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Música, Pauta, Beethoven, Sinfonia n.º 3, Eroica
©Duarte DragoPágina de título da partitura da Sinfonia n.º 3 de Beethoven

Dez obras orquestrais de Beethoven que precisa de ouvir

No ano em que se comemora o 250.º aniversário do nascimento de Beethoven, recordam-se algumas das suas obras emblemáticas

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Quando se pensa em Ludwig van Beethoven (1770-1827), vêm logo à mente as suas sinfonias, em particular as pancadas do “destino que bate à porta” na abertura da Sinfonia n.º 5 ou o “Hino à Alegria” que encerra apoteoticamente a Sinfonia n.º 9. A reputação de Beethoven neste domínio é inteiramente merecida, pois operou uma revolução, entre a Sinfonia n.º 1, composta ao estilo de Haydn e Mozart, e a n.º 9, que transgride boa parte das convenções do género. Mas Beethoven não foi menos relevante na evolução do concerto e, em particular, do concerto para piano: o piano era o seu instrumento de eleição e tinha apenas 13 anos quando tentou esboçar o primeiro concerto para ele; os cinco que compôs entre 1795 e 1809 impeliram decisivamente o legado de Mozart para outra dimensão.

E deixou um triplo concerto para violino, violoncelo e piano, uma combinação de solistas sem antecedentes e que, quando foi, depois, explorada por outros compositores, teve sempre a obra de Beethoven como referência.

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Dez obras orquestrais de Beethoven que precisa de ouvir

1. Sinfonia n.º 2 op.36

Ano: 1802

Beethoven foi uma criança-prodígio e publicou a sua primeira peça com apenas 12 anos, mas levou algum tempo a amadurecer um estilo pessoal. A sua estreia no formato sinfónico só surgiu quando já tinha 30 anos – idade com que Mozart já compusera 37 das suas 41 sinfonias – e ainda está vinculada aos modelos de Haydn e Mozart. A Sinfonia n.º 2 foi iniciada em 1801, pouco depois de terminada a n.º 1, e foi composta essencialmente durante o Verão de 1802, em Heiligenstadt, período em que Beethoven se deu conta de que os problemas auditivos que tinham começado a afligi-lo em 1798 não tinham cura e tendiam a agravar-se – uma perspectiva aterradora para um pianista e compositor.

Mas não há sinais de angústia ou desânimo na n.º 2, que em certos trechos já exibe a energia e assertividade que se tornaram na imagem de marca de Beethoven.

[IV andamento (Allegro molto), pela Orchestre Révolutionnaire et Romantique, em instrumentos de época, com direcção de John Eliot Gardiner (Archiv)]

2. Triplo Concerto para violino, violoncelo e piano op. 56, de Beethoven

Ano: 1803

Há um intrigante hiato de cinco anos entre a composição do Triplo Concerto de Beethoven, em 1803, e a sua primeira apresentação pública, em 1808. Pouco se sabe sobre a sua génese – uma fonte sugere que Beethoven o terá composto para o Arquiduque Rudolph, que em 1803 tinha apenas 14 anos e começara a ter aulas de piano com o compositor e viria a tornar-se no seu principal mecenas. Segundo Anton Schindler, que foi secretário de Beethoven mas é fonte pouco fiável, a estreia do concerto teve lugar no palácio do jovem arquiduque, ocupando-se este do piano e tendo como parceiros o violinista Ferdinand August Seidler e o violoncelista Anton Kraft. Sobre Seidler a informação é escassa, mas Kraft era um virtuoso de primeira água – o que bate certo com a exuberância da parte de violoncelo. Rudolph era um aluno aplicado e talentoso, mas não um prodígio, o que torna plausível que Beethoven lhe tenha destinado uma parte vistosa mas de execução relativamente fácil. A hipótese de concerto ter sido composto para Rudolph é, porém, pouco congruente com o facto de a partitura, editada em 1804, ter sido dedicada ao príncipe Lobkowitz.

[II andamento (Largo), por Anne-Sophie Mutter (violino), Yo-Yo Ma (violoncelo), Daniel Barenboim (piano e direcção) e Filarmónica de Berlim, ao vivo na Berlin Philharmonie]

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3. Sinfonia n.º 3 op.55 Eroica

Ano: 1804

Se algumas “bizarrias” da Sinfonia n.º 2 já tinham indisposto alguns críticos, com a n.º 3 Beethoven rompeu claramente com os modelos.

Começou a ser esboçada em 1802, em Heiligenstadt, e foi terminada na Primavera de 1804, estreando em Viena em 1805. Reza a lenda que a n.º 3 terá tido originalmente como dedicatário Napoleão, então Primeiro Cônsul, mas que em Maio de 1804, ao ser informado de que o corso se fizera coroar imperador, Beethoven ficou indignado e rasurou o nome do recém-coroado da página de título da partitura (ao que consta, fê-lo com tal energia que deixou um buraco no papel). As opiniões de Beethoven sobre Napoleão conheceram amplas oscilações e o que é certo é que na partitura publicada em 1806 a obra foi apresentada como “Sinfonia Heróica, composta para celebrar a memória de um grande homem”.

[Excerto do II andamento (Marcia funebre: Adagio assai), pela Filarmónica de Berlim, com direcção de Herbert von Karajan, ao vivo na Berlin Philharmonie, 1971]

4. Concerto para violino op.61

Ano: 1806

Beethoven terminou o Concerto para violino dois dias antes da estreia, a 23 de Dezembro de 1806, no Theater an der Wien, em Viena, e consta que, nesta ocasião, o solista, Franz Clement, tocou a sua parte à vista, sem antes ter contactado com a partitura. A ser verdade, foi um feito notável, já que o concerto de Beethoven é obra exigente, complexa, inovadora e também desgastante, já que se estende por três quartos de hora (só o primeiro andamento dura 25 minutos, superior à duração média total dos concertos para violino compostos até então).

Ou por a crítica ter manifestado reservas em relação à obra ou por se ter difundido a ideia de que a parte solista era impossível de executar, o concerto de Beethoven foi tocado apenas esporadicamente, até que em 1844, Joseph Joachim, que tinha então apenas 12 anos, o tocou em Londres, com Mendelssohn a dirigir a Philharmonic Society. A apresentação foi um sucesso e Joachim – que viria a tornar-se num dos maiores violinistas da segunda metade do séc. XIX – tornou-se no seu mais empenhado advogado.

[Excerto do I andamento (Allegro non troppo), por Itzhak Perlman (violino) e pela Filarmónica de Berlim, com direcção de Daniel Barenboim, ao vivo na Berlin Philharmonie, 1992]

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5. Concerto para piano n.º 4 op.58

Ano: 1807

Era tradicional que os concertos para piano abrissem com uma sonora proclamação orquestral, que deixa os ouvintes na expectativa da entrada do solista e da forma como responderá ao desafio lançado pela orquestra. Não é o que acontece no Concerto n.º 4, que abre com o piano, sem acompanhamento, a expor, sem floreados, o tema principal, que é de uma extraordinária beleza e lirismo. Está dado o tom para o mais poético dos concertos de Beethoven, que tem por cerne o II andamento (Andante con moto).

O concerto terá sido ouvido pela primeira vez em Março de 1807 numa sessão privada nos aposentos do príncipe Franz Joseph von Lobkowitz, um dos mecenas do compositor, e teve estreia pública a 22 de Dezembro de 1808, no Theater an der Wien, num mega-concerto em que também foram apresentadas as Sinfonias n.º 5 e 6, a Fantasia Coral e três andamentos da Missa em dó e uma ária de concerto. A apresentação do Concerto para piano n.º 4 nessa longa noite de 22 de Dezembro de 1808 foi a derradeira aparição pública como solista de Beethoven, em resultado do agravamento da sua surdez.

[II andamento (Allegro non troppo), por Mitsuko Uchida (piano) e pela Filarmónica de Israel, com direcção de Zubin Mehta]

6. Sinfonia n.º 5 op.67

Ano: 1808

Embora os primeiros esboços remontem a 1804, Beethoven colocou-a várias vezes de parte para trabalhar noutras obras, e acabou por ser composta em paralelo com a Sinfonia n.º 6, em 1807-08, acabando por estrear ambas no concerto mencionado acima. Este não decorreu em condições ideais – entre outros motivos porque a orquestra não tivera tempo para ensaiar devidamente as obras – mas a publicação em 1809 da partitura da n.º 5, com dupla dedicatória ao príncipe Lobkowitz e ao conde Razumovsky, foi recebida com críticas entusiásticas e a obra cresceu rapidamente na consideração dos seus contemporâneos. Hoje é uma das obras mais tocadas e gravadas em todo o mundo e mesmo quem não se interessa por música clássica associa Beethoven aos acordes iniciais – “o destino batendo à porta”, nas palavras do próprio Beethoven, segundo o seu secretário, Anton Schindler.

[III andamento (Scherzo: Allegro), pela Filarmónica de Viena, com direcção de Carlos Kleiber (Deutsche Grammophon)]

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7. Sinfonia n.º 6 op.68 Pastoral

Ano: 1808

Beethoven foi um dos compositores mais inovadores da História da Música, mas as suas obras não surgiram do nada. A Sinfonia n.º 6 tem afinidades com uma obra composta em 1784 pelo alemão Justin Heinrich Knecht (1752-1817): Le Portrait Musical de la Nature (ou Grande Simphonie). Esta sinfonia programática inspirada na vida rural era seguramente conhecida de Beethoven, uma vez que decalcou na sua n.º 6 a estrutura em cinco andamentos e alguns elementos programáticos (os pastores tocando flauta, o murmúrio dos riachos, o canto das aves, a tempestade que perturba o ambiente idílico), embora substituindo as ingénuas legendas de Knecht por indicações mais abstractas, já que, como explicitou no programa do concerto de estreia, visava “mais a expressão de um sentimento do que uma pintura”.

[IV andamento (Gewitter, Stürm (Tempestade): Allegro), pela Akademie für Alte Musik Berlin, em instrumentos de época (Harmonia Mundi)]

8. Concerto para piano n.º 5 op.73 Imperador

Ano: 1811

Os primeiros três concertos para piano de Beethoven ainda reflectem a herança estilística de Mozart e Haydn, o n.º 4 já trilha um caminho próprio e o n.º 5 opera uma redefinição do género, que o público da época começou por receber com pouco entusiasmo, não sendo capaz de compreender inteiramente as novas vias que o compositor desbravava.

O concerto, como o n.º 4, foi dedicado ao Arquiduque Rudolph, ex-aluno de piano de Beethoven e seu mecenas, e algumas fontes indicam que terá sido Rudolph a estreá-lo num concerto privado no palácio do príncipe Lobkowitz, em Viena, a 13 de Janeiro de 1811. O cognome “Imperador” não é da lavra de Beethoven – que lhe chamou “Grand Concerto” – mas do primeiro editor da obra na Grã-Bretanha.

[III andamento (Rondo: Allegro), por Alfred Brendel (piano) e pela Filarmónica de Berlim, com direcção de Simon Rattle (Decca)]

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9. Sinfonia n.º 7 op.92

Ano: 1812

A n.º 7 marca a ruptura definitiva de Beethoven com o molde sinfónico delineado por Mozart e Haydn e é compreensível que os ouvidos de muitos críticos não estivessem preparados para o turbilhão avassalador dos III e IV andamentos. Mesmo 12 anos após a estreia, que teve lugar em Viena em 1813, a revista musical londrina Harmonicon descrevia a n.º 7 como “uma composição em que o autor se entregou a inúmeras e desagradáveis excentricidades. […] Não é possível nela discernir um sentido ou estabelecer conexão entre as suas partes. Dir-se-ia que foi concebida para ser um enigma – e quase escrevíamos um embuste”.

[II andamento (Allegretto), pela Anima Eterna, em instrumentos de época, com direcção de Jos van Immerseel (Zig-Zag Territoires)]

10. Sinfonia n.º 9 op.125 Coral

Ano: 1824

Passaram 11 anos entre as estreias da Sinfonia n.º 8 e da Sinfonia n.º 9, mas Beethoven não andou a preguiçar durante esse tempo. A n.º 9 foi uma obra que levou imenso tempo a amadurecer: já em 1793 Beethoven considerara a possibilidade de musicar a Ode an die Freude (“Hino à Alegria”), escrita por Friedrich Schiller em 1785, mas os primeiros esboços para n.º 9 só surgiram em 1817-18 e Beethoven só se empenhou a fundo na composição em 1822; a obra estreou em Viena, a 7 de Maio de 1824.

A n.º 9 é uma obra inovadora pela introdução de uma componente vocal num género que até aí fora estritamente instrumental, pela duração, que ronda os 70 minutos (com o IV andamento por si só a durar mais do que muitas sinfonias completas) e pela unidade do discurso musical.

[IV andamento (Presto – Allegro assai), por Melanie Diener (soprano), Petra Lang (mezzo-soprano), Endrik Wottrich (tenor), Dietrich Henschel (barítono), La Chapelle Royale, Collegium Vocale e Orchestre des Champs Élysées, em instrumentos de época, com direcção de Philippe Herreweghe (Harmonia Mundi)]

Clássicos da clássica

Oito sonatas para piano de Beethoven que precisa de ouvir
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Em 1792, o Conde Ferdinand von Waldstein, um dos principais mecenas de Beethoven, despediu-se deste, que tinha então 22 anos e deixava a sua cidade natal Bona para ir estudar em Viena, com uma recomendação: “Através de inabalável diligência, recebereis o espírito de Mozart das mãos de Haydn”. Mozart terá sido o modelo de Beethoven na juventude. Já as aulas que teve com Haydn parecem ter sido pouco profícuas. Mas se Beethoven começou por ter Mozart como modelo, em breve desenvolveu uma voz própria.

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Wolfgang Amadeus Mozart legou-nos abundante produção para solista e orquestra, antes de mais para o seu instrumento de eleição, o piano, para o qual compôs 27 concertos, a maior parte destinados a servir de veículo ao seu virtuosismo no instrumento. Mas a criatividade de Mozart foi também posta ao serviço de instrumentos como o violino, o clarinete, a trompa, o oboé ou o fagote, e até mesmo a flauta, um instrumento com o qual embirrava.

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Franz Liszt começou a aprender piano aos sete anos, aos nove já se apresentava em concertos públicos e aos 12 publicou a sua primeira obra, numa colecção em que surgia ao lado de Beethoven e Schubert. Tornou-se num dos maiores virtuosos do piano de todos os tempos e percorreu a Europa em frenéticas tournées, suscitando uma idolatria similar à das estrelas rock de hoje e fazendo palpitar muitos corações femininos com as longas melenas e a pose estudada para causar sensação.

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