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Arte, Pintura, Arcangelo Corelli, Hugh Howard (1697)
©DRArcangelo Corelli por Hugh Howard (1697)

Sete finos exemplares de concerto grosso

O concerto grosso nasceu na Itália do final do século XVII e foi um dos géneros mais populares do período barroco

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Não é preciso estar “grosso” para apreciar um concerto grosso: “grosso” tem o significado, em italiano, de “grande” e a designação provém de nestas peças existir um diálogo constante entre um pequeno grupo de solistas (o concertino) e o conjunto da orquestra (o ripieno ou concerto grosso). Apesar de ao concertino caber o material mais floreado e virtuosístico, o seu protagonismo é relativamente modesto e episódico, ao contrário do que acontece no concerto para solista e orquestra, em que o solista é indiscutivelmente o foco das atenções durante a maior parte do tempo.

Os concerti grossi que floresceram durante o período barroco destinaram-se sobretudo a orquestras de cordas, sendo o concertino formado por dois violinos e um violoncelo, mas, num sentido mais lato, pode entender-se que alguns dos Concertos Brandemburgueses de Bach, com os seus jogos de contraste entre os solistas (que incluem instrumentos de sopro e cravo) e o ripieno, se enquadram no conceito de concerto grosso.

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Sete finos exemplares de concerto grosso

1. Concerto Grosso op.2 n.º2, de Gregori

Ano de publicação: 1698

O hoje obscuro Giovanni Lorenzo Gregori (1663-1745) poderá não ter sido o “inventor” do concerto grosso – mérito que talvez tenha cabido a Alessandro Stradella, com as suas Sonate di Viole – mas foi o primeiro a utilizar a designação, na sua colecção de dez Concerti Grossi per Due Violini Concertanti op.2, que publicou na sua cidade natal de Lucca em 1698.

[Pelo ensemble Capriccio Basel, em instrumentos de época, com direcção de Dominik Kiefer (Capriccio)]

2. Concerto Grosso op.6 n.º4, de Corelli

Ano de publicação: 1714

Gregori pode ter sido quem cunhou a expressão, mas quem estabeleceu as bases para o concerto grosso que foram adoptadas por toda a Europa foi Arcangelo Corelli (1653-1713). Corelli, um natural de Fusignano que fora admitido com apenas 17 anos na Accademia Filarmonica de Bologna, mudou-se pouco depois para Roma, onde se tornou num dos músicos mais respeitados e imitados. A sua produção – cinco colecções de sonatas em trio e uma colecção de concerti grossi – é breve para os padrões da época, o que reflecte não falta de dedicação, mas um elevado nível de auto-exigência, que o levou a burilar durante anos as suas composições, descartando tudo o que não cumprisse os seus elevados requisitos. Os seus 12 Concerti Grossi op.6 foram publicados em Amesterdão em 1714 (postumamente, portanto), mas supõe-se que são o culminar do progressivo refinamento de obras compostas na década de 1680.

[I andamento (Adagio – Allegro), pelo ensemble L’Aura Soave Cremona, em instrumentos de época]

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3. Concerto Grosso op.8 n.º 5, de Torelli

Ano de publicação: 1709

Giuseppe Torelli (1658-1709) foi um dos pioneiros do desenvolvimento do concerto grosso e do concerto para solista e orquestra. Estudou violino em Bologna com Giacomo Antonio Perti e em 1684, tal como Corelli, foi admitido como membro da Accademia Filarmonica; dois anos depois entrou para as fileiras da orquestra da basílica de San Petronio, nessa mesma cidade, onde se manteve até ao início de 1696, quando esta orquestra foi dissolvida. Rumou então a terras austro-germânicas, tendo trabalhado em Ansbach, Berlim e Viena, tendo regressado a Bologna em 1701, para a reactivada orquestra de San Petronio.

Compôs uma quarentena de concertos para trompete e várias colecções de sinfonias e concertos, entre os quais estão os 12 Concerti Grossi op. 8, de 1709.

[Pelo Croatian Baroque Ensemble, ao vivo no Instituto da Música Croata, Zagreb, 2010]

4. Concerto Grosso op.3 n.º 12, de Manfredini

Ano de publicação: 1718

Francesco Manfredini (1684-1762) foi aluno de violino de Giuseppe Torelli em Bologna e, após uma estadia em Ferrara, regressou a Bologna, onde foi admitida na orquestra de San Petronio e na Accademia Filarmonica. Parece também ter mantido relações com a corte de António I, no Mónaco, embora não seja claro quanto tempo lá terá passado. Em 1727 foi nomeado mestre de capela na catedral de San Filippo, na sua cidade natal, Pistoia, cargo que ocupou até à morte. Para o esquecimento em que caiu contribuiu o facto de a maior parte da sua produção se ter perdido, restando 43 obras, entre as quais estão os 12 Concerti Grossi op.3, publicados em Bologna em 1718.

[Por Les Amis de Philippe, em instrumentos de época, com direcção de Ludger Rémy (CPO)]

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5. Concerto Grosso op.3 n.º 2, de Geminiani

Ano de publicação: 1732

Embora a sua carreira tenha decorrido numa relativa penumbra, o italiano Francesco Geminiani (nascido em Lucca em 1687) foi um dos grandes violinistas do seu tempo. Foi aluno de Corelli, e após a morte do mestre juntou-se à diáspora de músicos italianos que “colonizavam” toda a Europa. Geminiani estabeleceu-se em Londres em 1714 e acabou por fazer vida entre esta cidade e Dublin, onde faleceu aos 74 anos. Tal como acontece com Corelli (de quem foi empenhado divulgador), a produção de Geminiani está circunscrita às sonatas para violino, às sonata em trio e aos concerti grossi e é magra (para os prolíficos padrões da época) mas de nível consistentemente elevado.

No fulcro da obra de Geminiani estão 42 concerti grossi, distribuídos por quatro colecções de seis concertos cada – op.2 (1732), op.3 (1733), op.6 (1741, perdida) e op.7 (1748) – a que se somam 12 concertos resultantes de arranjos das sonatas em trio op.5 de Corelli (1726-27) e seis concertos resultantes de arranjos de algumas das suas sonatas em trio op.4.

[Pelo ensemble Europa Galante, em instrumentos de época, com direcção de Fabio Biondi (Opus 111/Naïve)]

6. Concerto Grosso op.4 n.º 10, de Locatelli

Ano de publicação: 1735

Pietro Antonio Locatelli (1695-1764), nasceu em Bergamo, e estudou em Roma, tornando-se num dos mais brilhantes violinistas do seu tempo. Na qualidade de virtuoso, fez tournées pela Itália e Alemanha, deslumbrando as audiências com a sua técnica superlativa. A partir de 1729 fixou-se em Amesterdão, onde se consagrou ao ensino do violino (e à comercialização de cordas para violino).

A sua produção que chegou aos nossos dias (boa parte ter-se-á perdido) concentra-se exclusivamente em quatro formatos: sonatas para violino, sonatas em trio, concertos para violino e concerti grossi. Estes últimos foram publicados em várias colecções, assim repartidos: 12 no op.1 (1721), seis no op.4 (1735), a que se somam, sob a designação Concerti a quattro, seis no op.7 (1741) e seis no op.9 (1762).

[I andamento (Adagio), pelo Concerto Köln, em instrumentos de época (Teldec/Warner Classics)]

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7. Concerto Grosso op.6 n.º1, de Handel

Ano de publicação: 1739

O editor londrino Walsh publicou duas colecções de concerti grossi de George Frederick Handel (1685-1759): os seis concertos op.3, surgidos em 1734, parecem ter resultado da compilação pelo editor de obras dispersas, mas os 12 concertos op.6 (1739) foram compostos por Handel em apenas um mês, de 29 de Setembro a 30 de Outubro de 1739 (embora, como era seu hábito, “pilhando” obras suas e de outros compositores), tendo por fito servir de “música de intervalo”, entre os actos das oratórias que Handel apresentou no Lincoln’s Inn Fields Theatre, na temporada de 1739-40.

Os concertos op. 6, tal como os op.3, seguem o modelo de Corelli e recorrem a um concertino de dois violinos e violoncelo; nalguns deles, Handel faz intervir oboés, que se destinam apenas a dar colorido, pois as suas partes dobram as cordas.

O op.6 de Handel são hoje os segundos concerti grossi mais populares, após o op.6 de Corelli.

[IV andamento (Allegro), por Il Giardino Armonico, em instrumentos de época, com direcção de Giovanni Antonini (Decca/L’Oiseau-Lyre)]

Clássicos da clássica

  • Música
  • Clássica e ópera

O mais frequente na música orquestral é que só um galo cante na capoeira, ou seja, a maioria dos concertos destina-se a um único solista. Porém, no período barroco, era frequente que dois solistas partilhassem o protagonismo.

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