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A histórica Ulmeiro já mora na Fábrica Braço de Prata

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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A Ulmeiro está a mudar-se de livros e bagagens para a Fábrica Braço de Prata. Contamos como a livraria histórica de Benfica virou a página.

“Isto anda tudo ligado.” A expressão tantas vezes utilizada na linguagem comum é do escritor Eduardo Guerra Carneiro – e o título do seu livro de poemas de 1970. Trata-se da primeira edição da Ulmeiro, uma livraria-editora (e que chegou a ser galeria) de costela alfarrabista. A mesma frase foi escolhida para dar nome à exposição que entre Maio e Julho de 2019 morou na Fábrica Braço de Prata (FBP) em celebração dos 50 anos da Ulmeiro. Mas para começar a falar da mudança da livraria histórica para a FBP convém fazer uma breve revisão da matéria dada.

Em 2016, José Antunes Ribeiro, fundador, anunciava o fim da aventura que tinha iniciado em 1969, numa altura em que a censura do Estado Novo resultava em visitas indesejadas da PIDE aos espaços que arriscavam ter livros proibidos escondidos. Zeca Afonso e Carlos Paredes chegaram a dar música à Ulmeiro, assim como Mário Viegas ali recitou poesia. Foi por isso com alguma tristeza que muitos reagiram ao anúncio do fecho da Ulmeiro. Mas a porta lá se foi mantendo aberta, até que em 2019 a celebração dos 50 anos acabou por impulsionar a reinvenção do alfarrabista que recuperou a sua faceta de editora como Espaço Ulmeiro – Associação Cultural. Como isto anda mesmo tudo ligado, durante a exposição, José Antunes Ribeiro e Nuno Nabais, fundador da FBP, começaram a pensar num futuro em conjunto. “Sabendo que a nossa permanência em Benfica estava em causa, o Nuno convidou-nos para esta aventura. E esta é uma grande aventura. Já começámos, mas não sabemos como vai acabar”, diz o homem da Ulmeiro.

A mudança começou e já há algumas salas e corredores com livros vindos de Benfica, num trabalho de transporte e organização de cerca de (prepare-se) 200 mil livros. É que para José Antunes Ribeiro, “os livros são todos importantes”. Uma sala será mais especial que as outras. Foi baptizada de Lawrence Ferlinghetti, poeta e pintor norte-americano e um grande nome da geração beat que chegou a participar numa sessão de poesia na Ulmeiro. É nessa sala que ficarão os eleitos, “os melhores que temos”, como descreve o livreiro.

A Sala Lawrence Ferlinghetti estava em arrumações.
Fotografia: Manuel Manso

Mesmo com os trabalhos em progresso, já é possível comprar os livros da Ulmeiro na FBP, onde encontra todos os géneros e de quase todos os tempos. E as actividades culturais que correm nas veias da editora terão aqui espaço para voltarem a acontecer. “Queríamos encontrar formas visíveis de mostrar o livro, como jantares com poesia ou música”, explica. “Também gostava de aproveitar o espaço para realizar leilões de livros e objectos como pinturas, molduras, gravuras, candeeiros ou peças de vidro”, artigos que também fazem parte do mundo Ulmeiro. Entretanto pode ir licitando nos leilões que ocorrem na página oficial de Facebook. É na rede que também pode encontrar a curta documental Isto anda tudo ligado: Ulmeiro 50 Anos de Intervenção Cultural (1969-2019), disponível no canal de YouTube do CHAM – Centro de Humanidades.

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