Num mundo saturado de imagens, a fotografia acaba por ser banalizada, mas não é por isso que deixa de ser uma boa forma de entender o que nos rodeia. Estes livros de fotografia dão uma ajuda.
Foi num estágio, em 2008, no atelier do prestigiado arquitecto Wiels Arets, nos Países Baixos, que João Morgado se iniciou na fotografia de arquitectura. Arquitecto de formação, acabou por abandonar o exercício da profissão e hoje dedica-se exclusivamente a fotografar as obras de alguns dos nomes maiores da arquitectura mundial.
“Estagiei na Holanda e a partir daí decidi que seria uma boa aposta fotografar o trabalho de Wiels Arets”, conta à Time Out. Em plena crise, em 2011, regressou a Portugal e começou a fotografar projectos no país e no estrangeiro. Com o tempo, chegou também o reconhecimento. Em 2015, foi considerado um dos melhores dez fotógrafos de arquitectura do mundo, pela revista Top Teny, e recentemente viu duas fotografias distinguidas nos Muse Creative Awards, um prémio que distingue os melhores criativos em várias categorias.
À primeira vista, a fotografia de arquitectura poderá parecer um tanto banal. Mas João vê nesta forma de expressão um mundo, talvez “por ser arquitecto”. “Não se trata só de fotografar um edifício”, explica. É preciso “perceber como a casa se relaciona com a envolvência, entender a luz, os materiais”. E só depois os enquadramentos e as forças geométricas.
Trabalhar com Álvaro Siza continua a ser das experiências mais enriquecedoras que teve ao longo de quase dez anos de projectos e de viagens por todo o mundo, aponta o fotógrafo. João recorda quando lhe foi pedido que fotografasse uma capela em Lagos, no Algarve, da sua autoria. “[A capela] está no meio do nada e foi uma experiência incrível. Passei três dias com ele, explicou-me o que pretendia”. Depois, o fotógrafo limitou-se a mergulhar nas raízes da arquitectura, seguindo a forma como a luz desenha o espaço.
As fotografias do edifício Urbo em Matosinhos, da autoria de Nuno Capa, e das Areia Houses, da Associated Architects Partnership, no Kuwait, valeram-lhe a mais recente distinção nos prémios Muse, mas esses são apenas dois dos cerca de três mil projectos que já fotografou nos quatro continentes.“Exploro a minha sensibilidade e, a partir daí, construo a minha linguagem fotográfica”, reflecte sobre o seu processo de criação. Fazer da fotografia de arquitectura “um veículo de comunicação” será sempre o seu propósito maior, mas a verdade é que, através das suas fotografias, se vê o mundo de uma forma cuidada, em que as linhas e as luzes quase sempre em harmonia.