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Mercearia Progresso
Fotografia: Arlindo CamachoA Progresso, em Alcântara

Lojas tradicionais: as mercearias de Lisboa onde o tratam pelo nome

Abasteça-se no comércio tradicional. Longa vida às mercearias de Lisboa.

Escrito por
Mariana Correia de Barros
,
Raquel Dias da Silva
e
Sebastião Almeida
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Casas centenárias, outras mais recentes. Talvez se lembre de entrar pela mão do pai, da mãe, da avó ou do avô, até pela da madrinha, numa destas mercearias castiças e devidamente atafulhadas de História. Se calhar não, dando-se o caso de ser jovem e ainda as estar a descobrir. Mas, uma vez descobertas, não vai ter dúvidas de onde encontrar os melhores queijos e enchidos, fruta fresca, legumes cheirosos, sumos e frutos secos. Ah, e o charme, claro está, porque estas lojas são também lugares de encanto, onde volta e meia já nos conhecem pelo nome. Conheça o roteiro das melhores mercearias tradicionais de Lisboa e deixe-se encantar. Não há pandemia que as mande abaixo.

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Lojas tradicionais: as melhores mercearias de Lisboa

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  • Mercearias
  • Campo Grande/Entrecampos/Alvalade

Onde: Avenida de Roma
Idade: 53 anos

Há quem lá vá pelos pastéis (legítimo), quem sonhe fazer 
anos para encomendar o bolo de morango e natas (compreende-se) e quem passe só para beber um sumo de fruta (acertadíssimo). Mas se de cada vez que lá for levar também um cesto de fruta fresca – “nacional sempre, estrangeira quando é preciso”, diz Freitas, gerente desde os anos 1980 –, está a contribuir para a manutenção do comércio nacional. Pense nisso.

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  • Santa Maria Maior

Onde: Baixa
Idade: Incerta, foi restaurada em 1924

É uma frutaria com décadas e décadas de vida, que além de todo o tipo de maçãs, pêssegos, bananas, clementinas, figos, morangos – a lista muda consoante a época –, também vende caça. As frutas são asseguradas sempre por produtores nacionais à excepção das tropicais, como as mangas ou maracujás, que vêm de fora. Há lebre, perdiz, coelho, tudo por encomenda. A lampreia, conta Alípio Ramos,  ali merceeiro há quase 50 anos, é outro dos segredos bem guardados do estabelecimento, que é dos poucos em Lisboa onde se encontra a iguaria. Nas mãos de Alípio desde os anos 1980, o proprietário sabe que na Bristol foi filmada uma parte do filme O Grande Elias, de 1950,  realizado pelo cineasta Arthur Duarte, pseudónimo de Arthur Pacheco.

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  • Mercearia de bairro
  • Lisboa

Onde: Morais Soares
Idade: 100 anos, aproximadamente

Aqui, encontra-se todo o tipo de produtos. Sobretudo os tradicionais, de regiões das Beiras e do Alentejo. Quem o garante é Jorge Santos, proprietário deste mercado na Morais Soares desde 1982. Fique a saber que às terças e sexta-feiras há broa da Beira Baixa; às, quintas-feiras, por exemplo,chega pão de Penha Garcia. E também encontra bicas de azeite, um pão chato da Beira Baixa, ou produtos da região do Crato. E porquê o nome Loja do Japão? “Em 1919 era uma casa especializada em chás e cafés. À medida que os anos foram passando o negócio foi-se adaptando”, explica Jorge. O nome, esse, manteve-se.

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  • Mercearias
  • Alcântara

Onde: Alcântara
Idade: 54 anos

É uma mercearia à antiga, pequenina, com garrafas de vinho empilhadas e empoeiradas. João Jorge é há 54 anos o anfitrião desta pequena mercearia de Alcântara. Nos tempos áureos, distante da realidade que agora se vive, o bacalhau e os queijos era o que mais saía. A matéria-prima de qualidade continua lá, mas em menor quantidade pois os fregueses também são menos. O bacalhau é dos grandes e vem da Islândia; os queijos, de várias variedades, são quase todos oriundos da região de Castelo Branco. E é tudo o que precisa de saber.

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  • Mercearia de bairro
  • Bairro Alto

Onde: Bairro Alto
Idade: Incerta, mas estima-se que a caminho dos 90 anos

Nisto das lojas antigas da cidade, nem sempre é fácil fazer as contas aos anos de vida de um sítio. “Estamos aqui há 50 anos, já havia a loja com um senhor que esteve, vá, 23 anos, outro antes que devem ter sido 17, portanto veja”, contabiliza a dona Glória, que gere o negócio com o irmão. Abastecem-se de frescos no MARL e no Mercado da Ribeira, têm uma montra de queijos e enchidos compostinha, ainda vendem leguminosas e frutos secos a granel, lado a lado com aqueles velhinhos frascos XL de creme Revlon e uma série de produtos de drogaria. No meio da modernização do bairro, é como achar uma agulha no palheiro.

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  • Mercearia de bairro
  • Chiado/Cais do Sodré

Onde: Bairro Alto
Idade: 120 a 126 anos, a proprietária já não se recorda. Se calhar já tem mais.

No meio de tomates-chucha, 
de diospiros, de morangos,
 de marmelos, de cebolas, beterrabas, tudo muito cheiroso e de aspecto bem fresco, encontram-se umas caixinhas com feijão verde já arranjado. Serão para clientes especiais? “O que não se consumir, vende-se; o que não se vender, consome-se. Não é exactamente o lema da mercearia gerida por Maria Celeste (autora destas sábias palavras) a meias com a irmã, Maria Augusta, mas podia, já que basta passar cinco-sete minutos aqui para perceber que os mimos são muitos. Para clientes da casa, mas também para quem passa, espreita e, obviamente, entra. Os mimos e tudo aquilo que vendem: frescos vindos do Mercado da Ribeira, polvos congelados, queijos frescos daqueles que se comem só com sal e pimenta, frutos secos, charcutaria, é escolher. A qualidade está lá. Palavra Time Out.

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  • Santa Maria Maior

Onde: Restauradores
Idade: 1890 – segundo a tradição oral

É a última manteigaria da cidade e a prova de que o comércio tradicional pode prosperar nos tempos de hoje. José Tabuaço Branco tomou conta do negócio em 1989 e transformou este espaço no que é hoje com a ajuda dos filhos. O proprietário é um dos poucos afinadores de queijo na região de Lisboa e o responsável pela cura artesanal de quatro, oito e 12 meses dos queijos da Serra da Estrela que aqui encontra. Para breve, estará à venda um lote especial de queijo da ilha de São Jorge, afinado pelo próprio e curado durante 50 meses. O mesmo se pode dizer do bacalhau vindo da Islândia, secado de forma artesanal com sal-marinho. Além dos produtos portugueses de grande qualidade, as diferentes variedades de presunto, como a paleta ou o bísaro. Os lacticínios, a charcutaria e a garrafeira de vinhos são outra perdição da loja histórica.

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  • São Vicente 

Onde: Graça
Idade: 78 anos

De há 12 anos para cá, quando pegou no negócio, muita coisa mudou e o negócio da fruta já não é o que era. A cidade transformou-se, encheu-se de turistas e agora esvaziou-se com a pandemia. O forte d’O Lugar do Jaime continua a ser as frutas e legumes.. Aqui, encontra uma grande variedade destes produtos, tal como noutras mercearias, reconhece. Mas a dedicação e atenção ao produto e ao cliente são características que não encontrará tão facilmente fora do número 68 da Rua da Graça. “As pessoas agora não são muitas, outras fazem as compras online”, resume. Já se sente a crise, garante o merceeiro, mas Jaime continua ali para servir os fregueses da Graça.

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  • Mercearias
  • Santa Maria Maior

Onde: Baixa
Idade: 69 anos

Perdoem-nos o trocadilho,
 mas a Pérola do Arsenal é uma autêntica jóia desta cidade. Uma arca do tesouro de onde saem peças de bacalhau da Islândia embrulhadas em papel pardo 
e atadas com cordel, depois de serem cortadas com uma faca xpto numa mesa com tampo
 de mármore pelo Sr. Rui, o empregado mais antigo da casa; onde há um expositor só para piripíris, frascos de picantes, sais e outros temperos; onde ainda se vendem carapaus, corvinas e sardinhas salgadas; onde pode comprar todos os frascos de molhos e temperos africanos; onde é possível encontrar farinhas e grãos que vão do corriqueiro feijão branco a ingredientes com nomes impronunciáveis; onde há 
tanto vinhos portugueses como cervejas holandesas e garrafas de grogue; onde os preços são escritos com auxílio daquelas réguas para saírem na perfeição. E isso é impagável.

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  • Mercearia de bairro
  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

Onde: Príncipe Real
Idade: Mais de 50 anos

Vai pingando, respondeu Celestino Almeida, à pergunta da praxe: Como vai o negócio?”, quando o conhecemos pela primeira vez. Os tempos são outros, disse, a malta nova já não quer saber do bacalhau, do feijão a granel, mas nem isso o demove de continuar a ter produtos frescos todos os dias. Seja o pão de Mafra, as carcaças, os queijos frescos, a mortadela que corto aqui na fiambreira, além de arrozes, massas, cereais, águas, tudo etiquetado à mão em papelinhos. A loja toda forrada a armários antigos azuis claros, balcão de mármore e ladrilhos amarelos, é um deleite para o Instagram, e o próprio dono, vindo de Oliveira de Frades de castigo, com dez anos, trabalhar para a loja do padrinho, está bem habituado a fama e fotografias. Passe para dois dedos de conversa e de saída leve um Esquecido, uma bolacha aparentada de bolo caseiro que é viciante (12€/kg).

Outras compras

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Bonsais, cactos, árvores de fruto, arbustos, plantas rasteiras, trepadeiras, folhas grandes e miudinhas, tudo para compor as divisões lá de casa ou até mesmo para dar outra vida ao quintal – se for o caso. Estes sítios reúnem alguns dos mais raros exemplares da natureza aos mais simples e vulgares.

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  • Decoração

Acabaram-se as desculpas para servir o jantar com loiça de meia tigela. Há quem guarde as peças mais bonitas ou mais valiosas para ocasiões especiais, mas — aqui que ninguém nos ouve — todas as refeições devem ser celebradas e acompanhadas por cerâmicas com alguma linhagem.

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