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Os novos doces que tem de provar (ou evitar)

Todos os meses analisamos as novidades da junk food com a seriedade que ela não merece

Escrito por
Luís Leal Miranda
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A junk food não é toda igual. Há aquela que faz juz ao nome e não passa de lixo embalado. E há opções sofisticadas, capazes de fazer as nossas papilas gustativas (e as nossas cáries) aplaudir de pé.

Todos os meses, separamos o trigo do joio e vamos ao google ver o que quer dizer "joio". Para que fique registado: joio é "uma planta poácea que nasce nos trigais e lhes é nociva".

Recomendado: Os melhores chocolates em Lisboa

Os novos doces que tem de provar (ou evitar)

Ovo Ferrero Rocher
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1. Ovo Ferrero Rocher

★★★★★

Sabem que dia é hoje? É natural que tenham de pensar um bocado. A estrutura dos dias foi dinamitada pela quarentena – será que precisamos de nomes para os dias da semana quando todos os dias são iguais? É no meio desta confusão cronológica que encontramos esta sobremesa: uma guloseima sazonal de um bombom sazonal, mas de estações diferentes. O Inverno na Primavera. Mais um paradoxo para testar a elasticidade da membrana espaço-tempo: um ovo da Páscoa de um chocolate que só se vende no Inverno. É perfeito. A receita do Ferrero – avelã, chocolate – aplica-se aqui a uma forma oval. No interior, encontramos os bombons que supostamente não devíamos estar a comer nesta altura do ano. É uma sobremesa radical, perfeita para estes tempos de incerteza. Agora só falta fazer um ovo da Páscoa recheado com Mon Chéri. Pode ser só o licor, não importa.

Ben & Jerry’s Vegan Cookie Dough
©DR

2. Ben & Jerry’s Vegan Cookie Dough

★★☆☆

Esta rubrica de análise ao melhor (e ao pior) da guloseimaria internacional gaba-se do seu eclectismo. Tanto critica a doçaria mais chunga e banal como as mais sofisticadas sobremesas produzidas em massa. E trata da mesma maneira os chocolates assumidamente javardos e os snacks que não estão a tentar tornar-nos insulinodependentes. É por isso que esta é a coluna de crítica de guloseimas mais antiga da imprensa nacional – o facto de ser a única também ajuda ao primeiro lugar no ranking. Isto para dizer que foi com entusiasmo que soubemos da existência de um Ben & Jerry’s vegan. Provámo-lo de forma apaixonada e mente aberta, mas o que trincámos foi uma pequena desilusão. É um gelado menos cremoso, mas também menos denso. Uma versão pálida e desinspirada de um dos sabores icónicos da marca. Há sobremesas vegan óptimas em que não se nota a ausência de lacticínios, mas este gelado lembra-nos que, às vezes, a via láctea é o caminho mais saboroso.

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Snickers Crisp
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3. Snickers Crisp

★★★

Imaginem uma noite escaldante de amor entre um Toffee Crisp e um Snickers. Não precisam de imaginar pormenores, credo! Nada de cogitar sobre as formas de reprodução dos paralelepípedos de chocolate. A ideia aqui é ilustrar a génese do novo Snickers Crisp, a mais recente mutação do hipercalórico e ligeiramente viciante snack de caramelo e amendoim. Nesta versão, o nougat do recheio é substituído por uma amálgama de arroz tufado que partilha espaço com a habitual mistura de caramelo e amendoim. É um Snickers mais estaladiço, mas não se pense que a introdução do novo ingrediente – o elemento que lhe dá o “crisp” – altera a quantidade de açúcar. O nível de doçura continua aterrador, mas o arroz tufado dá-nos uma ilusão de ligeireza. Resta-nos uma dúvida: estamos perante um Toffee Crisp com amendoim ou um Snickers a querer fazer-se passar pelo chocolate da Nestlé?

Maltesers Bunny
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4. Maltesers Bunny

★★★

A Páscoa é uma altura de felicidade para os mais gulosos. Mas também é um período de tristeza e frustração. É durante estas semanas que recordamos aquele momento em que vimos um ovo da Páscoa pela primeira vez: gigante, reluzente, prometendo horas de lambarice. Até que descobrimos a verdade sobre este sonho oval – é oco. Foi por isso que nos aproximámos com relutância destes coelhinhos de chocolate da Maltesers. Os leporídeos raramente são representados enquanto sobremesa pascal – os ovos, algo que estão anatomicamente impossibilitados de produzir, ocupam esse lugar. Mas estes chocolates orelhudos são uma revelação surpreendente e uma cura para o trauma pascal. São densos, com um recheio crocante de malte de cevada seco. Um Malteser gigante zoomorfizado, obrigatório em todas as casas a partir de hoje e até ao domingo da ressurreição.

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Ritter Sport Vegan
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5. Ritter Sport Vegan

★★★

Há chocolates que satisfazem a nossa gulodice e há chocolates que satisfazem a nossa curiosidade – enquanto, é claro, aliviam o nosso vício de cacau. Este novo produto da reputada marca de guloseimas quadradas Ritter Sport pertence ao segundo tipo. É um chocolate vegan, com 50% de cacau da Nicarágua, avelãs inteiras e pedaços de amaranto. Uma delícia semi-requintada que nos obriga a colocar em causa a influência do leite na produção de um chocolate decente. E nos compele, também, a ir ao Google ver o que é “amaranto”. Resultado: é um pseudocereal muito utilizado na cultura mesoamericana dos Astecas. A introdução deste último ingrediente acrescenta pouco a este chocolate amargo, muito rico, mas como dissemos logo no início há chocolates especiais que consumimos sobretudo para satisfazer a nossa curiosidade. E quando é que foi a última vez que a sua gulodice o fez clicar em páginas e páginas da Wikipedia sobre a cultura Asteca?

Kinder Cards
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6. Kinder Cards

★★★

A vida está péssima para as bolachas enquanto negócio – e óptima para as bolachas enquanto espécie. São o inimigo número um dos nutricionistas, diabolizadas por pais e educadores, remetidas para o fundo de uma despensa onde só alguns adultos irresponsáveis ousam entrar. É por isso que ao ver uma novidade deste género alimentar nos escaparates dos supermercados, ficamos com um misto de alegria e tristeza: alegria porque, boa!, mais bolachas; tristeza porque sabemos que se calhar estas também não se aguentam muito tempo no mercado. As Kinder Cards são bolachas óptimas com uma péssima relação quantidade/preço. A fórmula é simples: juntar a uma base crocante o icónico chocolate da marca, criando o tipo de snack para o qual não se encontra, hoje em dia, uma justificação para comer. Ideia: encará-lo como uma sobremesa, uma coisa para acompanhar o café. Pode ser que assim se safem.

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Trolli Glotzer Freche Freunde
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7. Trolli Glotzer Freche Freunde

★★★

As gomas têm várias virtudes. A maior delas é não se deixarem limitar pelas formas. São um produto capaz de se moldar à imagem e semelhança de qualquer ser ou objecto. Tudo isso enquanto mantém uma coerência surpreendente: sabem quase sempre a citrinos extra-açucarados. Estas qualidades permitem-nos viver experiências – ou simulacros de experiências – que nunca viveríamos num mundo sem gomas. Por exemplo, comer os olhos de um lagarto gigante. É graças a esta novidade da marca Trolli que ficamos a saber que as órbitas esbugalhadas de um réptil sabem a marshmallow com recheio de laranja e framboesa. É um doce muito doce que arranha a garganta e tem um aviso curioso na embalagem: “Primeiro mastigar, depois engolir!”. Agora não se enganem.

Magnum Ruby
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8. Magnum Ruby

★★★☆☆

A chegada de novidades ao catálogo da Olá é o primeiro sinal de que o Inverno se aproxima lentamente do fim. Não é a chegada da andorinha que anuncia a Primavera, mas anda lá perto. O cartaz da marca de gelados tem, desde o início de Fevereiro, este Magnum Ruby: uma versão do clássico gelado de pauzinho com o chocolate da moda, feito a partir de um tipo de cacau especial que o torna cor-de-rosa. Este chocolate tem um sabor mais frutado – com “notas de frutos silvestres”, dizem. Pode ser verdade, pode ser o nosso cérebro a deixar-se enganar pela cor. Mas a Olá aproveitou esta confusão sensorial e juntou à baunilha do recheio um molho de framboesa. É um Magnum que parece um Solero mas que sabe a um Magnum normal. Uma novidade que é mais surpreendente ao olhar do que ao paladar.

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Original Sahne Muh-Muhs
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9. Original Sahne Muh-Muhs

★★★

Os caramelos fazem parte da tradição doceira portuguesa, muito por influência dos nossos vizinhos espanhóis. “Ir a Badajoz comprar caramelos” é uma espécie de versão raiana do passeio dos tristes: as pessoas que vivem no litoral vão aos domingos de carro ver o mar; quem vive perto da fronteira passa para o lado de lá e abastece-se de caramelos. É por este motivo que os caramelos a que os nossos dentes se habituaram – rijos, responsáveis por algumas visitas ao dentista – são um tipo muito específico de caramelo. E são muito diferentes destes Muh-Muhs, um clássico toffee alemão que dispensa grande força mandibular. São caramelos moles, que se desfazem na boca, como uma nuvem doce. Um torrão de açúcar, leite e manteiga, isento de corantes e conservantes, muito diferente dos monolitos antimaxilar do país vizinho.

Not Guilty Nuts
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10. Not Guilty Nuts

★★★★★

Pode haver prazer sem culpa? Pode, mas não é a mesma coisa. O melhor prazer tem sempre um pinguinho a culpa, um travo ligeiro a ressentimento, uns aromas de lamentação. Por isso, quando O Bom, o Mau e o Glutão descobriu um chocolate chamado Not Guilty, apressou-se a arranjar-lhe defeitos. Não foi fácil. A tablete em análise é feita com chocolate negro 50% e recheada de manteiga de amendoim. Um poço de virtudes: cacau certificado, vegan, sem glúten, sem açúcares refinados e sem óleo de palma. Perante tantas qualidades, uma pessoa desconfia. Mas as papilas gustativas, que não conseguem ler rótulos, entusiasmaram-se. É um delicioso e sofisticado chocolate rico em cacau, com um surpreendente recheio de amendoim. Falta o ingrediente “culpa”, mas isso resolve-se facilmente adicionando, em casa, qualquer um dos nossos pecados capitais preferidos. Como a gula, por exemplo: basta comer uma tablete inteira à dentada, sem dizer nada a ninguém.

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Carte d’Or Mint Chocolate
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11. Carte d’Or Mint Chocolate

★★★★☆

Podemos argumentar que todas as sobremesas de mentol sabem a pasta de dentes. É verdade. Mas também podemos olhar para a coisa de outra maneira: todas as pastas de dentes sabem a sobremesas de mentol. É tudo uma questão de perspectiva – e de higiene oral. O Bom, o Mau e o Glutão pertence ao segundo grupo de pessoas, os optimistas que gostam de pensar que estão a pôr na sua escova de dentes um topping de after-eight. Foi por isso com grande entusiasmo que este crítico de guloseimas recebeu esta novidade da Carte d’Or. É uma pasta doce e mentolada, salpicada por pedaços estaladiços de chocolate negro. Refrescante e intenso, este gelado deixa-nos com a sensação de que fizemos alguma coisa boa pela saúde dos nossos dentes, quando, na verdade, acabámos de levar as cáries a um spa.

Maçãs cobertas com chocolate negro do Pingo Doce
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12. Maçãs cobertas com chocolate negro do Pingo Doce

★★★★☆

Finalmente, uma maneira engenhosa de convencer os garotos que não gostam de comer chocolate a consumir doses moderadas deste subproduto do cacau. A envolver fatias finas de maçã desidratada, o chocolate pode assim ser consumido inocentemente pelas pessoas que insistem em não se render aos encantos desta guloseima. Este produto, vendido em pequenas embalagens de 100 g, é produzido e comercializado por uma cadeia de supermercados famosa por estar aberta no Dia do Trabalhador. Não é por causa disto que lhes vamos perdoar a provocação, mas temos de ser sinceros: esta maçã com capa de chocolate é um dos snacks mais gostosos e surpreendentes de 2020. O chocolate é de qualidade, a maçã é estaladiça e a combinação resulta melhor do que outras combinações fruta-chocolate. Imaginem aquelas tiras de laranja cobertas de chocolate que se vendem nas confeitarias, mas em bom.

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Peta Zetas Gum
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13. Peta Zetas Gum

★★★★★

Todas as pessoas sabem dizer onde estavam quando foram os ataques do 11 de Setembro, quando morreu a princesa Diana e quando provaram Peta Zetas pela primeira vez. É um acontecimento marcante – mas nada traumático. É um choque, uma comoção, mas no bom sentido. Estes estalinhos doces são a guloseima mais engenhosa de sempre: pedaços de açúcar efervescente que ganham vida assim que entram em contacto com a nossa saliva. A reacção pode até fazer algumas crianças interessarem-se por físico-química, mas o mais provável é fazer a garotada interessar-se por outros sabores desta espécie de refrigerante sólido. As novas Peta Zetas Gum tornam este fogo de artifício comestível num doce mais complexo, porque depois de fazerem da nossa boca um trampolim transformam-se em pastilha elástica. E é desta forma que a única guloseima que podemos comer de boca aberta (clac! clac! clac!) nos obriga a utilizar os maxilares. Genial.

Ritter Sport Cocoa Selection
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14. Ritter Sport Cocoa Selection

★★★★☆

Não deixa de ser fascinante que uma marca de chocolates com a palavra “sport” no nome goze de uma excelente reputação junto dos gulosos deste planeta. Mas a verdade é que cada uma das invenções destes chocolateiros alemães merece um lugar no Passeio da Fama da doçaria industrial. A colecção Cocoa Selection, que chega agora às nossas prateleiras, é mais um caso de sucesso: um chocolate feito com apenas três ingredientes (pasta de cacau, manteiga de cacau e açúcar) com uma intensidade e proveniência específicos– neste caso, 74% de cacau vindo do Peru. Este Ritter Sport é uma tablete deliciosa que consegue continuar a ser uma sobremesa, apesar de toda a seriedade envolvida. Em resumo, é um chocolate negro que não é uma seca.

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Pocket Coffee
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15. Pocket Coffee

★☆☆☆☆

A época natalícia é forte na acumulação de chocolates e bombons. Em algumas famílias, dá ideia de que estamos na véspera de uma hibernação, tal a quantidade e variedade de guloseimas que se vai acumulando. Mas no final desta temporada, semanas depois de a árvore de Natal voltar à caixa e de o presépio estar devidamente arrumado na prateleira alta da despensa, um bombom vai subsistir. Um chocolate que resiste à gula de todos, um doce que vai permanecer intacto durante toda a época natalícia. Esse bombom é o Pocket Coffee. Imaginem que estão a morder um Mon Chéri, mas em vez de licor e ginja escorre-vos pela goela uma microdose de café frio. E não estamos a falar de café bom – é uma coisa aguada, reminiscente de um líquido que em tempos se poderá ter qualificado como “café”. O Pocket Coffee é um daqueles bombons que irá certamente desagradar a miúdos e graúdos.

Kit Kat Senses Double Chocolate
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16. Kit Kat Senses Double Chocolate

★★★★☆

O que é melhor do que um Kit Kat? Dois Kit Kats. E o que é melhor do que dois Kit Kats? Dois Kit Kats e meio com extra-chocolate. O novo Kit Kat Senses Double Chocolate é isso mesmo, o nosso combinado de chocolate e wafer preferido em versão agigantada. É, resumindo, uma tablete de Kit Kat. Os habituais quatro pauzinhos de chocolate são substituídos por dez exemplares da mesma espécie. E a camada de chocolate de leite aparece reforçada com mais cacau. Não nos deixemos iludir: este novo snack da Nestlé não passa de um Kit Kit muito comprido que parece ter sido pensado à medida de todos os gulosos que conseguem comer dois Kit Kats de seguida, mas ficam a meio de um terceiro. Se for a um jantar na casa dos amigos e lhe pedirem para levar sobremesa, também pode levar uns destes em vez de uma Viennetta. As pessoas começam a ficar desconfiadas dessa sua mania de levar Viennetta para todo o lado.

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Boom Pop Vampire Gum
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17. Boom Pop Vampire Gum

★★★☆☆

O Bom, O Mau e o Glutão começou recentemente a debruçar-se sobre as sobremesas masoquistas. Existem dezenas de pastilhas, chupas ou gomas que têm, entre as suas características, o facto de serem horríveis. Coisas intragáveis, super-ácidas, óptimas para incentivar a produção de saliva e, por isso, muito úteis para quem tem de passar o dia a lamber selos e envelopes. Este chupa- -chupa de temática vampírica, tem várias qualidades: uma camada de pó muito ácido, revoltante; um chupa com sabor a framboesa que tem propriedades pinta- -línguas e um recheio de pastilha elástica de sabor genérico. Como o Bom, o Mau e o Glutão é um gourmet dos doces, vai descrever esta experiência como “uma viagem”. Mas não vai especificar que tipo de viagem – se é um interrail pela Europa ou um Lisboa-Porto de autocarro, com a bexiga cheia, num daqueles dias em que o motorista não pára em Fátima.

Dairy Milk Crunchie
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18. Dairy Milk Crunchie

★★★★★

Aqui está uma fusão que aprovamos sem qualquer hesitação. Um enxerto de duas guloseimas óptimas que resulta num produto inteiramente novo – e um daqueles casos raros em que a soma de duas boas ideias dá uma ideia ainda melhor. O Dairy Milk Crunchie não inventa sequer no nome. É tudo às claras: uma tablete Dairy Milk fundida com um Crunchie. Ficamos com um pedaço denso de chocolate de leite – rico, meio aveludado – intercalado por pedaços de caramelo crocante e ligeiramente pegajoso. Poupa-nos o trabalho de comprar uma embalagem de cada – ou liberta-nos da indecisão sobre que guloseima comprar. É uma tablete cara, sim. Mas façam o mesmo raciocínio que fazem sempre que compram um champô que já vem com amaciador e vão ver que este 2 em 1 é uma poupança.

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Destroyer
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19. Destroyer

★★★★☆

Depois de trincar esta pastilha elástica temos vontade de escrever este texto todo em maiúsculas. Será da garganta ligeiramente irritada? Da inundação de saliva provocada pela acidez desta guloseima? O Destroyer é um produto desenhado por masoquistas, para masoquistas. Uma receita inventada e comercializada por um génio do mal com um sentido de humor distorcido. Reparem: o interior desta pastilha é anunciado como “lava líquida”, a descrição na embalagem é “choque de acidez” e o elemento decorativo principal são caveiras. Mas há uma ressalva. Sim, meus amigos, este produto é livre de glúten. Também nem tudo podem ser más notícias, não é? O Destroyer está no panteão das guloseimas chocantes, um filme de terror para mastigar e que tem, no final, um delicado sabor a morango.

Ferrero Rondnoir
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20. Ferrero Rondnoir

★★★★☆

A popularidade deste bombom é fácil de medir: só o podemos encontrar numa caixa de oferta com várias especialidades da Ferrero. Não se vende separadamente. Numa embalagem de Ferrero Collection encontramos os míticos Rocher e os elegantes Rafaello, todos eles com respeitáveis carreiras a solo. Mas este Rondnoir não existe fora desta antologia de guloseimas natalícias. E é uma pena. Trata-se de uma esfera delicada de chocolate preto, com uma superfície estaladiça parecida com o Ferrero Rocher mas um núcleo denso de cacau– chamam-lhe “pérola de chocolate”. No contexto daquela embalagem de bombons é óptimo para contrabalançar sabores, mas será que quando o tempo aquecer e as especialidades da Ferrero forem retiradas das prateleiras (a migração mais famosa da doçaria industrial) alguém se vai lembrar do Rondnoir? Nós cá estaremos para o receber de braços abertos.

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Milka Moments
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21. Milka Moments

★☆☆☆☆

Chegou às prateleiras dos supermercados uma avalanche de doces oportunistas, embalagens bonitas que têm como único objectivo serem uma prenda de Natal, “uma lembrançazinha”, “uma coisa sem grande importância, se não gostares podes ir trocar – tenho aqui o talão”. É a altura preferida do ano para O Bom, O Mau e o Glutão. Mas entre a oferta gigantesca de bombons, há uns quantos maumaus – chocolatinhos sem graça, versões desenxabidas de marcas conhecidas. É o caso destes Milka Moments. Parece que pegaram numa tablete de um dos chocolates Milka recheados de Oreo, cortaram-na em pedaços e colocaram-na em pequenos pacotes individuais. Esta façanha da engenharia alimentar (ou chico-espertice) custa quase o dobro de um chocolate de 100 gramas exactamente igual. O Natal é uma altura de generosidade e partilha, mas vamos ser generosos uns com os outros e não com as multinacionais de guloseimas.

Nesquik Alphabet
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22. Nesquik Alphabet

★★☆☆☆

Finalmente uma sopa de letras para o pequeno-almoço! Qualquer pessoa que se interesse por literatura e chocolate vai ficar fascinada com estes cereais que promovem a literacia. A novidade da Nestlé inclui todas as letras do alfabeto (os puristas podem colocar o “K” de lado) feitas com cereais integrais e chocolate. Quando abrimos uma embalagem desta tipografia comestível achamos que vamos provar apenas um Nesquik num novo formato, mas não: esta versão contém menos 40% de açúcar do que a receita original. A diferença é significativa e faz-se notar: os cereais são muito menos doces e o leite não se deixa tingir de castanho. Será para promover a leitura dos conteúdos no interior da taça? Saúda-se esta versão mais saudável e pedagógica do Nesquik, mas tememos pelo fim daquelas substâncias açucaradas que até arranhavam a garganta de tão doces. Uma nota final sobre as letras: os “W” são apenas “M” de pernas para o ar.

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Trident Monster Bubblegum
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23. Trident Monster Bubblegum

★★★☆☆

Finalmente, pastilha elástica com sabor a pastilha elástica. A novidade da Trident vem colmatar uma falha gritante no mercado: coisas cujo sabor corresponde ao nome. Não podiam ter-lhe chamado só “pastilha elástica”? Não, não podiam. Explicamos: na língua portuguesa existe apenas uma palavra para definir todo o tipo de substâncias mascáveis. Mas o inglês distingue “chewing gum” de “bubble gum”. Estas últimas são pastilhas maiores que permitem, tal como o nome indica, fazer balões. A novidade da Trident são pastilhas simples de mascar (cá também lhes chamamos chicletes) com sabor a pastilhas de fazer balão. E que sabor é esse? Mentol e tutti-frutti. Ou seja, pasta de dentes e a última gelatina em cima da mesa na festa de anos de uma criança. São uma espécie de versão civilizada das pastilhas da nossa infância e uma maneira curiosa de nos fazer questionar tudo aquilo que vemos e provamos: haverá um dia rebuçados com sabor a pastilha elástica para pessoas que não gostam de enganar o estômago?

Bolachas Prince
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24. Bolachas Prince

★★★★☆

Esta marca de bolachas fez o caminho inverso do artista com o mesmo nome – ou melhor, com as mesmas inseguranças em relação ao nome. Enquanto Prince, o músico, decidiu passar a ser tratado por um símbolo acompanhado pela expressão “o artista anteriormente conhecido como Prince”, estas bolachas deixaram para trás o nome Príncipe e agora ostentam nos seus pacotes o equivalente anglo-saxónico: Prince. Estamos perante “as bolachas anteriormente conhecidas como Príncipe”, um clássico dos lanches de muitas infâncias e adolescências, uma iguaria de supermercado que terá a sua quota parte de culpa nas estatísticas de obesidade infantil. Este rebranding torna-as mais internacionais, evita conflitos com os filhos de S.A.R. Dom Duarte Pio, caso ele volte ao trono, e traz novidades para o mercado, como estas minibolachas. Versões mais portáteis, miniaturizadas, das bolachas originais, perfeitas para comer obsessivamente ou testar a nossa resiliência.

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Pantagruel Ruby
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25. Pantagruel Ruby

★★★☆☆

Já chega. Vamos todos deixar de fingir que o “chocolate de culinária” serve apenas para fazer sobremesas. Acabou a farsa. Estas tabletes gigantes de chocolate rico em cacau podem fazer parte da dieta de um guloso inveterado, seja como primeira opção de um apreciador de doçaria rija e com pouco açúcar; ou como alternativa desesperada de um viciado em doces que já esvaziou a despensa. Podemos olhar para estes produtos como ingredientes, elementos que compõem pratos mais ou menos sofisticados, ou como substâncias que valem por si. Esta novidade da respeitadíssima marca Pantagruel introduz no mercado dos chocolates de culinária o fruto do cacau rosa. Estas versões mais exuberantes e ligeiramente frutadas têm aparecido com frequência nos escaparates e as marcas parecem querer impingi-lo à força. Não é melhor que o chocolate convencional, mas tem uma virtude: se formos apanhados a trincar um pedaço às escondidas podemos sempre defendermo-nos e dizer que estamos a comer um pouco de sabonete.

JD Gross Pistachio
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26. JD Gross Pistachio

★★★☆☆

O pistáchio é o segundo fruto seco mais popular entre 
os chocolates, logo atrás da amêndoa. E o número um nas conversas de elevador entre dicionaristas: é pistacho, pistácio ou pistáchio? Fez bem a transição dos aperitivos para as sobremesas: tanto pode ser o salgadinho com que bebemos umas cervejas como pode assumir a forma do gelado que termina a refeição. A combinação com chocolate, sobretudo chocolate negro, é um dos grandes binómios da gulodice semi- sofisticada. Um emparelhamento brilhante, tipo morangos e chantilly, caramelo e sal, Armando Gama e Valentina Torres. Este chocolate da marca JD Gross, essa mesmo, a gama alta do Lidl, é um bom exemplo das qualidades deste duo. É chocolate negro mas não é escandalosamente amargo – não parece 
que estamos a morder um vaso de terra – e tem o suave sabor
a torrado dos frutos secos. É um bocadinho sofisticado, mas também não é preciso esticar o dedo mindinho enquanto se come.

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M&M Salted Caramel
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27. M&M Salted Caramel

★★★★★

Um M&M pode ser aquilo que quisermos. É uma guloseima maravilhosa. Existe uma premissa, é
 claro: drageias arredondadas cobertas por um açúcar colorido. Mas as coisas terminam aí. No interior pode estar chocolate, amendoim ou qualquer outra coisa doce que conseguirmos imaginar. Existem verdadeiros fenómenos de engenharia, como os M&M de bolo de anos, banana split ou pimento jalapeño. Mas a nossa experiência preferida até hoje é esta: os M&M’s de caramelo salgado. É uma iguaria que parece resultar de um relacionamento ilícito entre uma drageia de chocolate clássica e um toffee salgado. Primeiro é estaladiço, depois é mole e a seguir é pegajoso. Começa por ser doce, depois salgado e depois doce outra vez. É uma guloseima gulosa e perigosamente viciante que, felizmente, é muito difícil de encontrar à venda em supermercados.

Ovomaltine Crunchy Cream
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28. Ovomaltine Crunchy Cream

★★★☆☆

Longe vão os tempos em que o Tulicreme era a única excentricidade achocolatada para botar no pão. Para trás ficaram também outras tentativas amadoras de adoçar o lanche. Quem é que nunca espalhou chocolate em pó por cima de uma carcaça com manteiga? Quantos de nós terão colocado às escondidas uma colher de sopa de açúcar dentro de um pão com margarina? Estas sanduíches artesanais, fruto do nosso engenho e gulodice, eram só o início de uma relação longa com os cremes de barrar à base de chocolate. A Nutella chegou para dominar este nicho de mercado, mas há outras marcas a entrar na corrida. A Ovomaltine, referência internacional dos achocolatados, é a mais recente. Não deixa de ser curioso que exista um creme de barrar o pão com o mesmo sabor do pó para meter no leite. É possível, graças a esta inovação, ter um lanche completamente redundante – e hipercalórico: leite com Ovomaltine com pão com Ovomaltine. Onde esta substância espessa e achocolatada ganha à concorrência é nos pedaços crocantes de malte, que a transformam num intrigante creme estaladiço. É perfeito para fãs de Ovomaltine, mas pode representar um desafio para paladares mais conservadores.

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Leite com Chocolate M&Ms
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29. Leite com Chocolate M&Ms

★★☆☆☆

É curiosa esta mudança de estado físico dos chocolates de produção industrial. Estiveram anos acomodados ao estado sólido, mas recentemente começaram a mudar-se para o estado líquido. E enquanto esperamos pela outra mutação, do estado líquido para o gasoso (imaginem: nuvens de chocolate, vapores de gelado) decidimos provar estes M&Ms numa garrafa. Como é que se consegue engarrafar um pacote das mais famosas drageias de chocolate do mundo? Na nossa imaginação elas seriam espremidas e fermentadas e cada garrafa destas continha uma espécie requintada de vinho de M&Ms. Mas não. O que temos aqui é um leite achocolatado com sabor a estas Pintarolas americanas. E a que é que elas sabem? Chocolate. E o que é que contém esta garrafa afinal? Leite com chocolate. Só isso. Para encontrar resquícios de algum sabor a M&M é preciso estar atento e, sobretudo, usar a imaginação.

Cémoi Extra Dark 82%
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30. Cémoi Extra Dark 82%

★★★★☆

A percentagem de cacau num chocolate parece ser inversamente proporcional à nossa gulodice. Pouco cacau: um snack infantil com um sabor vagamente achocolatado. Muito cacau: uma iguaria sofisticada cuja complexidade de aromas e sabores só é decifrável pelos consumidores mais exigentes. Esta visão maniqueísta da distribuição de cacau afasta algumas pessoas de verdadeiras iguarias. Um Twix merece ser apreciado pelo mais exigente gourmet. E um chocolate negro de qualidade pode muito bem cair no goto de um abarbatador de rebuçados e chocolates genéricos. Mas há um problema. Muitos dos chocolates negros do mercado são tão intensos que parecem um rebuçado de mentol ao contrário – quente em vez de fresco, arrebatador. O chocolate desta semana tem 82% de cacau mas não nos dá a sensação de estar a trincar um vaso de terra. É suave, amargo q.b. e muito equilibrado. Bom para acabar com preconceitos ou começar novos vícios.

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Choko Zombie
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31. Choko Zombie

★★★☆☆

Se houvesse uma boa variedade de guloseimas saudáveis, esta rubrica corria o risco de se extinguir. O chocolate que analisamos esta semana é daqueles que coloca em causa a razão de ser d’O Bom, o Mau e o Glutão. Chama-se Choko Zombie e é um chocolate rico em cacau, pobre em açúcar, ao qual se juntam superalimentos como a spirulina (a alga verde que “faz bem a tudo”). Tem uma embalagem muito divertida – uma novidade no ramo da guloseimaria funcional – mas um preço que se leva muito a sério: mais de cinco euros por tablete. As coisas pioram quando tiramos o chocolate da embalagem e verificamos que o tamanho do rectângulo de cacau é muito inferior ao do seu invólucro. Mas o sabor enche as medidas: falamos de um chocolate preto feito com 67% de cacau biológico vindo de São Tomé. É uma maravilha e um pequeno luxo que nada tem a ver o aspecto galhofeiro do pacote. Esta mistura de cultura pop com alta gastronomia é curiosa, mas muito arriscada. E o preço deita tudo a perder.

Lion Black & White
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32. Lion Black & White

★★☆☆☆

Às vezes ficamos com a ideia de que as marcas estão a ficar sem imaginação. A maior parte das novidades que chegam ao mercado parecem reinvenções manhosas, perseguindo modas e manias; ou tentativas falhadas de reposicionar uma guloseima como um snack saudável. Mas depois há iniciativas corajosas, que desafiam o cânone e mexem com receitas antigas e queridas pelo público. O Lion é um chocolate perfeito. Está bom, não mexe. Mas a Nestlé decidiu criar esta versão a preto e branco que se explica facilmente – mas dificilmente se justifica:
é um Lion com wafer de chocolate preto coberta por chocolate branco. É uma variação curiosa do produto original. Não é uma cover nem um remix. É uma versão exagerada, estridente, daquelas dos concursos de canções em que toda a gente quer imitar a Whitney Houston. O Lion Black & White faz-nos olhar para o Lion original e suspirar enquanto a “I Will Always Love You” começa a tocar na nossa cabeça.

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Maltesers Instant Hot Chocolate
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33. Maltesers Instant Hot Chocolate

★★☆☆☆

Tempos houve em que estávamos limitados a duas ou três marcas de chocolate em pó. Eram substâncias mágicas. Num instante o nosso entediante mata-bicho transformava-se numa refeição de sonho, contendo o ingrediente preferido da pequenada: chocolate. Entretanto os tempos mudaram, os pais já não compram estas lambarices com o mesmo entusiasmo
e o mercado diversificou-se. Agora há muitas marcas de (vamos chamar-lhe assim) “achocolatantes”. E os principais criadores de guloseimas juntaram-se à festa. É aí que surge esta lata de pó que promete criar em nossas casas um pacote de Maltesers líquido. A ideia é óptima, mas a execução deixa muito a desejar. Sabe a chocolate, é verdade, mas podia bem ser qualquer uma das dezenas de marcas à nossa disposição. O que podia tornar isto uma bebida com sabor a Maltesers? Não sabemos.

Ben & Jerry’s Sofa So N’ice
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34. Ben & Jerry’s Sofa So N’ice

★★★★☆

Os gelados da marca americana Ben & Jerry’s têm tudo
o que uma pessoa de bem pode desejar: uma concentração generosa de açúcares, um conjunto criativo de receitas e
uma paixão por trocadilhos. Este novo balde de meio litro chama-se Sofa So N’Ice, um daqueles jogos de palavras em que uma pessoa facilmente se perde. E como é que este nome se relaciona com o conteúdo da embalagem? De várias maneiras, se usarmos a nossa imaginação. Ou de maneira nenhuma, se formos literais. Só que as pessoas literais de certeza que não apreciam estas guloseimas brincalhonas. Ora vejam só
o descritivo deste Picasso comestível: gelado de caramelo com brownie de chocolate, bolachas de chocolate e salpicos de caramelo. É redundante, repetitivo, exagerado e, é claro, delicioso. Em cada colherada conseguimos cometer pelo menos dois pecados mortais: gula e luxúria. O terceiro pecado mortal, a avareza, surge apenas se não partilharmos estes 500 ml de gelado com ninguém. Que é precisamente o que costumamos fazer.

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Lion Wild
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35. Lion Wild

★★★★☆

A existência desta nova espécie de chocolate, o Lion Wild, obriga-nos a reconhecer que a versão anterior era um “Lion Mild”. Uma variante bem-comportada, domesticada, normal. Por isso as expectativas eram altas quando trincámos pela primeira vez esta novidade da Nestlé. Estaria esta barra de chocolate, wafer e amendoim à altura do adjectivo “selvagem” que reclama para si própria? Não, não está. Este é um Lion onde uns pedaços de amendoim substituem os cereais crocantes da receita original. E as diferenças acabam aí. Em termos de paladar, este chocolate leva-nos para o território do salgado, um sabor que faz faísca com o caramelo e a wafer. É do conflito açúcar/sal que vem a beleza desta novidade. Não é selvagem nem muito arrojado mas, dentro das expectativas que envolvem à chocolataria industrial, é um interessante rugido.

Peta Zetas Pinta Línguas Tropical
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36. Peta Zetas Pinta Línguas Tropical

★★★★☆

“Não se brinca com a comida”, dizem. Pois bem, o que dirão essas pessoas de uma guloseima com zero valor nutritivo e desprovida de qualquer qualidade para além desta: a diversão. As Peta Zetas são pequenos cristais comestíveis de diversão, partículas doces que desencadeiam uma série de reacções químicas quando entram em contacto com a nossa saliva e transformam a boca num salão de festas. Não é um alimento – é um brinquedo que se come. Uma coisa tão tola e desnecessária que, como tantas outras coisas tolas e desnecessárias, só é apreciada pelas crianças. Esses seres infinitamente sábios (ou finitamente sábios porque, enfim, um dia serão adultos) sabem que as Peta Zetas não fazem parte da roda dos alimentos, mas têm lugar garantido no quadrado da diversão ou no triângulo da alegria. Esta novidade da marca introduz mais um elemento ridículo e desnecessário: pintam a língua. É perfeito para pôr a língua de fora a todas as pessoas que dizem “não se brinca com a comida”.

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Ben & Jerry's Cookie Dough Switch Up
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37. Ben & Jerry's Cookie Dough Switch Up

★★★★★

Se tivéssemos de explicar a um amigo o que é este balde da Ben & Jerry’s, íamos ter de dizer qualquer coisa como: “Imagina um gelado de baunilha que acasalou 
com uma embalagem de Oreos durante uma mudança de turno numa fábrica de bolachas.” As misturas desta marca americana parecem ter sido inventadas por um comité de gulosos a meio de um delírio de peiote ou cogumelos alucinogénios. O que, se fosse verdade, era sinal que todos deveríamos tomar decisões deste género sob o efeito
de drogas. É que esta combinação bizarra de baunilha, bolachas e cookie dough é absurdamente deliciosa. Um vício que uma mente racional não consegue justificar. Obrigatório para todas as pessoas que já se perguntaram “como é que seria se chovesse de baixo para cima em vez de cima para baixo”?

Candy Sushi

38. Candy Sushi

★★★★★

As gomas podem ter todas as formas e feitios: objectos 
do dia-a-dia (garrafas de Coca-Cola), frutas (melões, bananas, morangos), animais (ursos, cobras) ou partes do corpo humano (dedos, ossos). Mas também podem ser cópias em miniatura
 de alimentos verdadeiros, como as gomas de ovo estrelado ou 
os hambúrgueres em forma de goma – uma guloseima que já passou por esta coluna. O que nunca tínhamos visto era uma colecção de gomas que representa uma tradição culinária de
um país inteiro (ideia: um pacote de gomas de Santos Populares, com manjericos, bifanas e sardinhas em versão goma). Estes tabuleirinhos de take away de sushi esticam os limites daquilo que é possível criar com estas guloseimas gelatinosas. Em cada pacote há niguiris, uramakis, makis, California rolls e outras especialidades da gastronomia japonesa em versão cartoon, hiper-açucarada e infantil. Estão para a gastronomia verdadeira como os desenhos animados de Tom & Jerry estão para o cinema francês. E são deliciosas.

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Kit Kat Matcha Green Tea

39. Kit Kat Matcha Green Tea

★★☆☆☆

Quem não sabe como é o sabor do matcha, o chá verde em pó muito popular no Japão, não vai ficar a saber com este Kit Kat. A novíssima versão do chocolate da Nestlé, que já conta com mais de 300 sabores diferentes, apresenta-se como fiel representante desse ingrediente, mas na sua composição existe apenas 1% do tal pó verde. O resto é manteiga e cacau e chocolate branco, a embrulhar a wafer estaladiça de sempre. Ou seja, este é um Kit Kat de chocolate branco que, graças a uns pozinhos, mudou de cor. Olhamos para aquele verde-baço e pensamos: é um chocolate que posso comer ou uma planta subnutrida que devo regar e pôr ao sol? É uma novidade gira, interessante para quem quer diversificar o seu consumo de Kit Kats, mas absolutamente irrelevante no panorama actual dos snacks de supermercado.

Kinder Ice Cream Sandwich
carlosbfernandez

40. Kinder Ice Cream Sandwich

★★☆☆☆

Já houve dezenas de variações desta fórmula – gelado de nata enfiado entre duas fatias de bolacha mole – e O Bom, o Mau e o Glutão gosta de todas. Desde a clássica Sandwich Nata da Nestlé, passando pela metade mais aborrecida do Maxibon, não há forma de esta ideia falhar. Ou será que há? O cardápio de Primavera da Olá trouxe umas quantas novidades da marca Kinder. Umas adaptações (uma espécie de Kinder Bueno gelado), umas invenções (o cone Kinder) e a sua versão de um clássico: este Ice Cream Sandwich. A embalagem avisa-nos da generosa quantidade de leite e dos cinco cereais, mas não nos diz que vamos ficar enjoados à segunda dentada. Esta variação da singela sanduíche de nata tem uma quantidade avassaladora de açúcar. É tão doce que nos fez pensar no que é que acontece quando pomos leite condensado nas cuvetes de gelo.

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Terry’s Chocolate Orange

41. Terry’s Chocolate Orange

★★★★☆

Por muito gulosos que sejamos, há sempre uma altura em que temos de ceder às ordens do médico – ou, vá, ao bom senso – e comer uma peça de fruta. É para momentos como esses que existe a Terry’s Chocolate Orange. Tem o tamanho de uma laranja convencional, o peso de uma laranja verdadeira e gomos tal como o fruto. Mas é feita de chocolate. Este simulacro de um citrino foi inventado na década de 30 no Reino Unido e está para a fruta de verdade como a alheira vegan está para os enchidos – não tem nada a ver. É uma guloseima formada por um conjunto maciço, e muito pouco realista, de gomos de chocolate de leite com um forte travo ao fruto em que se inspira. Terá, porventura, alguma vitamina C. Mas não pode ser espremida.

Milka Oreo Sandwich

42. Milka Oreo Sandwich

★★☆☆☆

“O que é uma tablete em 2019?”. Este podia ser o nome de uma conferência ou mesa redonda dedicada ao fenómeno da adulteração do chocolate comercial. Algumas marcas, como a Milka, parecem estar a atravessar uma crise de identidade. Olhemos por uns instantes para o Milka Oreo Sandwich. É um chocolate com bolachas Oreos embutidas – ou será um conjunto de Oreos com um chocolate encastrado? É difícil de dizer. Esta fusão de duas marcas parece um daqueles casamentos combinados da realeza europeia: os primos casam com os primos para manter o poder na família, mas a consanguinidade gera líderes tresloucados e quando damos por nós está toda a gente a limpar o pó às guilhotinas. O Milka Oreo Sandwich desilude os fãs de Milka e intriga os apreciadores das bolachas Oreo. Mas é perfeito para explicar aos jovens monárquicos os perigos da endogamia nos impérios europeus.

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Rude Health, The Peanut

43. Rude Health, The Peanut

★★★★☆

Um snack saudável também pode aparecer aqui. Mas nada temam. As divagações pela comida saudável são apenas mais uma prova da intrepidez omnívora deste crítico. E casos como o desta barra da Rude Health fazem com que a curiosidade compense. Estamos perante uma guloseima feita à base de tâmaras e amendoins, sem glúten, lactose e açúcares refinados. A textura está mais próxima de um bolo do que de um chocolate, mole sem ser pegajosa. E o resultado é tão bom que até dá pena que seja tão saudável.

Snickers Extra Caramel

44. Snickers Extra Caramel

O Snickers é um chocolate famoso, parte do cânone das guloseimas industriais, que assenta numa trilogia simples e deliciosa: amendoim, caramelo e chocolate de leite. Os ingredientes estão bem equilibrados, a receita é conhecida, mas a marca decidiu sujeitar-se a alterações – aventuras ou, quem sabe, a crise de terceira idade de um chocolate com quase 90 anos. Chegou recentemente aos supermercados uma nova versão do Snickers, de edição limitada, que dá mais relevância a um dos vértices desse triângulo de sabores: aumentou dramaticamente a quantidade de caramelo, transformando esta guloseima numa versão mais decadente e muito mais pegajosa do chocolate original. É uma barra de caramelo com amendoins e chocolate – e não uma barra de chocolate com caramelo e amendoins. Ficamos com a sensação curiosa de que estamos a comer um Mars clandestino, que está a dar abrigo secreto a uns quantos pedaços de amendoim. E ficamos, também, com a certeza de que não vamos conseguir falar nos dez minutos seguintes à primeira dentada. Às tantas, parece que estamos a roer um balde de caramelo – que é uma coisa que, já agora, não nos importávamos nada de experimentar.

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Regina Caramelo & Sal

45. Regina Caramelo & Sal

★★☆☆☆

Não é fácil de definir, mas existe um sabor muito particular em todos os chocolates da Regina. Um travo especial com que lidamos há décadas, mas que só sentimos quando passamos muito tempo sem provar os doces da marca. É como o cheiro da nossa casa: só damos por ele quando passamos umas semanas fora. O novo Regina Caramelo & Sal tem esse sabor familiar (uma mistura de citrinos e açúcar que sabe vagamente ao pau do algodão doce) e outras variantes mais complexas: o caramelo transforma-o num doce ainda mais doce e o sal torna esta tablete numa guloseima desafiante. Mas ao contrário de outros chocolates com sal no mercado, este não provoca aquela salivação extra, aquela confusão boa nas papilas gustativas. Em vez disso, o salgado gera um pequeno desconforto, como quando estamos num grupo a falar de uma festa para a qual uma das pessoas não foi convidada. Esta novidade da Regina pode agradar aos fãs da marca, mas os chocolateiros mais exigentes vão passar-lhe ao lado.

B.Cru Raw Bar

46. B.Cru Raw Bar

★★★★☆

Se é daquelas pessoas que se retorce ao ler as palavras “vegan”, “organic”, “gluten free” e “lactose free”, então o melhor é parar de ler este texto. É natural, compreensível até, que os gulosos inveterados tenham uma relação complicada com a comida saudável – apresentar uma barra de chocolate com todos estes predicados é o mesmo que explicar ao vampiro as qualidades de um bom alho. Mas um guloso a sério deve ser um omnívoro de largo espectro, trincando tudo aquilo que é doce. E para os guloseimistas mais abertos e corajosos, as aventuras compensam. É o caso desta barra B.Cru, vegan e adaptada às restrições alimentares do momento. Feita à base de tâmaras, caju e nozes, com 10% de chocolate orgânico, é um paralelepípedo pastoso a meio caminho entre o bolo e a barra de chocolate. O resultado é uma sobremesa saudável e uma viagem – parece que estamos a viver uma vida que não é a nossa. A vida de uma pessoa consciente da sua finitude. Que é uma coisa que os vampiros não têm.

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Kit Kat Morango

47. Kit Kat Morango

★★☆☆☆

Se formos a um mercado encontramos várias bancas de fruta com morangos à venda. É natural, está na altura deles. Uns são grandes, outros pequenos; uns vêm de Espanha, outros são portugueses. Há morangos que não sabem a nada, há morangos doces e morangos ácidos. Em resumo, há morangos de vários tipos e vários sabores. Mas por algum motivo que O Bom, O Mau e o Glutão desconhece, todos os doces industriais com sabor a morango (dos gelados aos chocolates, passando pelas pastilhas elásticas) têm exactamente o mesmo sabor a morango. É um sabor único, que está para as nossas papilas gustativas como o Euro está para as carteiras de toda a Europa. Este Kit Kat de morango, uma edição especial limitada, aplica esse sabor genérico à receita de sempre. Será um Kit Kat novo ou só mais uma encarnação deste “morango universal”?

Crunchie Rocks

48. Crunchie Rocks

A perfeição é subjectiva e assume muitas formas. Um pôr-do-sol muito lindo pode comover meio mundo e deixar a outra metade indiferente. O riso de uma criança ilumina bastantes corações, mas há quem não se deixe encantar. Nas sobremesas, o cenário repete-se. É difícil encontrar unanimidade, mesmo nas coisas que parecem objectivamente perfeitas. É o caso destas Crunchie Rocks, calhaus de chocolate de leite com pedaços de caramelo estaladiço e corn flakes embutidos. Este pacote bastante caro e difícil de encontrar guarda uma das receitas mais deliciosas que provámos nos últimos meses. É o tipo de coisa que parece não durar mais de duas horas numa casa de gulosos, mas da mesma maneira que duas pessoas não sentem o mesmo ao ouvir uma canção, nem toda a gente fica histérica com estes doces. E ainda bem. São estas pequenas coisas que fazem este mundo tão rico e diversificado.

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Lion 2GO Chocolate

49. Lion 2GO Chocolate

★★☆☆

Parece que o Lion, chocolate que sempre conhecemos e amámos, está a tentar transformar-se num snack saudável. Mas está a fazê-lo da forma mais trapalhona possível. Sabem aquela pessoa que fica claramente desconfortável quando faz um penteado demasiado audaz? Estão a ver aquele homem que chegou sozinho a uma aula de tango? O Lion 2GO é essa pessoa. Um peixe fora de água. Uma nova versão em que o mítico chocolate se trasveste de barrinha energética ao juntar passas, amendoins e arroz tufado à receita original. Parece aquelas árvores de Natal que fazíamos em garotos, quando íamos acrescentando coisas e mais coisas até o pinheiro se vergar – e deixar de parecer um pinheiro. Este Lion não é mau, mas não é um Lion.

Para os viciados em chocolate

  • Restaurantes

As feiras de chocolate tornaram-se eventos gourmet de massas. Apareceram mercados e mercadinhos da especialidade por todo o país e são um sucesso. Há quem diga que o cacau é um vício, há quem garanta que tem substâncias psicotrópicas – e isso poderá explicar em parte o fenómeno.

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