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Portefólio: Fonte da Telha, um “lugar quase impossível”

Nuno Miguel Dias fotografa um dos sítios predilectos dos lisboetas para o Verão – e é muito mais do que uma praia bonita.

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
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É fácil esquecer que a Fonte da Telha não é apenas uma praia. Durante os meses de calor, os lisboetas agarram nos carros, entopem a 25 de Abril numa torreira de sol e monóxido de carbono, e vão desaguando ao longo da linha de praias da Costa da Caparica. A Fonte da Telha é a última, já partilhada pelos concelhos de Almada e Sesimbra, tão extensa e bonita que se tornou destino de muitos, muitos veraneantes. Tantos que a preocupação à chegada passa mais por encontrar um lugar de estacionamento, um sítio para a toalha e o guarda-sol, do que em olhar ao redor. O que não se vê a partir deste frenesim do descanso é uma comunidade piscatória com “uma pulsão muito própria”. O fotógrafo Nuno Miguel Dias mostra-nos como se vive na Fonte da Telha nos outros noves meses do ano.

É essa a proposta de Amar a Mar Batido, um conjunto de nove fotografias a preto e branco – “impressas em papel de algodão por forma a haver reflexos zero sobre os pretos, que predominam” –, que Nuno Miguel Dias acaba de editar em formato 15x20 cm. Custa 35€ e 30% das vendas revertem para a Associação dos Pescadores e Moradores da Fonte da Telha. É uma pequena porção de um trabalho documental que ainda deverá resultar numa exposição e num livro com mais imagens. “Na exposição serão mais do dobro e, quem sabe, um dia, no livro muitas mais”, diz o fotógrafo à Time Out, admitindo a possibilidade de o livro sair aquando da exposição, que “aguarda dias Covid free”. A ideia, no entanto, surgiu “há mais de dez anos”, em co-autoria com Abel Rosa (director de fotografia de Estrada para Mazgani ou Malapata), e incluía a realização de um vídeo que, por falta de verbas, se reduziu a “uma espécie de trailer”. “Mas fizemos uma projecção num café da aldeia, só para as gentes locais, e isso dava por si só outro documentário. Que também está na calha.”

Nuno Miguel Dias explica que Amar a Mar Batido “retrata os nove meses durante os quais a Fonte da Telha existe como aquilo que é: uma aldeia de pescadores e não uma praia para veraneantes”. “O sítio tem uma pulsão muito própria e é quase impossível pensar que um lugar daqueles exista, em 2020, a apenas 15 quilómetros de uma capital europeia.” O fotógrafo sabe-o porque não é um visitante ocasional. “Sendo caparicano de gema, metade dos nossos colegas de escola eram ‘da Fonte’, onde não há estabelecimentos de ensino. Quando as aulas terminavam, era para ali que eu ia, para casa dos meus amigos, construídas sobre areia da praia. Tudo aquilo me fascinava”, recorda. “Eles? Desprezavam aquela vida. Agora são os novos pescadores. Agarram aquilo com unhas e dentes.” Ainda hoje “não passa uma semana sem lá estar”. “Sinto-me em casa. E na verdade é como se fosse. Toda a gente me conhece e me trata como um local. Não concebo férias no Algarve, tal como os algarvios não conceberão férias em Lisboa. Fico ali.”

Essa proximidade revela-se nas fotografias. “Como me conhecem de ginjeira, serem fotografados por mim não lhes causa nenhum constrangimento. Tudo vem com uma naturalidade que é o que um fotógrafo documental mais deseja.” Eles, os fotografados, são os pescadores – e há reincidentes. “Como em qualquer lugar, há personagens que são mais omnipresentes que outras. A selecção [das fotografias] foi feita com enfoque numa acção que é a arte xávega. Em dias muito específicos em que, em função da maré, essa era levada a cabo a uma hora do dia que permitisse a hora mágica do poente, a Serra de Sintra em segundo plano e aquele ambiente dos focos dos tractores no pescado, que se assemelha a algo de ‘espacial’”, enquadra Nuno Miguel Dias. 

“Fora isso, há uma foto a localizar o lugar no espaço e um retrato que dá conta de como é difícil aquela vida, as rugas são mais fundas, cavadas. E, no entanto, aquele pescador retrata bem aquela gente, tem um coração do tamanho do mundo inteiro.” O fotógrafo sublinha que “a Fonte da Telha é uma história de resiliência. De gente que sempre passou muitas dificuldades e as vê com aquela naturalidade à antiga. Não se fala de política nem de religião. Fala-se do tempo que vai mudar e não vai permitir pescar, fala-se do que ‘está a dar’, se cavala, se corvina ou sargos, se a maré vazia vai dar para a cadelinha. Tudo anda em torno da hora em que os barcos (chatas) vão ao mar e o que trarão. E de futebol, claro.”

Nascido em Lisboa em 1975, Nuno Miguel Dias é, além de fotógrafo, jornalista em publicações de viagens, lazer e estilo. Depois de muitas aventuras, colabora agora com a Vogue. O que não lhe tolhe o julgamento na hora de apontar o dedo à turistificação dos lugares, tanto na badalada Lisboa como na escondida Fonte da Telha, que está classificada como zona de Reserva Ecológica Nacional. “Há, de facto, construção na Fonte da Telha que não devia existir. Paradoxalmente, essa está ‘a sul’ (como os moradores dizem), que é onde estão os bares fashion, uma das principais atracções (nocturnas, também) de gente que não é dali”, nota. “A solução seria deixar aquilo como sempre foi, uma praia ‘selvagem’. As licenças de habitação ou exploração comercial têm de ter em conta apenas as necessidades dos pescadores. A Fonte da Telha não é, nem nunca poderá ser, um resort.”

Extra!

Fonte da Telha

Esta fotografia é um extra. “É uma das minhas preferidas mas não entrou nesta selecção de nove porque seriam já dois retratos (em conjunto com o do ‘Pranchetas’, com a sardinha na boca)”, diz Nuno Miguel Dias. Aqui vê-se ‘Baguinho’ a segurar uma fotografia de si próprio tirada nos anos 1960, quando tinha 15 anos e “ainda a Fonte da Telha era um aglomerado de cinco ou seis casas, um ermo só acessível pelo areal a partir da Costa de Caparica”.

Mais fotografia

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Vila Cã, perto de Abiul, em Pombal, é uma das muitas terras do país cuja existência apenas se torna evidente quando dela se fala. De outra forma, permaneceria intocada, num silêncio apenas quebrado pelos cerca de mil habitantes que lhe dão vida. As raízes da família de Ricardo Lopes, fotógrafo de 29 anos, estão lá. Foi nessa terra que os avós fizeram vida, que o pai e os tios cresceram, para já mais velhos deixarem a aldeia da infância à procura do bulício da cidade e de uma vida melhor.

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Foi um casaco amarelo herdado que lhes fez ganhar o nome, mas foi o gosto pelo desconhecido que os aproximou. Ivy e Athon, nomes fictícios, são os rostos (ocultos) por detrás dos The Yellow Jackets, um casal português “na casa dos trintas”, que viaja por Portugal e pelo mundo com o objectivo de explorar e fotografar edifícios abandonados. “Por ironia do destino”, contam à Time Out, pouco tempo depois de começarem a usar o anoraque amarelo do pai de Athon, depararam-se com outro idêntico e em mau estado, num dos locais que visitaram. 

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É fácil esquecer que a Fonte da Telha não é apenas uma praia. Durante os meses de calor, os lisboetas agarram nos carros, entopem a 25 de Abril numa torreira de sol e monóxido de carbono, e vão desaguando ao longo da linha de praias da Costa da Caparica. A Fonte da Telha é a última, já partilhada pelos concelhos de Almada e Sesimbra, tão extensa e bonita que se tornou destino de muitos, muitos veraneantes. Tantos que a preocupação à chegada passa mais por encontrar um lugar de estacionamento, um sítio para a toalha e o guarda-sol, do que em olhar ao redor. O que não se vê a partir deste frenesim do descanso é uma comunidade piscatória com “uma pulsão muito própria”. O fotógrafo Nuno Miguel Dias mostra-nos como se vive na Fonte da Telha nos outros noves meses do ano.

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Quando os médicos que conduziam o parto o chamaram para tirar a fotografia, avisaram-no logo: “Se quiser, tem de ser agora”. Até então sentado numa cadeirinha ao lado da mulher, Miguel Madeira teve somente tempo para se levantar, subir a câmara ao rosto, e disparar. “Foi como se estivesse a trabalhar. Estava apenas a garantir que a imagem ficava bem feita, como se fosse o parto de outra criança”, recorda sobre o momento em que registou os primeiros segundos de vida da filha, na manhã de 22 de Abril. Só depois dos primeiros gritos da recém-nascida ecoarem nas paredes da sala de parto entendeu verdadeiramente o que se passava. “Foi aí que senti um baque. Depois de tirar a câmara do olho fui-me abaixo”. Contou-lhe os dedinhos minguados, como as mães ensinavam. E chorou.

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