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A culpa da sua dor de cabeça é dos sulfitos? Dez mitos sobre o vinho

Rosé é vinho de mulher? O vinho branco envelhece mal? Espumante é só para celebrações? Saiba as respostas para estes e outros mitos sobre o vinho.

Liana Saldanha
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O universo do vinho está imerso em tantos mitos e preconceitos que, muitas vezes, fica difícil distinguir o que é facto do que é ficção. Para os iniciantes, essa névoa de desinformação pode ser intimidante; para os entusiastas, um obstáculo à genuína conexão com a bebida.

A primeira vez que escrevi sobre isto, juntei cinco mitos e percebi que ainda havia muito por desmistificar – e pensei: porque não continuar a escrever sobre esta temática? E assim fiz. Aqui, agora, encontra dez mitos sobre o vinho. Seguimos a abrir garrafas e a fechar a porta a velhos preconceitos.

Depois de ler, contamos consigo para ajudar a espalhar estas verdades. Vamos nessa?

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Dez mitos e verdades sobre o vinho

Mito n.º 1: Vinho branco não envelhece bem

Na verdade, alguns brancos evoluem lindamente com o tempo (e eu disse “alguns”, pois nem todos os vinhos que estão no mercado são pensados para envelhecer). Existem diversas castas que podem ganhar complexidade, textura e notas incríveis com a idade. Alguns exemplos são: Arinto, Encruzado, Alvarinho e Bical.

Sugestão: Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2018 (Região: Bairrada)
PVP: 22,40€

Produzido com as castas Maria Gomes (não muito conhecida por ter potencial de envelhecimento) e Bical. Este vinho é um clássico para quem gosta de vinhos brancos mais envelhecidos. Sofisticado, com complexidade de aromas de um vinho com quase sete anos, e com energia e refrescância de um vinho jovem.

Mito n.º 2: Vinhos naturais são todos instáveis, sujos ou estranhos

É verdade que alguns vinhos naturais podem ter aromas mais intensos ou diferentes do que estamos acostumados, mas isso não quer dizer que sejam mal feitos. Há muita seriedade, técnica e intenção por trás de vinhos naturais bem elaborados. Quando o produtor sabe o que está a fazer, o resultado pode ser elegante, fresco e cheio de identidade – mesmo sem aditivos ou com mínima intervenção (este último é o termo que muitos produtores preferem utilizar, já que consideram que “vinho natural” tornou-se pejorativo).

Sugestão: Las Vedras Limo Branco 2021 (Região: Lisboa)
PVP: 16,75€

Um vinho delicioso, feito com um blend pouco convencional de Roussanne, Marsanne, Petit Manseng, Sémillon, Arinto e Fernão Pires. Nos aromas encontramos frutas cítricas e tropicais. É redondo, leve e cheio de personalidade. Feito com técnica, amor e muito respeito à terra. Vinificação de baixa intervenção, com apenas uma leve adição de sulfitos.

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Mito n.º 3: Espumante é só para celebrações

A vida já é suficientemente dura para deixar o espumante preso às datas festivas. Além das bolhas fazerem cosquinhas amorosas na nossa língua, acompanham lindamente pratos salgados e gordurosos (como queijo de cabra, batatas fritas ou outros pratos fritos).

Sugestão: Casa de Vinhago Brut Reserva 2021 (Região: Távora Varosa)
PVP: 15,99€

Este vinho é tão bom que merecia estar presente em qualquer momento (atenção! Beber com moderação sempre!). Com uma complexidade aromática linda pelas notas de frutos secos, pêra e pêssego. Refrescante, delicado e com um sabor persistente e saboroso. 

+ Três espumantes portugueses que transformam qualquer momento numa celebração

Mito n.º 4: Vinho com borras ou sedimentos está estragado

Encontrar depósitos naturais no fundo da garrafa (especialmente em vinhos não filtrados ou envelhecidos) não é sinal de defeito. Muito pelo contrário: pode indicar um vinho artesanal, menos manipulado e com potencial de guarda. Se o incomodar, decante. Se não, agite e aproveite: há quem diga que os últimos golos são os mais intensos. 

Sugestão: Tubarão Tinto de Ramada 2023 (Região: Vinho Verde/Minho)
PVP: 13€

Um tinto de Vinhão leve, vibrante e guloso. Nos aromas, sobressaem os frutos vermelhos frescos e especiarias. Na boca, é comum sentir aquele pico de acidez tão característico dos vinhos verdes. Este vinho não é filtrado, apenas decantado, por isso pode apresentar algum sedimento. Segundo o produtor Ricardo Garrido, a filtragem retira parte da alma do vinho. Além disso, ao não ser filtrado, ganha uma textura mais rica, complexa – e potencial para uma excelente evolução em garrafa.

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Mito n.º 5 Os sulfitos são os responsáveis pela ressaca

Os sulfitos são necessários para estabilizar o vinho e, em geral, estão presentes em quantidades muito pequenas. Alimentos como frutos secas, batatas fritas ou carnes curadas têm muito mais sulfitos que um copo de vinho. Ressaca? Normalmente é álcool + desidratação, não os sulfitos. Já viu alguém a ter ressaca de damasco seco? Eu não.

Qualquer vinho deste artigo possui sulfitos (mesmo que não sejam adicionados, os sulfitos são produzidos naturalmente durante a fermentação alcoólica), portanto, todos os que foram citados neste artigo valem como indicação.

Mito n.º 6: Rosé é bebida de mulher

Este é bem antigo e preconceituoso. Alguém que sugira um vinho com base no género da pessoa merecia ser proibido de beber vinho para sempre. Um rosé bem feito é um excelente acompanhamento para muitos tipos de comida, do marisco ao bitoque, e é ideal para quem aprecia um bom vinho, seja mulher, homem ou não-binário. 

Sugestão: Página Pinot Noir Rosé 2022 
PVP 14,95€

Um vinho DOC Óbidos com certificado de produção integrada. Está super equilibrado, gastronómico, com aromas de frutos vermelhos, mineral e com textura cremosa.

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Mito n.º 7: Vinho verde é produzido com uvas verdes (não maduras)

O vinho verde não é um tipo de vinho, não está associado ao grau de maturação das uvas, nem à cor do mesmo. Chama-se assim por ser produzido na Região dos Vinhos Verdes, no Norte de Portugal. Há vinho verde tinto, branco ou rosé e podem ser encontrados no mercado os estilos fortificados, espumantes, colheitas tardias e vinhos tranquilos.

Sugestão: Aphros Vinhão Tinto 2021 
PVP 12,50€

Um excelente exemplo de vinho verde – produzido, obviamente, com uvas maduras e de qualidade –  com acidez que refresca, fácil de beber, taninos macios, aromas de frutas vermelhas e ervas aromáticas.

Mito n.º 8: Quanto maior o fundo da garrafa, melhor o vinho

Historicamente, era muito importante que as garrafas de vinho tivessem o fundo da garrafa profundo por questões como a estabilidade e a integridade da garrafa, principalmente no caso dos espumantes. Com os avanços tecnológicos isto mudou e hoje em dia existem vinhos de qualidade excepcional com o fundo da garrafa plano.

Sugestão: Casa Cadaval Riesling 2016
PVP 14,85€

Um dos melhores rieslings produzidos em Portugal que já provei. Acidez refrescante, com aromas de fruta de caroço e petróleo, típico aroma de rieslings de clima mais quente.

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Mito n.º 9: Vinho branco só pode ser produzido com uvas brancas

Ainda bem que esta é uma inverdade, pois o que existe de vinhos brancos excelentes produzidos com castas tintas não é brincadeira. Basicamente, o que dá cor ao vinho é o contacto com a casca (pele) das uvas durante, principalmente, a fermentação. Se não existe esta maceração, o líquido que é escoado é branco/transparente.

Sugestão: Ervideira Invisível Branco 2022
PVP 12,95€

Vinho produzido com a casta tinta Aragonez (tempranillo em Espanha). Refrescante, com aromas de flor branca, frutas tropicais como manga e maracujá.

Mito n.º 10: Vinho tinto é para ser bebido apenas à temperatura ambiente

Primeiramente, a temperatura ambiente é algo bastante subjetivo. A importante instituição de ensino WSET (Wine & Spirit Education Trust) defende que vinho tinto encorpado deve ser servido à temperatura ambiente, que se entende ser entre 15º e 18º. Já os tintos mais leves, é sugerido servir entre 13º e 15º. Dica: coloque o vinho no frigorífico cerca de 25 minutos antes de servir. Se tiver muito frio, é só esperar o vinho aquecer no copo. Aproveite para analisar como os aromas vão ficando mais evidentes enquanto esquenta.

Sugestão: Niepoort, Drink Me Nat Cool 2021, 1L
PVP 9,50€

Um vinho tinto leve, fresco e fácil de beber. Apresenta aromas de rosa, morango e especiarias.

Mais sobre vinhos

Quer envelhecer vinho em casa? Guarde os vinhos deitados em um local fresco, de preferência uma cave – com temperatura constante, longe da luz do sol, livre de cheiros e trepidações. 

Os vinhos naturais e biológicos não são uma moda passageira. São diferentes, e o método de produção é, aliás, bem antigo. Começamos por lhe explicar as diferenças entre vinificação natural, biológica e biodinâmica e dizemos-lhe onde pode ir tirar as teimas e provar este tipo de vinhos em Lisboa. Bons brindes.

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