A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Chapéu Alto (1935)
©DRChapéu Alto de Mark Sandrich

“Cheek to Cheek”: dez versões do clássico de Irving Berlin

A covid-19 desaconselha qualquer dança que não seja solitária, mas a canção composta por Irving Berlin não perdeu encanto

Escrito por
José Carlos Fernandes
Publicidade

“Heaven, I'm in heaven/ And my heart beats so that I can hardly speak/ And I seem to find the happiness I seek/ When we're out together dancing, cheek to cheek" [ou em português: "Céu, estou no céu/ E o meu coração bate tão veloz que mal consigo falar/ Creio encontrar a felicidade que busco/ Quando danço com o rosto contra o teu"].

Assim se exprime Jerry Travers (Fred Astaire) enquanto dança, “cheek to cheek”, com Dale Tremont (Ginger Rogers) em Top Hat, realizado por Allan Scott e Dwight Taylor em 1935. Este foi o filme de maior sucesso da dupla Astaire/Rogers e foi o segundo filme com maiores receitas de bilheteira a nível global no ano em que estreou – o mundo atravessava então a Grande Depressão e o público via no mundo de glamour, despreocupação e coreografias milimetricamente planeadas dos musicais de Hollywood um escape para as suas misérias quotidianas.

[Excerto de Top Hat]

A canção “Cheek to Cheek”, composta, como as outras do filme, por Irving Berlin, foi nomeada para os Oscars (perdendo para “Lullaby of Broadway”, do filme Gold Diggers of 1935). A primeira gravação, com Astaire e a orquestra de Leo Reisman, passou cinco semanas no primeiro lugar do top de vendas.

Recomendado: Os eventos que pode ver na internet, em streaming

Dez versões clássicas de “Cheek to Cheek”

1. Flip Phillips

Ano: 1951
Álbum: Flip Wails (Clef)

Nos anos 30, Flip Philips (1915-2001) tocou na banda de Benny Goodman, nos anos 40 foi solista na banda de Woody Herman e nos anos 50 foi presença regular na série de concertos Jazz at the Philharmonic, promovida por Norman Granz. Foi numa editora deste, a Clef, que gravou, nos anos 50, os seus discos mais relevantes, nomeadamente este Flip Wails, que reúne três sessões de 1950-51, com diferentes formações. Este “Cheek to Cheek” de swing contagioso foi gravado a 8 de Março de 1951 com Bill Harris (trombone), Dick Hyman (piano), Gene Ramey (contrabaixo) e Jo Jones (bateria).

2. Lou Donaldson

Ano: 1952
Álbum: Quartet/Quintet/Sextet (Blue Note)

Este álbum do saxofonista Lou Donaldson (n. 1926) reúne música de três sessões, em quarteto (20 de Junho de 1952), quinteto (19 de Novembro de 1952) e sexteto (22 de Agosto de 1954); “Cheek to Cheek” faz parte da primeira, que contou com Horace Silver (piano), Gene Ramey (contrabaixo) e Art Taylor (bateria).

Publicidade

3. Oscar Peterson

Ano: 1952
Álbum: Oscar Peterson Plays the Irving Berlin Songbook (Clef)

Peterson gravou dois discos em trio versando o Songbook de Irving Berlin, um em 1952, para a Clef, com Barney Kessel (guitarra) e Ray Brown (contrabaixo) e outro em 1959, para a Verve, com Brown e Ed Thigpen (bateria). Este “Cheek to Cheek” faz parte do primeiro e inclui entre 4’17 e 4’22 uma fugaz (mas clara) citação de “Bewitched, Bothered and Bewildered”, de Rodgers & Hart.

4. Ella Fitzgerald & Louis Armstrong

Ano: 1956
Álbum: Ella & Louis (Verve)

Fitzgerald e Armstrong já se tinham cruzado esporadicamente na década de 1940, mas as suas colaborações mais marcantes são os três discos gravados para a Verve em 1956-59, o primeiro dos quais foi este Ella & Louis.

Ella e Louis têm o apoio do quarteto do pianista Oscar Peterson, com Herb Ellis (guitarra), Ray Brown (contrabaixo) e Buddy Rich (bateria), e arranjos de Buddy Bregman.

Publicidade

5. Peggy Lee

Ano: 1957-58
Álbum: Jump for Joy (Capitol)

Peggy Lee (1920-2019) tornou-se conhecida como cantora da banda de Benny Goodman, em 1941-43 e, após um interregno, regressou à ribalta, agora a solo, conseguindo colocar várias canções no primeiro lugar do top, ao mesmo tempo que também singrava como actriz (chegou a ser nomeada para um Oscar pelo seu papel em Pete Kellys’ Blues, de 1955).

Jump for Joy foi um dos muitos álbuns que gravou para a Capitol e teve arranjos e direcção de Nelson Riddle.

6. Ella Fitzgerald

Ano: 1958
Álbum: Ella Fitzgerald Sings the Irving Berlin Song Book (Verve)

As 35 canções de Berlin que Ella cantou no respectivo Song Book, acompanhada por orquestra com arranjos e direcção de Paul Weston, são outras tantas obras-primas. Superlativas.

Publicidade

7. Doris Day

Ano: 1958
Álbum: Hooray for Hollywood (Columbia)

A recentemente desaparecida Doris Day (1922-2019) era contemporânea de Peggy Lee e, como ela, iniciou carreira como cantora muito nova, com apenas 17 anos. Em 1945, com 23 anos, duas canções suas com a orquestra de Les Brown subiram ao primeiro lugar do top. Também Day teve carreira cinematográfica e mais longa e intensa do que a de Lee, o que não a impediu de continuar a gravar regularmente. Como o título indica, Hooray for Hollywood é uma colecção de canções associadas a filmes de Hollywood e teve arranjos de Frank De Vol.

8. Ahmad Jamal

Ano: 1958
Álbum: Ahmad Jamal Trio vol. IV (Argo)

As sessões de 5 e 6 de Setembro de 1958 no The Spotlite Club, em Washington DC, com Ahmad Jamal (piano), Israel Crosby (contrabaixo) e Vernel Fournier (bateria) produziram dois álbuns editados pela Argo: Ahmad Jamal Trio vol.4 (editado em 1958 e que conheceu reedições sob diversos títulos) e Portfolio of Ahmad Jamal (editado em 1959). Os dois seriam reunidos pela editora Gambit no álbum Complete Live at the Spotlite Club 1958, que, com este título ou outro similar e sob diversas etiquetas, é hoje a forma mais corrente de aceder a esta música – que é, como a que o trio tocou em Janeiro de 1958 no Pershing Hotel, em Chicago, uma peça indispensável de qualquer discoteca jazz.

“Cheek to Cheek” começa em ambiente cuidadosamente depurado, que vai sendo, pouco a pouco, perturbado por tropelias e ironias várias.

Publicidade

9. Sarah Vaughan

Ano: 1958
Álbum: No Count Sarah (EmArcy)

O título bizarro do álbum explica-se facilmente: trata-se de um encontro entre Sarah Vaughan e a orquestra de Count Basie, mas sem Basie – o encontro só se concretizaria três anos, com o álbum Count Basie/Sarah Vaughan (e teria uma reedição tardia em 1981, com o álbum Send in the Clowns).

10. Frank Sinatra

Ano: 1958
Álbum: Come Dance with Me! (Capitol)

Come Dance with Me! é uma colecção de canções que têm a dança como tema e a que os exuberantes arranjos da autoria de Billy May potenciam a natureza jovial – fazendo o álbum contrastar com as tonalidades melancólicas do anterior Frank Sinatra Sings for Only the Lonely. O público parece ter apreciado o mood descontraído de Come Dance with Me!, fazendo o álbum passar 140 semanas no top da Billboard.

Mais versões

Dez versões de “I’ll Remember April”
  • Música
  • Jazz

Abril costuma ser associado a Primavera e ao renascimento da vida, mas nesta balada é tema para um olhar melancólico sobre um amor pretérito. Eis dez versões de um standard favorito dos músicos de jazz.

Publicidade
Dez versões de “It Might As Well Be Spring”
  • Música

Uma das mais extraordinárias canções que fala da Primavera não tem flores a desabrochar nem pássaros a chilrear, porque na verdade não se passa na Primavera. Eis dez leituras superlativas deste delicioso paradoxo.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade