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Maída. Uma viagem pelo Mediterrâneo com sabores libaneses, tradições e memórias

Nasceu do sonho de uma designer gráfica que queria fazer pão saj e de um gestor que percebeu que os portugueses adoram, tal como os libaneses, criar memórias à mesa. É o novo Maída, no Cais do Sodré.

Escrito por
Andreia Costa
Maída
DR
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Uma grande mesa de banquete, à volta da qual todos se reúnem para partilhar comida, beber e rir. É esse o significado da palavra “maída” em árabe e é exactamente isso que se pretende no número 66 da Rua da Boavista. Maída é, como dá para adivinhar, o nome do novo restaurante do Cais do Sodré que promete – e cumpre – uma viagem por sabores mediterrânicos. As raízes são libanesas, tal como Anthony Riachy e Anna Maria Baydoun, os responsáveis pelo conceito, mas os sabores, as texturas e as cores são abrangentes, com toques gregos, turcos e sírios.

A partilha está no centro de toda a experiência, mas nada como começar pelo início. Nas entradas, as recomendações vão para o Kebab pistachio (9,30€), salteado com melaço de romã e acompanhado com húmus e sementes de romã; e para o Shish barak (9,50€), a carne de vaca que é geralmente servida com iogurte quente, alho e coentros, mas que tem aqui uma versão especial com iogurte frio e cebola caramelizada. 

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As opções de wraps são salgadas e doces. Nas primeiras, não há que enganar: a It’s thyme (5,80) mistura de tomilho, zaatar, tomate, pepino, hortelã e azeitonas. Nas doces há a Peanut tahini (6,80€), com tahini de amendoim, manteiga de amendoim, tahini de ácer e bananas; e a Berry compote (7,50€), com compota de frutos silvestres, queijo creme e morangos. Todas são feitos com saj, um pão libanês fino e crocante, com farinha 100% integral, cozinhado numa frigideira própria.

Nos dips há Hummus caseiro com toque de romã (7€); Spinach & artichoke (10,20€), um gratinado cremoso com parmesão derretido e mozzarella; e, quem se atrever no mundo do picante, tem de experimentar o Muhamara (8,90), um molho de pimentão vermelho assado, nozes, tahini, melaço de romã e uma pitada de pimenta. O sabor é intenso mas o picante não abafa os outros ingredientes, perfeitamente reconhecíveis. Tudo isto é servido com crackers saj. 

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Nas saladas convivem a Caesar (14,20€) e a Fatoush (11,50€), mas a estrela da mesa chama-se Tabbouleh (12,20€). Com salsa, tomate, hortelã, cebolinha e molho de limão, é fresca e intensamente temperada. Funciona igualmente na perfeição como acompanhamento dos petiscos anteriores.

Foi exactamente com as saladas que Anna e Anthony se aventuraram no mundo da restauração. Ela é designer gráfica de formação e está em Portugal há dois anos e meio; ele tem já uma longa experiência em gestão de negócios e instalou-se em Lisboa em 2021. “No início, estávamos a trabalhar num conceito diferente, relacionado com música e vida nocturna, mas rapidamente vimos que havia uma pequena oportunidade no universo das saladas e do estilo de vida saudável”, explica Anthony à Time Out. 

Nasceu então o The Happy Salad, na Rua São Sebastião da Pedreira, com saladas e wraps com o tradicional pão saj. Foi, aliás, esse mesmo pão que fez Anna mudar de vida. “Estava no Dubai, a trabalhar na estação de televisão NBC, mas sempre tive uma grande paixão por comida e, por isso, decidi deixar o meu emprego. Queria vir para cá abrir um pequeno restaurante com wraps saj, mas depois surgiu The Happy Salad e fez todo o sentido incluí-los aí”, recorda.

Os clientes gostaram e a ideia de fazerem almoços aos fins-de-semana e terem uma carta mais alargada foi ganhando cada vez mais forma na cabeça de ambos. Decidiram então procurar um novo espaço. “Devo ter andado um mês na página do Idealista sempre a refrescar a lista. Assim que apareceu o anúncio deste espaço, fui a primeira a ligar”, conta Anna. 

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As portas do Maída abriram em Maio, em modo soft opening, mas o segredo já está a espalhar-se, com as mesas a encherem-se para o almoço. De quarta-feira a sábado, o restaurante também abre para jantares e ainda garante música, assegurada por qualquer DJ que queira um espaço para partilhar o seu trabalho — as inscrições fazem-se onlineAnna e Anthony também são DJs, daí o desejo de incluírem essa vertente. “Para nós começou como um hobby, mas fizemos muitas festas. Percebemos que, muitas vezes, há DJs muito bons que ninguém conhece porque não têm um espaço onde possam passar música. É isso que queremos tentar fazer.”

Algo também possível no Maída é um aniversário ou um convívio à porta fechada. Os jantares privados deixam a logística e o stress da organização do lado dos funcionários, sobrando para os clientes apenas boa comida. “Podemos fazer um buffet ou um menu fixo e gostamos de fazer uma mesa comprida, é mesmo aquilo que nos dá prazer.”

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Para compor a carta, Anna fez muita pesquisa, mas baseou-se sobretudo nas suas memórias. “Fui à procura das coisas que costumávamos comer quando éramos miúdos. A lasanha, por exemplo, faço-a como no Líbano, por isso tem um toque picante.” A Lasagna (16,80€), nos pratos principais, leva chili feito com ragu de carnes de vaca e porco, parmesão derretido e mozzarella.

Os favoritos dos clientes já começam a destacar-se: o Shawarma (17,30€), vaca com batatas fritas, salada de cebola e salsa, tomate, picles, molho tahini e pão saj; e o Chicken breast (15,60€), peito de frango marinado e grelhado, servido com batatas pequenas salteadas, tomates cereja e molho de iogurte. Os pratos são ricos em acompanhamentos e, fica uma dica: se já partilharam as entradas, o melhor é fazer o mesmo aqui porque (segundo nos aconselharam) há que guardar espaço para a sobremesa. 

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Correndo o risco de a confissão chegar aos ouvidos da mãe, Anthony admite: “Sempre achei que a minha mãe tinha a melhor comida, mas depois de provar o que a Anna faz, mudei de ideias. Não é só a paixão dela pelas coisas, junta-se o estudo e o conhecimento científico. Acho que isso nos ajudou a conseguir a comida que queríamos oferecer às pessoas”. 

Sumagre, mahlab ou melaço de romã são temperos amplamente usados no Maída que chegam diretamente do Líbano, mas também há referências portuguesas no espaço, como os tijolos terracota da zona da Serra da Estrela (recortados, conhecidos como cobogó ou gradilha) que preenchem uma das paredes da entrada e o espaço reservado para a música. “Quando vimos, pensámos: ‘Isto é incrível, queremos isto’. E penso que há muito espaço para incluirmos mais detalhes portugueses”, garante Anthony. 

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As cores verde e terracota dominam o espaço, com cadeiras e mesas de madeira, um sofá corrido e bancos altos ao balcão. “Mudámos tudo, queríamos um ambiente mediterrânico, não apenas libanês, marroquino ou do sul de França. Escolhemos as cores, eu trabalhei no logótipo e o irmão do Anthony, que é designer de interiores, ajudou com o resto”, explica Anna.

Anthony coordena toda a gestão do negócio, Anna é a chef executiva. Com eles, embarcaram nesta viagem mais 12 pessoas. Muitas podem ser vistas a trabalhar na cozinha, através de uma grande janela envidraçada que nos permite espreitar os bastidores. 

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Brevemente, a carta terá um menu de brunch, mas, para já, e para quem tem pressa ou está de passagem, há sempre a opção Grab and Go no postigo que faz a ligação entre a rua e o bar. Além dos wraps, é possível comprar o pão saj ou café de especialidade.

Parando na estação das bebidas, há cervejas, vinhos e cocktails, com destaque para os cocktails da casa, como o Fatouch on the Rocks (13€), com bourbon, melaço de romã, hortelã e limão; ou o Soraya (14€), com arak, rum, limão e espuma de ginjinha. Se a hora, a ocasião ou a idade o exigir, também ninguém fica a perder: o Passion fruit & cinnamon (5€) é um sumo que junta maracujá, canela e pepitas de chocolate. Diz Anthony que o melhor está mesmo no fim: “Comer as pepitas à colher, ainda com o sabor do maracujá”. Testado e aprovado. Além deste, há que experimentar o Paloma picante (6€), um mocktail com toranja e sumo de limão.

Pausa feita para matar a sede, seguimos caminho para as sobremesas. Incontornável é o Znoud el set (4,20€), um pastel crocante de massa filo tipo baklava, recheado com ashta (nata doce libanesa) e coberto com pedaços de pistácio. É servido morno, traz breves recordações de arroz doce e o interior desfaz-se na boca, contrastando com a finíssima massa filo que se parte em mil bocados a cada dentada. Também há Tiramisu (10,20€) e é para partilhar, avisa a carta. A taça é grande e alimenta bem mais do que um só guloso. 

Os cafés tradicionais não faltam à última chamada, mas os mais aventureiros devem experimentar o Lavender coffee (3,90€), que tem, como o nome indica, um travo a lavanda. Porém, atenção, é bastante doce.

Anna e Anthony querem trazer os sabores das suas raízes, mas o que mais lhes tem dado prazer é perceber como as tradições com que cresceram são parecidas com as dos portugueses. “Os portugueses costumam reunir a família toda, talvez 20 a 30 pessoas, aos domingos, num aniversário ou no Natal. Ficam sentadas, a rir, a beber, a gritar e a dizer palavrões. Nós também temos isso, somos muito barulhentos. E a ideia do Maída é essa: sermos nós mesmos, comer, partilhar e fazer barulho”, garante Anthony. 

Rua da Boavista, 66 (Cais do Sodré). Ter-Dom 12.00-15.30, Qua-Sáb 12.00-15.30 e 19.00-23.30

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