Ironia das ironias: o conceito de
concept store está banalizado. Lisboa começou a ter tantas, e tão pouco conceptuais, que foi preciso vir alguém do Porto para mostrar como é que se leva o conceito para dentro da loja. Pelo menos fama a
The Feeting Room já tinha. As singularidades do espaço no Largo dos Loios já lhe valeram menções em jornais e revistas estrangeiras. No Verão, a cafetaria passou a fazer parte do negócio, mas antes disso, já os quatro sócios planeavam a anexação da capital. E foi para aqui, para a antiga Panificação do Chiado, que o trunfo portuense foi lançado.
E até custa a crer que ainda se abram lojas deste tamanho no coração de Lisboa sem haver uma multinacional a bancar cada estante e rodapé. Felizmente, esta é bem portuguesa e mantém-se fiel ao tal conceito, neste caso, servir de montra às marcas de calçado nacionais. Os sapatos são, por isso, a alma da casa. Ou uma das várias. É que na nova loja, a The Feeting Room subiu a outro nível, aquele em que tudo é pensado de raiz para deixar expositores, luzes e balcões no sítio certo e ainda para deixar à vista vestígios dos antigos usos, como o tecto do antigo forno da panificação. O contraste é nítido: o cinzento industrial e o ferro predominam, as plantas suspensas e as mesas de madeira aquecem o espaço. O resultado final é qualquer coisa que vai além de um simples destino de compras.
“Quando vamos a sítios como a Colette, em Paris, o Corso Como, em Milão, ou o Dover Street Market, em Londres, vamos pela vibe, para ver o que se passa de novo e não porque precisamos de uma camisola”, partilha Edgar Ferreira, um dos sócios. E embora a filial lisboeta não tenha Coffee Room (ainda), nem uma agenda lotada de música, exposições e lançamentos (ainda), já dá para apanhar a vibe, até porque ela está logo na curadoria.
As marcas nacionais estão em maioria, mas não é por isso que a The Feeting Room ergue a bandeira. Há etiquetas estrangeiras já bem conhecidas da casa, quase todas no vestuário, onde a produção caseira continua a ter alguns buracos por preencher. Uma delas, a Daniel Wellington, tem espaço próprio. É a terceira shop in shop da marca de relógios em todo o mundo e a primeira fora dos Estados Unidos. Esta e todas as outras convivem harmoniosamente, dos sabonetes Claus Porto e dos cadernos Fine & Candy às mochilas da sueca Sandqvist e às peças de desfile de Luís Carvalho.
Entretanto, a busca de novas marcas, cá dentro e lá fora, continua, ainda mais agora que há uma loja em pleno Chiado para alimentar. Comme des Garçons e Maison Kitsuné são duas novas entradas prováveis. Parecem-lhe planos ambiciosos? Ainda não viu nada: a nova loja ainda precisa de uns últimos retoques, como é o caso da oliveira que vai ser posta logo à entrada, mas já há planos para uma terceira. A mira está apontada a Madrid e, se é para sair, ao menos que alguma da bagagem portuguesa também vá.