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A nova vida em tempos de pandemia retratada pelos fotógrafos portugueses

Portugal e o resto do mundo pararam. Um grupo de fotógrafos e fotojornalistas portugueses juntaram-se no Instagram para mostrar como é a vida em quarentena.

Sebastião Almeida
Escrito por
Sebastião Almeida
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À medida que os dias passam, os caso de infecção por covid-19 continuam a aumentar. As medidas de contenção do Governo para evitar a propagação da doença foram reforçadas. Mas a tendência é que os números subam ainda mais. As nossas casas nunca foram tão verdadeiramente o nosso lar. E é dentro das suas paredes que agora tentamos prosseguir com o nosso quotidiano – onde trabalhamos, fazemos exercício, comemos ou brincamos com os nossos filhos. À semelhança dos profissionais de saúde, alguns jornalistas continuam no terreno a reportar a situação que vivemos. São cada vez menos, mas também eles resistem. Os fotojornalistas e fotógrafos, em particular, não têm outra forma de exercer a sua profissão senão estar na rua, em contacto com as pessoas.

Uns já estão em casa, juntamente com as suas famílias. Outros revezam-se em turnos para minimizar os riscos. É o caso de Gonçalo Borges Dias, fotógrafo de uma agência de comunicação em Lisboa, que deu uma volta à sua vida para poder prestar assistência à mãe nestes tempos difíceis. Foi de “estarmos todos confinados a nossa casa” que surgiu a ideia de criar a EverydayCovid – uma página de Instagram em que os fotógrafos e fotojornalistas portugueses publicam o seu olhar da situação dramática que nos assola –, conta Gonçalo à Time out numa entrevista por telefone.

O projecto, do qual Miguel Lopes, fotojornalista da agência Lusa é co-fundador, surgiu de forma natural. A partir de um grupo de WhatsApp criado já há muito tempo para dar a conhecer trabalhos de fotografia, nasceu a ideia de começar a partilhar ali as imagens que retratam esta altura. “Mas depois pensámos que as fotografias ficariam só para nós e queríamos mostrá-las a todos”, explica Miguel. Assim optaram por criar uma conta na rede social que já conta com quase três mil seguidores e 125 fotografias, de mais de 80 fotógrafos e fotojornalistas.

O registo fotográfico prende-se com o quotidiano, com a situação de clausura que é transversal a quase toda a sociedade. Gonçalo não fotografa da mesma forma que o fazia no seu trabalho, mas não deixa de olhar. Continua a fotografar nas idas ao supermercado, à farmácia, no dia-a-dia com a mãe ou, por exemplo, ao receber uma encomenda em casa. “Isto nasceu de uma pessoa ter sempre a cabeça a funcionar”, resume.

Actualmente, toda gente tira fotografias – Miguel sabe-o. Mas, neste projecto, “todos temos um olhar mais apurado sobre o que se está a passar e é isso que queremos transmitir”. As fotografias de José Carlos Carvalho, fotojornalista da Visão, publicadas há dias na conta exemplifcam essa preocupação. O fotojornalista viu-se obrigado a cuidar dos pais e começou a registar essa transformação nas suas vidas de uma forma ternurenta e emotiva. “É esse tipo de realidade que mostramos, mas mostramo-lo através de um olhar fotográfico, pois acredito que toda a gente tenha um problema causado por esta crise.”

Chegou a um ponto em que já havia muito trabalho repetido, confessa Gonçalo. Por isso, começaram a ter mais preocupações com a qualidade das fotografias e a exercer uma espécie de curadoria. “Pretendemos ter rigor, qualidade e isenção”, diz. Criar um mosaico de imagens que funcione como um todo.

A arma da página, defende, “é ser capaz de ver o que os outros não vêem”. Estar sempre alerta, “a olhar”. O bloqueio mental de estar fechado em casa dá azo a que se tente criar algo mais, acredita o fotógrafo. “Pode ser um reflexo, uma sombra ou a luz pontual.” O importante é olhar e criar. Só assim se mantém a sanidade mental.

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Vila Cã, perto de Abiul, em Pombal, é uma das muitas terras do país cuja existência apenas se torna evidente quando dela se fala. De outra forma, permaneceria intocada, num silêncio apenas quebrado pelos cerca de mil habitantes que lhe dão vida. As raízes da família de Ricardo Lopes, fotógrafo de 29 anos, estão lá. Foi nessa terra que os avós fizeram vida, que o pai e os tios cresceram, para já mais velhos deixarem a aldeia da infância à procura do bulício da cidade e de uma vida melhor.

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Foi um casaco amarelo herdado que lhes fez ganhar o nome, mas foi o gosto pelo desconhecido que os aproximou. Ivy e Athon, nomes fictícios, são os rostos (ocultos) por detrás dos The Yellow Jackets, um casal português “na casa dos trintas”, que viaja por Portugal e pelo mundo com o objectivo de explorar e fotografar edifícios abandonados. “Por ironia do destino”, contam à Time Out, pouco tempo depois de começarem a usar o anoraque amarelo do pai de Athon, depararam-se com outro idêntico e em mau estado, num dos locais que visitaram. 

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É fácil esquecer que a Fonte da Telha não é apenas uma praia. Durante os meses de calor, os lisboetas agarram nos carros, entopem a 25 de Abril numa torreira de sol e monóxido de carbono, e vão desaguando ao longo da linha de praias da Costa da Caparica. A Fonte da Telha é a última, já partilhada pelos concelhos de Almada e Sesimbra, tão extensa e bonita que se tornou destino de muitos, muitos veraneantes. Tantos que a preocupação à chegada passa mais por encontrar um lugar de estacionamento, um sítio para a toalha e o guarda-sol, do que em olhar ao redor. O que não se vê a partir deste frenesim do descanso é uma comunidade piscatória com “uma pulsão muito própria”. O fotógrafo Nuno Miguel Dias mostra-nos como se vive na Fonte da Telha nos outros noves meses do ano.

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Quando os médicos que conduziam o parto o chamaram para tirar a fotografia, avisaram-no logo: “Se quiser, tem de ser agora”. Até então sentado numa cadeirinha ao lado da mulher, Miguel Madeira teve somente tempo para se levantar, subir a câmara ao rosto, e disparar. “Foi como se estivesse a trabalhar. Estava apenas a garantir que a imagem ficava bem feita, como se fosse o parto de outra criança”, recorda sobre o momento em que registou os primeiros segundos de vida da filha, na manhã de 22 de Abril. Só depois dos primeiros gritos da recém-nascida ecoarem nas paredes da sala de parto entendeu verdadeiramente o que se passava. “Foi aí que senti um baque. Depois de tirar a câmara do olho fui-me abaixo”. Contou-lhe os dedinhos minguados, como as mães ensinavam. E chorou.

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