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B Fachada
© Ana Viotti

"O objectivo é esmagar o B Fachada do passado"

B Fachada regravou o EP "Viola Baguesa", de 2008, e vai tocá-lo no Jameson Urban Routes, nesta sexta-feira. Falámos com ele

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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B Fachada nunca foi pelo caminho mais fácil. Um exemplo: por ocasião dos dez anos de Viola Braguesa, o seu quarto EP, mas o primeiro que recebeu alguma atenção mediática, era fácil limitar-se a dar um concerto em jeito de celebração, reeditar o disco e fazer uns trocos. E, de facto, o concerto – sexta-feira no festival Jameson Urban Routes, com Maria (Reis, das Pega Monstro) na primeira parte – e a reedição foram anunciados há umas semanas. Mas a história estava mal contada, de propósito. A reedição, afinal, era uma versão nova do disco, que foi regravado e completamente rearranjado. Algumas faixas estão irreconhecíveis.

A ideia de regressar ao EP de 2008, porém, não foi dele. “O desafio partiu da [minha companheira] Mané, que se queixava de não dar para mostrar o disco aos nossos filhos porque mal se conseguia ouvir. Tinha um som muito impenetrável”, assume o cantor e compositor, enquanto dá conta de meio litro de cerveja Weihenstephaner, na Cerveteca. “Acabou por ser uma boa desculpa para melhorar um bocado as coisas e testar uma maneira diferente de gravar, em casa. Mas sem fugir do espírito original do disco.”

“Impenetrável” é uma palavra muito forte, sugerimos. Não é o Até Toboso, porra. “Não é. Mas essas canções nunca as queremos mostrar a ninguém (risos). Estas são as canções mais antigas que eu ainda vou tocando ao vivo. Além de que o disco devia ter sido regravado logo há nove anos”, confessa. “O Dudu [Eduardo Vinhas, co-produtor da maior parte dos discos de B Fachada] quando me conheceu achou que eu ia para o Pónei regravar o Viola Braguesa. Mas isso nunca aconteceu, e entretanto o portátil onde eu tinha as sessões foi roubado, portanto também não havia maneira de pegar no som do disco original.”

Goste-se mais ou menos desta nova versão, é inegável que está melhor. Mais bem cantada, mais bem tocada, mais bem arranjada. “Para mim nunca foi um problema constatar os meus defeitos, nem os defeitos do trabalho. Não tenho pudor em sentir que estou a melhorar o original, independentemente do resultado final depois ser avaliado de acordo com as preferências particulares de cada pessoa”, assume. “Não tenho pudor em esmagar o Fachada do passado. É esse o meu objectivo.”

Concordamos: ele não tem pudor. E não é de agora. Em 2012 não teve pudor em regravar Os Sobreviventes, de Sérgio Godinho, com Minta e João Correia – e há semelhanças entre a forma como o trio se atirou à obra de Sérgio Godinho e a forma como B Fachada reinventou o seu próprio disco. Também não tem pudor quando se atira ao repertório de José Afonso, que tem tocado em concertos, que chegou a reinterpretar num disco com Walter Benjamin que nunca foi editado, e onde espera regressar mais cedo ou mais tarde: “É mais um conjunto de canções que eu tenho de ter gravado para mostrar às [minhas] crianças.”

A conversa volta aos seus três filhos. São o mais importante. “Nesta altura da vida eu quero estar com eles. Não quero ser um pai como os músicos de que eu gosto, percebes? Porque os músicos de que eu gosto geralmente não são o género de pais que eu aprecio (risos). O que eu fizer daqui para a frente vai estar orientado para eles e vai ter sempre que os incluir. O próximo disco já vai ter coisas gravadas por eles de certeza.” Mas eles tocam alguma coisa? “Até já deram um gig”, interrompe Maria Reis, sentada à mesa connosco, a beber.

Ouvi-lo no falar no “próximo disco” lembra que este homem, que entre 2008 e 2012 gravou dois ou três discos por ano, não lança uma canção nova desde 2014. Porquê? “Escrever é a parte do trabalho que foi acabando sempre por ficar para trás. Exige uma disponibilidade que agora não tenho”, explica. “Mas não é algo que me preocupa. O meu paizinho disse que era para trabalhar muito até aos 30. E eu fiz isso.” Maria ri-se: “Daddy issues.” De seguida, B atira uma frase, uma verdade, que nunca é demais repetir e dá vontade de escrever nas fachadas de todos os prédios: “O teu trabalho não é aquilo que tu és.”

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Conversa fiada

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