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A electrónica de Anyma não chegou para encher o NOS Alive

O house progressivo do produtor e DJ italo-americano serviu para enviar as pessoas progressivamente mais rápido para casa. O segundo dia do festival valeu por Justice, Capicua e St. Vicent.

Hugo Geada
Escrito por
Hugo Geada
Jornalista
Anyma no NOS Alive 2025
Sara Hawk/NOS Alive | Anyma
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A música electrónica está na moda. Não é nada de muito ousada para se dizer. Quer goste ou não de techno, quer perceba o que está a acontecer nos decks dos DJs, o mais provável é que, se tem o hábito de sair à noite, já deve ter acabado num club da moda ou numa cave estranha de óculos de sol e a dar ao pé ao som de uma batida. Esta foi a proposta e o desafio da segunda noite do NOS Alive, 11 de Julho, com este estilo a dominar o cartaz.

Os protagonistas foram – digamos – escolhas menos óbvias. Apesar de, por exemplo, os franceses Justice serem nomes bem conhecidos para quem tem o hábito de frequentar o circuito dos festivais, os cabeças de cartaz parecem uma escolha pouco ortodoxa. Anunciado com poupa e circunstâncias nas redes sociais (“Temos estado a sonhar com isto há algum tempo”, lia-se no post que o anunciava no Instagram), Anyma, foi o artista com mais destaque nesta data do evento, mas talvez não tenha tido o efeito pretendido.

Depois da avalanche de fãs que invadiu o Passeio Marítimo de Algés para ver Olivia Rodrigo (que acabou por ser a única data esgotada, até ao momento, do NOS Alive), o segundo dia estava, claramente, mais vazio. Por exemplo, à saída do festival, na quinta-feira, era necessário contornar o viaduto para sair do recinto, numa marcha que mal se mexia dada o elevado número de pessoas; na sexta-feira nem demos pelo momento em que finalmente chegámos à estação de comboios para ir embora.

Mas não nos concentremos nos acessos e nos transportes públicos, há um concerto para dissecar. O DJ e produtor italo-americano popularizou-se pelas performances recheadas de visuais futuristas e grandiosos em salas de espetáculos como o The Sphere, sendo o primeiro artista a actuar na ambiciosa e megalómana sala de Las Vegas. De forma generalizada, a quem quer que perguntássemos o que é que esperava do concerto de Anyma, a reacção era de curiosidade em relação aos visuais. Nada de música. Mau sinal para um festival de música.

Anyma no NOS Alive 2025
Sara Hawk/NOS AliveAnyma

Quando chegou a hora de apreciar os tais visuais impressionantes e futuristas, decidimos sentar-nos na bancada para ter uma visão mais completa do cenário: os resultados foram menos entusiasmantes. Convenhamos, o Passeio Marítimo de Algés não tem as mesmas condições que um The Sphere (especialmente quando os ecrãs falham) e todo este espectáculo se torna menos imersivo ao ar livre.

Os tais gráficos e visuais futuristas e impressionantes? São uns robots 3D que surgem no ecrã (um tinha asas de fogo!) com aspecto de terem saído de um videojogo ou daqueles papéis de parede do Windows que ocupam o ecrã do computador depois de termos deixado de mexer no rato durante demasiado tempo. Não são particularmente entusiasmantes ou cativantes. Talvez encham as medidas das mesmas pessoas que deliram com arte criada por inteligência artificial, ignorando que os bonecos humanos que criam tem dedos a mais.

E sobre a música? O que há a apontar? Nada de especial. Não é particularmente memorável, é previsível e estava demasiado alta. Entre techno, transe e house progressivo, sentados no fundo do recinto, era possível ver esta banda sonora a motivar progressivamente a audiência a ir para casa.

Não existe problema nenhum em experimentar coisas novas e tentar mexer e inovar fórmulas antigas, mas – especialmente dada a baixa adesão deste segundo dia do NOS Alive – não temos a certeza se este será o caminho a seguir pelo festival.

Uma salvação justa

Anotaram tudo aquilo que dissemos sobre Anyma? Bom, o concerto de Justice foi exactamente o oposto. Num dia sem grandes novidades ou artistas entusiasmantes, a presença de Justice (que viram o seu concerto cancelado no Primavera Sound 2024 devido a um problema com o palco), a apresentar o disco do ano passado, Hyperdrama, era um dos mais entusiasmantes espectáculos do dia.

Justice no NOS Alive 2025
Tomicornio/NOS AliveJustice

O aviso antes do concerto de que os visuais poderiam provocar convulsões foi adequado. Luzes pulsantes e intensas, enormes infra-estruturas a mover-se em palco e a dar formas diferentes aos feixes de luz, cores intensas a serem projectadas nos ecrãs, cruzes gigantes. Todo este espectáculo serve a electrónica musculada do duo francês e conta uma história ao longo do concerto, repescando sons e letras das canções ao longo do set, criando assim uma continuidade.

Com as novas canções, como “Neverender”, que conta com Kevin Parker de Tame Impala, ou os já clássicos “D.A.N.C.E.”, “Safe and Sound” ou” We Are Your Friends”, cria-se uma dinâmica com os momentos mais instrumentais e focados na componente mais electrónica da música dos Justice – que ainda contou com um momento intenso de drum ‘n’ bass que nos transportou para uma casa suada em Paris. Dá para dançar, bater o pé cantar ou saltar e, ao longo desta hora, deu para fazer isso e muito mais.

A exuberância dos franceses faz sentido com a sua música e é um tributo a todos os gigantes do rock e do heavy metal que influenciam a sua música. É sem dúvida um dos concertos mais memoráveis desta edição.

Também em destaque neste segundo dia do festival esteve a grande apresentação de Um gelado antes do fim do mundo, novo disco da Capicua, recebido com uma enorme salva palmas. “Olhem que assim eu choro”, reagiu com carinho aos fãs que se deleitaram com as músicas, como “Vayorken”, que eram acompanhados por belíssimos vídeos e visuais.

Capicua no NOS Alive 2025
Sara Hawk/NOS ALiveCapicua

St. Vicent subiu ao Palco Heineken à 1.00 e deu o melhor para entusiasmar o público que tinha à sua frente. Apesar de a audiência não ser a maior para encher este espaço, a talentosa guitarrista norte-americana e a sua banda ofereceram uma intensa performance marcada pela teatralidade.

O festival chega ao seu derradeiro dia este sábado, 13 de Julho, com bandas como Muse, Nine Inch Nails ou Amyl and the Sniffers.

Passeio Marítimo de Algés (Oeiras). 10-12 Jul (Qui-Sáb). 84€-199

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