J. Brahms
Brahms com cerca de 33 anos (c.1866)

Sete obras para piano de Brahms que precisa de ouvir

Em mais uma visita à Gulbenkian, Grigory Sokolov traz-nos miniaturas para piano de Brahms.

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Tendo nascido numa família de modestos recursos, Johannes Brahms (1833-1897) começou a ganhar a vida como pianista, ainda adolescente, na sua cidade natal de Hamburgo, segundo alguns rumores nunca comprovados, também em bares e bordéis da zona portuária – o que, a ser verdade, aproxima Brahms dos Beatles, que também começaram carreira, ainda adolescentes, a tocar no Red Light District de Hamburgo.

Sendo um pianista excepcional, é natural que Brahms tenha feito do piano um instrumento privilegiado para a sua inspiração ao longo de toda a carreira: destinou-se ao piano a sua primeira obra publicada, e também a derradeira, 40 anos depois. Porém, algo inesperadamente, a produção de obras para piano solo de Brahms teve distribuição assaz irregular e, após as Rapsódias op.79, de 1879, esteve mesmo 13 anos visitar o género, só regressando a ele em 1892-93.

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Sete obras para piano de Brahms que precisa de ouvir

Sonata n.º 1 op.1

Ano de composição: 1853

Foi a primeira peça publicada por Brahms, aos 20 anos, mas esteve longe de ser a primeira que compôs – o manuscrito do op.1 tem por título “IV Sonata” e há indícios de uma Sonata em sol menor composta aos 12 anos. Brahms era muito exigente consigo mesmo e rejeitou e destruiu muitas obras de juventude, por não as achar suficientemente boas – um rigor que é tanto mais compreensível por Brahms tomar por padrão de comparação o seu ídolo, Beethoven, que deixara uma impressionante produção de 32 sonatas para piano. Brahms só compôs três e datam todas de 1853.

A n.º 1, dedicada ao seu amigo Joseph Joachim, abre com uma melodia que tem afinidades com a do primeiro tema da Sonata op.106 Hammerklavier, de Beethoven.

[I andamento (Allegro), por Sviatoslav Richter, em 1987]

Balada op.10 n.º 1 Andante

Ano de composição: 1854

As baladas de Brahms inspiram-se em poemas narrativos de temática lendária. A balada n.º 1 da série de quatro que forma o op.10 inspira-se na tenebrosa balada tradicional escocesa Edward, que põe em diálogo uma mãe e um filho: a primeira, ao ver a espada ensanguentada do segundo, pergunta-lhe de onde vem o sangue – o filho começa por dizer que provém do seu falcão, depois, do seu cavalo, mas acaba por admitir que matou o pai.

[Por Arturo Benedetti-Michelangeli, ao vivo em Lugano, 1981]

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Variações & Fuga Sobre um Tema de Handel op. 24

Ano de composição: 1861

É unanimemente considerada como um monumento na arte da variação, no mesmo plano das Variações Goldberg, de Bach, ou das Variações Diabelli, de Beethoven, que, aliás, Brahms conhecia bem. O ponto de partida desta obra imponente de quase meia hora de duração é uma ária do III andamento da Suíte para cravo n.º 1 HWV 434 (1733), de George Frideric Handel. Provindo a inspiração do período barroco, Handel recorreu também pontualmente, na série de 25 variações, a estruturas típicas do período barroco, culminando na fuga final.

[Por Grigory Sokolov, ao vivo em Munique, 2012]

Rapsódia op.79 n.º 1

Ano de composição: 1879

As duas Rapsódias op.79 foram dedicadas a Elisabeth von Herzogenberg – pianista, cantora e compositora – que sugeriu que Brahms substituísse o título que originalmente lhes atribuíra – Klavierstücke (“peça para piano”) – por “Rapsódia”, mais apropriado ao carácter tempestuoso e arrebatado, próximo das “baladas”. As Rapsódias foram estreadas pelo próprio compositor, num Festival Brahms que teve lugar em Krefeld, em 1880.

[Por Grigory Sokolov, ao vivo em Leningrado, 1987]

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Intermezzo op.117 n.º 2

Ano de composição: 1892

Após as Rapsódias op.79, Brahms esteve 13 anos sem compor para o piano solo, só regressando ao formato em 1892-93, no final da vida, para produzir quatro admiráveis colecções de miniaturas, quase todas de natureza introspectiva: as Sete Fantasias op.116, os Três Intermezzi op.117, as Seis Peças (Sechs Klavierstücke) op.118 e as Quatro Peças (Vier Klavierstücke) op.119.

O Intermezzo op.117 n.º 2 tem a indicação “Andante non troppo e con molta espressione” e é uma peça em que a intensa expressão romântica é rigorosamente contrabalançada por uma nobreza e uma elevação irrepreensíveis. A designação “Intermezzo” aplica-se usualmente a peças que surgem no intervalo de outros andamentos, mas os Intermezzi de Brahms (várias foram as peças deste período a ser assim baptizadas pelo compositor) são peças inteiramente autónomas.

[Por Arthur Rubinstein]

Klavierstücke op.118 n.º 2 Intermezzo

Ano de composição: 1893

As Seis Peças para Piano op. 118 compõem-se de quatro Intermezzi, uma Balada e um Romance e foram dedicadas a Clara Schumann. A n.º 2 tem a indicação “Andante teneramente”.

[Por Arcadi Volodos (Sony Classical)]

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Klavierstücke op.119 n.º 1 Intermezzo

Ano de composição: 1893

As Quatro Peças para Piano op. 119 compõem-se de três Intermezzi e uma Rapsódia – porém estas designações têm um sentido vago e foram usados algo arbitrariamente por Brahms. Clara Schumann disse da n.º 1 que era “docemente triste, apesar das suas dissonâncias”.

[Por Sviatoslav Richter]

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