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No festival de Olivia Rodrigo, os Nine Inch Nails deram luta

O NOS Alive chega ao fim como de costume: com as datas do ano seguinte. Em 2026, o festival acontece a 9, 10 e 11 de Julho – e conta desde já com Buraka Som Sistema. Mas o tempo ainda é de balanço. Eis os melhores concertos de 2025.

Escrito por
Hugo Torres
Escrito por:
Vera Moura
e
Hugo Geada
Muse no NOS Alive 2025
Guilherme Cabral/NOS Alive | Muse
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O NOS Alive é um festival de números grandes. No público, são dezenas de milhares por dia os que passam pelo Passeio Marítimo de Algés. Este ano não foi diferente. Apesar de um segundo dia de menor afluência, o terceiro esgotou, de acordo com a promotora. Para o primeiro, com Olivia Rodrigo no topo do cartaz, há quase dois meses que não havia bilhetes. Em palco (que são sete), a contabilidade também se faz com números grandes: entre quinta-feira e a madrugada deste domingo, actuaram 112 artistas e bandas.

Escolher seis para destacar no final, uma média de dois por dia, é por isso um exercício de síntese muito condicionado. Pelos espectáculos que vimos (e pelos que não vimos), pelo cumprimento (ou não) das expectativas, pela adesão do público (estamos a pensar no desinteresse desarmante em Bright Eyes, por exemplo), pela subjectividade de quem escolhe (necessariamente) e pelo número de escolhas a fazer. Um número pequeno. 

Baleia Baleia Baleia, Capicua ou St. Vincent podiam muito bem ter entrado nesta lista, se esta fosse maior. Não entraram. O mesmo está a valer, no derradeiro dia do festival, para Luís Severo, que encheu o Coreto; para Dead Poet Society, que conquistou uma legião de novo ouvintes na “tenda”; e para o dramatismo suado de Future Islands, que tinham a inglória tarefa de “dobrar” Nine Inch Nails e depois segurar a debandada. Ou Muse, que trouxeram a sua revolução épica e progressiva, como habitualmente, e trouxeram também serpentinas, fogo-de-artifício e uma multidão de fãs. Matt Bellamy até destruiu uma guitarra, Chris Wolstenholme até envergou uma camisola de Diogo Jota, mas não foi suficiente. 

Para o ano, há mais – de 9 a 11 de Julho de 2026, anunciou a Everything Is New. A promotora revelou, em simultâneo, a primeira confirmação-bomba da próxima edição: Buraka Som Sistema. O grupo que cruzou a música electrónica com o kuduro estará então a cumprir 20 anos desde a sua criação e 10 desde o último concerto, em 2016, junto à Torre de Belém. Branko, Conductor, Kalaf, Riot e Blaya vão por isso reunir-se, possivelmente para mais do que um concerto – embora o do NOS Alive (onde já actuaram em 2014) deva ser o único em Portugal em 2026. Mas isso é para o ano. Para já, é hora de olhar para os seis concertos que nos ficaram na memória nesta edição. Adeus, NOS Alive 2025.

Nine Inch Nails

Comecemos pelo fim. Que concertão deram os Nine Inch Nails. “Somewhat Damaged”, “Wish”, “Mr. Self Destruct” e “March of the Pigs”, tudo clássicos requisitados aos anos 1990, fizeram disparar os decibéis no palco principal e a pulsação de uma plateia em êxtase por conseguir pôr cá para fora todas as suas angústias, com uma muralha de som a condizer. Sem grandes conversas, mas com uma ligação quase palpável à plateia, Trent Reznor e companhia tocaram “Closer”, “The Perfect Drug”, “Every Day Is Exactly the Same”, “The Hand That Feeds” e acabaram com o caos calmo de “Hurt”, tendo passado por uma cover de David Bowie, “I’m Afraid of Americans” (um remoque declarado aos EUA). A cada primeiro acorde, a cada insinuação, o público reagia como se não acreditasse que aquele tema viria a seguir. Como se fosse uma surpresa os NIN estarem ali, diante de todos nós, a tocar as suas músicas. Uma alegria quase infantil. Depois cantavam tudo do princípio ao fim. Com um desenho de palco e de luz perfeito, e um directo em vídeo verdadeiramente capaz de acrescentar uma componente visual relevante ao espectáculo, os NIN demonstraram que entregar honrarias por antecipação (nesta edição, Olivia Rodrigo partia como rainha do festival) pode não ser boa ideia. Nota máxima para o baterista Ilan Rubin. HT

CMAT

Abrir o palco principal é uma tarefa ingrata: ainda não está muita gente, quem já chegou está a fazer o reconhecimento do recinto, a aproximar-se com calma, a pedir as primeiras cervejas, a encontrar os amigos… São poucos os que estão de facto atentos àquele concerto ao sol. Conseguir agarrar o público nesse cenário tem, por isso, o triplo do valor. E Ciara Mary-Alice Thompson, a bem-humorada cantora irlandesa que responde pela sigla CMAT, conseguiu-o – e de que maneira. Em cima do palco, com uma banda que transpira cumplicidade, e em baixo, para onde foi não só cantar como resgatar dois pastéis de Belém que um fã lhe ofereceu, depois de os ter elogiado ao microfone. Tocou os três temas que já se conhecem de Euro-Country, disco a editar em Agosto (“The Jamie Oliver Petrol Station” leva o ouro), e visitou os dois álbuns anteriores, Crazymad, For Me e If My Wife Knew I’d Be Dead. A sua indie devedora da pop, do rock e do country foi a melhor maneira de arrancar para o terceiro dia do festival. Daqui a nada vê-la-emos certamente noutro horário. HT

CMAT no NOS Alive 2025
Hugo Macedo/NOS AliveCMAT

Justice

Num dos dias mais desinspirados da história recente do NOS Alive, o segundo dia da edição de 2025, valeu-nos a dupla de produtores franceses, Justice, para levantar os ânimos e deixar-nos a saltar. Com uma electrónica musculada, um set afinado e adaptado para receber as canções do disco mais recente, Hyperdrama (2024), este foi um dos momentos mais eufóricos do festival, levando os corpos a dançar, a saltar, a bater o pé, a abanar a cabeça ou a mexer-se de outra forma para expressar a festividade de músicas como “D.A.N.C.E.” e “Neverender”, ou a intensidade de “Waters of Nazareth”. Num cartaz em que era suposto Anyma ter sido o cabeça de cartaz e o início de uma “revolução” com o seu espectáculo (alegadamente) inovador e futurista, foram os “velhinhos” Justice a mostrar que, para se ter um espectáculo grandioso, com luzes megalómanas e infra-estruturas gigantes, é preciso ter uma música que corresponda a esta pompa e circunstância. HG

Justice no NOS Alive 2025
Tomicornio/NOS AliveJustice

Rossana

Afirmação ousada: o palco do NOS Alive que recebe, em média, melhores concertos é o Coreto. Apesar de ser um dos palcos menos visitados do festival e um espaço que poucos festivaleiros sabem sequer que existe, esta estrutura, com curadoria da agência Arruada, recebe apenas artistas e bandas portugueses para fazerem espectáculos e showcases. Gostámos (muito) de ver Girls 96, Baleia Baleia Baleia ou Zarco, mas fomos bastante surpreendidos por Rossana. O sexteto liderado por Inês Barroso (Rossana é o seu alter ego) mistura influências de jazz, música tradicional portuguesa, rock psicadélico e cabaré, e já conta com dois discos (À La Portugaise, de 2024, dominou a setlist). Com domínio total dos instrumentos e o carisma da sua vocalista, saímos fãs desta performance, onde caímos por acaso – só queríamos uma alternativa para não termos de adormecer a ver Noah Kahan. “Eles vão longe”, dizia alguém no público. Concordamos. HG

Rossana no NOS Alive 2025
Guilherme Cabral/NOS AliveRossana

Benson Boone

Não inaugurou o palco principal da edição de 2025 do NOS Alive (esse feito fica para Mark Ambor – e é capaz de ser o único que leva de Lisboa), mas foi o primeiro a conseguir uma impressionante enchente, que só Olivia Rodrigo bateu ao longo de três dias de festival. Pouco depois das 19.30 do dia 1, Benson Boone deu dois mortais para aquecer e não mais parou, entre acrobacias, as canções pop dos discos American Heart e Fireworks & Rollerblades e uma confissão envergonhada, mas marota: apanhou um escaldão no dia do concerto e não conseguiu vestir o kit planeado. “Mystical, Magical” e “Beautiful Things” fizeram o público delirar, mas o momento mais memorável fica para “In the Stars”, altura em que o cantor norte-americano pediu para toda a gente guardar os telefones. Foi bonito, a fazer lembrar os concertos de antigamente, com milhares de mãos livres no ar, balançando ao ritmo da música. VM

Benson Boone no NOS Alive 2025
Hugo Macedo/NOS AliveBenson Boone

Olivia Rodrigo

Com apenas 22 anos, Olivia Rodrigo sabe como encher um palco e agarrar uma audiência inter-geracional. Sim, ela fala de e para adolescentes (que eram mais que muitos no Passeio Marítimo de Algés) – mas quem é que chegou à idade adulta sem nunca ter passado de carro sozinho à porta do ex? A segunda visita da cantora a Portugal aconteceu menos de um ano depois da primeira (e sem novidades para apresentar), mas isso não impediu que esgotasse o primeiro dia de NOS Alive. Palmas para ela, palmas para a banda raçuda dela (maioritariamente feminina), palmas para as baladas “vampire”, “drivers licence” e “traitor” e um aplauso ruidoso para o encore super-rock, com “brutal”, “all-american bitch”, “good 4 u”, “get him back!”, labaredas e confetis. VM

Olivia Rodrigo no NOS Alive 2025
Hugo Macedo/NOS AliveOlivia Rodrigo

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