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Bye Bye Brasil
©DRBye Bye Brasil de Carlos Diegues

Dez filmes para começar a ver cinema brasileiro

O cinema brasileiro é muito menos conhecido em Portugal do que deveria. Eis dez filmes fundamentais da cinematografia do Brasil

Escrito por
Eurico de Barros
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Cineastas como Humberto Mauro, Lima Barreto, José Pedro de Andrade, Glauber Rocha, Ruy Guerra ou Anselmo Duarte estão representados nesta lista de dez filmes brasileiros fundamentais. A cinematografia do Brasil tem passado por várias vicissitudes ao longo da sua existência, reflectindo a própria situação do país ao longo dos séculos XX e XXI. Tem também a respectiva repercussão na vida política, social e cultural nacional deste imenso país, como o testemunham fitas como Rio, 40 Graus, O Assalto ao Trem Pagador, Deus e o Diabo na Terra do Sol ou Toda Nudez Será Castigada.

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“Limite”, de Mário Peixoto (1930)

Único filme escrito, realizado e concluído pelo escritor Mário Peixoto (tem outros inacabados), e rodado na transição do cinema mudo para o sonoro, Limite tem uma pronunciada vertente experimental. Causou muita controvérsia e até cenas de pancada nos cinemas quando da sua estreia, e esteve posteriormente muitos anos sem ser visto. Num barco à deriva, duas mulheres e um homem relembram, em flashback, situações dos seus respectivos passados. 

“Ganga Bruta”, de Humberto Mauro (1933)

Um dos pioneiros do cinema do Brasil, Humberto Mauro assina este filme dramático sobre um homem que mata a mulher na noite de núpcias e foge para outra cidade, onde se envolve num triângulo amoroso. Apesar do realismo prosaico da intriga, Ganga Bruta é uma fita plena de ressonâncias freudianas e de simbologia sexual, e alguns críticos encontraram nele influências do surrealismo. Foi um total fracasso de bilheteira e crítica na altura da estreia.

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“O Cangaceiro”, de Lima Barreto (1953)

Tutelado pela histórica produtora Vera Cruz e com diálogos da autoria da escritora Rachel Queiroz, este drama de aventuras de Lima Barreto arrebatou dois prémios no Festival de Cannes e inspira-se na história do célebre e temido cangaceiro nordestino Lampião, aqui chamado Galdino e personificado por Milton Ribeiro. Entre os intérpretes de O Cangaceiro estão o próprio Lima Barreto e o compositor e cantor Adoniran Barbosa. O filme foi um sucesso no Brasil e por todo o mundo, e a personagem de Galdino foi transformado em herói de banda desenhada, com os traços do actor que lhe deu vida. É um western falado em português.

“Rio 40 Graus”, de Nelson Pereira dos Santos (1955)

Assinado por um dos maiores nomes do cinema além-Atlântico, que morreu no passado mês de Abril, com 90 anos, Rio 40 Graus é uma das obras-primas da filmografia brasileira, em muitos aspectos precursora do Cinema Novo, e um dos vários filmes de referência deste realizador. José Pedro de Andrade segue cinco miúdos de uma favela do Rio de Janeiro num domingo de calor abrasador, o que resulta numa fita semidocumental que é um vívido retrato humano e social daquela cidade.

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“O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte (1962)

Escrito e rodado pelo actor e realizador Anselmo Duarte, este é o único filme brasileiro e sul-americano a ter ganho a Palma de Ouro do Festival de Cannes, e o primeiro a ser nomeado para um Óscar. Baseado na peça homónima de Dias Gomes, é a história de Zé do Burro (Leonardo Villar), que promete levar uma pesada cruz de madeira da sua terreola na Bahia, até uma igreja em Salvador, se o seu burro doente recuperar. A sua jornada, que a igreja católica não apoia e denuncia como sendo “pagã” vai dar origens a controvérsias e confrontos e, pelo caminho, Zé do Burro vai ser reivindicado por várias forças que o aproveitam para servir os seus interesses.

“O Assalto ao Trem Pagador”, de Roberto Farias (1962)

A história real de um ousado e famoso assalto, feito por um grupos de criminosos de uma favela do Rio de Janeiro, a um comboio que trazia os ordenados dos empregados dos caminhos de ferro brasileiros, ocorrido a 14 de Junho de 1960. O realizador Roberto Farias aproveita-se do modelo do policial de acção para dar um cunho social ao filme e mostrar a pobreza, a degradação e a violência endémica das favelas. O actor Reginaldo Farias, irmão do realizador, e o lendário Grande Otelo, desempenham dois dos papéis principais.

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“Os Cafajestes”, de Ruy Guerra (1962)

Um dos títulos marcantes do Cinema Novo, realizado e co-escrito por Ruy Guerra, português de Moçambique instalado no Brasil, Os Cafajestes inclui o primeiro nu frontal da história do cinema deste país, pela mão de Norma Bengell, que interpreta o filme, juntamente com Jece Valadão e Daniel Filho. Muito influenciado pelo cinema francês e italiano da altura, é um filme cujo enredo (um rapaz rico cujo pai foi à falência organiza uma chantagem para extorquir dinheiro a um tio abastado) tem um subtexto político de denúncia da decadência e da falência moral da classe possidente brasileira.

“Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha (1964)

Outro dos títulos de referência do Cinema Novo, esta fita de Glauber Rocha é como que a versão brasileira de um western, transfigurado numa história ambientada no sertão nordestino e envolvendo latifundiários poderosos, camponeses oprimidos, cangaceiros contratados para matar e movimentos messiânicos cujos líderes se julgam santos e misturam a mensagem religiosa com a luta contra os abastados. Tudo isto é filmado pelo realizador com um arrojo formal que contrasta com o realismo miserabilista do ambiente.

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“Toda Nudez Será Castigada”, de Arnaldo Jabor (1973)

Adaptação da peça homónima do genial jornalista, cronista e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, este filme de Arnaldo Jabor ganhou o Urso de Prata de Melhor Realizador no Festival de Berlim e teve problemas vários com a censura no Brasil, por “imoralidade”. Foi proibido após ter estreado com cortes, e a seguir apreendido pela Polícia Federal. Voltou ao cartaz, com cortes, após receber o prémio em Berlim, e foi um gigantesco sucesso comercial. Ironicamente, Nelson Rodrigues era apoiante do regime militar então vigente no Brasil, mas a história satiricamente escandalosa de Toda a Nudez Será Castigada, expondo, pelo excesso e pelo ridículo, os podres da classe média, fez os censores perder as estribeiras.

“Bye Bye Brasil”, de Carlos Diegues (1979)

Interpretado por José Wilker, Betty Faria e Fábio Júnior, e com uma banda sonora supervisionada por Chico Buarque, que também escreveu a canção-tema do filme, Bye Bye Brasil segue um grupo de artistas que atravessam o Brasil dando espectáculos para as populações mais humildes e em zonas onde a televisão ainda não chegou. Carlos Diegues realizou uma obra que diz, literal e simbolicamente, um adeus a um Brasil interior, pobre e subdesenvolvido, e se interroga sobre o que estaria reservado para o país no futuro, já que o regime militar implantado no início dos anos 70 se encontrava perto do fim. Um filme que faz charneira entre duas épocas do cinema e da história recente do Brasil.

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