Maos no metro
Mag Rodrigues
Mag Rodrigues

Portefólio: a procura de Mag Rodrigues pelas mãos que a pandemia escondeu

As mãos dos lisboetas reflectem o medo que a pandemia provoca. ‘Mãos no Metro de Lisboa’, projecto fotográfico de Mag Rodrigues, começou por ser um exercício de observação, mas é agora prova do que vivemos.

Sebastião Almeida
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Quando Mag Rodrigues começou a fotografar mãos no metro de Lisboa, em Julho de 2019, estava longe de imaginar que, passados uns meses, a realidade que iria encontrar nas suas viagens de casa para o trabalho seria a que vivemos hoje. “As mãos revelam imenso sobre uma pessoa”, começa por observar, em conversa com a Time Out.

É certo que muitos artistas já dissertaram e produziram obras sobre esta parte da fisionomia humana, reconhece a fotógrafa e enfermeira de 29 anos, que trabalha nas urgências de um hospital privado da capital. Mas as deslocações diárias e o tempo passado entre carruagens permitiu-lhe observar, compôr e documentar algo que nos é a todos comum. Ao início, eram apenas as cores dos vernizes, a pele enrugada pelo passar dos anos, ou a postura descontraída que as pessoas assumiam naqueles trajectos em que tinham de matar o tempo.

“Inicialmente, as imagens eram únicas, porque mostravam as mãos (com a expressão corporal, os adornos) com toda a informação que se retira só desta parte do corpo”, explica Mag Rodrigues.

Mas, de um momento para o outro, tudo se tornou mais tenso. As mãos despidas, à vontade, desapareceram, murcharam, e deram lugar a poses retraídas. O simples acto de segurar o varão central de uma carruagem (como mostra uma das fotografias) passou a ser impensável. Sem saber o que aí vinha, Mag continuou a registar mãos no metro. E cedo percebeu que, em tão pouco tempo, tinha reunido um conjunto de imagens dicotómico que, acima de tudo, espelhava a realidade de um país assolado por uma pandemia.

Assim sendo, a composição das imagens em dípticos impôs-se, para lhes conferir uma linguagem. “Além de serem todos imagens do antes e durante pandemia, há algo de comum entre as duas fotografias, que pode ir desde a posição dos corpos até às cores”, acrescenta.

Ao olhar-se para estas imagens surge-nos a curiosidade de saber quem são as pessoas ali retratadas. Como e de quem será o rosto acima da moldura que a câmara captou? O que antes era banal, como o entrelaçar de mãos, tornou-se, agora, um gesto perigoso e pelo qual ansiamos. Mas a vida continua, coberta com luvas e com máscaras. As flores que aqui nos aparecem na fotografia captada em Março de 2020 são, talvez, um símbolo de esperança. A liberdade voltará e as mãos voltarão a ficar despidas.

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Vila Cã, perto de Abiul, em Pombal, é uma das muitas terras do país cuja existência apenas se torna evidente quando dela se fala. De outra forma, permaneceria intocada, num silêncio apenas quebrado pelos cerca de mil habitantes que lhe dão vida. As raízes da família de Ricardo Lopes, fotógrafo de 29 anos, estão lá. Foi nessa terra que os avós fizeram vida, que o pai e os tios cresceram, para já mais velhos deixarem a aldeia da infância à procura do bulício da cidade e de uma vida melhor.

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Foi um casaco amarelo herdado que lhes fez ganhar o nome, mas foi o gosto pelo desconhecido que os aproximou. Ivy e Athon, nomes fictícios, são os rostos (ocultos) por detrás dos The Yellow Jackets, um casal português “na casa dos trintas”, que viaja por Portugal e pelo mundo com o objectivo de explorar e fotografar edifícios abandonados. “Por ironia do destino”, contam à Time Out, pouco tempo depois de começarem a usar o anoraque amarelo do pai de Athon, depararam-se com outro idêntico e em mau estado, num dos locais que visitaram. 

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É fácil esquecer que a Fonte da Telha não é apenas uma praia. Durante os meses de calor, os lisboetas agarram nos carros, entopem a 25 de Abril numa torreira de sol e monóxido de carbono, e vão desaguando ao longo da linha de praias da Costa da Caparica. A Fonte da Telha é a última, já partilhada pelos concelhos de Almada e Sesimbra, tão extensa e bonita que se tornou destino de muitos, muitos veraneantes. Tantos que a preocupação à chegada passa mais por encontrar um lugar de estacionamento, um sítio para a toalha e o guarda-sol, do que em olhar ao redor. O que não se vê a partir deste frenesim do descanso é uma comunidade piscatória com “uma pulsão muito própria”. O fotógrafo Nuno Miguel Dias mostra-nos como se vive na Fonte da Telha nos outros noves meses do ano.

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Quando os médicos que conduziam o parto o chamaram para tirar a fotografia, avisaram-no logo: “Se quiser, tem de ser agora”. Até então sentado numa cadeirinha ao lado da mulher, Miguel Madeira teve somente tempo para se levantar, subir a câmara ao rosto, e disparar. “Foi como se estivesse a trabalhar. Estava apenas a garantir que a imagem ficava bem feita, como se fosse o parto de outra criança”, recorda sobre o momento em que registou os primeiros segundos de vida da filha, na manhã de 22 de Abril. Só depois dos primeiros gritos da recém-nascida ecoarem nas paredes da sala de parto entendeu verdadeiramente o que se passava. “Foi aí que senti um baque. Depois de tirar a câmara do olho fui-me abaixo”. Contou-lhe os dedinhos minguados, como as mães ensinavam. E chorou.

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