A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Alankaar, dos Músicos do Tejo com o flautista Shashank Subramanyam
DRAlankaar, dos Músicos do Tejo com o flautista Shashank Subramanyam

Todos diz adeus a Santa Clara com três fins-de-semana de música e arte

A 15.ª edição do Festival Todos arranca já este sábado, 26 de Agosto, completando três anos de permanência na freguesia de Santa Clara. Entre concertos, performances, gastronomia e teatro, tome nota dos destaques dos próximos fins-de-semana.

Mauro Gonçalves
Escrito por
Mauro Gonçalves
Publicidade

Nasceu há 15 anos, no Intendente, e já passou por cinco bairros e freguesias de Lisboa. Na edição em que se despede de Santa Clara, onde assentou arraiais em 2021, o Todos volta a celebrar a multiculturalidade através das artes, mas sem romantizar as feridas e cicatrizes sociais que pautam o território. Miguel Abreu, director do festival desde a primeira edição, fala na freguesia mais guetizada por onde o Todos já passou. "É também a primeira que está mais fora do centro. Por isso, uma das nossas prioridades foi transformar mentalmente esta periferia num centro", afirma.

"O Todos não é para criar paz, é para criar tensão e para levantar questões. É para problematizar os territórios e as pessoas e criar espaço para que elas possam conviver e transmitir os seus medos e as suas utopias", continua. Antes de deixar Santa Clara, o Festival Todos tem seis dias de programação pela frente, de 26 de Agosto a 10 de Setembro. Através do teatro, da música, da fotografia e até da comida, as diferentes comunidades são trazidas para o centro da reflexão – há música cigana, um almoço encenado com sabores (e uma peça) de São Tomé e Príncipe e sonoridades vindas da Índia, colocadas em diálogo com a tradição europeia.

De França, chega o espectáculo Vento, que explora a poética deste elemento da natureza, enquanto outros autores foram desafiados a trabalhar directamente com a população, envolvendo as suas histórias e testemunhos no processo criativo. Foi o que aconteceu com Tiago Cadete, com Rui Catalão, mas também com Joana Brito Silva. As actividades são gratuitas e, para quem vem de fora, uma oportunidade para conhecer estes bairros no limite do concelho de Lisboa. No próximo ano, o Todos pousa noutro sítio, só ainda não sabe onde será. Por enquanto, fique com os destaques desta edição.

Recomendado: Estas exposições gratuitas em Lisboa valem a visita

Dez destaques da 15.ª edição do Festival Todos

26 Ago: Atelier de Costura

"Paz é aceitar a diferença." A frase foi bordada por Mahmud Hammoudeh, um jovem paquistanês de 16 anos, que há dois se juntou ao Atelier de Costura. O projecto faz parte da programação do festival desde 2016 e envolve, nesta edição, cerca de 22 pessoas de oito nacionalidades diferentes. Por estes dias, todas se dedicam ao mesmo labor – bordam as peças que, em breve, serão postas à venda, os Lenços dos Deslocados. "Ficamos felizes ao perceber que o atelier é um local de encontro", resume Vera Alvelos, a coordenadora do projecto. O resultado – combinação de desenhos e palavras, inspirados nos bordados do Norte do país – vê a luz do dia já no próximo sábado, num evento que terá lugar na Quinta Alegre, na Charneca, durante a tarde. O atelier despede-se de Santa Clara, levando alguns dos amigos feitos nos últimos três anos (além de todos os outros que já para aqui vieram, vindos de outras zonas da cidade) para uma próxima paragem. Às 18.30, estreia-se a banda Hotel Europa, da companhia de teatro documental com o mesmo nome. Com ela traz os músicos com quem tem vindo a colaborar nos últimos anos – Selma Uamusse, Joana Guerra, Pedro Salvador, Edison Otero, entre outros. A entrada é livre.

27 Ago: Emanuel e Toy Matos

A verdadeira festa cigana acontece já no próximo domingo, no Centro Cultural da Ameixoeira. E será aberta a todos. O Ponto alto? O concerto, de entrada livre, destes dois irmãos vindos de Benavente, marcado para as 15.00. No repertório trazem música cigana, mas também flamencos, rumbas e tangos. O primeiro dá a voz, o segundo dedilha a guitarra e juntos fazem parte do projecto A Música Cigana a Gostar Dela Própria. Mas o programa não fica por aí. Arranca às 12.30 com a inauguração da exposição "Distopia Urbana", de Pauliana Valente Pimentel, que fotografou comunidades portuguesas de etnia cigana durante uma residência artística na Ameixoeira. A mostra poderá ser ainda vista nos dias 9 e 10 de Setembro no Jardim de Santa Clara. Mas há mais: às 12.30 é exibido o filme Carmen Troubles, de Vasco Araújo, sobre a imagem estereotipada da mulher cigana à luz da ópera de Bizet; às 17.00 é a vez da curta-metragem António, de Nylon Princeso; às 18.30 o documentário A Música Invisível, de Tiago Pereira, encerra o segundo dia do festival, no Centro Desenvolvimento Comunitário da Ameixoeira. A entrada é livre.

Publicidade

2 Set: Orquestra Todos convida Tonecas Prazeres

Na verdade, o concerto que junta a orquestra da casa ao músico são-tomense é só o culminar de uma proposta bem mais completa, que começa com um almoço dramatizado (15€), marcado para as 13.00, em torno do Auto de Floripes, teatro popular da ilha do Príncipe. O repasto é servido no Cantinho da Ameixoeira, restaurante de Felizardo Bonfim e da mulher, eles próprios emigrados há 25 anos, depois de terem protagonizado o mesmo texto por ocasião da Expo 98. Nunca mais voltaram e vêem agora a mesma peça bater-lhes à porta, sob a direcção de Ana Rita Ferreira. Às 18.30, o Largo do Ministro recebe o concerto da Orquestra Todos com Tonecas Prazeres, compositor e guitarrista. A entrada é gratuita, bem como a exposição de Céu Guerra para ver no mesmo local. As fotografias tiradas no ano passado em São Tomé e Príncipe vão estar espalhadas pelas ruas da zona velha da Ameixoeira.

3 Set: Luca Argel

Sabina é o quarto álbum de originais do músico e compositor brasileiro, uma homenagem à história da quitandeira negra que vendia laranjas nas ruas do Rio de Janeiro por altura do fim da monarquia no Brasil e da abolição da escravatura no país. Ao ar livre, o concerto de Luca Argel na Quinta Alegre, às 18.30, fará brilhar o disco lançado em Fevereiro deste ano, sem deixar de lado as lutas do presente. A entrada é livre.

Publicidade

2-3 Set: 'Manjar'

O espectáculo de Tiago Cadete – "conceptualista", nas palavras de Miguel Abreu – pode convidá-lo a sentar-se à mesa, mas o banquete servido é de outro género. A partir de testemunhos de residentes oriundos das ex-colónias, o artista procedeu a um mapeamento da influência das diferentes gastronomias na comida tradicional portuguesa, tendo como referência o Livro de Cozinha da Infanta D. Maria de Portugal. A mesa, com 60 lugares, será posta no Centro Cultural da Ameixoeira, pelas 15.30. Cada convidado terá uns auscultadores para, durante uma hora, contactar com as diferentes histórias. A participação é gratuita, mas requer inscrição prévia.

2-3 Set: 'Mal de Ulisses'

Mais um momento que vai envolver elementos da comunidade. Rui Catalão construiu um espectáculo ao ar livre, em forma de percurso, onde parte do elenco é composto por moradores da Ameixoeira Velha – apenas quatro são actores profissionais. Mais uma vez, a criação artística parte de testemunhos reais da comunidade migrante da freguesia, tendo como base a teoria dos sete lutos migratórios do psiquiatra espanhol Joseba Achotegui. Mal de Ulisses acontece às 17.00 e tem entrada livre, mas é necessária inscrição prévia.

Publicidade

9 Set: Um olhar sobre Santa Clara

Depois de uma residência artística em Santa Clara, a italiana Alice Pasquini cria um percurso composto por intervenções site-specific. A inauguração deste itinerário artístico será às 16.00, no Cine Estrela, antigo cinema do bairro da Charneca. A arte urbana é a sua linguagem primordial, que nesse mesmo dia se cruzará com uma outra, a do DJ Gruff, que tem performance marcada para o Jardim de Santa Clara, às 21.30. Um DJ set inédito, acompanhado da projecção de vídeos captados durante a residência de Pasquini. A entrada é livre.

9 Set: 'Alankaar'

Um espectáculo que junta os Músicos do Tejo – com elementos provenientes de diferentes continentes e sob a direcção de Marcos Magalhães – com o flautista Shashank Subramanyan, destacado representante da música carnática clássica indiana. O concerto está marcado para as 18.30, no Largo das Galinheiras, e é de entrada livre.

Publicidade

9-10 Set: 'De Passagem'

As práticas ilícitas estão no centro do mais recente espectáculo de Joana Brito Silva, uma criação no contexto do festival que ouviu testemunhos de jovens residentes do Bairro da Cruz Vermelha, bem como as memórias da população sénior da Azinhaga do Reguengo. Histórias – do tempo em que o contrabando era um recurso de subsistência nas aldeias fronteiriças, mas também de novas formas de transacção ilícita nos bairros mais vulneráveis da freguesia – que culminaram nos textos escritos com Mariana Fonseca e levados a cena no Parque Oeste, às 18.00. A entrada é livre.

9-10 Set: 'Vento'

Não é por acaso que a mais recente criação da companhia francesa Le Groupe Zur vai passar por Santa Clara, em particular pelo jardim com o mesmo nome – e com duas datas. O vento abunda por estas paragens, daí que o espectáculo, que mistura percussão, voz e sonoridades electrónicas e que conta com oito intérpretes em cena, tenha sido o escolhidos para fechar a terceira e última edição do Todos em Santa Clara. É às 20.30 e a entrada é livre. Agasalhe-se, olhe o vento.

Mais para fazer em Lisboa

  • Museus

Fomos à procura dos museus grátis em Lisboa e concelhos vizinhos e descobrimos algumas pérolas museológicas. Da sala de operações do Movimento das Forças Armadas ao museu que respira dinheiro, há muito para aprender sem gastar um tostão. Aventure-se nestes museus grátis em Lisboa e arredores.

Publicidade
  • Arte
  • Arte urbana

Se por um lado Lisboa está em guerra com taggers com pouco talento para a coisa – e que fazem questão de espalhar assinaturas por tudo quanto é sítio –, por outro a cidade é cada vez mais um museu a céu aberto de belíssimas obras de arte urbana. Embarque connosco num passeio alternativo pela cidade.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade