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Musica, Jazz, Ella Fitzgerald
©Billedbladet NÅ/P. RømmingElla Fitzgerald

"How High the Moon": um ponto de partida para ousadas improvisações

Uma canção romântica que, nas mãos dos músicos de bebop, se converteu em ponto de partida para inúmeras improvisações

Escrito por
José Carlos Fernandes
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“How High the Moon” foi composta em 1940 por Morgan Lewis (música) e Nancy Hamilton (letra) para o musical da Broadway Two For the Show. O musical era de natureza cómica e “How High the Moon”, uma terna declaração de amor, era o seu único momento mais sério.

Two For the Show não gerou mais nenhuma canção memorável e nem Lewis nem Hamilton deram outro contributo para o repertório jazz, mas “How High the Moon” converteu-se em ponto de partida para ousadas improvisações, nas mãos dos músicos de bebop.

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Dez versões clássicas de “How High the Moon”

Benny Goodman

Ano: 1940

O primeiro músico de jazz a apropriar-se de “How High the Moon”, logo em 1940, foi o clarinetista Benny Goodman, numa gravação que contou com a voz de Helen Forrest, uma das mais populares cantoras da Era do Swing, que fez parte também das orquestras de Artie Shaw e Harry James.

Anita O’Day

Ano: 1947
Álbum: Singin’ & Swingin’ (Coral)

A cantora Anita O’Day afirmou-se nas bandas de Gene Krupa (1941-42), Stan Kenton (1944) e novamente Krupa (1945-46) e fez os seus primeiros registos em nome próprio em 1947, com orquestras arranjadas e dirigidas por Ralph Burns ou Sy Oliver, faixas que foram, em 1953, compiladas pela Coral no álbum Singin’ & Swingin’. “How High the Moon”, com arranjos de Burns, combina uma primeira parte langorosa e uma segunda parte muito viva, em registo de scat singing, uma abordagem que seria seguida por muitos outros cantores.

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Stan Kenton

Ano:1953
Álbum: Portraits on Standards (Capitol)

Ao longo da década de 1940, Stan Kenton dirigiu várias formações orquestrais que acolhiam nas suas fileiras músicos de primeiro plano e obtiveram apreciável sucesso de público e crítica, em parte graças aos inovadores arranjos e composições de Pete Rugolo, que Kenton recrutara em 1945. As dificuldades financeiras vividas pelas big bands na viragem das décadas de 1940/50 levaram a que Kenton dissolvesse e refundasse a sua orquestra várias vezes e a que, após gravar alguns álbuns mais audaciosos, tivesse de fazer “concessões comerciais” com álbuns como Portraits on Standards, Sketches on Standards e Popular Favorites by Stan Kenton, com programa preenchido por standards bem conhecidos. Em Portraits on Standards os arranjos são da autoria de Bill Russo, outro colaborador regular de Kenton.

Dave Brubeck

Ano: 1953
Álbum: Jazz at Oberlin (Fantasy)

Jazz at Oberlin, gravado ao vivo no Oberlin College, em Oberlin, Ohio, é um dos álbuns que documenta a aposta do pianista Dave Brubeck, em 1953-54, em tentar conquistar público no meio universitário e, ao mesmo tempo, reclamar para o jazz uma “respeitabilidade” análoga à da música clássica. Por esta altura, o quarteto de Brubeck contava com Paul Desmond (saxofone), Ron Crotty (contrabaixo) e Lloyd Davis (bateria).

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Sarah Vaughan

Ano: 1955
Álbum: In the Land of Hi-Fi (Mercury)

In the Land of Hi-Fi dá a ouvir a cantora na companhia de uma pequena orquestra de elite, arranjada e dirigida por Ernie Wilkins, e mereceria ser álbum tão conhecido quanto Sarah Vaughan, do ano anterior. “How High the Moon” é alvo de uma abordagem fogosa e exuberante, que inclui um trecho em scat singing, primeiro a solo e depois em diálogo vivíssimo com o saxofone alto do então ainda pouco conhecido Julian “Cannonball” Adderley.

Sonny Criss

Ano: 1956
Álbum: Go Man! (Imperial)

Sonny Criss (1927-1977) é o menos conhecido dos três Sonnys saxofonistas que emergiram no jazz americano do pós-guerra – os outros foram Sonny Rollins e Sonny Stitt – e a sua produção discográfica teve natureza intermitente. O ano de 1956 foi um dos mais prolíficos de Criss, com três álbuns registados para a Imperial: Jazz USA, Sonny Criss Play Cole Porter e este Go Man!, que contou com outro Sonny ainda, o pianista Sonny Clark, bem como Leroy Vinnegar (contrabaixo) e Lawrence Marable (bateria).

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June Christy

Ano: 1959
Álbum: June Christy Recalls Those Kenton Days (Capitol)

Tal como Anita O’Day, June Christy fora cantora na orquestra de Stan Kenton e na sua carreira a solo, iniciada em 1955 com Something Cool, recorreu frequentemente aos arranjos e direcção de Pete Rugolo, um dos principais responsáveis pela renovação da sonoridade da orquestra de Kenton, bem como a repertório que cantara com Kenton, que preenche na íntegra o álbum June Christy Recalls Those Kenton Days.

Morgana King

Ano: 1959
Álbum: The Greatest Songs Ever Swung (Camden)

Morgana King (1930-2018), de seu verdadeiro nome Maria Grazia Morgana Messina, possui uma discografia que se estende por quatro décadas e meia, mas esta está quase toda descatalogada e King está hoje caída no olvido como cantora e será provavelmente mais lembrada pelo papel como Carmela Corleone em O Padrinho. The Greatest Songs Ever Swung foi o seu quinto álbum e teve arranjos de Ernie Wilkins.

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Modern Jazz Quartet

Ano: 1959-60
Álbum: Pyramid (Atlantic)

Por volta de 1960, o quarteto formado por John Lewis, Milt Jackson, Percy Heath e Connie Kay tornara-se no rosto mais visível da Third Stream, a fusão dos mundos do jazz e da música “erudita”, e podia permitir-se “bizarrias” como começar “How High the Moon” com um meditativo solo de vibrafone de três minutos – só então entra um “walking bass”, seguido, discretamente, pela bateria e, finalmente, pelo piano.

Ella Fitzgerald

Ano: 1960
Álbum: Ella in Berlin: Mack the Knife (Verve)

Uma coisa é a Miss Fitzgerald dos Song Books, meticulosamente controlada e envolta em orquestrações luxuriantes, outra bem diversa é a Ella captada ao vivo com um combo de três ou quatro jazzmen. Este álbum, que documenta um histórico concerto realizado a 13 de Fevereiro de 1960 na Deutschelandhalle de Berlim, com Paul Smith (piano), Jim Hall (guitarra), Wilfred Middlebrooks (contrabaixo) e Gus Johnson (bateria), dá a ouvir a Ella “animal de palco”, possuída por uma energia azougada e irreprimível e sem temor de se lançar num scat a velocidade vertiginosa durante longos minutos. A meio do turbilhão em que converteu “How High the Moon”, Ella toma consciência de que o público germânico estará algo perplexo – “I guess these people wonder what I’m singing” – e dá ideia de ir regressar a território reconhecível, mas, em vez disso, retoma o frenesim improvisativo, agora citando canções célebres do seu repertório (como “A-tisket A-tasket”). Um pouco mais à frente, faz novamente menção de interromper a doida correria – “I guess I’d better quit while I’m ahead” – mas acaba por prosseguir com o curso livre em scat singing.

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