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Tropa de Elite (2007)
©DRTropa de Elite de José Padilha

Dez filmes para perceber o Brasil – do fim da ditadura à democracia

O cinema brasileiro deveria ser mais conhecido em Portugal. Eis dez filmes fundamentais da cinematografia recente do Brasil

Escrito por
Eurico de Barros
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Cineastas como Hector Babenco, Guel Arrais ou Walter Salles estão representados nesta segunda lista de dez filmes brasileiros fundamentais, que abrange um período que vai da década de 80 até aos nossos dias. Um espaço de tempo em que quer a sociedade brasileira, quer o seu cinema, passaram por várias alterações, a mais importante das quais foi o final do regime militar e a subsequente entrada numa era de democracia e de liberdades civis, que os filmes documentaram. Mas a baixa política, a violência e a corrupção endémicas à vida brasileira também mereceram a devida atenção dos realizadores.

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“Pixote, a Lei do Mais Fraco”, de Hector Babenco (1981)

Este filme é um mergulho em profundidade no mundo negro e brutal da delinquência juvenil de São Paulo. O protagonista, Fernando Ramos dos Santos, era um menino da rua que o realizador Hector Babenco foi buscar para fazer o papel. Marília Pêra faz a prostituta com quem Pixote trabalha, e acaba por desenvolver uma relação que é um arremedo da de uma mãe com o seu filho. Apesar das tentativas feitas de tirar o jovem Fernando Ramos dos Santos do meio em que tinha nascido, ele acabou por voltar ao crime e foi morto pela polícia em 1987.

“Eles não Usam Black-Tie”, de Leon Hirszman (1981)

Gianfranco Guarnieri, Fernanda Montenegro e Milton Gonçalves são os principais intérpretes deste drama social e familiar baseado na peça escrita por Guarnieri. Um operário, que está a participar numa greve na fábrica onde trabalha, decide furar a paralisação. A namorada está grávida, ele quer casar com ela e não pode perder o emprego de forma nenhuma. Esta decisão faz nascer um conflito em casa com o pai, sindicalista, que se estende ao local de trabalho.

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“Sargento Getúlio”, de Hermano Penna (1983)

Baseado num livro de João Ubaldo Ribeiro, Sargento Getúlio assenta numa extraordinária interpretação de Lima Duarte no papel do título. Getúlio é um militar incumbido de escoltar um prisioneiro político. A situação muda a meio do caminho e o sargento recebe novas ordens: soltar o prisioneiro. Mas decide não as cumprir. O filme é um estudo psicológico que tem como pano de fundo o Brasil interior dos anos 50 e o caciquismo regional.

“Inocência”, de Walter Lima Jr. (1985)

Um filme de recorte clássico e intriga romanesca, ambientado no Brasil imperial e adaptando o livro do Visconde de Taunay. É uma história de amor contrariado entre Inocência, que dá o título à fita, uma rapariga que contraia malária, e Cirino, o médico que a trata. Apaixonam-se, mas o pai de Inocência impede a relação porque a filha está prometida a um rico fazendeiro. Fernanda Torres e Edson Celulari interpretam Inocência e Cirino.

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“Pra Frente, Brasil”, de Roberto Farias (1985)

Passado em 1970, em pleno regime militar, durante o milagre económico e a participação do Brasil no Mundial de Futebol do México, que venceu fazendo o “tri”, este filme centra-se em Joffre (Reginaldo Faria), um cidadão da classe média que é preso e torturado depois de ser tomado por subversivo, ao ser apanhado com um militante esquerdista com o qual dividia um táxi. Foi uma das primeiras fitas a mostrar abertamente, sem simbolismos ou alegorias, o Brasil contraditório dos anos 70: regime de repressão política e de economia pujante.

“O Auto da Compadecida”, de Guel Arrais (1999)

Um dos grandes sucessos comerciais e de crítica do cinema brasileiro, O Auto da Compadecida junta a peça teatral do mesmo título que Ariano Suassuna escreveu em 1955 e elementos de mais duas obras deste autor. A história desta tragicomédia regionalista passa-se no sertão nordestino e tem como protagonistas dois pobres diabos, João Grilo (Matheus Nachtergale) e Chicó (Selton Mello), que vivem de esquemas e acabam perseguidos por um temível cangaceiro. Fernanda Montenegro aparece personificando Nossa Senhora (a “Compadecida” do título).

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“Central do Brasil”, de Walter Salles (1998)

O Urso de Ouro de Melhor Filme para o realizador e o Prémio de Melhor Actriz do Festival de Berlim, para Fernanda Montenegro, foram apenas dois dos prémios internacionais ganhos por Central do Brasil. Além de contar a história de Dora (Montenegro), uma professora reformada que escreve cartas para analfabetos da Estação Central do Rio de Janeiro, e do pequeno Josué (Vinícius de Oliveira), que nunca conheceu o pai e que, depois de uma tragédia, fica a cargo daquela, Walter Salles leva-nos de viagem ao Brasil interior, quando Dora e Josué decidem ir procurar o pai do menino.

“Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles e Kátia Lund (2002)

Como o crime organizado nasceu no Rio de Janeiro, com o aparecimento de uma favela, a Cidade de Deus do título, onde se estabeleciam as pessoas de poucos recursos que acorriam do interior à cidade em busca de trabalho. Walter Salles circula entre o presente e o passado, entregando a narração do filme a Buscapé (Alexandre Rodrigues), um jovem que quer ser fotógrafo e evitar ser tragado pelo crime ou apanhado nos conflitos entre os vários bandos da favela. O realizador assina um filme de enorme inventividade e destreza visual e narrativa, e sem alibis ou piedades “sociológicas”.

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“Edifício Master”, de Eduardo Coutinho (2002)

Um magnífico documentário em que o realizador Eduardo Coutinho, falecido em 2014 e um dos maiores representantes deste género no cinema brasileiro, explora com a sua câmara o edifício de apartamentos do título, situado em Copacabana, no Rio de Janeiro. O prédio tem 276 apartamentos e cerca de 500 moradores, grande parte deles cidadãos da classe média e média-baixa, e Coutinho vai em busca das suas histórias, dos seus quotidianos e da forma como se dão com os vizinhos, descobrindo que poucos são os moradores que conhecem ou se dão com outros.

“Tropa de Elite”, de José Padilha (2007)

Um poderosíssimo filme dramático e de acção sobre a violência urbana no Rio de Janeiro, a corrupção na polícia militar e a ligação entre agentes e políticos da cidade aos narcotraficantes das favelas, que são combatidos pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), comandado pelo corajoso, decidido e incorruptível capitão Roberto Nascimento (Wagner Moura), também narrador do filme. A realização de José Padilha junta o realismo impenitente, o desassombro da denúncia e a alta potência cinematográfica. Ganhou o Urso de Ouro do Festival de Berlim.

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