Fevereiro de 2018. Têm sido comparados com os Bedhead e os Duster e rotulados de “minimais”, mas as suas canções tendencialmente lentas e aparentemente simples, revelam, sob a superfície, complexidade e riqueza de matizes.

[“Better” e “Problem”, as duas primeiras canções do álbum Taster, numa versão ao vivo em estúdio nas sessões Audiotree Live, 2017]

Marmozets

Os Marmozets são de Bingley, no Yorkshire, e partilham com os The National a peculiaridade de serem uma “banda de duas famílias”: de um lado temos os irmãos Macintyre – Rebecca (voz), Sam (guitarra) e Josh (bateria) – e do outro os irmãos Bottomley – Jack (guitarra) e Will (baixo). Embora se tenham juntado em 2007, quando ainda andavam na escola secundária, e gravado um EP, Out of My Control, logo em 2009, a sua ascensão para a notoriedade tem sido lenta. Após mais alguns EPs, lançaram o primeiro álbum, The Weird and Wonderful Marmozets, em 2014; o segundo álbum, Knowing What You Know Now, está programado para o fim de Janeiro de 2018. A sua música, movida por riffs venenosos e uma secção rítmica irrequieta, é tensa e adstringente e a voz elástica de Rebecca Bottomley é capaz de passar da abrasão à doçura em segundos.

[“Habits”, do álbum Knowing What You Know Now]

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Madeline Kenney

“É tão bom regressar de viagem/ E encontrar-te à minha espera/ No meu apartamento ouço todos os meus vizinhos/ Estão a foder ou a ver televisão” – são estas as primeiras linhas de “Waitless” e percebe-se de imediato que Madeline Kenney não é uma baladeira amável e que sob o aveludado da sua voz e a atmosfera letárgica da música se encontra um espírito vivo e analítico. Que, aliás, se ramifica por outras áreas de interesse: a sua formação é na área das neurociências (uma qualificação de grande utilidade para a escrita de canções), durante nove anos trabalhou na área da padaria (ramo de saber sem aplicações directas na música) e fez um estágio num estúdio de gravação em São Francisco, onde aprendeu o suficiente para poder gravar na sua casa, em Oakland, Califórnia, o álbum de estreia Night Night at the First Landing (2017), com colaboração pontual de alguns amigos.

[“Waitless”, do álbum Night Night at the First Landing, numa versão ao vivo em estúdio, com Scott Brown (baixo) e Camille Lewis (bateria), nas sessões Audiotree Live, 2017]

Julien Baker

O talento de Julien Baker irradia com tamanha intensidade que custa a crer que ainda não tenha obtido o reconhecimento que merece. As suas canções despojadas, assentes quase exclusivamente numa malha repetitiva de guitarra, deixam todo o palco a uma voz de extraordinária expressividade, que nos confessa mágoas indizíveis: “Quem me dera escrever canções sobre outro tema que não a morte”, canta ela no tema que dá título ao seu primeiro álbum, Sprained Ankle (2015), que começou por ser um EP que gravou de forma caseira aos 19 anos e auto-editou no Bandcamp e foi depois remasterizado e reeditado pela 6131 Records. Sprained Ankle mereceu elogios de The New Yorker, mas nem isso, nem ter feito primeiras partes de concertos de Death Cab For Cutie, Conor Oberst, The Decemberists e Belle & Sebastian parece ter despertado o mundo para o seu génio. No final de 2017 foi lançado o segundo álbum, Turn Out the Lights, já numa editora de maior visibilidade, a Matador. Será desta vez que reparam nela?

[“Sprained Ankle”, do álbum Sprained Ankle]

Pérolas secretas da pop

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"Não há poeta, por medíocre que seja, que não tenha escrito o melhor verso da literatura, mas também os mais infelizes. A beleza não é privilégio de uns quantos nomes ilustres”. Seguem-se dez comprovativos, não de como mesmo poetas medíocres são capazes de magníficos versos, mas de que existem criadores talentosos a viver longe dos holofotes.

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Depois dos volumes 1 e 2, eis a terceira parte da colectânea Pérolas Secretas da Pop. Para amantes ou cépticos do estilo musical. 

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