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PAUS: "A Madeira é o subúrbio mais afastado de Lisboa"

Os PAUS foram passar uma temporada ao Funchal e vieram de lá com um videodisco. Falámos com eles sobre 'Madeira'

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Quando se pede aos PAUS (Quim Albergaria, Hélio Morais, Makoto Yagyu e Fábio Jevelim) para descreverem a música que fazem, que fizeram, eles esquivam-se. “É muito difícil”, diz um. “Eu já desisti”, responde outro. Percebem-se as reservas, a dificuldade: isto é rock, só que não é bem, é electrónica, mas nem por isso, tem tanta matemática como poesia, há pulsação kraut e calor tropical. Existe à margem de várias coisas, no fundo. Como uma ilha.

Foi por isso que, quando os convidaram para uma residência artística na Madeira, disseram logo que sim. Levaram para lá nove canções e vieram com um videodisco e um nome: Madeira. A apresentação está marcada para sexta-feira no Capitólio, mas antes trocámos dois dedos de conversa.

 

Falem-me deste disco. Tenho ideia que nasceu numa residência na Madeira, a convite do Pedro Azevedo e da malta do festival Aleste. Confere?

Quim: Nós começámos o disco ainda sem relação com a ilha. O convite para criarmos qualquer coisa para o Aleste surgiu já com as canções alinhadas, na altura em que acabámos o instrumental e parámos um bocadinho para pensar nas letras. Mas a ideia da Madeira calhou muito bem com a vibe das canções que estávamos a fazer e as letras aparecem já com a ilha em miragem. Transpirou muito naturalmente para o nosso trabalho. Até porque a ideia da ilha tem esta coisa meio insular que a banda também tem.

Mas muitas das letras não têm a ver com a Madeira, nem nada que se pareça. Estou a pensar por exemplo na “L123”.

Q: Mais ou menos, sabes. A Madeira é o exemplo perfeito da relação e discursos de poder de que a canção fala. Na verdade a Madeira é o subúrbio mais afastado de Lisboa.

Podes aprofundar essa ideia?

Q: A Madeira, enquanto símbolo, pela sua relação com Lisboa e a forma como se encontra do lado de fora dos grandes centros de decisão, tem tudo a ver com o tema da canção. Não é sobre a Madeira, mas a Madeira ilustra perfeitamente aquilo de que se fala na “L123”.

O disco chama-se Madeira por causa da ilha ou porque vocês são os Paus?

(Gargalhadas)

Hélio: Por acaso foi um bocado as duas. Ficou Madeira porque nos pareceu lógico. Imagina que tínhamos ido gravar a São Lourenço de Mamporcão – não íamos chamar São Lourenço de Mamporcão ao disco, porque não ia bem. Quando começámos a pensar se fazia sentido para nós chamar Madeira ao disco, essa foi uma das coisas que pensámos logo: PAUS são feitos de madeira. Mas foi quase um agradecimento por aquilo que nos proporcionaram.

Quando falas em aquilo que vos proporcionaram referes-te a quê?

H: Como o Quim disse inicialmente, a malta do Aleste convidou-nos para outra ideia, mas depois tivemos de adaptá-la.
E esta ideia que sugerimos a posteriori [a gravação de vídeos para acompanhar cada canção] era de doidos. Era muito difícil de concretizar, porque ainda tinha encargos relativamente elevados. Estamos a falar de levar uma banda inteira, mais técnicos, mais uma equipa de filmagens para a ilha da Madeira e há uma série de despesas associadas a isto. Mas o festival Aleste acabou por tratar de toda a produção local e arranjar os parceiros necessários para que isto pudesse acontecer.

No ano passado tiveram também aquela residência no Lux, Só Desta Vez. Isso afectou de alguma maneira o disco?

Makoto: Acho que sim. Todos os concertos que tocamos com outras pessoas, afectam. Crescemos com os músicos.

H: Nessa segunda série de concertos Só Desta Vez, de uma maneira geral, o que fizemos foi pensar que parte dos nossos discos queríamos explorar e depois procurámos os convidados para fazer isso. A única noite que não tinha qualquer relação com nada que já tivéssemos feito talvez tenha sido aquela com os sopros, com o [João] Cabrita. E por acaso fiquei... Não sei se fomos influenciados por isso directamente, acho que não, mas em termos da sensação, se calhar sim. Não sei explicar melhor, mas sinto que teve impacto em mim.

E o que é que é um blusão de ganza [nome de duas faixas do disco]?

(Risada)

Fábio: Um blusão de ganza é uma ideia que está a ser desenvolvida. Estás a ver um colete salva-vidas, em que mandas ar lá para dentro? Aqui em vez de mandares ar mandas [o fumo da] ganza.
Porque se tu estiveres num festival, quando a tua ganza acaba, podes voltar a puxar e estás a dobrar a ganza, percebes?

O que, à sua maneira, também salva vidas.

F: Exactamente. Percebeste o conceito. És gajo para comprar isto, de certeza.

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