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Clube centenário reabriu com nova vida no centro de Lisboa

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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A última vez que a Sociedade Filarmónica João Rodrigues Cordeiro esteve nas notícias foi no virar da década. Invertemos a tendência.

Sábado foi dia de festa na Rua da Fé. Está de volta a centenária sociedade que nasceu pelas mãos do primeiro mestre de filarmónicas portuguesas, de onde chegou a sair um campeão europeu de luta greco-romana e actores e actrizes para o Parque Mayer. Sim, aqui também se chegou a fazer teatro de revista. E está de volta para todos com ballet, esgrima, danças de salão, boxe, cinema, jogos de mesa, snooker, bailes e tudo. Eis as novas actividades anunciadas após meses de obras de requalificação. As actividades não são exclusivas para sócios, porque a Junta de Freguesia de Santo António deu um valente empurrão ao projecto e assume-se como parceira.

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Fotografia: Inês Félix

O bairro é o de São José, antiga freguesia entalada entre a Colina de Santana e a Avenida da Liberdade. Uma pequena aldeia, ali mesmo ao lado da avenida recheada de Pradas e Louis Vuittons e hoje um espaço very typical onde a comunidade local vai ouvindo os "hellos" e "bonjours" dos vizinhos temporários que ali se instalam para viver like a local. A pressão turística é forte, mas aqui não faz tantas notícias como Alfama ou a Mouraria.

No entanto, entre despejos, fugas de moradores e novas chegadas, uma das artérias de São José voltou a sentir o pulsar de uma das facetas que caracteriza a chamada “vida de bairro” em Lisboa. Aquela das associações culturais e desportivas que tão bem encaixam zonas de convívio alimentadas a matrecos, sueca e boa conversa.

A Sociedade Filarmónica João Rodrigues Cordeiro, nascida em 1896 na Rua da Fé, está mais ou menos morta há duas décadas. A última vez que esteve na ribalta foi à boleia do fecho da Juke Box, noites e mais tarde matinés de rock n’ roll que decorriam aos sábados à tarde e criavam enxaquecas a alguma vizinhança. Até que fechou em 2010.

Há um ano uma nova direcção, formada por gente do bairro, assumiu as rédeas da associação e também a vontade de fazer coisas. O pó começou a sair na última véspera de Santo António quando armaram aqui um belo arraial. E sábado foi anunciada a nova vida, impulsionada por uma preciosa ajuda da Junta de Freguesia de Santo António, que tem como presidente Vasco Morgado, filho do bairro.

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Vasco Morgado junto a uma das mesas de jogo restauradas
Fotografia: Inês Félix

"O movimento associativo decaiu e as coisas não se reinventaram. Aqui a ideia é aproveitar esta nova direcção e a sua irreverência que nos deixou trabalhar", explica Vasco Morgado. "Eu não tenho espaços para a população", queixa-se o presidente da freguesia com o metro quadrado mais caro do país. Mas com a prata da casa e um bom arquivo de memórias físicas, há um novo espaço para os fregueses. Na sala de entrada há um bar e os clássicos matrecos, à direita uma sala de convívio com uma (boa) televisão, troféus e umas mesas e cadeiras com história (já lá vamos) e à esquerda balneários e uma sala multidisciplinar gigante onde decorrem as actividades. Lá em cima há o projecto Bússola e a Escola de Rock, dedicados aos mais jovens.

E quanto à mobília: as mesas são dos anos 20, da casa, e serviram o jogo ilícito nos loucos anos. Há móveis cedidos pelo Hotel Corinthia e as cadeiras foram resgatadas do Maxime, antes de se transformar em hotel, e ficaram guardadas à espera de uma segunda oportunidade. Um bocadinho como a sociedade do mestre Cordeiro.

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