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Em ‘Hotel Amor’, Jessica Athayde é perseguida pelo trabalho. E por vários planos-sequência

Rodado no Hotel Roma, o filme ‘Hotel Amor’ é o primeiro de uma trilogia pensada pelo brasileiro Hermano Moreira. Falámos com o realizador e com a protagonista.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Jessica Athayde
©DR | Jessica Athayde, em 'Hotel Amor'
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Num antigo hotel lisboeta, a gerente não tem mãos a medir. Com uma equipa sempre a arranjar problemas – do chef intransigente à funcionária do balcão que está mais entretida com jogos de cartas no computador –, Carolina vive e respira trabalho. Ao longo de 24 horas acompanhamos a vida de hóspedes e trabalhadores do Hotel Amor, nome do novo filme de Hermano Moreira, cineasta brasileiro a viver em Portugal há oito anos. Uma longa-metragem filmada em 16 planos-sequência, com Jessica Athayde ao leme do elenco. A Time Out falou com a actriz e com o realizador do filme, que estreia a 19 de Junho nas salas de cinema portuguesas.

A história foi imaginada como uma série, mas transformou-se num filme. Há, no entanto, uma série a caminho. Mas Hotel Amor é também o primeiro de uma trilogia de filmes imaginada pelo realizador, um percurso que contará com o argumentista de Hotel Amor, o brasileiro Bruno Bloch. Foi no Hotel Roma, cenário deste primeiro filme, que nos sentámos a conversar. E será por “ROMA” ao contrário se ler “AMOR” que a escolha do cenário ficou decidida? Hermano Moreira explica que “foi uma feliz coincidência”. E que começou por uma publicidade que o realizador fez para outra unidade do grupo, o Hotel Marquês de Pombal. A oportunidade surgiu em conversa com o administrador, José Miguel Marto, quando Moreira perguntou se seria possível fazer uma série no hotel. Mas a duração de rodagem, que rondaria os três meses, fez com que a proposta se alterasse. E se fosse um filme? Um mês? Fechado.

Hotel Amor
©DR'Hotel Amor'

O desafio estava feito. O Hotel Roma transformou-se no único local de rodagem de Hotel Amor, sem nunca fechar as portas aos hóspedes, durante 16 intensos dias, não contando com dez dias de ensaio. “Não foi igual a Adolescência, que foram três meses. E não tinha o orçamento que tinha Adolescência, mas tudo bem”, diz o realizador. “Então, era um plano-sequência por dia, o mais longo com 12 minutos e o mais curto com quatro”, explica. Mas foram vários os takes feitos por cada plano, idealmente “dois perfeitos e um de reserva”. Em alguns dias chegaram a fazer 20, não necessariamente completos, porque o “corta” poderia chegar antes do final da sequência. Contas à parte, a empreitada foi gigante, tendo em conta que havia hóspedes e funcionários do hotel a circular como habitualmente. “O hotel estava em funcionamento, principalmente na recepção, onde a personagem da Júlia Palha trabalha. Os outros guichés eram compostos por gente que trabalha aqui no Hotel Roma e aparecem várias vezes. Então, são colegas de cena da Júlia. Não têm falas, mas muitas vezes estão atendendo hóspedes de verdade”, revela Hermano Moreira.

Igor Regalla e Jessica Athayde
©DRIgor Regalla e Jessica Athayde, em 'Hotel Amor'

Estariam todos avisados que não vale olhar para a câmara? É que o risco de terem de voltar ao início do take seria sempre muito elevado. E trabalhoso. “A gente avisava que estava havendo uma filmagem. Quem estava aqui no hall sabia, mas o hóspede que desce o elevador e chega, ele não sabe. Então a tendência realmente é olhar para a câmara e teve hóspedes que até falavam com os actores”, recorda Hermano Moreira. De forma a reduzir as probabilidades de encontros imediatos, a produção decidiu gravar fora do horários de maior afluência, principalmente na zona da recepção.

“Isto foi feito como uma peça de teatro”

Com uma carreira marcada pela televisão, Jessica Athayde tem subido aos palcos nos últimos anos em peças como Escolhas ou Bridezilla, em cena a partir do próximo mês de Outubro. No cinema, e além de Morangos com Açúcar – O Filme (2012), participou apenas no remake de O Pai Tirano (2022), no papel de Tatão. Mas a incursão pelo teatro foi o treino perfeito para este novo filme apoiado nos vários planos-sequência. “Isto foi feito como uma peça de teatro, a verdade é essa. Portanto, o facto de eu também ter apostado, nos últimos anos, em estar mais envolvida em teatro [...] ajudou muito a fixar o que era a estrutura e a parte técnica do filme”, explica a actriz à Time Out. Os ensaios que antecederam a rodagem também se assemelharam à preparação de um espectáculo: “Mas também teria de o ser, porque em planos-sequência…. se nos enganamos no final, no teatro não há nada a fazer, temos que seguir viagem. Aqui podemos parar e vamos ao início, mas a ideia não é essa, a ideia é seguir viagem”.

Lucas Dutra e Jessica Athayde
©DRLucas Dutra e Jessica Athayde, em 'Hotel Amor'

Mas esta viagem revelou-se bastante diferente, porque “em palco” estavam funcionários e hóspedes de um hotel em funcionamento. O que, no fim, acabou por ter alguma utilidade para a construção da personagem. “Ajuda muito os telefones, as portas, as pessoas entrarem com malas, sentir o ambiente dos estrangeiros turistas a chegar e a sair. Eu sentia que fazia, literalmente, parte do staff do hotel. Às tantas pessoas passavam por mim e não sabiam onde era o pequeno-almoço e eu, estando fardada e à espera que uma câmara descesse por um elevador – porque estava a filmar qualquer coisa no terceiro andar, para depois seguir o resto da cena – eu já estava a dizer que o pequeno-almoço é lá em baixo, servido das 9 às 10 da manhã”, recorda a actriz.

Jessica Athayde
©DRJessica Athayde, em 'Hotel Amor'

Sobre Carolina, a sua personagem, Jessica Athayde descreve-a como “uma mulher que se foca no trabalho, para não ter de pensar em mais nada da sua vida”, uma “mulher cansada” que se encontra “em modo de sobrevivência, sem dar atenção às coisas que realmente são os traumas e os problemas e as tristezas da vida dela”. E, por isso, não acha que Hotel Amor seja apenas uma comédia, mas sim um filme com “momentos cómicos e engraçados” e outros que “nos fazem pensar na vida”. “Nós vivemos todos assim: temos o mundo a cair à nossa volta, mas no fundo temos que nos focar naquilo que temos para fazer naquele dia, nas reuniões, nos deadlines, nisto e naquilo”, lamenta. Mas confessa-se feliz com o resultado final desta produção: “Fizemos um bom trabalho e foi de facto um milagre termos o resultado que temos, dentro de um hotel que estava em funcionamento”. Além de Jessica Athayde, o elenco conta também com Júlia Palha, Margarida Corceiro, Raquel Tillo, Vera Moura, Cléo Malulo, Lucas Dutra, Lucas Sampaio, Francisco Froes, Igor Regalla e também o humorista brasileiro Marcelo Adnet, no papel dele próprio.

Um hotel, um bar e uma discoteca entram num filme

Depois do filme, será tempo de pensar na série, sobre o dia-a-dia no Hotel Amor. E a ideia já está escrita, também com argumento de Bruno Bloch e realização de Hermano Moreira. Com uma diferença: os planos-sequência serão feitos apenas dentro de cada cenário. “São planos muito mais curtos de sequência. Por exemplo: uma cena no bar, inteirinha de plano-sequência. Cortamos, vamos para o quarto”, explica o realizador. Com Bloch está também a desenvolver os dois filmes que irão completar a trilogia com Hotel Amor, em três locais distintos. O cenário do próximo, que se chamará Solo, será um bar e planeiam filmar com sete câmaras, todas paradas, num género que apontará mais para o drama. O terceiro filme, ainda sem nome, será ambientado numa discoteca e terá um ambiente mais pesado.

Hotel Amor. Estreia a 19 de Junho nos cinemas

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