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Música, DJ, Switchdance, Marco Antão
©André CarrilhoSwitchdance

DJs com horas vagas

Músicos e DJs tiveram de se reinventar e começar a fazer coisas novas por causa da pandemia. Falámos com eles.

Escrito por
Clara Silva
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A pandemia foi e continua a ser particularmente dura para músicos e, sobretudo, DJs. Com os bares e discotecas fechados, muitos tiveram de se reinventar e começar a fazer coisas novas. Marco Antão, mais conhecido como Switchdance, vende chamuças para fora, enquanto a sua colega no Lux, Yen Sung, voltou ao estúdio quase 20 anos depois e lançou uma label digital. Já Karlon dá aulas a miúdos numa nova escola de música e Paulo Furtado, ou The Legendary Tigerman, abriu uma loja com amigos.

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DJs com horas vagas

Marco Antão (Switchdance), DJ e produtor
©André Carrilho/Facebook/Switchdance

Marco Antão (Switchdance), DJ e produtor

Começou como uma brincadeira. Em Julho do ano passado, Marco Antão, mais conhecido nas pistas de dança por Switchdance, pôs uma foto no Instagram com um tabuleiro de chamuças acabadas de enrolar. “O jogo mudou. Já passaram cinco meses e ainda nada de trabalho, diversão, música, festas, vida depois das 23.00, zero rendimentos e ainda nenhuma informação sobre quando poderemos recomeçar.” Era um post “a gozar”, “irónico”, sublinha, mas deixava a ideia: “Estou a pensar mudar de negócio para SwitchSamosa.” A coisa pegou. A publicação do DJ e produtor residente do Lux Frágil teve um “impacto inesperado”. “A minha conta bancária tinha chegado ao limite, tinha 30 e poucos euros e fiquei a pensar. Se vendesse fazia uns trocos e pagava as contas do mês seguinte.” Foi o que decidiu fazer. Aprendeu a receita de chamuças de peru à moda goesa com a mãe e começou a vendê-las no Instagram, a 1,50€ cada (mínimo 10). O sucesso foi tal que hoje já limita os posts para conseguir responder a todas as encomendas e as chamuças foram introduzidas na carta do restaurante 46, na Praça das Flores. Mais recentemente, lançou um molho, o achar de beringela, também disponível para entregas ao domicílio. “Nunca imaginei que fosse vender chamuças, mas está a ser bastante divertido. Já pensei se não devia um dia abrir uma lojinha.”

Karlon Krioulo, rapper e produtor
©Vanessa Ramalho

Karlon Krioulo, rapper e produtor

Tinha um concerto agendado para Cabo Verde, para apresentar o álbum Griga, quando a pandemia estalou. Os planos – e o rapper Karlon Krioulo – ficaram por terra. Ainda assim, o fundador dos Nigga Poison teve um dos anos “mais produtivos” de sempre. “Até é estranho dizer isto.” Já tinha um estúdio em casa e já era “patrão e empregado” de si próprio. No confinamento, decidiu arregaçar as mangas. “Apostei na marca de roupa da minha editora independente”, começa. “Fiz um álbum com o Madkutz, fiz um EP [Ismos] com o João Gomes, o teclista de Orelha Negra, fiz algumas colaborações [Aquecedor, com Batida] e tenho estado sempre a inventar.” Este ano, foi também convidado para ser um dos facilitadores da Skoola, a nova escola de música urbana do Village Underground para miúdos dos dez aos 18 anos, a funcionar desde Abril. “Miúdos de várias zonas e classes sociais”, sublinha. A sua função é transmitir-lhes noções de produção de ritmo, de dança e performance, mas também outros “conhecimentos psicológicos”: “[É preciso] aprender a errar, se não errarmos não conseguimos chegar a um conceito.” Quanto à sua própria filosofia é “bola para a frente”, diz. “Estamos a viver o presente, estamos vivos. Estou sempre a procurar soluções, temos contas para pagar, essa é a realidade.”

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Yen Sung, DJ e produtora
©DR

Yen Sung, DJ e produtora

Há quase 20 anos que Yen Sung, uma das primeiras mulheres DJs em Portugal, não produzia música. Sem trabalho e com as discotecas fechadas, a DJ residente do Lux voltou a ter tempo para produzir a sua própria música e lançou no final de Abril uma label digital, a Alphabet Street, numa parceria com Photonz, da Rádio Quântica. O primeiro tema, “Still”, disponível no Bandcamp, é conjunto e marca o “regresso ao estúdio”. Além disso, tem-se dedicado ao projecto Curry, que criou em 2016 e é uma homenagem às suas raízes africanas (nasceu em Moçambique). São kimonos feitos com panos africanos, as capulanas, que começou por trazer de um mercado em Luanda. Em 2019, criou uma colecção com várias artistas nacionais (Tamara Alves, Kruella d’Enfer e Wasted Rita), com o objectivo de arranjar donativos para a Idea Universal, “uma organização turca que faz furos, poços, em sítios remotos onde não há água em África”, explica. Nestes tempos pandémicos, a Curry continua activa e a aumentar a sua fusão cultural. As últimas criações são tapetes de Arraiolos com os prints dos panos.

Paulo Furtado (The Legendary Tigerman), músico
© DR

Paulo Furtado (The Legendary Tigerman), músico

Numa altura em que são mais os negócios a fechar do que a abrir, Paulo Furtado (aka The Legendary Tigerman) juntou-se aos amigos Luís Raimundo (Ray), dos Poppers, e Afonso Rodrigues, de Sean Riley & The Slowriders, para abrir a Casa Tigre, nos Anjos. A ideia nasceu durante o confinamento “por uma necessidade de nos relacionarmos com pessoas que têm os mesmos gostos que nós”, conta o músico. A funcionar desde Março, é loja de roupa, estúdio de tatuagem, local de encontro para uma cerveja ao fim do dia e o que mais surgir. No fundo, “uma associação artística” num bairro em efervescência. Aliás, foi isso que os levou a procurar um espaço nos Anjos no “olho do furacão” da pandemia. “Gostamos da vibe do bairro, é uma mistura bonita. Às vezes faz-me lembrar East Village nos anos 90.” Antes da abertura, que foi sendo adiada com o confinamento, lançaram uma loja online com peças de roupa em colaboração com artistas com os quais se identificavam. Por exemplo, um casaco de cabedal da ilustradora Wasted Rita ou outro em colaboração com Jehnny Beth (Savages) “que se vendeu em 20 minutos, foi a coisa mais rápida de sempre”, conta Tigerman. O estúdio de tatuagem tem curadoria de Manuel Ribau e a ideia é que os tatuadores vão mudando. Também há a ideia de organizarem no futuro “pequenos concertos num espaço próximo”.

Novos negócios

  • Restaurantes

Depois de uma pausa no crescimento, culpa de quem nós sabemos e não deve ser aqui nomeado, a restauração volta a florescer na capital. E é mesmo caso para dizer: venham eles. Queremos toda a comida do mundo, chefs a abrir restaurantes de fine dining ou conceitos mais democráticos com caldinhos, snacks, japoneses a ensinarem-nos que esta gastronomia não é só peixe cru e sushi ou boa comida portuguesa. Ou até comida que nos trata da alma e traz bom astral. Não se sinta desactualizado e marque já mesa num destes novos restaurantes em Lisboa.

  • Compras

O mundo parou em muitos sentidos, mas houve quem arregaçasse as mangas e tirasse da gaveta novos projectos. Muitas destas marcas são autênticos rebentos de pandemia, foram espreitando sorrateiramente o mercado até entrarem nele com toda a força, porque se há momento em que é preciso olharmos para dentro e para os nossos, o momento é agora. É hora de olhar e consumir o que é português, é hora de apoiar os pequenos negócios e pensar em qualidade, em vez de quantidade. Vá, não custa assim tanto.

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  • Compras

Reunimos as melhores lojas que abriram nos últimos meses (sim, mesmo no meio da tempestade houve novidade) para que não perca o fio à meada na hora de renovar a artilharia lá de casa. Há lojas que dão nova vida aos bairros e outras que vão buscar inspiração ao outro lado do mundo ou a outras épocas. Mesmo para aqueles que se preocupam com a sustentabilidade há sítios à espera de visita. As lojas abriram e nós registámos. Agora é só abrir os cordões à bolsa e decidir que caminho vai tomar.

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