Harmonizações
Time Out Lisboa
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Harmonização: quando o vinho dança com a comida

Na hora de combinar vinho e comida, há dois caminhos clássicos que pode seguir: o da semelhança e o do contraste. Um olhar histórico e sensorial sobre a harmonização (com sugestões para todos os gostos).

Liana Saldanha
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Se fizermos uma viagem no tempo, na Grécia Antiga já se falava da importância do sympósion: um ritual em que se comia, bebia e pensava junto. Não era um simples jantar, era uma experiência filosófica, sensual e profundamente social. Embora os gregos ainda não falassem em “harmonização” no sentido moderno da palavra, já sabiam que o contexto, o ritmo, os sentidos e até a companhia influenciam – e muito – a experiência à mesa.

Na hora de harmonizar vinho e comida, há dois caminhos clássicos que costumo seguir: o da semelhança e o do contraste. A semelhança é quando juntamos o que vibra na mesma frequência, ou seja, um prato delicado com um vinho igualmente subtil, ou um prato untuoso com um branco de boa cremosidade, por exemplo. Já o contraste é quando criamos tensão e equilíbrio: a acidez do vinho que corta a gordura do prato, o tanino que se rende à proteína, ou o açúcar que doma o picante. Um joga com o outro (ou contra o outro). O importante é que, no fim, eles dancem bem juntos na nossa boca.

Se a Grécia nos ensinou que comer e beber é também pensar, sentir e partilhar, então chegou a hora de partilhar. Aqui vão três combinações para abrir o apetite e aguçar a sua curiosidade.
Ah, e com sugestões vegetarianas incluídas, porque prazer à mesa também é saber acolher diferentes escolhas e paladares.

Recomendado: A culpa da sua dor de cabeça é dos sulfitos? Dez mitos sobre o vinho

Harmonização: quando o vinho dança com a comida

Alvarinho + Camarões grelhados com alho e limão

Landcraft Alvarinho Branco 2023. Vinhos Verdes
PVP: 12,90€

Por que funciona: Com frescor, acidez vibrante e notas cítricas, este Alvarinho parece feito sob medida para realçar o dulçor dos camarões e acompanhar o toque de limão do prato. A acidez ainda ajuda a limpar o paladar entre uma garfada e outra. É uma harmonização que funciona com precisão.

Por que funciona (versão vegetariana - tártaro de tomate): O tártaro de tomate traz acidez e umami, as alcaparras acrescentam salinidade, e o azeite dá a textura untuosa. Tudo isso encontra ligação na acidez do vinho, numa combinação afinada e refrescante.

Espumante rosé + Filetes de polvo com arroz do mesmo

Filipa Pato 3B Rosé. Bairrada
PVP: 12,95€

Por que funciona: A acidez firme e as borbulhas do espumante limpam a untuosidade da fritura e renovam o paladar a cada garfada. A mineralidade e a frescura do vinho ecoam os sabores do mar e do arroz cremoso, criando uma ligação natural entre prato e taça.

Por que funciona (versão vegetariana - beringela assada): A beringela assada atinge uma textura sedosa e um sabor sutilmente fumado. O miso e o molho de soja conferem ao prato umami e salinidade notáveis. Aqui, a acidez vibrante e a efervescência do espumante são cruciais: elas contrapõem e aliviam a riqueza do umami e da salinidade, sem chocar. O perfil frutado e seco do rosé adiciona uma camada de frescor, criando uma harmonização que é ao mesmo tempo leve e cheia de profundidade.

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Douro Tinto jovem + Hambúrguer artesanal com queijo da Serra curado

Indício Vinho Tinto 2018. Douro DOC
PVP: 12,50€

Por que funciona (versões carnívora e vegetariana)Um Douro frutado, com energia e taninos jovens, segura bem o tranco de um hambúrguer suculento (que aqui pode ser de carne ou de lentilhas, por exemplo), além disso, flerta com a intensidade salgada e amanteigada do queijo da Serra curado. A acidez ajuda a cortar a gordura, enquanto a fruta vibrante acompanha os sabores defumados e tostados. Uma harmonização que prova que o vinho combina super bem com comida de conforto.

Mais copos

Vinhas plantadas a 50 metros do mar? Temos! Vinhos produzidos em grandes potes de barro como os romanos faziam há 2 mil anos? Também temos! Portugal é pequeno em extensão territorial, porém grandioso em relação à diversidade de terroirs* que contribuem para a riqueza e variedade de seus vinhos. 

Abaixo escrevemos sobre quatro estilos de vinhos provindos de quatro terroirs mágicos e cheios de história. 

*Para quem desconhece esta expressão francesa, terroir é a soma de factores naturais e humanos que moldam as características únicas de um determinado local. Clima, solo, topografia, práticas agrícolas e tradições locais entram em jogo.

Ó mar salgado, quanto do teu sal está nos vinhos de Portugal!

Tão portugueses quanto o poema de Fernando Pessoa – que tive a audácia de adaptar – são os vinhos atlânticos salgadinhos que a paradisíaca costa portuguesa proporciona. O Oceano Atlântico é o principal responsável por conferir características únicas aos vinhos produzidos junto ao mar de Portugal. Muitas vezes, são descritos como vinhos salinos; outros preferem dizer que são minerais, mas o que importa é que o salgadinho é bom e, com cada golo, vem a sensação de que acabámos de dar um mergulho refrescante no mar.

Por receberem brisas atlânticas frias, estes vinhos também costumam ser bastante frescos, ou
seja, para acompanhar as refeições, têm a quantidade de acidez perfeita para limpar o paladar após cada mordida. Nos aromas dos vinhos atlânticos, podemos ter a sorte de encontrar notas de iodo, maresia e algas marinhas. Até ouvimos gaivotas ao imaginar este momento.

Por toda a costa portuguesa, podemos encontrar vinhos deste perfil, mas na lista a seguir, focamo-nos na região de Lisboa e nas ilhas. 

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Não há como começar este artigo sem explicar o que são os vinhos fortificados doces: são vinhos que têm a sua fermentação alcoólica interrompida pela adição de aguardente, o que faz com que parte do açúcar natural da uva, que normalmente se transformaria em álcool, permaneça no vinho. Estes vinhos geralmente têm entre 15% e 22% de álcool por volume, tornando-os mais fortes e potentes do que a grande maioria dos vinhos tranquilos (aqueles que consumimos com mais frequência).

A técnica de fortificação foi originalmente criada para preservar os vinhos durante as longas navegações marítimas que aconteceram entre os séculos XV e início do XVII. Naquela época, os vinhos fortificados eram secos; já os fortificados doces, segundo a minha pesquisa, surgiram no século XVIII. Outros nomes utilizados para vinhos fortificados são licoroso ou generoso (uma fofura este último).

Agora que o leitor já sabe como são produzidos e uma fatia da sua história, está preparadíssimo para as dicas de fortificados doces que aí vem. 

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