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Filme, Cinema,  Boneca de Luxo (1961)
©DRBoneca de Luxo de Blake Edwards

Dez versões de “Moon River”: vol. 2

Ao longo de quase 60 anos, “Moon River” mudou várias vezes de curso, mas nunca deixou de ser navegável

Escrito por
José Carlos Fernandes
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A canção, com música de Henry Mancini e letra de Johnny Mercer, foi composta em 1961 para a banda sonora da comédia romântica Breakfast at Tiffany’s, com guião inspirado na novela homónima de Truman Capote, realização de Blake Edwards e Audrey Hepburn e George Peppard nos papéis principais – Holly Golightly e Paul Varjak, respectivamente. O filme obteve dois Óscares, que reverteram ambos para Mancini: um pela melhor banda sonora original e outro pela melhor canção original, isto é, “Moon River”. Esta seria também eleita Canção do Ano nos Grammys de 1962, o que torna mais irónico que, após uma pré-exibição com reacções mornas, um executivo da Paramount Pictures tenha sugerido que “Moon River” fosse suprimida – Audrey Hepburn nem quis ouvir falar em tal coisa: “Só por cima do meu cadáver!”, terá garantido.

A canção foi imediatamente apropriada por vários cantores e tem sido alvo de incontáveis versões, na área da pop e do jazz. Após ter sugerido dez versões clássicas de “Moon River”, gravadas entre 1961 e 1965, a Time Out compilou outras tantas, mais próximas do nosso tempo.

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Dez versões de “Moon River” vol. 2

Thomas Clausen

Ano: 1988
Álbum: She Touched Me (M-A)

O pianista dinamarquês Thomas Clausen (n. 1949) começou carreira nos anos 70 como sideman de velhas glórias dos jazz das décadas de 1950/60, como Dexter Gordon, Jackie McLean e Eddie Lockjaw Davis, e estreou-se como líder com Rain (1980, editado em 1982), seguido por um disco cujo título deixa clara a sua filiação: The Shadow of Bill Evans (1983, editado em 1985). Clausen tem dado clara preferência ao formato piano + contrabaixo + bateria, ainda que os seus parceiros tenham variado de disco para disco. No terceiro, She Touched Me, repartido entre baladas clássicas e peças de sua lavra, contou com o contributo de Mads Vinding e Alex Riel para rubricar um “Moon River” vivo e dançarino.

Brad Mehldau

Ano: 1997
Álbum: The Art of the Trio vol.2: Live at the Village Vanguard (Nonesuch)

Neste concerto ao vivo registado em 1997, o piano de Mehldau, com a cumplicidade de Larry Grenadier (contrabaixo) e Jordi Rossy (bateria), oferece-nos uma leitura rarefeita, melancólica e oblíqua, que desconstrói, pouco a pouco, a melodia de Mancini, sem atraiçoar o espírito da canção. É um grande momento num álbum que se ergue à altura de outros álbuns registados, noutra era, no célebre clube nova-iorquino, por Bill Evans, Sonny Rollins ou John Coltrane.

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Trio Sud

Ano: 1999
Álbum: Sud (Dreyfus)

O Trio Sud, formado pelo guitarrista Sylvain Luc, pelo contrabaixista Jean-Marc Jafet e pelo baterista André Ceccarelli, lançou três álbuns entre 2000 e 2008. Esta versão de “Moon River” com suave groove latino provém do primeiro.

Bill Frisell

Ano: 2000-01
Álbum: Bill Frisell with Dave Holland and Elvin Jones (Nonesuch)

Na extensa e variada discografia do guitarrista Bill Frisell, esta associação a dois músicos com o venerando curriculum de Dave Holland (contrabaixo) e Elvin Jones (bateria) é inesperada. Fica também um pouco abaixo das expectativas, sobretudo pela parte de Jones, que parece ter sido incumbido de prestar serviços mínimos. Ainda assim, o trio mostra-se à altura do seu pedigree num “Moon River” fluido e embalador.

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Radio String Quartet Vienna

Ano: 2011
Álbum: Radiodream (ACT)

O embrião do Radio String Quartet Vienna, do violinista Bernie Mallinger, surgiu no contexto do álbum Movimiento (2000), do acordeonista Klaus Paier, e ganhou forma definitiva e autonomia no álbum Celebrating the Mahavishnu Orchestra (2006), consagrado banda pioneira do jazz-rock liderada por John McLaughlin. Após mais uma colaboração com Paier – o álbum Radiotree (2008) – o Radio String Quartet Vienna gravou Radiodream, álbum de temática onírica que emparelha standards e composições da autoria de Mallinger, Radiohead e Liszt. Estes dados bastarão para se depreender que o Radio String Quartet Vienna está mais próximo do Kronos Quartet ou do Balanescu Quartet do que dos quartetos de cordas convencionais e que a sua leitura de “Moon River” não será reconhecível nem como “clássica” nem como “jazzística”. E a verdade é que poucas vezes “Moon River” soou tão nocturno e pungente.

Bugge Wesseltoft

Ano: 2011
Álbum: Songs (Jazzland)

Na década de 1990, o pianista norueguês Bugge Wesseltoft afirmou-se como figura cimeira da fusão entre jazz, electrónica e pop, sobretudo através do seu projecto New Conception of Jazz, mas regressou regularmente ao piano acústico a solo, através de álbuns como It’s Snowing on My Piano, Im, Playing e este Songs, com um repertório assente em standards e em que “Over the Rainbow” recebe tratamento subtil e despojado.

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Jon Davis Trio

Ano: 2012
Álbum: Beauty and the Blues (Venus Records)

É insólito que um pianista como Jon Davis (n. 1957), com quase 35 anos de carreira e colaborações com Phil Woods, Joe Henderson, Stan Getz, Milt Jackson e Jaco Pastorius (que o apontava como o seu “terceiro pianista favorito, a seguir a Joe Zawinul e Herbie Hancock”) seja tão pouco conhecido. A sua magra e quase invisível discografia (toda publicada em etiquetas obscuras) revela preferência pelo formato trio – é o caso de Beauty and the Blues, com Ed Howard (contrabaixo) e Tim Horner (bateria), que contém uma sedutora versão de “Moon River”.

Nat Reeves

Ano: 2012
Álbum: State of Emergency! (482 Music)

O contrabaixista Nat Reeves (n. 1955) tem em comum com Jon Davis uma experiência de 35 anos como sideman de nomes famosos (Jackie McLean, Eric Alexander, Kenny Garrett, Steve Davis) e uma discografia invisível como líder – apenas dois álbuns, State of Emergency! e Blue Ridge. O primeiro conta com Joshua Bruneau (trompete), Rick Germanson (piano) e Jonathan Barber (bateria) e contém um “Moon River” agitado, intenso e lírico, executado em trio, sem Bruneau.

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Sarah McKenzie

Ano: 2014
Álbum: We Could Be Lovers (Impulse!)

A jovem cantora e pianista australiana usa os seus recursos com sabedoria e controlo e não descai nem para a edulcorada pop de casino que hoje se vende como jazz nem se socorre dos maneirismos do jazz-blues-soul. Em “Moon River” recupera a singeleza da versão original de Audrey Hepburn e, só com voz e guitarra (Hugh Stuckey), faz prova de possuir delicadeza e sensibilidade.

Bill Frisell

Ano: 2016
Álbum: When You Wish Upon a Star (Okeh)

A primeira década de carreira em nome próprio do guitarrista Bill Frisell (n. 1951) assentou em composições próprias, mas a partir de Have a Little Faith (1993), passou também a apropriar-se de material das mais variadas fontes. Disto dão testemunho os discos de meados da segunda década do século XXI: após Guitar in the Space Age! (2011), dedicado a êxitos pop da década de 1960 (Beach Boys, The Kinks, Pete Seeger), gravou When You Wish Upon a Star, consagrado a bandas sonoras para cinema e televisão e em cujo programa surge, entre trechos famosos de The Godfather, Psycho, To Kill a Mocking Bird, Pinocchio, You Only Live Twice, Roy Rogers e Bonanza, um “Over the Rainbow”. É cantado por Petra Haden (a primeira presença vocal em mais de 30 anos de discos de Frisell), acompanhada por guitarra e contrabaixo (Thomas Morgan).

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