A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar

Oito canções pop-rock por músicos de palmo e meio

Nem todos têm palmo e meio, mas têm todos menos de 18 anos. Talvez a razão de os países anglo-saxónicos serem superpotências do pop-rock passe por aqui: começam muito cedo e levam a diversão a sério

Escrito por
José Carlos Fernandes
Publicidade

Da voz aos instrumentos, dos Nirvana aos Snow Patrol, há de tudo, senhoras e senhores.

Também recomendados:

10 canções metálicas por músicos de palmo e meio
10 bandas famosas, antes de serem famosas
10 talentos precoces do pop-rock

Oito canções pop-rock por músicos de palmo e meio

“Burn” de The Cure

“Burn” faz parte da banda sonora de The Crow (1994), uma associação muito adequada, dado que a banda foi figura de proa, na década de 1980, da corrente mais gótica e depressiva do pós-punk britânico.

Esta é uma de muitas gravações promovidas pela O’Keefe Music Foundation, uma instituição sem fins lucrativos cuja finalidade é fomentar o gosto pela música e pelo trabalho em equipa em crianças e adolescentes, facultando-lhes instrumentos de qualidade, orientação e a possibilidade de gravar gratuitamente, num estúdio profissional, as canções de que mais gostam. O baterista é tão novo que mal pode com as baquetas, mas desempenha galhardamente o seu papel.

“Dumb”, dos Nirvana

A canção faz parte de In Utero (1993), o terceiro e último álbum de originais dos Nirvana e marca um afastamento da sonoridade agressiva e abrasiva típica da banda e dá papel de relevo ao violoncelo. Já a letra se mantém na órbita temática de Kurt Cobain: se nos sentimos criaturas à parte e a vida só oferece desilusões, só podemos encontrar-se felicidade na estupidificação proporcionada pelas drogas. “Não sou como eles/ Mas posso fazer de conta/ O sol pôs-se/ Mas tenho uma luz/ O dia terminou/ Mas estou a divertir-me// Acho que sou estúpido/ Ou, quem sabe, sou feliz/ Acho que sou feliz/ O meu coração está partido/ Mas tenho esta cola/ Ajuda-me a inalá-la/ E repará-lo-ei contigo/ Flutuaremos por aí/ E vadiaremos pelas nuvens/ Depois aterraremos/ E teremos uma ressaca”.

Espera-se que estes três petizes, com 13 anos à data desta gravação caseira, não tenham passado (nem venham a passar) pelas experiências que Kurt Cobain descreve, mas nem por isso a sua interpretação é menos admirável.

Publicidade

“Open Your Eyes”, dos Snow Patrol

O último verso da primeira estrofe de “Open Your Eyes” – “I’m getting so tired and so old” – produz um efeito irónico quando é cantado por alguém que mal entrou na adolescência. “Open Your Eyes” é mais um prodígio operado por miúdos e pela O’Keefe Music Foundation, que conseguem restituir, por outros meios, o ambiente épico e sinfónico do original, que faz parte de Eyes Open (2006), o quarto álbum dos escoceses/ irlandeses Snow Patrol.

“Voodoo Child”, de Jimi Hendrix

Hendrix é uma figura que tem fascinado e/ou assombrado milhões de guitarristas, amadores e profissionais por todo o mundo e “Voodoo Child” tem sido alvo de milhões de versões por bandas de garagem e de bar. Esta versão distingue-se pela prestação do guitarrista e vocalista Brandon “Taz” Niederauer, de 14 anos, um verdadeiro fenómeno que já tem patrocínios de conhecidas marcas de equipamento musical, faz tournées (fora do calendário escolar, espera-se) e tem tocado com guitarristas como Buddy Guy, Slash ou Dweezil Zappa e com bandas como os Parliament ou os Scorpions. Este excerto mostra-o na companhia de gente da sua idade, na School of Rock.

Publicidade

“Slow Cheetah”, dos Red Hot Chili Peppers

Esta canção de Stadium Arcadium (2006) mostra a faceta mais pop e acústica dos Red Hot Chili Peppers. A versão da O’Keefe Music Foundation substitui o final psicadélico com guitarras eléctricas passadas ao contrário (um truque de estúdio) por um vibrafone.

“Cumbersome”, dos Seven Mary Three

Os Seven Mary Three nasceram em 1992 e estrearam-se em disco com Churn (1994), álbum que inclui a canção “Cumbersome”, que chegaria ao primeiro lugar do top de rock mainstream dos EUA. Após este êxito, o caminho foi sempre a descer – embora a banda tenha durado até 2012 e gravado um total de sete álbuns – o que não é de estranhar pois os Seven Mary Three nada têm de distintivo: eram uma banda de hard rock mainstream que adoptou alguma da sujidade e aspereza do grunge, mas numa altura em que as passerelles da alta moda de Paris e Milão faziam desfilar camisas de flanela e calças de ganga rasgadas com preços na casa das centenas de euros (designer grunge seria um rótulo que não assentaria mal aos Seven Mary Three).

O tempo mais rápido e o duo de vocalistas juniores da versão da O’Keefe Music Foundation trazem melhorias substanciais em relação à versão original.

Publicidade

“Three of a Perfect Pair”, dos King Crimson

“Three of a Perfect Pair”, do álbum homónimo de 1984, o 11.º dos King Crimson (e o terceiro da sua segunda encarnação), pode parecer uma escolha invulgar para intérpretes tão novos. Porque todos eles nasceram bem depois da aparição do disco, porque os King Crimson não são uma banda popular entre adolescentes e porque a canção “Three of a Perfect Pair” vive de uma complexa sobreposição de malhas rítmicas que é apenas acessível a músicos de alto gabarito – o que parece ser o caso destes alunos da School of Rock.

“Chain of Fools”, de Aretha Franklin

No ano em que o single “Chain of Fools” surgiu – 1967 – é provável que os pais destes garotos da O’Keefe Music Foundation ainda não tivessem nascido. A canção, composta por Don Covay e que se destinava originalmente a Otis Redding, foi redirecionado pelo produtor da Atlantic para Aretha Franklin. Foi incluída no álbum Lady Soul, desse mesmo ano, trepou ao primeiro lugar do top dos EUA e tornou-se num tema emblemático da cantora, que o regravou por várias vezes.

Claro que esta versão não tem o calor, intensidade e visceralidade do original – é preciso não esquecer que, para lá das qualidades intrínsecas de Franklin, quando ela gravou “Chain of Fools”, para lá de toda uma adolescência a cantar gospel em cerimónias religiosas, já tinha sete anos de carreira na pop (iniciada aos 18 anos), durante os quais lançara 13 álbuns. Mas os catraios safam-se bem.

Mais canções

  • Música

Simon & Garfunkel e The Beatles ou os contemporâneos Noel and the Whale e The Divine Comedy inspiraram-se na Primavera para criar algumas das melhores canções pop de sempre. Festeje a chegada da nova estação com os phones nas orelhas e o volume no máximo. 

  • Música

Ligar a máquina de café. O botão está perro. Ligar a máquina de café, nada acontece antes disso. Se é dos resistentes e só bebe café na rua, certamente só fala depois disso. Bom, na verdade, a liberdade trouxe a possibilidade de acordar como quiser. Aqui para nós preferíamos que falasse baixo, mas cada um com a sua. A lista que se segue é isso mesmo: ambivalente. Há cinco canções para várias posturas e ritmos depois dos cereais acabarem.   Recomendado: três novas modas de pequeno-almoço em Lisboa.   ScHoolboy Q – “THat Part [feat. Kanye West]” Um dos grandes discos de 2016 devolveu-nos a manhã "à lá gangster". Atire a faca – aquela com que barrou a manteiga na torrada – com displicência para o lava-loiça. Depois é trancar o rosto, aumentar o volume nos auscultadores e fulminar todos os olhares que se cruzarem consigo durante o trajecto até ao trabalho. “Bang, não se metam comigo hoje”, regras do hip-hop que convém cumprir. “THat Part”, tirado de Blank Face LP (2016, Top Dawg/Interscope) torna-nos praticamente intocáveis, pelo menos até o patrão nos dizer os objetivos para o dia.   Kings of Leon – “Red Morning Light”  Calma, não precisa de sair desta página só porque leu Kings of Leon. É que antes de a coisa virar lamechice barata era quase country, uma inocência e destreza rock equivalente a uma palete de bebidas energéticas. Neste caso, talvez não seja terrível beber café apenas na rua. “Red Morning Light” – editado pela RCA em 2003, em primeiro lugar no EP What

Publicidade
  • Música

Numa passagem de A peste, de Albert Camus, uma personagem interroga-se sobre o “que fazer para não perder tempo” e conclui que a resposta é “senti-lo em toda a sua extensão”. Para isso, deverão “passar-se os dias na sala de espera de um dentista, numa cadeira desconfortável; viver as tardes de domingo à varanda; assistir a conferências numa língua que não se conhece; escolher os itinerários de caminho de ferro mais longos e menos cómodos e viajar de pé, claro; fazer fila nas bilheteiras dos espectáculos e não tomar a sua vez”. Nos anos 90 do século passado, houve quem transpusesse para música este conceito e nos desse a sentir o tempo em toda a sua extensão, em canções arrastadas e narcolépticas, cujas letras, muito adequadamente, se focam na marcha do tempo, nos desgastes que causa e na memória como derradeiro reduto onde é possível subsistir quando a corrente imparável do tempo leva consigo, destrói ou erode tudo o que é precioso. Houve quem propusesse arrumar estas bandas – predominantemente norte-americanas – sob a designação genérica de “slowcore” ou “sadcore” (por oposição à hiper-actividade do “hardcore”), mas os rótulos são apenas uma conveniência.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade