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Os Filhos do Colonialismo
Vera Marmelo

As memórias coloniais do Hotel Europa

Integrado no Ciclo Memórias Coloniais, que decorre na Culturgest até 5 de Outubro, o Hotel Europa apresenta o seu espectáculo final sobre o período colonial português: “Os Filhos do Colonialismo”. Oportunidade perfeita para recuperar o seu percurso.

Escrito por
Miguel Branco
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Foi em 2015 que o Hotel Europa – estrutura criada por André Amálio e Tereza Havlíčková, à boleia de um doutoramento que Amálio quis fazer sobre o fim do colonialismo português – começou este trabalho centrado nesse período tão obscuro e silenciado da história portuguesa. Criaram cinco peças de teatro documental em que que se sentam e olham para diferentes dimensões desta questão, centrando-se tanto nos “retornados” como nos discursos políticos e nos movimentos de libertação.

O quinto e último espectáculo chega à agora à Culturgest, associado ao Ciclo Memórias Coloniais. Os Filhos do Colonialismo será apresentado em conjunto com uma instalação e uma performance. O Fim do Colonialismo Português, a instalação, abre portas para o arquivo de toda a informação recolhida pelo grupo ao longo destes anos; o material que gerou estes cinco espectáculos está ali pronto para ser devorado pelos espectadores. Na performance, com o mesmo nome e duração de 13 horas, Amálio remexe em grande parte do acervo que colecciona há já largos anos. O Hotel Europa vai nu.

Para assinalar o fim deste ciclo do Hotel Europa, decidimos recuperar todos os espectáculos em modo álbum de família, com comentários de André Amálio a acompanhar. Estas são as memórias deles.

O álbum de memórias do Hotel Europa

Portugal não é um país pequeno
Maria Joana Figueiredo

Portugal não é um país pequeno

Academia Militar, 2016

“Este espectáculo reflecte sobre o fim do colonialismo português a partir da vida dos antigos colonos e dos seus testemunhos reais. Contámos as histórias dos retornados que foram para África nos anos 50 e 60, muitos fugindo da pobreza, e que fizeram parte do êxodo de refugiados vindos de África entre 1975 e 78.”

Passa-Porte
José Frade

Passa-Porte

Maria Matos, 2016

“Retrata através de testemunhos reais os eventos históricos que forçaram milhares a fugir para Portugal, escapando ao processo revolucionário em Moçambique e ao rebentar da guerra civil em Angola. Mostra também as histórias das pessoas que decidiram ficar e fazer parte desses novos países.”

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Libertação
Bruno Simão

Libertação

Maria Matos, 2017

“Recolhemos testemunhos de antigos soldados portugueses que tiveram filhos com mulheres africanas no tempo da guerra, mulheres de origem portuguesa que se apaixonaram por homens pertencentes aos movimentos de libertação, e também os filhos destas relações.”

Amores Pós-Coloniais
Filipe Ferrreira

Amores Pós-Coloniais

D. Maria II, 2019

“Criámos este espectáculo a partir de testemunhos de antigos soldados que participaram na Guerra Colonial – e de Libertação – e outras pessoas que lutaram contra o colonialismo, combinados com material de arquivo e uma análise aos discursos políticos de ambos os lados.”

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Portugal oprimiu. Portugal matou
Vera Marmelo

Portugal oprimiu. Portugal matou

Os Filhos do Colonialismo
Culturgest, 2019

A história que Portugal nunca quis contar, chutada para canto ou para meio capítulo dos manuais de História, é aquilo que importa para o Hotel Europa. O fim do colonialismo português é um ciclo que agora se encerra, na Culturgest, entre quinta e sábado, com Os Filhos do Colonialismo.

Em cena – delimitada por uma faixa de tecidos na diagonal – vemos um recanto no qual são projectadas diversas fotografias, aerogramas, cartas do arquivo pessoal destes seis não-actores que vemos em palco e que são, afinal de contas, o espectáculo inteiro.

Sempre através de testemunhos – parece que será sempre assim com o Hotel Europa –, neste caso, dos pais destas pessoas, forma-se uma teia suportada por perguntas também ela projectadas e que sempre parecem começar com “eu lembro-me que...”. Eles lembram-se de tanta coisa! E vão-se lembrando, descobrindo à boleia da história de família que ouviram vagamente, que cruzou um jantar, que certamente nunca tiveram o peso que têm aqui.

São histórias distintas, algumas delas em geografias distantes – Cabo Verde, Angola, Moçambique –, que parecem sempre interligar-se, mesmo quem não falsificou assinaturas podia tê-lo feito. E, claro, há gente dos dois lados da barricada, gente que hoje – independentemente do destino que os seus pais lhe deram ou que os próprios, para si, arranjaram – sabe que o discurso que diz que Portugal nunca foi dos maus é uma farsa. Chega de areia para os olhos. Portugal oprimiu. Portugal matou. MB

Culturgest. Qui 19.00, Sex 21.00, Sáb 19.00. 6-12€.

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