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Fotografia: Inês FélixJosé Cid

José Cid: "Mais vale surpreender aos 77 do que decepcionar aos 27"

Apenas um mês depois de ter conquistado um Grammy Latino (e Las Vegas), José Cid lança um novo trabalho.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Aos 77 anos, José Cid continua com a energia de ontem, hoje e amanhã, e percorre todo o país com longos concertos e muitas canções. O repertório é extenso, povoado de êxitos que marcaram a música popular portuguesa, e continua a crescer. Desta vez com o álbum Fados, Fandangos, Malhões… e uma Valsinha que recupera sonoridades da tradição popular nacional, com versões e alguns duetos à mistura. Estivemos à conversa no novo My Story Hotel, na Praça da Figueira, onde fez um showcase no final de Novembro. A próximas data em Lisboa é uma festa: segunda-feira actua no grande palco do Terreiro Paço.

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Há pouco disse-me que gostava de ser primeiro-ministro em Portugal. Mesmo sendo monárquico?
Sou monárquico, mas gostava de trazer para o nosso país sistemas credíveis. Que não sejam corruptos e que sejam culturais. E os países menos corruptos do mundo e mais culturais são as monarquias do norte da Europa. Não há contestação possível. Até podem não ser perfeitos. E nós, que temos um excelente primeiro-ministro e um excelente Presidente da República, não conseguimos desmontar este sistema em que uma pessoa que vai a uma mercearia e rouba um saco de maçãs seja presa e pessoas que fazem corrupções de centenas de milhões de euros continuem cá fora. Não percebo estas coisas.

Mas vamos a este Fados, Tangos, Malhões… e uma Valsinha que parece sair em defesa do nosso património cultural.
Eu já disse várias vezes que gostaria de ser primeiro-ministro e simultaneamente ministro da Cultura. Este é um álbum de provocação àquilo que é o esquecimento absoluto da música popular portuguesa. É uma provocação, porque é poético e é musicalmente muito bem produzido.

A produção é feita no seu estúdio em Mogofores?
A produção foi feita pelo Xico Martins, meu guitarrista e um músico super talentoso. Mas a participação mais genial é do Amadeu Magalhães, que é também músico da Dulce Pontes e que tem um projecto muito interessante que é o Realejo. Um musicólogo profundo de música popular. Tanto toca bem braguesa, como concertina, cavaquinhos, gaitas de foles, flautas ou guitarra portuguesa.

A propósito, o tema “No Meu Fado Há Sempre um Blues” junta guitarra portuguesa e saxofone, num dueto com a cantora Marisa Lis. 
O fado e os blues têm tudo a ver. O fado vem do sofrimento, das pessoas que trabalham nos campos do rio Tejo. Os blues é o sofrimento dos povos negros que trabalhavam nos campos de algodão nas margens do Mississipi. Os dois rios confluem no Atlântico e esta mistura não é só feita por água. É feita por pessoas que sofrem. Eu já tinha defendido essa ideia há muitos anos no pequeno prefácio que fiz no meu álbum de fados [Fado de Sempre, 1987]. Depois os intelectuais do fado e aquelas pessoas que percebem imenso também já vieram levantar a ideia que afinal de contas o parvo do José Cid era capaz de ter razão. E agora neste meu álbum fiz este tema e fiz o poema a contar esta história. Para o tema precisava de uma voz blusie, rouca, bonita, que era a Marisa Lis, logicamente. É muito minha amiga, uma pessoa querida de toda a música portuguesa em geral e uma grande cantora. Eu às vezes digo na brincadeira: a Madonna este ano na Eurovisão desafinou de forma fatal. E eu fui a primeira pessoa a dizer, no meu Facebook, que o rei vai nu. A Madonna tinha desafinado numa música facílima de cantar, a “Like a Prayer”, e que Portugal tinha 20 cantoras, todas elas menos “botóxicas” e muito melhores cantoras. Mesmo as mais velhinhas, mais giras que a Madonna, muito melhores. Mas tenho de ser honesto: neste último álbum da Madonna, talvez Portugal lhe tenha feito bem. Eu estava à espera que ela viesse com alguns plágios aproximados da música portuguesa, mas não. Só fizeram um X como os Xutos, não é? Talvez tenha tido influência do bom fado que ela ouviu nas noites de Lisboa, mas não seria nunca a parceira que eu convidaria para “No Meu Fado há sempre um Blues”, porque ela não aguentava este dueto. A Mariza Lis é fantástica, tal como outras pessoas que participam em duetos comigo.

Como o Ricardo Ribeiro no tema “Por Calles y Vielas”.
O Ricardo Ribeiro então devia ser preso. Eu vi-me atrapalhado para cantar ao lado dele. Canto fado como amador há muitos anos e percebi que [se] havia uma pessoa que me poderia ajudar a melhorar este tema era ele. Tinha outras pessoas de quem eu sou muito admirador, que era o caso do Vitorino e do Janita [Salomé]. Com o Vitorino vou-lhe produzir este mês de Dezembro dois temas. Vamo-nos refugiar no estúdio. Somos muito amigos. Mas eu achei que era o Ricardo Ribeiro, que é mais andaluz do que eles, é muito ibérico. E é um dueto fantástico. O poema do tema é do António Tavares-Teles, tive muita pena que ele tivesse partido. Depois tenho outro dueto, com uma fadista emergente que é minha prima, a Matilde Cid.

E que lançou o primeiro disco este ano, o Puro.
É bastante bom. E ela aqui brilha altamente, ela é a moura que dá cabo da vida ao cigano que anda atrás da moura no tema “Que Bem Que Baila a Moura” que eu escrevi. Eu e o Amadeu Magalhães. Todo o meu álbum é de música popular.

Algum dueto que tenha imaginado, mas que não foi possível?
Já convidei algumas fadistas, mas não vou dizer quem. Porque recebi negas e quem sou eu para poder cantar ao lado delas. São divas, não podem baixar ao nível do José Cid, ficam lá no seu pedestal.

Fotografia: Inês Félix

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Há ainda neste álbum uma versão do velho tema de Paulo Bragança, “Noites de Janeiro, Lua Cheia”.
Sim, o Paulo Bragança é quase como se fosse o meu filho musical. Eu protejo o Paulo Bragança desde 1994, quando apareceu com o seu primeiro álbum. E depois ficou a cumplicidade. Ele partiu para a Irlanda, um bocado decepcionado com tudo o que se estava a passar aqui em Portugal. Agora voltou para tentar recuperar a carreira dele. Eu tenho participação não assumida no álbum genial dele que é o Amai.

Porque recuperou o tema que inaugura este trabalho?
Eu assisti à gravação de “Noite, Janeiro, Lua Cheia” desse álbum Amai e tinha pensado fazer a minha própria versão deste tema. E quem tiver curiosidade que vá ouvir o original do Paulo Bragança que é brutal e que ouçam esta minha versão que também é brutal. Fazer uma versão não é piorar. Normalmente as versões pioram, mas aqui mantém o nível, não é melhor, nem pior. Só que não é o original. Adoro este tema, é o tema de abertura dos meus concertos actuais.

Já tem cantado ao vivo alguns destes novos temas?
Estou a cantar “O Meu Tamborzinho Mágico”, baseado num óleo esplendoroso da minha mulher, e “Caminhos de Santiago”, das canções mais notórias deste álbum que também inclui um tema de Frederico Valério que tem 70 anos, o “Fado do Marinheiro Americano”. Um fado muito antigo cantado por uma amiga minha, a Hermínia Silva.

Quando começou a ser desenhar este trabalho?
Metade do álbum estava feito, que eu pensava gravar com o José Perdigão que o estava a produzir. Mas deixámos de trabalhar, o José Perdigão virou-me as costas, eu nunca percebi porquê. Afinal de contas fui mais que pai dele, apoiei-o musicalmente naquilo que pude. E quando ele virou as costas, porque o nosso trabalho não podia continuar, ele disse-me que queria cantar outras coisas, que queria ser cantor pop. Ao que eu respondi que ele não tem nada imagem nem voz para cantor pop. Agora gravou uma morna cabo-verdiana. E eu fiquei com metade do álbum nas mãos. As ideias eram boas e metade das músicas estavam escritas. Como por exemplo, o “Fado Profilático”, o “Se Eu Pudesse Voar”, o “Que Bem Que Baila A Moura”, enfim, metade do álbum estava preparado. Achei que depois do Clube Dos Corações Solitários Do Capitão Cid ter funcionado tão bem, ser tão bem aceite, vi que tinha outro álbum na calha e que era a partir dali que ia fazer música popular.

Não podemos deixar passar ao lado desta conversa o Grammy Latino que recebeu este ano, um prémio também atribuído a Carlos do Carmo em 2014.
O meu prémio é diferente do do Carlos do Carmo. O Carlos do Carmo recebe o prémio porque é o maior artista de fado-canção que alguma vez existiu em Portugal. E eu sou poeta, músico e produtor, a minha obra musical não passa só por ser uma pessoa que canta. Posso dizer que o Grammy Latino do Carlos é atribuído por coerência e o meu por incoerência. Porque eu sou poeta e os poetas marcam a diferença, é só isso. Mas gostei muito que ele também tivesse recebido. Eu não vim a seguir a ele, o meu prémio é outro prémio.

O José Cid já tinha recebido importantes distinções em Portugal, como o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores [SPA] em 2009 e o Prémio Mérito e Excelência nos Globos de Ouro de 2018.
Foi a primeira vez que a SPA outorgou a um músico esse prémio. E tenho também um prémio único na música portuguesa, só partilhado com o Zeca Afonso que é o Prémio Pozal Domingues [em 1967, atribuído ao Quarteto 1111], de todos o mais bonito, porque é uma estátua de bronze lindíssima do Cutileiro. Tenho muitos prémios, mas repara: o maior prémio que eu tenho, de todos os Grammys do mundo, é andar há cinco décadas a cantar de norte a sul do país, com 40, 50 concertos anuais, sempre com o público louco a ouvir-me, sempre com todas as gerações, desde jovens de 10, 11 anos, depois gente entre os 20 e os 30 e depois os pais deles e se calhar os avós. São duas horas e tal de concerto e ninguém sai de lá. Isso é o melhor Grammy que eu posso ter.

Qual é o segredo para ser um músico transversal a várias gerações de fãs?
Eu estive sempre à frente da minha época. Aquilo que eu escrevi há 40 anos, com pequenas modificações, é completamente actual. Depois eu mantive a minha voz, porque tenho umas excelentes cordas vocais e, para além disso, tenho otorrinos, um em Lisboa outro no Porto, que me apoiam incondicionalmente. E depois fiz toda a vida desporto, nunca andei em noitadas, nem em coisas em álcool, nem sabe-se lá mais quê. E isso deu-me uma saúde de mais 15 ou 20 anos do que é normal os cantores terem. É muito bom, porque uma coisa é aparecer a cantar três ou quatro músicas. Outra coisa é fazer um concerto de duas horas e meia, não tem nada a ver. Digamos que mais vale surpreender aos 77 do que decepcionar aos 27.

Vai cantar até que a voz lhe doa?
Até que eu tenha voz, mas não é decrépita. É voz, que é o que tenho ainda.

Vamos falar do Festival da Canção: entre a sua primeira e a última participação há um espaço de 50 anos em que por 16 vezes foi lá fazer as mais variadas coisas.
E na última fui finalmente desclassificado. Dois elementos do júri deram-me a nota máxima, que é 12. E depois os outros todos deram-me zero. “O Som da Guitarra É A Alma de Um Povo” é um grande tema em qualquer parte do planeta. E eu cantei sem um erro. Depois foram as meninas para lá [Isaura e Cláudia Pascoal, na Eurovisão] ficarem em último, a desafinar as duas, cheias de pânico de cantar ao vivo. Isso é amadorismo. Portugal tem de escolher pessoas que cantem e há muita gente na nova geração que canta mesmo.

Participou na edição a seguir à vitória do Salvador Sobral.
Ele foi brilhante. Cantou uma canção que era inevitavelmente a vencedora. Quando eu ouvi a canção disse logo: “Já está”. “Já está como?”, diziam as pessoas. “Já está e não é cá, é na Eurovisão.” É uma grande música e acima de tudo está muito bem cantada. O Salvador Sobral fez recentemente uma versão de um tema meu de 1970 que eu gostei muito. Chama-se “Pigmentação”, um tema do primeiro álbum do Quarteto 1111 que foi completamente censurado. E que foi retirado das bancas ao fim de uma semana. Fez um excelente trabalho, uma espécie de unplugged, vou ver se lhe agradeço pessoalmente um dia destes.

Como vê este renascer do Festival da Canção?
Eu apareci sempre no Festival na medida em que eu possa divulgar uma canção que eu goste. A audiência que o Festival da Canção te dá não é uma audiência que está ligada aos júris regionais ou da televisão. Tem outro júri mais importante que é o povo português. Se calhar um dia volto lá outra vez, mas a cantar em directo. Não tenho problema nenhum de aparecer e ficar em último. Já ganhei duas vezes, já fiquei seis vezes em segundo lugar, de maneira que também posso ficar em último, não há problema nenhum. Mas vou cantar bem e uma grande canção.

Uma das que ficou em segundo lugar, salvo erro, foi precisamente com o Paulo Bragança.
“O Poeta, O Pintor e o Músico”. Mas depois tive outros segundos lugares, como “No Dia Em Que O Rei Faz Anos”; “Morrer de Amor Por Ti”, no ano em que o Carlos Paião ganhou; “O Meu Piano”, o ano em que ganharam as Doce. Isso é muito engraçado, porque a história das canções faz-se pelas canções em si, não pelas classificações que obtiveram no Festival. Claro que a canção do Salvador Sobral vai ficar eternamente na nossa memória, mas quase 50 anos depois o meu “addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye” [“Um Grande, Grande Amor”] e cantado aos gritos pelo país inteiro. Em latadas, em queimas das fitas, em festas populares, com bons palcos e com bom som. É uma canção que vai ficar para sempre.

O que podemos esperar do concerto em vésperas de Ano Novo na Praça do Comércio?
O concerto vai ser mais demorado, porque vou ter de cantar músicas novas. Mas são os meus clássicos todos do princípio ao fim e depois acho que vou meter quatro ou cinco temas deste álbum, mais dois temas do Clube Dos Corações Solitários Do Capitão Cid e outros dois temas do Menino Prodígio. Eu renovo o meu repertório, mas não abandono de forma nenhuma as minhas canções mais antigas. "A Minha Música", "Cai Neve em Nova Iorque", o "Macaco Gosta de Banana", numa versão samba, "No Dia Em que o Rei Faz Anos", essas músicas têm de ser todas cantadas, não as posso deixar para trás.

Haverá algum dueto surpresa nessa noite?
Eu vou levar, como sempre, a pessoa que está a participar nos meus concertos, que é um enorme compositor, um enorme artista, um encanto de pessoa, um homem cultíssimo, de objecção de consciência: o Mário Mata. Ele vai cantar dois ou três temas nesse dia, mas eu não posso levar muito mais gente, porque há muita coisa para cantar e uma festa enorme para fazer.

E uma nova década para começar.
A última vez que cantei na Praça do Comércio foi há cinco anos com os Xutos e tivémos ali 200 mil pessoas. Eu espero que desta vez, pelo menos, 100 mil estejam lá, embora não seja na passagem de ano. É no dia anterior, mas isso é capaz de ser muito saudável, porque deixa às pessoas para fazerem a passagem de ano que quiserem e vão ouvir um grande concerto no dia anterior.

Quem é quem

©DR

José Cid não está sozinho no novo disco. Há mais nomes a reter em Fados, Tangos, Malhões… e uma Valsinha.

António Tavares-Teles

Jornalista desportivo (e o criador do Estebes de Herman José), para este álbum escreveu o poema de “Por Calles y Vielas”, depois de em Clube dos Corações Solitários do Capitão Cid (2018) ter escrito “Se Chico Buarque me Cantasse um Fado”. Morreu em Novembro.

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Marisa Liz

É a conhecida vocalista dos Amor Electro. A sua voz versátil e rouca garantiu-lhe lugar no dueto “No Meu Fado Há Sempre Um Blues”.

Matide Cid

Alentejana, é uma jovem promessa do fado e prima de José Cid. Neste álbum empresta a voz ao tema “Que Bem Que Baila a Moura”, no mesmo ano em que lança o seu primeiro trabalho: Puro.

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Paulo Bragança

Excêntrico fadista que em 2017 regressou a Portugal para no ano seguinte lançar o EP Cativo. Participa neste álbum, mas como autor: José Cid faz uma versão do seu original “Noite, Janeiro, Lua Cheia”.

Ricardo Ribeiro

Fadista que ao sexto trabalho (Respeitosa Mente, 2019) viaja pela cultura do Mediterrâneo. Com José Cid canta o tema “Por Calles y Vielas”.

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Fados, Fandangos, Malhões… e uma Valsinha (ACid records): CD + Pen: 16,99€ (FNAC)

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