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Anton Bruckner
©Hermann von Kaulbach

Nove obras de Bruckner que precisa de ouvir

O CCB apresenta as duas obras mais famosas de Bruckner. Sugerimos outras obras representativas do seu génio

Escrito por
José Carlos Fernandes
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O austríaco Anton Bruckner (1824-1896) deixou-nos oito magníficas sinfonias completas, uma sinfonia incompleta (a n.º 9) e duas sinfonias rejeitadas (mas ainda assim muito estimáveis). Menos conhecida é a sua produção de música sacra, relativamente abundante para os padrões da época. Esta inclinação nada tem de inesperado num homem profundamente religioso, que na adolescência foi menino de coro no mosteiro de Sankt Florian, ao qual regressou em 1845, com 21 anos, como professor de órgão, assumindo a posição oficial de organista em 1851. Desempenhou este cargo até 1855, ano em que se tornou organista na catedral de Linz, ao mesmo tempo que retomou os estudos musicais, por entender que tinha lacunas na sua formação.

1868 foi um ano decisivo na vida de Bruckner: aos 44 anos, quando muitos compositores já têm vasta obra, estreou a sua Sinfonia n.º 1 e deixou Linz definitivamente para assumir o cargo de professor no Conservatório de Viena.

Foi em Viena que compôs quase todas as suas sinfonias ditas oficiais, num processo lento e laborioso, já que, por ser pouco seguro de si mesmo, as submeteu a sucessivas revisões. A passagem dos anos, em vez de lhe trazer auto-confiança, aumentou a sua disponibilidade para aceitar opiniões de colegas e alunos menos abalizados do que ele, pelo que as sucessivas versões tendem a ser inferiores às originais. No século XX, vários musicólogos tentaram reconfigurar as partituras de acordo com as intenções iniciais de Bruckner, o que leva a que coexistam hoje várias versões da mesma sinfonia, sendo as edições de Robert Haas e Leopold Nowak as mais utilizadas.

Bruckner no CCB

Centro Cultural de Belém. Domingo, 9 de Fevereiro, 17.00. 5-23€.

Nove obras de Bruckner que precisa de ouvir

1. Ave Maria a sete vozes (WAB.6)

Composição: 1861
Estreia: 1861

Foi para a catedral de Linz. que Bruckner compôs uma primeira Ave Maria a quatro vozes (WAB.5), em 1856, que funcionou como “ensaio” para esta Ave Maria a sete vozes, de 1861, que figura entre os seus motetos mais conseguidos e famosos. 21 anos depois comporia uma terceira Ave Maria (WAB.7) para contralto e piano.

[Pelo Monteverdi Choir, sob a direcção de John Eliot Gardiner (Deutsche Grammophon)]

2. Bruckner: Missa n.º 3 (WAB.28)

Composição: 1867
Estreia: 1872

Bruckner compôs sete missas, mas a numeração oficial apenas considera as três “obras de maturidade” e descarta três missas breves de juventude, compostas em 1842-44, um Requiem (Missa de defuntos) de 1849 e a Missa Solemnis de 1854. A apresentação em Viena, em 1867, da sua Missa n.º 1 (que tinha estreado na catedral de Linz em 1864), foi bem recebida e levou à encomenda de uma missa para a Augustinerkirche, a capela imperial de Viena. Porém, os ensaios desta missa – a n.º 3 – revelaram-se problemáticos (o maestro designado até declarou que a obra era demasiado longa e impossível de ser cantada), de forma que a obra só estreou cinco anos depois, sob a direcção do próprio compositor.

[“Resurrexit”, pelo Rundfunkchor Berlin e Filarmónica de Berlim, com direcção de Herbert Blomstedt, ao vivo da Berlin Philharmonie, 2011]

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3. Sinfonia n.º 3

Composição: 1872-73
Estreia: 1877

Quem aprecie a estética wagneriana mas engalinhe com valquírias ululantes e deuses nórdicos em crise de meia-idade entregues a monólogos de 20 minutos, lamentará que Wagner tenha devotado a vida à ópera e pouco ou nada tenha deixado de música instrumental. Há quem recomende, como sucedâneo para as sinfonias-nunca-compostas de Wagner, as sinfonias de Bruckner, mas, embora este venerasse Wagner, a verdade é que construiu um universo sonoro muito próprio. O mais próximo que esteve de Wagner foi na Sinfonia n.º 3, dedicada ao autor de Tristão, que inclui, sobretudo na primeira versão, citações de óperas de Wagner, como A Valquíria e Tristão e Isolda.

Porém a primeira versão, de 1873, que Bruckner submeteu à aprovação de Wagner, acabaria por sofrer revisões em 1874 e em 1877, antes da estreia. Esta acabou com a sala vazia (até entre os músicos da orquestra houve deserções) e, embora tal tivesse resultado sobretudo da sofrível direcção de Bruckner, este entendeu que a obra necessitava de profunda revisão – a versão de 1878 acabou por suprimir a maioria das citações wagnerianas e em 1888-89, envelhecido e mal aconselhado, procedeu a novos cortes.

Infelizmente, durante muitos anos foram as versões de 1889 e 1878 a ser tocadas e gravadas.

[II andamento (Adagio), pela Filarmónica de Munique, com direcção de Sergiu Celibidache (EMI/Warner)]

4. Sinfonia n.º 4 Romântica

Composição: 1874
Estreia: 1881

A Sinfonia n.º 4 é uma obra sólida e imponente, construída com grandes blocos sonoros e que se ergue resolutamente para os céus como uma catedral. Bruckner não baptizou a n.º 4 como “Romântica” por estar apaixonado ou como alusão ao Romantismo como movimento estético. O título remete para os romances medievais, que também inspiraram o seu amado Wagner a compor Tannhäuser, Tristão e Isolda ou O Anel do Nibelungo, e Bruckner chegou mesmo a redigir um programa, cuja ingenuidade não combina com a majestade e elevação dos sons: “Cidade medieval – alvorada – clarins soam nas torres – os portões abrem-se – em garbosas montadas, os cavaleiros saem da cidade...”.

Embora Bruckner já tivesse 57 anos à data da estreia e esta tivesse sido um sucesso de público e crítica (o seu primeiro sucesso), o compositor deixou-se levar pelos maus conselhos e a n.º 4 acabou por ser vítima de mais emendas, cortes e acrescentos do que qualquer outra das suas sinfonias, causando estragos que só seriam parcialmente sanados com a redescoberta e publicação, em 1975, da sua versão original.

[III andamento (Scherzo), pela Sinfónica de Chicago, com direcção de Daniel Barenboim (Deutsche Grammophon)]

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5. Os Justi (WAB.30)

Composição: 1879
Estreia: 1879

Embora em 1868 se tivesse estabelecido definitivamente em Viena, Bruckner não quebrou os vínculos com Sankt Florian e foi para este mosteiro que compôs em 1879 o moteto a oito vozes Os Justi: “A boca dos justos exprime sabedoria e a sua língua fala com justiça. A lei de Deus está no seu coração e os seus pés não vacilam”.

[Pelo Monteverdi Choir, sob a direcção de John Eliot Gardiner (Deutsche Grammophon)]

6. Sinfonia n.º 7

Composição: 1881-1883
Estreia: 1884

A sinfonia foi dedicada ao rei Luís II da Baviera, mas quem Bruckner nela pretende homenagear foi o compositor para quem Luís II foi um pródigo mecenas: Wagner. Em 1882, a meio da composição da sinfonia, Bruckner viajou até Bayreuth para assistir à estreia da derradeira ópera de Wagner, Parsifal, e teve o privilégio de se encontrar com o compositor que mais admirava. A premonição que Bruckner teve de que Wagner não viveria muito mais tempo – com efeito, faleceu no ano seguinte – inspirou o II andamento, a que juntou a indicação “com uma muito lenta solenidade”.

[III andamento (Scherzo vivace), pela Orquestra da Rádio do Norte da Alemanha (NDR), com direcção de Günter Wand, ao vivo no Festival do Schleswig Holstein, Lübeck, Alemanha, 1999]

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7. Te Deum

Composição: 1881-83
Estreia: 1886

Bruckner sentiu-se tão grato por, com a estreia da Sinfonia n.º 4, finalmente ter obtido reconhecimento que, poucas semanas depois, se lançou na composição de um Te Deum, em jeito de acção de graças. O Te Deum, foi composto em paralelo com a Sinfonia n.º 7 e foi dedicado “à maior glória de Deus”. Foi executado uma trintena de vezes durante a sua vida, uma exposição que qualquer das suas outras obras esteve longe de atingir.

Numa excepção ao excessivo rigor com que avaliava a qualidade das suas obras, Bruckner classificava o Te Deum como “o orgulho da sua vida” e terá dito que se um dia o Criador lhe perguntasse o que fizera ele com o talento que lhe concedera, lhe mostraria o Te Deum.

[Excerto, por Maria Stader (soprano), Sieglinde Wagner (alto), Ernst Haefliger (tenor), Peter Lagger (baixo), Coro da Ópera Alemã e Filarmónica de Berlim, com direcção de Eugen Jochum (Deutsche Grammophon)]

8. Sinfonia n.º 8

Composição: 1884-87
Estreia: 1892

Quando, a 10 de Agosto de 1887, após três anos de labuta, concluiu a orquestração da Sinfonia n.º 8, Bruckner assinalou a ocasião no seu diário com um “Aleluia!” e tratou de fazer copiar a partitura e enviá-la ao seu “pai artístico”, Hermann Levi, maestro na corte de Munique. Levi contribuíra decisivamente para o reconhecimento de Bruckner, dirigindo as suas obras, angariando dinheiro para a sua publicação e até mexendo cordelinhos para que a Universidade de Viena concedesse um doutoramento honoris causa ao compositor. Por isso, quando Levi lhe respondeu que a Sinfonia n.º 8 “era impossível de tocar no seu estado actual”, Bruckner mergulhou na depressão. A crise de confiança levou-o não só a reescrever a n.º 8, com a ajuda do seu aluno Joseph Schalk, trabalho que concluiu em 1890, como a rever as n.º 1 a 4.

Após sucessivos adiamentos e imbróglios, a n.º 8 estreou, na forma revista, dois anos depois e suscitou reacções contraditórias. A versão de 1890, a que Leopold Nowak removeu algumas intervenções com óbvia mão de Schalk, é a que costuma ser apresentada e a versão original só seria ouvida pela primeira vez em 1973.

[I parte do IV andamento (Finale), pela Filarmónica de Viena, com direcção de Herbert von Karajan, ao vivo no mosteiro de Sankt Florian, 1979]

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9. Sinfonia n.º 9

Composição: 1891-96
Estreia: 1903 (póstuma)

O tempo e energia despendidos em revisões e reescritas de obras anteriores acabaram por contribuir para que a Sinfonia n.º 9 nunca fosse concluída. Quando, em 1891, Bruckner começou a compô-la, a sua saúde física e mental já estava muito desgastada e a obra progrediu de forma excruciantemente lenta. O compositor acabou por falecer, em 1896, com 72 anos, deixando apenas três andamentos completos. Consta que, tendo consciência de que não seria capaz de terminar o IV andamento, terá sugerido que este fosse substituído pelo Te Deum, o que nunca foi levado a sério.

[II andamento (Scherzo), pela Filarmónica de Viena, com direcção de Herbert von Karajan, ao vivo no Musikverein, Viena, 1978]

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