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Stuart Staples
©Manuel Manso

Stuart Staples: “Parecia radical fazer algo de humano para este disco”

Os Tindersticks actuam na Aula Magna na terça-feira. Viajámos pelos últimos anos com a figura central da banda, o vocalista Stuart Staples.

Escrito por
Tiago Neto
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Há algo assustadoramente plácido na forma como Stuart Staples entrelaça as mãos. Como pauta as frases numa expiração pesada. Como olha para a mesa antes de avançar com os movimentos necessários à fala, como se o mundo dependesse desse arrumo. A expiação de uma existência que balança dor e beleza na perfeição é isto, e ele domina-a como ninguém, embebido em letras que são retratos e subindo a palco nesse mesmo ardor, xamânico para uns, alienante para outros.

O tecido dos britânicos Tindersticks depende, aliás, da forma como Staples vai caminhando sobre a corda; não que o talento da banda esteja em causa, não está, e três décadas de trabalho confirmam-no, mas se a melancolia ainda dá de beber a noites mal dormidas, e se a música continua a flutuar nos ouvidos, é certamente porque ele lhe traz o efeito. No Treasure But Hope é o mais recente disco do quinteto, lançado em Novembro como sucessor de The Waiting Room (2016), e trouxe ao de cima toda esta conjugação de idiossincrasias, passíveis de escutar nas letras, nos arranjos.

Não é melhor ou pior, é diferente, virado para uma relação profunda com os companheiros. “Ao escrever as letras, o que procurava era um outro lado, a perspectiva de as abordar como banda. Não estávamos juntos há mais de dois anos e, ao voltarmos a estar, queria pôr a ênfase na relação profunda que temos. A forma como nos entendemos musicalmente, esta força colectiva”, diz-nos Stuart Staples.

O plano passou por desligar do exterior, encurtar distâncias após o pequeno hiato. “Queria fazer algo que fosse humano. Naquela altura parecia uma coisa radical de se fazer.” Gradualmente foram descobrindo as canções. Levaram-nas a Paris para gravar e terminaram-nas como uma progressão natural. “As canções fortes vieram à tona, as mais fracas foram caindo e ficámos com o disco.” As letras foram escritas em Ítaca, na Grécia, e isso, diz, abriu-lhe muitas questões, principalmente sobre o estado de espírito na altura.

Cabe tudo em faixas como “The Amputees” e “Pinky In The Daylight”, esta última com a assinatura de Staples no videoclipe. “A dor é uma coisa à qual nos habituamos, faz parte do nosso quotidiano, enquanto que a ideia de beleza é uma coisa para a qual nunca te sensibilizas verdadeiramente. Isso foi o que tentei passar.” O disco traduz uma verdade universal, de que todos perdemos partes essenciais: uma pessoa, uma relação, a inocência. Razão pela qual o baptizou como No Treasure But Hope. “A pessoa que se agarra à esperança mais tempo é a mais forte. Os esperançosos vencem.”

Na terça-feira, na Aula Magna, tudo isto sobe a palco. No Treasure But Hope chega na crista de uma onda de renovação e crença mas continua acorrentado emocionalmente a tudo o que o passado e o presente têm dentro. Staples diz que não sabe aonde a viagem o vai levar, mas sabe, inequivocamente, que há muito de novos caminhos pela frente. “Estava num lugar solitário criativamente. Voltar à banda é um lugar cheio de amizade, compreensão, fricção criativa. E tudo isso é refrescante. É necessário ter várias experiências. Tens de sentir um desejo de fazer alguma coisa.”

Aula Magna. Ter 21.30. 25-35€

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Crítica: Tindersticks

"No Treasure But Hope" (City Slang/Popstock)

★★★☆

A primeira canção do disco chama-se “For The Beauty”, mas é à quarta que quase apetece chorar de tanta beleza. “Pinky in the Daylight” é talvez a mais luminosa, esperançosa, amorosa, dengosa – sim, maravilhosa! – canção dos Tindersticks. Tem coros lindos, violinos afinados, pandeiretas ritmadas e até umas leves sonoridades gregas, a evocar os dias, certamente alegres, que Stuart Staples preguiçou a compor na ilha de Ítaca. Depois, como que para garantir o tom romântico da aventura, os dez temas foram gravados, de uma assentada, em Paris. Há aqui canções, como a auto-explicativa “The Amputees”, ou a enganadora “See My Girls”, a atestar que estamos em território de dúvida e angústia, mas “Take Care of Your Dreams” funciona como um sincero incentivo para que deixemos as dores para trás e não temamos olhar a beleza de frente. Em suma, um disco em que damos connosco a cantarolar, talvez dançar, com “Tough Love”, mas que ainda é Tindersticks. É estranho, mas é bom. Manuel Morgado

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