Num mundo saturado de imagens, a fotografia acaba por ser banalizada, mas não é por isso que deixa de ser uma boa forma de entender o que nos rodeia. Estes livros de fotografia dão uma ajuda.
Quando Mag Rodrigues começou a fotografar mãos no metro de Lisboa, em Julho de 2019, estava longe de imaginar que, passados uns meses, a realidade que iria encontrar nas suas viagens de casa para o trabalho seria a que vivemos hoje. “As mãos revelam imenso sobre uma pessoa”, começa por observar, em conversa com a Time Out.
É certo que muitos artistas já dissertaram e produziram obras sobre esta parte da fisionomia humana, reconhece a fotógrafa e enfermeira de 29 anos, que trabalha nas urgências de um hospital privado da capital. Mas as deslocações diárias e o tempo passado entre carruagens permitiu-lhe observar, compôr e documentar algo que nos é a todos comum. Ao início, eram apenas as cores dos vernizes, a pele enrugada pelo passar dos anos, ou a postura descontraída que as pessoas assumiam naqueles trajectos em que tinham de matar o tempo.
“Inicialmente, as imagens eram únicas, porque mostravam as mãos (com a expressão corporal, os adornos) com toda a informação que se retira só desta parte do corpo”, explica Mag Rodrigues.
Mas, de um momento para o outro, tudo se tornou mais tenso. As mãos despidas, à vontade, desapareceram, murcharam, e deram lugar a poses retraídas. O simples acto de segurar o varão central de uma carruagem (como mostra uma das fotografias) passou a ser impensável. Sem saber o que aí vinha, Mag continuou a registar mãos no metro. E cedo percebeu que, em tão pouco tempo, tinha reunido um conjunto de imagens dicotómico que, acima de tudo, espelhava a realidade de um país assolado por uma pandemia.
Assim sendo, a composição das imagens em dípticos impôs-se, para lhes conferir uma linguagem. “Além de serem todos imagens do antes e durante pandemia, há algo de comum entre as duas fotografias, que pode ir desde a posição dos corpos até às cores”, acrescenta.
Ao olhar-se para estas imagens surge-nos a curiosidade de saber quem são as pessoas ali retratadas. Como e de quem será o rosto acima da moldura que a câmara captou? O que antes era banal, como o entrelaçar de mãos, tornou-se, agora, um gesto perigoso e pelo qual ansiamos. Mas a vida continua, coberta com luvas e com máscaras. As flores que aqui nos aparecem na fotografia captada em Março de 2020 são, talvez, um símbolo de esperança. A liberdade voltará e as mãos voltarão a ficar despidas.