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Neste novo jardim de leitura, um eléctrico renovado faz “lobby” pelo regresso dos carris a Benfica

Freguesia comprou eléctrico 349, que funciona como espaço de leitura, a coleccionador de Saragoça. Na antiga rotunda das oliveiras há também cafetaria e parque infantil.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Jardim das Oliveiras
Rita Chantre | Jardim das Oliveiras
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Era um espaço onde passavam carros, sob o testemunho de alguns arbustos e árvores, entre as quais oliveiras. Os peões aproveitavam as sombras, mas quase sempre em circulação ou na expectativa de que o semáforo passasse a verde, já que existiam muito poucas ou nenhumas razões para se querer ficar na antiga "rotunda das oliveiras", em Benfica. 

O enquadramento deste pequeno espaço no topo da Avenida do Uruguai mudou. Chegaram novos bancos, o piso foi renovado, foram criadas uma zona de merendas, um parque infantil, cafetaria (instalada numa roulotte), esplanada e um quiosque onde se podem requisitar e comprar livros (numa parceria com a biblioteca do Palácio Baldaya e com a livraria Ulmeiro), mas também pagar contas ou reservar bilhetes para espectáculos da freguesia.

O mais singular, ainda assim, é o eléctrico renovado que aqui funciona como sala de estar, de leitura e de repouso. E que, simbolicamente, é o mesmo que serviu Benfica durante anos.

Eléctrico 349 renovado
Rita ChantreEléctrico 349 renovado

O eléctrico que voltou a Benfica

O eléctrico 349 – este mesmo que agora anda poucos metros para trás e para a frente, junto à Avenida do Uruguai, de forma a poder escapar do sol e da sombra, conforme a intenção – ligou o Rossio (mais tarde partia dos Restauradores) a Benfica entre 1902 e 1921. Nos anos 60, o trajecto mudou: o veículo passou a deslizar pelos carris desde a Praça do Chile, cruzando o Arco do Cego e Sete Rios e chegando, novamente, a Benfica. Mas não por muito tempo, já que apesar de não existir, à altura, metro naquela freguesia ocidental de Lisboa, o percurso foi descontinuado.

Eléctrico Praça do Chile - Benfica, anos de 1960 e 1970
DR via FBEléctrico Praça do Chile - Benfica, anos de 1960 e 1970

O 349 mudou de pouso e, em 1995, sofreu um acidente. Haveria mais tarde de ser comprado por José Maria Vallero, aficcionado coleccionador de eléctricos com morada em Saragoça, na vizinha Espanha, e figura que apareceu no radar de Ricardo Marques, presidente da Junta de Freguesia de Benfica.

"Gosto muito de comboios e de eléctricos e tive a ideia de trazer este para cá. Também é uma forma de fazer lobby pelo regresso do eléctrico à Estrada de Benfica", assume o presidente, em entrevista à Time Out. Depois de "muito tempo a negociar, mais de dois anos", o 349 veio de Espanha para o estaleiro da Junta (o transporte, carga e descarga do veículo levaram 38 horas), onde foi restaurado por uma equipa de sete pessoas (sob o investimento de 28 mil euros), durante "cinco a seis meses", nas contas do carpinteiro António Camacho. 

António Camacho, carpinteiro
Rita ChantreAntónio Camacho, carpinteiro

"O eléctrico vinha com algumas mazelas. Tivemos de desmontar tudo o que estava danificado, restaurar e montar outra vez", conta, apontando para as janelas novas, o chão e o tecto. No interior, não é um eléctrico normal. Há uma pequena estante com livros prontos a serem consultados e, entre os assentos, voltados uns para os outros num incentivo à convivialidade, colocaram-se mesas de madeira ao estilo ferroviário. "Aproveitámos as madeiras do Parque Silva Porto, que está a ser reabilitado e vai ter novo mobiliário, para fazer estas mesas", explica o responsável. 

Era "um lugar sem vida"

A reabilitação da antiga "rotunda das oliveiras" começou em Novembro do ano passado e estava na recta final quando a Time Out visitou o espaço, na quarta-feira, 30 de Julho (apenas faltava assentar o pavimento de granito na parte central da "praça", onde serão criados 24 lugares de estacionamento, em vez dos "oito ou nove lugares" que existiam anteriormente). "Este era um lugar com o piso deteriorado, que precisava de uma intervenção. Mas, mais do que isso, era um espaço sem vida, sem uso", recorda Ricardo Marques sobre o também conhecido como Jardim do Uruguai, explicando ainda que, na zona, sentia-se a falta de um "equipamento intergeracional". 

Rotunda das Oliveiras, antes da requalificação
DR/JFBRotunda das Oliveiras, antes da requalificação

Justificando a transformação da rotunda em Jardim das Oliveiras (assim se chama agora), a Junta de Freguesia definia, ainda antes das obras, o topo da Avenida do Uruguai como um lugar "estratégico para a qualidade urbana e ambiental do bairro de Benfica". "É um ponto de entrada e uma ligação entre importantes espaços verdes, como o Parque Silva Porto e a Quinta da Granja. No entanto, a configuração actual de rotunda não é propícia ao usufruto e valorização do espaço público, uma vez que é dominada pelo tráfego automóvel e carece de acessos pedonais", descrevia-se no site no organismo.

Zona de merendas
Rita ChantreZona de merendas
Parque infantil do Jardim das Oliveiras
Rita ChantreParque infantil do Jardim das Oliveiras
Cafetaria
Rita ChantreCafetaria

Hoje, na zona de merendas, almoça-se de tupperware à sombra de um toldo. No quiosque, aberto de segunda a sexta-feira, entre as 09.00 e as 18.00, há quem vá folheando livros, e somam-se, ainda, os curiosos para conhecer o eléctrico por dentro. Uma última pergunta ao carpinteiro: o eléctrico está pronto a andar, caso venha a ser necessário? António Camacho não hesita: "Se precisasse de andar agora, andava."

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