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Arte vandalizada
© Declare EmergencyEm Abril de 2023, activistas esfregaram tinta na caixa transparente que protege ‘A Pequena Dançarina de Catorze Anos’, de Degas

Activistas atiram sopa à ‘Primavera’ de Monet. Os casos famosos de obras de arte “vandalizadas”

Vandalismo ou activismo? Reunimos algumas das obras de arte que foram alvo de protestos nos últimos dois anos, incluindo em Lisboa.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Os activistas pelo clima têm promovido acções de desobediência civil em todo o mundo e as críticas são cada vez mais fervorosas. Mas nem a prática de vandalizar obras de arte como forma de protesto é nova nem danificar uma peça é o mesmo que atirar sopa ao acrílico que a protege. Basta, aliás, recuar ao século passado para encontrar verdadeiros exemplos de vandalismo. Em Março de 1914, por exemplo, Mary Richardson, furiosa com a detenção de uma das fundadoras do movimento sufragista britânico, entrou com um cutelo na National Gallery, em Londres, e desferiu uma dúzia de golpes na Vénus ao Espelho (1647-51), de Velásquez – a tela teve obviamente de ser restaurada. Nas décadas seguintes, registaram-se muitos outros incidentes, nem sempre por razões tão nobres como lutar pelos direitos das mulheres. Da Mona Lisa (1503), de Leonardo da Vinci, aos Tournesols (1888), de Van Gogh, reunimos algumas das peças que foram alvo de vandalismo ou acções de desobediência civil nos últimos dois anos e contamos as histórias por detrás das polémicas.

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Obras de arte vandalizadas

Mona Lisa

No dia 28 de Janeiro de 2024, duas mulheres atiraram sopa de tomate à Mona Lisa, no Museu do Louvre, em Paris, e exigiram o direito à “alimentação saudável e sustentável”, bem como melhores condições de trabalho para os agricultores franceses. Posteriormente, numa série de publicações nas redes sociais, a Reposte Alimentaire, movimento do qual as activistas responsáveis pelo sucedido fazem parte, afirmou querer chamar a atenção para a produção insustentável de alimentos e para a fome em França, apelando à “integração da alimentação no sistema geral de segurança social”. Mas a verdade é que a obra de Leonardo da Vinci não foi realmente danificada, uma vez que se encontra protegida por um vidro à prova de bala, que foi instalado em 1956 depois de um homem ter tentado cortar a tela com uma lâmina de barbear (não se sabe porquê). Nesse mesmo ano, já havia vidro, um outro homem apedrejou-a só porque lhe apeteceu e, apesar do impacto ter feito saltar uma lasca de tinta, a peça foi facilmente restaurada. Entretanto, já a atacaram com spray (em 1974, no Museu Nacional de Tóquio, por uma senhora de cadeira de rodas, que protestava contra a falta de acessibilidade), uma chávena de chá (em 2009, no Louvre, por uma mulher russa a quem tinha sido negada a cidadania francesa) e um bolo (em 2022, novamente no Louvre, por um homem numa cadeira de rodas que revelou ser um activista pelo clima).

Primavera

Menos de duas semanas após o ataque à Mona Lisa, a 28 de Janeiro, duas activistas do grupo Riposte Alimentaire – que defende uma alternativa para o desafio climático e a segurança alimentar – atiraram sopa contra a Primavera (Printemps), de Claude Monet, que estava protegida por um vidro e exposta no Museu de Belas Artes de Lyon, em França. Ilona e Sophie, como foram identificadas as actividades posteriormente levadas pela polícia, afirmaram: “Esta Primavera será a única que nos resta se não reagirmos.”

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Vénus ao Espelho

É verdade, o protesto de Mary Richardson em 1914 não foi o único, ao longo da história, que teve a Vénus ao Espelho (1647-51) como alvo. Em Novembro de 2023, dias depois de um grupo de museus nacionais e regionais britânicos se ter comprometido a agir sobre a crise climática, activistas pelo clima fizeram da National Gallery palco dos seus protestos. Dois membros do grupo Just Stop Oil usaram o que parecia ser um martelo de salvação em emergência para partir o vidro de protecção da obra, mas apenas o suficiente para chamarem a atenção para a sua causa: denunciar a atribuição de novas licenças para exploração de gás e petróleo no Reino Unido.

Fuck abstraction

À data exposta no museu de arte moderna Palais de Tokyo, em Paris, Fuck abstraction, da suíça Miriam Cahn, foi vandalizada com tinta em Maio de 2023, por um homem descrito nas notícias como um idoso que estaria “descontente com a representação sexual de uma criança e de um adulto”. Para além disso, quatro associações francesas de protecção dos direitos dos menores tentaram que a Justiça ordenasse a remoção da obra, mas sem sucesso. Segundo Cahn, a pintura – que representa uma pessoa com as mãos atadas atrás das costas a ser forçada a realizar sexo oral a um homem sem rosto – não faz qualquer apologia da pedofilia, sendo na verdade uma denúncia às violações ocorridas durante o Massacre de Bucha, na Ucrânia, e “a forma como a sexualidade é usada como uma arma de guerra”.

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A Pequena Dançarina de Catorze Anos

Em Abril de 2023, dois activistas do grupo climático Declare Emergency entraram na National Gallery of Art, em Washington, nos EUA, e esfregaram as suas mãos cheias de tinta vermelha e preta pela caixa transparente que protege A Pequena Dançarina de Catorze Anos (1881), de Edgar Degas. O par sentou-se então em frente à peça com a tinta ainda nas mãos e posou para fotografias, que foram mais tarde publicadas online. Foi ainda aberta uma campanha de angariação de fundos para despesas com aconselhamento jurídico e apoio financeiro para os activistas da Declare Emergency que têm sido acusados de “conspiração criminosa”.

Femme dans un fauteuil

@radiorenascenca

Ativistas vandalizam quadro de Picasso no CCB É um dos quadros mais valiosos da coleção Berardo, avaliado em 18 milhões de euros. Foi vandalizado com tinta vermelha esta manhã no Museu CCB por dois ativistas que se colaram à parede. A PSP chamada ao local e deteve os dois jovens.

♬ som original - Renascença

Em Outubro de 2023, dois apoiantes do grupo Climáximo atiraram tinta vermelha à Femme dans un fauteuil (métamorphose) (1929), de Picasso, que integrava a colecção de Joe Berardo e faz agora parte do novo museu do Centro Cultural de Belém. Os activistas, que também se colaram à parede junto à obra, dizem ter verificado primeiro se a peça estava protegida, para garantir que não a danificariam. Em comunicado, escreveram: “Não há arte num planeta morto. Temos de parar de consentir com uma normalidade onde milhares são assassinados pelos governos e empresas emissoras. Junta-te a nós.”

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O Semeador

Em Novembro de 2022, O Semeador (1888), de Van Gogh, foi alvo de um protesto levado a cabo por activistas do grupo Ultima Generazione, que atiraram sopa de ervilhas contra a peça de arte, que foi emprestado por um museu holandês e está actualmente exposto no Museu Palazzo Bonaparte, no centro da cidade de Roma, em Itália. De acordo com as notícias que saíram na altura, os activistas estavam a manifestar-se contra o uso de combustíveis fósseis. Mas a obra não sofreu qualquer dano, uma vez que estava protegida.

Girassóis

Em Outubro de 2022, duas activistas do movimento Just Stop Oil, que quer que o Governo britânico decrete o fim imediato de qualquer novo projecto de petróleo ou gás, atiraram sopa de tomate contra o quadro Girassóis (1888), de Vincent Van Gogh, na National Gallery, em Londres. Em seguida, colaram as palmas das mãos à parede e perguntaram aos presentes o que vale mais, se a arte ou a vida, denunciado o facto de haver pessoas que “nem sequer têm dinheiro para aquecer uma lata de sopa”. Apesar da pintura propriamente dita não ter sido danificada, uma vez que estava protegida por uma fina camada de vidro, a moldura sofreu “pequenos danos”.

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Os Palheiros

Em Outubro de 2022, dois activistas do grupo climático Letzte Generation atiraram puré de batata a Os Palheiros (1890–91), de Claude Monet, uma das pinturas mais caras de sempre vendidas em leilão, que se encontra no Museu Barberini, em Potsdam, na Alemanha. “As pessoas estão a passar fome, as pessoas estão a congelar, as pessoas estão a morrer. Encontramo-nos numa catástrofe climática. E do que têm medo é de sopa de tomate ou puré de batata numa pintura. Sabem do que eu tenho medo? É de que a ciência diga que não seremos capazes de alimentar as nossas famílias em 2050. É preciso atirar puré de batata a uma pintura para que ouçam?”, gritou um dos activistas. Protegida por um vidro, a obra não sofreu qualquer dano.

Arte em Lisboa

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