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Música, Jazz, Duke Ellington
©FlickrDuke Ellington

Dez versões de “Caravan”: vol. 2

Após a sugestão de dez versões gravadas entre 1936 e 1962, eis mais dez versões de um dos mais famosos temas do jazz

Escrito por
José Carlos Fernandes
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“Caravan” é uma composição que se associa de imediato a Duke Ellington, mas não terá sido ele o seu iniciador, antes um membro da sua orquestra, o trombonista Juan Tizol. Este não parece ter-se importado com a “apropriação” de Ellington, pois tinha a composição em tão escasso apreço que, pouco depois, cedeu a sua parte nos direitos ao autor da letra, Irving Mills, por 25 dólares. Foi um negócio das Arábias para Mills, mas, quando “Caravan” ganhou popularidade, o letrista teve a hombridade de dar a Tizol uma percentagem dos royalties. O que é provável que nem Tizol, nem Ellington, nem Mills sonhassem em 1936 é que “Caravan” passasse por tantas mutações no futuro.

Recomendado: Dez versões clássicas de “Caravan”

Dez versões de “Caravan” vol. 2

Rabih Abou-Khalil

Ano: 1990
Álbum: Roots & Sprouts (Enja)

Hoje, um músico branco ocidental que ouse fazer uma composição ao estilo de “Caravan” corre o risco de ser acusado de “apropriação cultural” e de cultivar uma imagem do Oriente com uma superficialidade e um pitoresco dignos de bilhete-postal. Porém, muito mais produtivo do que criar patrulhas de denúncia de “apropriação cultural” é fazer o que Rabih Abou-Khalil, alaúdista libanês radicado na Alemanha desde 1978, fez com “Caravan”: reapropriou-se da sua componente árabe e expandiu-a, com a ajuda de Selim Kusur (nay, uma flauta persa), Yassin El-Achek (violino), Glen Moore (contrabaixo), Glen Velez (percussão) e Mohammad Al-Sous (darabukka, um tambor do Norte de África e Médio Oriente).

Medeski, Martin & Wood

Ano: 1991-92
Álbum: Notes From the Underground (Gramavision)

O trio formado por Martin Medeski (teclados), Chris Wood (contrabaixo) e Billy Martin (bateria) tornou-se conhecido pela sonoridade calorosa e cheia do órgão e pela mescla (nem sempre muito original) de jazz e rock, mas no seu álbum de estreia, Notes From the Underground, John Medeski tocava apenas piano acústico e a sonoridade da banda era mais jazzística e ousada do que na maioria dos discos subsequentes. Entre as composições originais da banda (sobretudo de Medeski) há duas peças de Wayne Shorter e esta versão de “Caravan”.

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Michel Petrucciani

Ano: 1997
Álbum: Solo Live (Dreyfus)

“Caravan” e “Take the A Train” foram dois temas de Ellington recorrentes nos discos e concertos do pianista francês Michel Petrucciani. Esta versão de “Caravan” foi tocada no concerto ao vivo na Alte Oper de Frankfurt, a 27 de Fevereiro de 1997, editado no álbum Solo Live (Dreyfus). Este Solo Live, que foi reeditado em 2007 em versão expandida como Piano Solo: The Complete Concert in Germany, não deverá ser confundido com o álbum Live, editado pela Blue Note, que documenta um concerto em quarteto no Arsenal de Metz, em 1991.

Martial Solal

Ano: 1999

O envolvimento do pianista francês com “Caravan” começou cedo: gravou-o em Julho de 1956, em piano solo, para a Vogue (versão incluída no vol. 2 da série The Vogue Recordings: Trios & Solos), revisitou-a em 1997 com a sua Dodecaband em Plays Ellington (Dreyfus) e tocou-a ao vivo em diversos contextos, como é o caso desta prestação a solo, ao vivo no clube Bayerischer Hof, no Festival de Piano de Verão de Munique (Münchner Klaviersommer) de 1999.

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Julia Hülsmann

Ano: 2000
Álbum: Trio (BIT) Apesar das suas qualidades – patentes nesta vigorosa versão de “Caravan” – o álbum de estreia da pianista alemã Julia Hülsmann, em trio com Marc Muellbauer (contrabaixo) e Rainer Winch (bateria), passou despercebido, para o que terá contribuído a obscuridade da editora e a banalidade do título (Trio). Em 2008, o trio – com Heinrich Köbberling no lugar de Winch – lançou o seu opus 2, End of a Summer, na ECM, logrando muito maior visibilidade.

Flat Earth Society

Ano: 2003
Álbum: The Armstrong Mutations (Zonk)

A big band belga Flat Earth Society rubricou aquela que é a mais exuberante, colorida, divertida e desvairada versão de “Caravan”, a que nem sequer falta um toque sci-fi. No mundo desta Sociedade da Terra Plana o caminho mais curto entre dois pontos nunca é uma linha recta.

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Jean-Michel Pilc

Ano: 2011
Álbum: Essential (Motéma)

Essential, o primeiro álbum de piano solo de Pilc, é um registo ao vivo no Union County Performing Arts Center, em Rahway, New Jersey, que combina improvisações e composições de sua lavra, uma valsa de Chopin e standards, entre os quais estão duas peças de Ellington: “Caravan” e “Take the A Train”.

Aki Takase

Ano: 2012
Álbum: My Ellington (Intakt)

A pianista Aki Takase, nascida em Osaka em 1948 e radicada em Berlim desde 1987, tem uma longa discografia em formatos variados, em septeto, quinteto, quarteto, trio, duo (com Maria João, Louis Sclavis ou David Murray) e a solo. O seu álbum de homenagem a Duke Ellington pertence ao último grupo e inclui esta leitura angulosa de “Caravan”.

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Iiro Rantala

Ano: 2012
Álbum: My History of Jazz (ACT)

O pianista finlandês Iiro Rantala combina formação clássica e jazzística e começou carreira em projectos como o Trio Töykeät, a Big Bad Family e os Tango Kings, antes de se afirmar em nome próprio com vários álbuns surpreendentes na editora ACT. Os seus discos como líder reflectem o largo espectro dos seus interesses e experiências e, como seria de esperar, a sua perspectiva da história do jazz é pouco ortodoxa e previsível: o programa alterna peças de sua autoria com trechos (mais ou menos subvertidos) das Variações Goldberg, de Bach, “Eronel”, de Monk, “Caravan”, “Liza” (de Gershwin), ou “September Song” (de Kurt Weill). O disco é, essencialmente a solo, dada a perspectiva pessoal explícita no título, mas nalgumas faixas intervêm convidados, como é o caso de “Caravan”, em duo com o virtuoso polaco do violino Adam Baldych e captada ao vivo no Festival de Jazz de Montreux de 2012 (as restantes faixas provêm de sessões de estúdio).

James Gelfand

Ano: 2018
Álbum: Ground Midnight (Analekta)

O pianista canadiano James Gelfand lançou o seu primeiro álbum em nome próprio em 1996 e tem desenvolvido intensa actividade como compositor para televisão e cinema, mas continua a ser pouco conhecido fora do seu país. O seu disco mais recente, em trio com Morgan Moore (contrabaixo) e Jim Doxas (bateria), assenta em composições próprias, mas abre espaço para excelentes reinvenções de “Caravan” e “Round Midnight”.

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