Orfeo ed Euridice, de Gluck
Estreia: 1762, Viena
Música: Christoph Willibald von Gluck (1714-1787)
Libreto: Ranieri de’ Calzabigi
É vista como a primeira ópera do Classicismo e nela Gluck tentou operar uma “reforma” na opera seria que dominou o período barroco e que ele via como prejudicada por enredos inverosímeis e retorcidos e por música sobrecarregada de ornamentações, ao serviço da exibição gratuita de virtuosismo vocal. Curiosamente, Gluck escolheu iniciar esta reforma no sentido da “nobre simplicidade” com o mito de Orfeu e Eurídice, o mesmo que serviu de base ao nascimento da ópera no dealbar do século XVII, com a Euridice de Peri (1600), a Euridice de Caccini (1600), L’Orfeo de Monteverdi (1607) ou La Morte d’Orfeo de Landi (1619).
A história é bem conhecida: Orfeu, cujo canto e lira exercem um sortilégio sobre todas as criaturas, a ponto de amansar as feras, desfruta da felicidade de partilhar os seus dias com a ninfa Eurídice. Porém, o idílio é de curta duração, pois Eurídice é mordida por uma serpente e morre. Inconformado, Orfeu desce ao Inferno para resgatar a sua amada e consegue, com a sua música e as suas súplicas, convencer os poderes do submundo a libertar Eurídice. Estes impõem apenas uma condição: que Orfeo não dirija a palavra a Eurídice nem volte a fitar o seu rosto enquanto não chegar à superfície. Eurídice, incapaz de compreender esta atitude assedia-o durante a lenta ascensão com perguntas e recriminações, o leva Orfeu, num acto irreflectido, a voltar-se para ela - e Eurídice é de imediato levada para as profundezas. O libreto introduz um final feliz completamente alheio ao mito original: Orfeu, desesperado, considera suicidar-se, mas, no último instante, Cupido intervém e entrega-lhe Eurídice.
Gluck preparou uma versão revista, cantada em francês, estreada em Paris em 1774, com o título Orphée et Eurydice.
