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o grande incendio do chiado
©"O Grande Incêndio do Chiado": Alfredo Cunha, Rui Ochoa, Fernando Ricardo e José Carlos Pratas

O Chiado ardeu há 30 anos

Foi a 25 de Agosto de 1988 que deflagrou o infame incêndio no coração de Lisboa

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
e
Eurico de Barros
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Foi um dos dias mais quentes da história da cidade. Estava meio país de férias quando deflagrou o infame incêndio no coração de Lisboa. Alternando com as imagens dos fotógrafos Alfredo Cunha, Rui Ochoa, Fernando Ricardo e José Carlos Pratasdo – que pode encontrar livro O Grande Incêndio do Chiado (Tinta da China, 12,90€) – fazemos-lhe um retrato do que foi o Chiado, do combate ao incêndio e da zona que acabou por ser resgatada das cinzas. E ainda falámos com Nuno Roby, o primeiro jornalista a dar a notícia do incêndio quando era estagiário na TSF. Como complemento pode, durante este sábado, 25 de Agosto, ligar a RTP1, RTP3 e RTP Notícias que ao longo do dia têm uma "operação especial" planeada sobre a efeméride.

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©"O Grande Incêndio do Chiado" (Tinta da China): Alfredo Cunha, Rui Ochoa, Fernando Ricardo e José Carlos Pratas

"A Baixa estava morta. Agora foi incinerada". Foi com estas palavras que o jornalista e olisipógrafo Manuel Múrias comentou o grande incêndio que no dia 25 de Agosto de 1988, faz agora 30 anos, consumiu parte da zona histórica do Chiado, na Baixa de Lisboa. O fogo irrompeu por volta das cinco da manhã nos Armazéns do Grandella, na Rua do Carmo, destruindo, em poucas horas 18 edifícios e uma área equivalente a quase oito estádios de futebol. A Baixa estava então em decadência. Envelhecida, vazia à noite, quase sem moradores e muito prejudicada pela concorrência dos centros comerciais que surgiam por toda a parte, caso do recém-inaugurado nas Amoreiras, a zona já não era o centro social, cultural, turístico e de comércio da capital doutros tempos.

©"O Grande Incêndio do Chiado" (Tinta da China): Alfredo Cunha, Rui Ochoa, Fernando Ricardo e José Carlos Pratas

O fogo foi combatido por muitos bombeiros em mangas de camisa, devido a insuficiências de equipamento. Várias bocas de incêndio não funcionavam, e os canteiros de betão com bancos que tinham sido postos pela CML na Rua do Carmo dificultaram a passagem dos autotanques. A origem do sinistro nunca chegou a ser apurada, mas a hipótese de fogo posto foi referida durante muitos anos, e há quem ainda hoje a perfilhe. O inquérito aberto pela PJ revelou-se inconclusivo, e acabou por ser arquivado em 1992.

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©"O Grande Incêndio do Chiado" (Tinta da China): Alfredo Cunha, Rui Ochoa, Fernando Ricardo e José Carlos Pratas

A catástrofe fez dois mortos: um bombeiro, e um morador cujo corpo só foi descoberto nos escombros dois meses depois. Quando o incêndio foi declarado extinto, pelas 12.30, tinham ardido muitas lojas e casas comerciais, algumas dos quais estavam ali desde os séculos XVII e XVIII. O Grandella, os Armazéns do Chiado, a Casa Batalha, a Pastelaria Ferrari, a Casa Aguiar, a Valentim de Carvalho e o seu arquivo, a Pompadour, o Jerónimo Martins ou a Perfumaria da Moda, desapareceram. Tirando os muito remodelados Grandes Armazéns do Chiado, agora um centro comercial, nenhuma delas voltou a abrir no local.

©"O Grande Incêndio do Chiado" (Tinta da China): Alfredo Cunha, Rui Ochoa, Fernando Ricardo e José Carlos Pratas

Em 1990, quando ainda se aguardava pelo começo das obras do projecto de reconstrução, dirigido por Álvaro Siza, Edgar Pêra rodou nas ruínas do Chiado uma curta-metragem de ficção científica pós-apocalíptica com sete minutos, Reproduta Interdita. Trinta anos depois do fogo, e concluídos recentemente os trabalhos de reconstrução e requalificação, com os Terraços do Carmo, o Chiado tem vida nova e está nos antípodas do que era na altura. Tornou-se numa das zonas mais caras de Lisboa e do país, cheia de lojas das grandes marcas portuguesas e mundiais, com mais moradores (sobretudo estrangeiros), e é de novo um dos principais polos turísticos de Lisboa.

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O Chiado histórico, de Eça e Ramalho, de Fernando Pessoa, das tertúlias à porta da Bertrand em que Almada Negreiros e Vitorino Nemésio falavam horas a fio com jornalistas e outros artistas e escritores, das lojas históricas e das famílias que lá se deslocavam de propósito para ir às compras, lanchar ou só pasmar para as montras, esse, foi-se com as cinzas.

Três perguntas a Nuno Roby

O primeiro jornalista a dar conta do incêndio (e do recado).

Qual foi a primeira coisa que fez quando chegou ao local?
Na realidade nunca estive no local durante o incêndio. Nos anos 80, morava num terceiro andar da Calçada de Santana e a minha casa ficava cá em baixo bem junto ao Rossio a poucos metros do incêndio. Era Verão e tinha as janelas abertas, razão pela qual bem cedo dei conta das chamas. Eventualmente mesmo antes dos bombeiros. Liguei para a TSF e estive em directo quase toda a madrugada até às 10.30 da manhã, altura em que tomei um duche e fui até à redacção, que na altura era na Torre 2 das Amoreiras.

Como era o ambiente que se vivia?
No início foi calmo até chegarem os bombeiros. As chamas deflagraram a grande velocidade. E ouviam-se explosões de tempo a tempo provocadas por botijas de gás. Com a chegada dos primeiros bombeiros e depois sobretudo com a chegada dos repórteres da TSF, aquele incêndio era, veio a confirmar-se mais tarde, o centro do mundo. É necessário contextualizarmos que a rádio naqueles anos não tinha nada a ver com a de hoje. A TSF veio revolucionar a rádio feita em Portugal e com este drama muitos ficaram a perceber que havia uma nova forma de fazer jornalismo.

Qual foi a coisa mais estranha que lhe aconteceu durante a cobertura?
Nada de especial. Como jornalista, ainda por cima na altura estagiário, limitei-me a relatar os factos que via da minha janela, e via muito. Via tudo. Uns dias depois um colega do Expresso, sem querer, disse-me algo que eu considero como um grande elogio: “Quando apareceram as primeiras imagens na televisão, da parte da tarde, fiquei com a impressão que já tinha visto tudo aquilo no relato da TSF”.

O Chiado de agora

  • Coisas para fazer

É o coração da cidade. O bairro incontornável onde as lojas centenárias vivem ao lado de marcas modernas, restaurantes de assinatura e sítios para ver e ser visto com muita música e animação ao vivo. Esqueça os turistas, que são muitos, bem sabemos, e descubra o melhor desta zona da cidade. Há tanto para fazer e descobrir no Chiado. De lojas a restaurantes, passando por bares e até hotéis. Não deixe de passar por aqui. Tem dúvidas? Ora então espreite as nossas listas. Estas são as melhores coisas para fazer no Chiado. Bons passeios.

  • Restaurantes

Os turistas tomaram conta do Chiado, mas não desista, ainda que o Largo esteja sempre cheio e o poeta esteja sempre com alguém ao colo. Fizemos um roteiro gastronómico pelos melhores restaurantes do Chiado para reclamar esta zona da cidade para si sempre que quiser.

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  • Noite
  • Cafés/bares

Não estamos aqui para enganar ninguém: se tem dificuldades em lidar com turistas e os seus paus-de-selfie, o Chiado pode ser um desafio. Mas não se deixe assustar e muito menos deixe de visitar esta zona da cidade. Afinal, o Chiado é muito mais do que isso e há tanto para ser descoberto e aproveitado. Há lojas vistosas que valem a pena e restaurantes que merecem uma visita. E há bares que, seguramente, lhe abrilhantam a noite. A lista que se segue junta os melhores bares do Chiado. Toca a beber.

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