A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Lançamento Space Shuttle
©DR

Sete canções sobre foguetões, cometas e viagens espaciais

A voga das temáticas cósmicas entre os compositores de canções teve um pico na viragem de 60/70, mas ainda continua hoje

Escrito por
José Carlos Fernandes
Publicidade

O lançamento pela URSS do primeiro satélite artificial, o Sputnik 1, em Outubro de 1957, deixou os EUA alarmados com os avanços soviéticos no domínio aeroespacial e desencadeou uma corrida ao espaço. A URSS voltaria a averbar feitos de grande impacto mediático: em Novembro de 1957, a cadela Laika, a bordo do Sputnik 2, foi o primeiro animal a orbitar a Terra e em Abril de 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin, a bordo da cápsula Vostok, foi o primeiro ser humano a fazê-lo. A NASA esforçou-se arduamente por restabelecer a primazia norte-americana, com o programa Apollo, que teve início em 1961 e culminou com as missões que colocaram astronautas sobre a Lua, entre 1969 e 1972.

Acompanhando o acréscimo do interesse público por assuntos espaciais, as influências psicadélicas – alimentadas pelo consumo de drogas alucinogénicas – foram tomando conta do pop-rock na segunda metade dos anos 60, chegando mesmo a cunhar-se a expressão space rock para designar a música de vocação mais sideral.

Recomendado: 10 canções para ouvir ao luar

Sete canções sobre foguetões, cometas e viagens espaciais

1. “Astronomy Domine”, dos Pink Floyd

Ano: 1967

É uma das canções fundadoras do space rock e é também a canção que abre o primeiro álbum dos Pink Floyd, The Piper at the Gates of Dawn. Nenhuma banda cultivou tão intensamente as temáticas espaciais como os Pink Floyd dos primeiros anos – que são também os mais criativos e originais do grupo.

“Astronomy Domine” abre com uma voz – a do manager da banda – a recitar nomes de planetas através de um megafone e mais à frente a voz de Syd Barrett menciona os planetas Júpiter, Saturno e Neptuno, as luas de Saturno Oberon, Miranda e Titania e Dan Dare, o herói da série de banda desenhada britânica Dan Dare, Pilot of the Future, publicada entre 1950 e 1967. A letra de Barrett privilegia o som sobre o sentido e cria uma melopeia encantatória e onomatopeica: “Lime and limpid green, a second scene/ Now fights between the blue you once knew/ Floating down, the sound resounds/ Around the icy waters underground [...] Blinding signs flap/ Flicker, flicker, flicker, blam, pow, pow/ Stairway scare, Dan Dare, who’s there?”.

2. “Third Stone From the Sun”, de Jimi Hendrix

Ano: 1967

O “terceiro calhau a contar do Sol” é, claro está, a Terra. A Terra era, por esta altura, um lugar em que o espírito dos músicos passava pouco tempo, pois o consumo regular de substâncias psicotrópicas predispunha-os à levitação. Jimi Hendrix, que além de comungar da dieta alucinogénica da época era um ávido leitor de ficção científica, concebeu “Third Stone From the Sun” como um relatório da aproximação à Terra feita por uma nave-batedora que comunica com a sua esquadra, mas que, ironicamente, identifica a majestosa galinha como a criatura que representa o pináculo da vida no planeta. A peça, essencialmente um instrumental, de estrutura solta e natureza divagante e jazzística, foi incluída no álbum de estreia da Jimi Hendrix Experience, Are You Experienced?, e não foi muito tocada por Hendrix ao vivo, pois apoia-se numa profusão de manipulações sonoras de estúdio – múltiplas vozes, fitas aceleradas e desaceleradas, sobreposição de guitarras carregadas de efeitos.

A versão abaixo é uma versão acelerada, uma vez que, por razões de direitos de autor, a versão original foi removida do YouTube, e que tem a vantagem de permitir perceber melhor algumas das vozes “alienígenas”, que surgem muito desaceleradas na versão do disco.

Publicidade

3. “Space Oddity”, de David Bowie

Ano: 1969

Em 1969, o hype cósmico estava no zénite: em 1968 estreara 2001: A Space Odissey, de Stanley Kubrik (a que o título da canção de Bowie faz alusão) e em Julho de 1969 a missão Apollo 11 colocou Neil Armstrong e Buzz Aldrin a caminhar sobre a Lua. A 11 de Julho de 1969, nove dias antes da alunagem da Apollo 11, surgia no mercado britânico o single “Space Oddity”, sobre um Major Tom que parte para o espaço e que, ao ver a Terra ao longe, começa a sentir que não pertence ao mundo das preocupações comezinhas dos terráqueos – é em vão que a base o chama e indaga a razão do seu súbito silêncio.

“Space Oddity” foi incluída no segundo álbum de David Bowie, lançado em Novembro de 1969, que começou por chamar-se David Bowie, mas foi rebaptizado como Man of Words, Man of Music na edição americana e Space Oddity na reedição de 1972 pela RCA, já que a canção “Space Oddity” se tornara no seu maior êxito. A versão da canção que surge no álbum, em Novembro, é diferente (para melhor) da que surgiu no single, em Julho. O videoclip abaixo diz respeito à segunda versão e foi rodado por Mick Rock em 1972 (quando Bowie passara já por algumas metamorfoses).

4. “Kohoutek”, dos REM

Ano: 1985

O Kohoutek faz parte dos chamados cometas hiperbólicos, cuja órbita em torno do sol tem uma elevada excentricidade e leva milhares de anos a ser completada. O seu movimento de translação é perturbado pelo efeito gravitacional dos grandes planetas o que faz com que o seu período seja irregular. A última vez que o Kohoutek se aproximou do Sol, tornando-se visível a partir da Terra, foi em 1973, tendo sido primeiro avistado pelo astrónomo checo Lubos Kohoutek. Esperava-se que oferecesse um espectáculo visual impressionante – falou-se mesmo em “cometa do século” – mas ficou abaixo das expectativas. A sua visita anterior foi há 150.000 anos e passar-se-ão 75.000 anos até que regresse. Compreende-se portanto a metáfora usada por Michael Stipe na canção homónima do álbum Fables of the Reconstruction: a possibilidade de uma relação amorosa dissipou-se antes de sequer ter começado – “não nego que nem sequer trocámos palavra” – e “ela partiu como o Kohoutek”.

Publicidade

5. “Rocket”, dos Smashing Pumpkins

Ano: 1993

Os Smashing Pumpkins tinham uma forte componente de psicadelismo, space rock, prog rock e shoegaze, sendo as influências cósmicas particularmente presentes no imaginário do seu segundo álbum, Siamese Dream, de 1993. Tal como Bowie em “Space Oddity”, em “Rocket” Billy Corgan usa as viagens espaciais como metáfora de um impulso para o afastamento em relação ao resto da humanidade sentido por aqueles que se sentem diferentes: “A lua já nasceu e as estrelas chamam-me/ Acho que partirei esta noite// E em breve ver-me-ei só/ Para me descontrair e desvanecer/ [...] Vou ser livre/ Vou ser livre/ Vou ser livre/ Vou ser livre, livre”.

O teledisco foi realizado por Jonathan Dayton & Valerie Faris, que seriam também responsáveis por outros videoclips da banda e alcançariam (justíssimo) reconhecimento com a longa metragem Little Miss Sunshine (2006). As crianças do vídeo constroem uma nave para poder assistir a um concerto dos Smashing Pumpkins noutro planeta, mas, devido aos paradoxos das viagens espaciais, quando lá chegam deparam-se com uma versão envelhecida dos Smashing Pumpkins. O videoclip encerra outra ironia, esta involuntária, logo no início: os pré-adolescentes hi-tech de 1993 comunicavam entre si através de umas geringonças volumosas e desajeitadas presas no pulso – um cliché da ficção científica que atesta a sua incapacidade crónica para prever o futuro.

6. “The Skills of the Star Pilot”, dos Butterglory

Ano: 1994

O duo Matt Suggs e Debby Vander, de Lawrence, Kansas, lançou, entre 1992 e 1997, alguns singles, um EP e três álbuns de pop eminentemente cantarolável, deliciosamente naïve e exemplarmente concisa. “The Skills of the Star Pilot” faz parte do primeiro álbum, Crumble, e conta a história de um piloto que aterra sempre sobre os dois pés, mesmo quando a sua nave se despenha, e a primeira coisa que faz quando aterra é telefonar à esposa a dizer que chegou.

Publicidade

7. “Galaxy”, dos Elephant Gym

Ano: 2013

Os Elephant Gym são uma banda de math rock de Kaohsiung, Taiwan, O “Gym” no nome tem justificação, pois há uma ginástica incrível na articulação das complexas linhas de guitarra (Tell Chang Kai-hsiang) , baixo (Tif Chang Kai-ting) e bateria (Tu Chia-chin). A banda lançou três discos, o EP Balance (2013), o álbum Angle (2014) e o EP Work (2016) e “Galaxy” faz parte do primeiro.

Pérolas secretas da pop

  • Música
  • Rock e indie

Existem criadores talentosos a viver longe dos holofotes, porque, pura e simplesmente, não existe uma relação entre talento e reconhecimento. São 10 músicas pop que poucos conhecem, mas todos deviam conhecer. 

Publicidade
Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade