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Esther Yoo
©Marco BorggreveA violinista Esther Yoo

Oito concertos para violino da primeira metade do século XX

A violinista Esther Yoo toca o concerto de Samuel Barber no CCB e a aproveitamos para recomendar mais sete concertos para violino compostos entre 1900 e 1950.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Desde que o formato concerto para solista e orquestra surgiu, na Itália do início do século XVIII, que o violino tem sido um dos seus principais protagonistas. No período barroco, os compositores de concertos para violino eram, muitas vezes, também violinistas virtuosos – foi o caso de Vivadli, Locatelli, Leclair, Pisendel ou Tartini – ou, pelo menos, competentes – Bach, Telemann – mas no período clássico as funções de compositor e violinista tenderam a separar-se e no século XIX os violinistas-compositiores como Paganini, Vieuxtemps e Wieniawski foram escassos por comparação com o número de pianistas-compositores. No século XX, nenhum dos compositores de primeiro plano foi também violinista, o que não impediu que fossem produzidas várias obras-primas.

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Oito concertos para violino da primeira metade do século XX

1. Concerto op.47, de Sibelius

Composição: 1904
Estreia: 1904, Helsingfors (Helsínquia), por Victor Novácek (violino), Filarmónica de Helsingfors, direcção do compositor

Na juventude, Jean Sibelius (1865-1957), sonhara fazer carreira como grande virtuoso do violino e trabalhou afincadamente para esse desígnio. O sonho desfez-se em 1891, quando estudava em Viena e foi rejeitado numa audição para a Filarmónica da cidade – o júri considerou que ele era demasiado nervoso para integrar uma orquestra. Pode ver-se o seu Concerto para violino como um ajuste de contas com essa ambição de juventude. É uma obra de extraordinária exigência técnica – sem cair no virtuosismo gratuito – e que mostra que o compositor conhecia bem o instrumento solista.

Em 1905, Sibelius reviu o concerto – a estreia da nova versão, em Berlim, teve Karl Hair como solista e Richard Strauss como maestro – e interditou que a versão original voltasse a ser tocada.

[III andamento (Allegro ma non tanto), por Maxim Vengerov e Orquestra Sinfónica de Chicago, com direcção de Daniel Barenboim]

2. Concerto n.º 1 op.35, de Szymanowski

Composição: 1917
Estreia: 1922, Varsóvia, por Józef Oziminski (violino), Filarmónica de Varsóvia

É uma obra inspirada pelo poema Noite de Maio (Noc Majowa), de Tadeusz Micinski, e onde confluem o impressionismo de Debussy e Ravel, os êxtases místicos de Scriabin e exóticos perfumes orientais e uma das mais notáveis realizações do polaco Karol Szymanowski (1882-1937). O concerto foi dedicado ao violinista polaco Pawel Kochanski, que era um empenhado divulgador das obras de Szymanowski e já fora o dedicatário da Sonata para violino e piano de 1909. Kochanski providenciou precisos conselhos durante a composição do concerto e compôs uma cadenza para ele (como também faria para o Concerto n.º 2).

[I parte, por Nicola Benedetti (então com 16 anos) e a Orquestra Sinfónica Escocesa da BBC, no Usher Hall de Edinburgh, no Concurso Jovem Músico do Ano da BBC de 2004, que seria vencido precisamente por Benedetti]

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3. Concerto n.º 1 op.19, de Prokofiev

Composição: 1917
Estreia: 1923, Paris, por Marcel Darrieux (violino), Orquestra da Ópera de Paris, direcção de Serge Koussevitzky

O concerto foi terminado no Verão de 1917 e deveria ter sido estreado por Pawel Kochanski (o dedicatário do Concerto n.º 1 de Szymanowski) em Petrogrado nesse Outono, mas não é difícil imaginar que, com a eclosão da Revolução de Outubro – e a guerra civil que se seguiu – os concertos para violino fossem relegados para um plano remoto e a música dominante passasse a ser a fuzilaria. A agitação decorrente da Revolução Bolchevique fez Sergei Prokofiev (1891-1953) trocar o país natal pelo Ocidente e o concerto acabou por estrear seis anos depois nos concertos promovidos pelo maestro Serge Koussevitzky em Paris. A reacção à estreia foi morna, mas, em parte graças à advocacia do violinista Joseph Szigeti (que assistira à estreia), o concerto impôs-se rapidamente.

[II andamento (Scherzo), por Hilary Hahn e Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera, com direcção de Lorin Maazel]

4. Concerto em ré maior, de Stravinsky

Composição: 1931
Estreia: 1931, Berlim, por Samuel Dushkin (violino), Orquestra da Rádio de Berlim, direcção do compositor

Foi encomendado por Blair Fairchild, diplomata, compositor amador e patrono do violinista Samuel Dushkin, um judeu polaco radicado nos EUA. Igor Stravinsky (1882-1971) começou por mor mostrar relutância, alegando que não era instrumento que conhecesse bem (e também porque tinha alguma aversão a virtuosos), mas Dushkin não só se mostrou disponível para prestar assistência, como o compositor e o violinista desenvolveram uma boa relação de colaboração, que acabaria por transformar-se em amizade.

[I andamento (Toccata), por Gil Shaham e a Orquestra Sinfónica da NDR, com direcção de Christoph von Dohnányi]

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5. Concerto À Memória de um Anjo, de Berg

Composição: 1935
Estreia: 1936, Barcelona, por Louis Krasner (violino), Orquestra Pau Casals, direcção de Hermann Scherchen

O único concerto (e a derradeira obra terminada) por Alban Berg (1885-1935) nasceu em Fevereiro de 1935 como uma encomenda de Louis Krasner, um reputado violinista americano nascido na Rússia. Berg mostrou-se reticente em aceitar a encomenda e Krasner teve o convencer de que lhe cabia a missão de demonstrar que a técnica dodecafónica não era 100% cerebral e também podia exprimir emoções. Estas acabaram por tomar conta do concerto de forma trágica, com a morte, aos 18 anos, de Manon Gropius, filha de Alma Mahler (viúva de Gustav Mahler) e do arquitecto Walter Gropius (fundador da Bauhaus). Berg, que era muito próximo de Alma e convivia com Manon, foi muito tocado pela sua morte e terá feito do concerto um Requiem pela adolescente, que sonhava com uma carreira como actriz e que iria estrear-se no papel de anjo numa peça encenada por Max Reinhardt – o que explica a dedicatória “À Memória de um Anjo” que Berg inscreveu na partitura.

Esta é a versão oficial, pelo menos até 1977, altura em que vieram a lume documentos que sugerem que o concerto teve também como combustível a paixão secreta que unia Berg a Hanna Fuchs-Robettin, casada com um fabricante de papel de Praga e irmã do escritor Franz Wefel, que era amante de Alma Mahler (e depois se tornaria no seu terceiro marido). Berg compôs o concerto num ritmo frenético, como se o seu tempo estivesse a esgotar-se – e estava mesmo, pois morreria de septicemia seis meses depois e nunca ouviria tocar o concerto.

[I andamento, por Yehudi Menuhin e Orquestra Sinfónica da BBC, com direcção de Pierre Boulez]

6. Concerto n.º2 BB.117, de Bartók

Composição: 1938
Estreia: 1939, Amesterdão, por Zoltán Székely (violino), Orquestra do Concertgebouw, Willem Mengelberg

Só em 1960 é que este concerto ganhou o “n.º 2”, com a descoberta de um concerto que Béla Bartók (1881-1945) compusera na juventude para uma violinista por quem estava apaixonado – a ruptura da relação levou-o a meter a obra na gaveta.

O concerto n.º 2 foi encomendado pelo violinista Zoltán Székely, que tinha relação próxima com Bartók e tinha sido um activo divulgador dos seus quartetos de cordas. E, uma vez que Bartók não tocava violino, recorreu a Székely sempre que necessitou de orientação nos aspectos técnicos do instrumento solista.

[III andamento (Allegro molto), por Kam Ning e a Orquestra Sinfónica Flamenga, com direcção de Etienne Siebens]

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7. Concerto op.14, de Barber

Composição: 1939
Estreia: 1941, Filadélfia, por Albert Spalding (violino), Orquestra de Filadélfia, direcção de Eugene Ormandy

Samuel Barber (1910-1981) era ainda um compositor pouco conhecido quando, em 1939, foi abordado por Samuel Simeon Fels, um milionário americano que fizera fortuna com o sabão Fels-Naptha (surgido em 1893 e que ainda hoje se vende), para que compusesse um concerto para Iso Briselli, um jovem violinista judeu natural de Odessa (cujo nome próprio original era Isaak), que Fels tomara sob a sua protecção. Porém, quando Barber entregou a partitura Briselli (talvez influenciado pelo seu professor de violino, Albert Meiff) mostrou-se desagradado com o III andamento, mas Barber não se mostrou disposto a reescrevê-lo, pelo que Fels recusou entregar a Barber a segunda metade do pagamento. Barber, que, agastado por este episódio, passou a designar a obra por “concerto del sapone”, não demorou a encontrar um violinista – Albert Spalding – interessado em estrear a obra, que se tornaria numa das mais populares de Barber (a seguir ao famigerado “Adagio para cordas”, claro).

[II andamento (Andante), por Giora Schmidt e Orquestra Filarmónica de Israel, com direcção de Itzhak Perlman, Tel Aviv, 2004]

8. Concerto n.º 1 op.99, de Shostakovich

Composição: 1948
Estreia: 1955, Leningrado, por David Oistrakh (violino), Filarmónica de Leningrado, direcção de Evgeny Mravinsky

Dmitri Shostakovich (1906-1975) compôs o concerto em 1947-48, mas quando estava a terminá-lo abateu-se sobre ele e os mais proeminentes compositores soviéticos – Prokofiev, Khachaturian – a acusação de composição de música “formalista”, com influências burguesas e em dissonância com o gosto do povo soviético. Shostakovich, que já fora alvo de uma séria reprimenda em 1936, que o levara a guardar na gaveta a Sinfonia n-º 4, não teve dificuldade em imaginar que o Concerto para violino também não iria agradar às autoridades soviéticas e manteve-o fora de circulação. Foi despedido do cargo de professor do Conservatório e teve de fazer a “travessia do deserto”, compondo música banal e medíocre para filmes e eventos oficiais. Só após a morte de Stalin teve coragem de revelar ao mundo o Concerto n.º 1, cujo Scherzo, que Oistrakh descreveu como “maléfico, demoníaco e espinhoso”, lhe teria valido seguramente novas punições pelo regime stalinista.

[II andamento (Scherzo: Allegro), por David Oistrakh e a Filarmónica de Leningrado, com direcção de Evgeny Mravinsky, em 1956]

Música clássica para todas as estações

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  • Música

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