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The Undoing
Niko Tavernise/HBONicole Kidman e Hugh Grant em ‘The Undoing’

Nenhuma qualidade de Hugh Grant põe fim à dúvida de Nicole Kidman

As duas estrelas de cinema protagonizam a nova minissérie da HBO, ‘The Undoing’, que se estreia nesta segunda-feira. É a história de um crime hediondo que abala a alta sociedade nova-iorquina.

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
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Há poucos sentimentos mais corrosivos do que a dúvida. A dúvida consome-nos: abre todas as portas, admite todas as possibilidades, e nunca descarta nenhuma delas definitivamente. Por vezes, a verdade é inatingível com os meios ou a informação de que se dispõe. Por vezes, essa impossibilidade é tão frustrante que se torna palpável. Como num julgamento que se debruça sobre um crime hediondo, um crime em que a vítima é assassinada com recurso a um martelo, em que a cabeça da vítima é golpeada até ficar em papa, irreconhecível aos seus, e em que as provas existentes aparentam incriminar cabalmente o principal suspeito, embora não para lá da dúvida razoável. In dubio pro reo, dita a norma, e o réu de The Undoing, Jonathan Fraser (Hugh Grant), vai agarrar-se a ela para se manter à tona, deixando todos em suspenso – família, jurados e espectadores.

A nova minissérie da HBO estreia-se na segunda-feira. É uma das grandes apostas da empresa americana para o último trimestre do ano e conta com duas estrelas do cinema à frente do elenco, Nicole Kidman e Hugh Grant, também protagonistas de duas outras produções bem sucedidas e disponíveis no mesmo serviço de streaming – Big Little Lies e A Very British Scandal, respectivamente. O criador é o multipremiado David E. Kelley, mente por detrás de Big Little Lies ou Ally McBeal, e a realização de todos os seis episódios é obra da dinamarquesa Susanne Bier, vencedora de um Emmy por O Gerente de Noite (AMC, 2016) e de um Óscar para Melhor Filme Estrangeiro por Num Mundo Melhor (2010). A segunda linha do elenco inclui o veteraníssimo Donald Sutherland, no papel do abastado pai da personagem de Nicole Kidman; o jovem Noah Jupe (Le Mans ‘66: O Duelo) como filho do casal Kidman-Grant; e Édgar Ramírez (vencedor de um César por Carlos) é o detective da polícia que conduz a investigação. Uma pequena cavalaria para a arte da ficção.

The Undoing
Niko Tavernise/HBONoah Jupe interpreta o filho do casal Grant-Kidman


O retrato inicial de Grace e Jonathan Fraser (Nicole Kidman e Hugh Grant) é o de um casal perfeito na alta sociedade nova-iorquina: ela é uma sofisticada e pouco acessível terapeuta, herdeira de uma família abastada; ele, um destacado e sedutor oncologista pediátrico; o filho, Henry (Noah Jupe), é um jovem educado, desenvolto mas pouco dado a travessuras, a frequentar uma escola de elite generosamente financiada pelo avô. Ela está empenhada, com as outras mães da escola, em acções de angariação de fundos para criar bolsas de estudo para miúdos desfavorecidos; ele surge em capas de revistas de grande circulação sobre os melhores médicos da cidade. O paraíso terreno – brilhante, requintado, sorridente – dos privilegiados que ocupam o topo da cadeia alimentar. Até que entra em cena o elemento disruptivo: a esbelta Elena Alves (Matilda de Angelis), mãe de um dos alunos que usufrui do programa de bolsas da escola, que se acerca de Grace de forma insinuante.

É esse o preâmbulo para a morte violenta que vai virar estas vidas do avesso, revelando segredos, omissões, mentiras e traições numa busca pela verdade que pode ser impossível de alcançar. Jonathan vai ser acusado de homicídio e protagonizar um julgamento ultramediático em que todas as provas apontam circunstancial mas não inequivocamente para ele, e em que Grace é deixada na condição de funambulista amadora, tentando equilibrar-se no fiozinho de esperança de que o marido não seja culpado. Mesmo com mais uma prova encontrada, mesmo com mais uma investida duvidosa, mesmo com mais uma fabulação desfeita, há um fiozinho de dúvida que nunca se dissipa e que a impele a ajudá-lo para que, se o casamento já não puder ser salvo, pelo menos se resgate o pai dedicado que sempre foi. Uma posição precária, embalada pela autopreservação, que deixa o espectador sem saber se se solidariza com Grace ou com a família da vítima, tolhida pelas circunstâncias. Mas que também levanta uma suspeita: será que este é um velho truque de ilusionista, que nos seduz o olhar para um lado quando a acção se passa no outro?

HBO. Seg (estreia).

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