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Clouzot, o desprezado, em oito filmes

Henri-Georges Clouzot foi um dos sacos de pancada dos críticos da revista “Cahiers du Cinéma”. Mas o último a rir…

Escrito por
Rui Monteiro
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A razão para Henri-Georges Clouzot (1907-1977) ser, durante as décadas de 1950 e 1960, o bombo da festa preferido dos críticos e quase todos futuros cineastas acantonados na Cahiers du Cinéma deve-se, em parte, ao seu academismo, em parte ao seu mau feitio, mas, mais do que tudo, à necessidade freudiana de matar o pai. Isto é: o cinema clássico francês por ele representado. Prémios nos festivais de Cannes, Berlim e Veneza, e principalmente o tempo, fizeram-lhe justiça. Justiça demonstrada na retrospectiva que o festival lhe dedica e exibe na Cinemateca celebrando o “Hitchcock Francês” em oito filmes indispensáveis.

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Clouzot, o desprezado, em oito filmes

O Crime da Avenida Foch (Quai des Orfèvres)

Por detrás deste filme de 1947 está o romance de Stanislas-André Steeman, grande mestre da literatura policial francesa, na altura tão ou mais importante do que a norte-americana e a britânica. O argumento e a realização, apesar do título português, colocam o centro da acção na morada do título original, o Quai des Orfèvres, então sede da Polícia Judiciária de Paris. Foi nesta obra, decerto entre as melhores do cineasta, que o actor Louis Jouvet, compondo um inesquecível inspector Antoine, se fez gente, quer dizer, personalidade que a sua carreira, mais dedicada ao teatro, aliás, tornou incontornável exemplo de representação. Acolitado por Suzy Delair, Simone Renant e Bernard Blier, neste exemplo de policial negro francês, o protagonista investiga o assassinato de um velho libidinoso, sendo a principal suspeita a jovem que resistiu aos seus avanços.

Cinemateca. Seg, 8, 19.00.

L’Assassin Habite… au 21

Cinco anos antes, Clouzot, com alguns dos actores que se tornariam seus habituais (aparentemente leais apesar da fama do realizador tratar a equipa ao pontapé), Pierre Fresnay, Suzi Delair, Jean Tissier e Nöel Roquevert, filmou esta película, em 1942, durante a ocupação alemã, o que contribuiu, apesar do cinema que fez nessa época o desmentir, para uma fama, sussurrada, é certo, de colaboracionista com o regime de Vichy, onde aliás dirigiu as filmagens. Embora distante do seu melhor, L’Assassin Habite… au 21 é um policial, a bem dizer, tão despretensioso como inofensivo, que encontra a sua redenção no sábio tempero de humor e erotismo.

Cinema. Ter, 9, 21.30.

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L’Enfer d’ Henri-Georges Clouzot

Passaram os anos. Estamos agora em 1964, quando o realizador, com Romy Schneider, Bérénice Bejo, Serge Reggiani e ele próprio no elenco, começou a rodar esta história de amor, como de costume obcecado e ciumento, que… nunca concluiu. Porquê? Porque as experiências ópticas a que se dedicou e os seus preços de produção aumentavam na exacta medida da obsessão de Clouzot em levar avante a sua visão. Passaram 50 anos e L’Enfer d’Henri-George Clouzot, agora dirigido por Serge Bromberg e Ruxandra Medrea, teve finalmente uma montagem coerente, onde é realçada uma nova perspectiva sobre o olhar de um realizador para a sua actriz e os sentimentos da narrativa em que ambos mergulham.

Cinema. Qua, 10, 15.30.

Le Corbeau

Regressando atrás no tempo, até 1943, encontra-se o mais célebre e também o mais discutido filme francês produzido durante a ocupação alemã. Com interpretação de, mais, uma vez, Pierre Fresnay, na companhia, entre outros, de Ginette Larquey e Micheline Francey, o argumento leva a acção para uma cidade de província onde denúncias começam a circular através de cartas anónimas. Intrigas e acusações que se vão ampliando, gerando no processo um clima de insegurança e, claro, medo. Construído de maneira particularmente inteligente, baseado em facto sucedido nos anos de 1920, é igualmente obra do mais pessimista, que pode ser entendido como uma denúncia do colaboracionismo francês. Algo que, no pós-guerra (e ainda hoje), foi ferozmente rebatido; até para não colocar a mínima nódoa no luta notável e heróica da Resistência anti-nazi, ao ponto de nos ajustes de contas entre os partidos da Resistência que se seguiram à II Guerra Mundial, entretanto mais interessados em fazer vingar os seus programas eleitorais, ser considerado “anti-francês” e proibida a sua exibição, interdição que levou o realizador e o seu argumentista, Louis Chavance, a penar algum tempo no desemprego.

Cinema. Qua, 10, 19.00.

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O Salário do Medo (Le Salaire de la Peur)

Dirigido em 1953, com interpretações de Yves Montand, Charles Vanel, Folco Lulli, Peter Van Eyck e Vera Clouzot, este filme de estrada tornou-se, mais uma vez graças à passagem do tempo – que é, afinal o principal juiz –, uma das obras que nenhum cinéfilo no seu perfeito juízo descarta como das mais importantes do cinema europeu daquela época. Aqui, numa atmosfera psicológica entre o cinzento escuro e negro breu, o herói trágico encarnado por Yves Montand, com o seu trio de parceiros, trabalhadores contratados por uma companhia petrolífera americana, percorre estradas impraticáveis em camiões carregados com nitroglicerina, mergulhando assim numa variedade de pessimismo afinado pelo cinismo dos diálogos.

Cinema. Qui, 11, 21.30.

Manon

Mais um regresso ao passado, até 1949, para encontrar o vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza na adaptação de Clouzot de Manon Lescaut, escrito em 1731 por Antoine François Prévost (para ser logo banido das livrarias), e, mais tarde, algures por 1893, motivo de uma célebre ópera de Giacomo Puccini. O cineasta não foi de todo fiel à letra do romance e leva o enredo para a II Guerra Mundial, para o interior da luta pela libertação da França do exército alemão. Sem evitar – antes convocando – a memória de um tempo por um lado heróico, por outro de denúncia da corrupção facilitada pelo estado de guerra, através da história de amor entre um resistente francês (Serge Reggiani) e uma mulher (Cécile Aubry), salva pelo próprio, que se julga ter colaborado com os nazis.

Cinema. Sex, 12, 21.30.

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Le Mystère de Picasso

Outra corrida através do tempo e estamos em 1976, perante este documentário (ou ensaio?), que o crítico e teórico André Bazin considerou a “segunda revolução” no cinema sobre arte. Retrato, por assim dizer, do pintor Pablo Picasso, o filme é de uma simplicidade extrema, acompanhando o pintor durante o processo criativo de 20 telas, imediatamente destruídas após a conclusão das filmagens, e mostrando – voltando a Bazin – como pintar e filmar são dois termos fundamentais e em estreita relação.

Cinema. Sáb, 13, 21.30.

As Diabólicas (Les Diaboliques)

Para concluir a retrospectiva dedicada a Henri-Georges Clouzot, a Festa do Cinema Francês escolheu esta obra de 1955, com Simone Signoret, Vera Clouzot, Paul Meurisse e Charles Vanel. Filme de culto que proporcionou a Simone Signoret um dos seus papéis mais conhecidos e celebrados, As Diabólicas passa-se num colégio onde duas professoras planeiam o assassinato do director, marido de uma e amante da outra. O enredo inclui um caleidoscópio de reviravoltas, que continuam a deliciar espectadores; delícia narrativa que se estende ao seu peculiar final. Não por acaso, na altura da estreia, a publicidade ao filme dizia: “Não seja diabólico. Não revele o fim de As Diabólicas aos seus amigos.”

Cinema. Seg, 15, 21.30.

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Tanto cinema, tão pouco tempo. Há filmes em cartaz para todos os gostos e feitios. Das estreias da semana aos filmes que, semana após semana, continuam a fazer carreira nas principais salas. Saiba que filmes estão em que cinemas, e quando é que os pode ver. E, se não souber o que escolher, leia as nossas críticas.

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