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Fotografia: Inês Calado RosaRIP Amigos do Minho

Obituário: os lugares que Lisboa perdeu em 2017

Necrolojia 2017: a nossa homenagem às lojas, restaurantes e outros lugares que fecharam as portas este ano que agora acaba.

Escrito por
Luís Leal Miranda
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Estão a ver aquela parte in memoriam dos Óscares, com imagens a preto e branco de actores falecidos acompanhadas por uma canção puxa-lágrima? Esta é a versão lisboeta desse tributo: fazemos uma despedida às lojas, restaurantes e outros lugares icónicos que não resistiram à implacável passagem do tempo – ou aos ainda mais implacáveis “interesses imobiliários”. Saudade eterna.

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Obituário: os lugares que Lisboa perdeu em 2017

Casa das Águas (1907-2017)

Esta pequena loja de antiguidades da Rua do Ouro era o sótão da casa de férias de um tio-avô excêntrico sobre o qual nunca soubemos muito – “terá combatido na Guerra Civil de Espanha? Terá sido actor? Dizem que foi amante de uma princesa”. Em várias prateleiras, vitrines, caixas ou ao calhas pelo chão estavam curiosidades de outros tempos, juntas numa magnífica e desarrumadíssima cápsula do tempo. Uma loja-museu irresistível que inaugurou em 1907 para vender copos de água aos lisboetas (daí o nome). Desapareceu de mansinho, no início do Verão, quando a sede aperta.

Elefante Branco (1986-2017)

É uma casa marcante para muitos lisboetas. E de certeza que a maior parte desses lisboetas prefere não contar as suas experiências marcantes. O Elefante Branco fazia parte da fauna mais boémia e debochada de Lisboa há três décadas e servia, supostamente, um óptimo bife. Era, também, um dos únicos sítios da cidade com valet parking. Na verdade, fechou ainda em Dezembro de 2016. Mas foi em 2017 que demos pela falta.

 

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Pirata (1921-2017)
Fotografia: VM

Pirata (1921-2017)

Foi em Janeiro deste ano que o Pirata dos Restauradores nos deixou para sempre. Para trás ficam as memórias das imperiais ao balcão, chamuças à portuguesa (enormes, amarelíssimas) e muitos daqueles copitos pequenos com um líquido misterioso: o pirata e o perna de pau, pérolas da coquetelaria vernacular lisboeta, eram misturas de licores com gasosa que se bebiam à laia de aperitivo. Com o boom do turismo o Pirata renasceu e tinha a esplanada sempre cheia, mas teve de fechar, tal como o restaurante Taverna Imperial, o café Young Liberty a loja de lãs Imperial e a Residencial dos Restauradores, para dar lugar a um prédio de apartamentos para turistas chamado The Boulevard.

Loja 67 (1914-2017)

Esta loja de roupa e parafernália rock’n’roll foi muito popular na Lisboa dos anos 80 e 90 por vender as botas Doc Marten – assim como temíveis blusões de cabedal e outras peças de roupa associadas a, como costumam descrever os os media condescendentes, “estilos de vida alternativos”. A Loja 67 tem uma história longa e curiosa, menos ligada ao negrume e ao metal e mais associada ao branco e aos líquidos: abriu em 1914 como leitaria, passou a stand de automóveis e só depois teve esta sua última encarnação como loja de roupa e acessórios.

 

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Amigos do Minho (1950-2017)

Depois de um intenso vai-não-vai e muita especulação, soube-se há uma semana que o Grupo Excursionista Recreativo Amigos do Minho vai mesmo fechar. A colectividade regionalista, que também era um dos melhores restaurantes para jantares de grupo em Lisboa, deixa a sua sede na Rua do Benformoso no final do ano. Está à procura de nova morada para continuar a receber os seus amigos. Vamos ter muitas saudades daquela varanda discreta sobre Lisboa e dos almoços demorados à sombra das videiras.

 

Estádio (1921-2017)

Antiga leitaria e um dos mais icónicos cafés de Lisboa, o Estádio como o conhecemos já tinha acabado em 2016, quando uma nova gerência tentou modernizar o imodernizável. Perdeu-se a alma daquele sítio, saiu a máquina de flippers e a jukebox, os velhotes a ver (e comentar) o Canal Hollywood e tipos barbudos a folhear livros de poesia, fazendose parecer interessantes. A nova vida do Estádio foi mais duradoura do que o regresso de Cristo, mas bastante menos produtiva. Fechou este Outono.

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Rei das Meias (1929-2017)
Fotografia: Arlindo Camacho

Rei das Meias (1929-2017)

Sua alteza o Rei das Meias renunciou ao trono deixando a cidade nas mãos de outros monarcas, como o Rei das Fardas ou a Rainha do Cromo Avulso. O seu reinado durou 88 anos, um período em que fez o seu melhor para “tornar bonitas as pernas feias”, de acordo com o slogan. A loja, que teve como clientes Amália Rodrigues ou Beatriz Costa, fechou em Abril para que o dono pudesse finalmente gozar a reforma. Esperamos que tenha um bom stock de meias de descanso.

Lusitano Clube (1905-2017)
Fotografia: Ana Luzia

Lusitano Clube (1905-2017)

Foi daqueles sítios com a morte há muito anunciada, mas que iam resistindo. Essa resistência (petições, renegociações, festas) durou até Fevereiro deste ano, quando o clube saiu da sede onde estava, na Rua São João da Praça, desde 1905 – o prédio, adivinharam, vai ser transformado em apartamentos de luxo para turistas. O passado de resistência do Lusitano Clube de Lisboa garantiu-lhe um futuro: em Junho foi anunciada uma nova sede na Rua das Escolas Gerais, no bairro onde este clube de bairro fez sempre a sua vida: Alfama.

Não vos deixaremos morrer

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  • Noite
  • Cafés/bares

Luís Pinto Coelho morreu em 2012, mas deixou para a história da cidade quatro dos mais emblemáticos bares da noite alfacinha. Foi ele o fundador do Procópio, d'A Paródia, do Fox Trot e do Pavilhão Chinês, que decorou com peças de uma colecção de velharias e objectos que acumulou desde a adolescência. Os quatro bares históricos em Lisboa ainda estão a funcionar. E não são os únicos. 

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