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A lista de 50 melhores restaurante do mundo da Monocle coloca o Antónia Petiscos, no Bairro Alto, na 30ª posição. Fomos perceber porquê.
Os Monocle Restaurant Awards elegem, há quatro anos, os 50 melhores restaurantes ditos de bairro, num afastamento propositado das estrelas Michelin e da comida em pequenas doses. Este ano, foram anunciados em Maio, numa nova edição da revista, a primeira The Monocle Drinking & Dining Directory, e com a alma de sempre: uma escolha de restaurantes onde “os nossos editores comeram bem (ou provaram óptimos cocktails) e foram bem recebidos”, lê-se. A lista traz duas notícias para Lisboa. Em terceiro lugar dos melhores do mundo, está o Bistro 100 Maneiras (parabéns) e em 30º o Antónia Petiscos, no Bairro Alto.
Agora pergunta-se o leitor, até habitualmente conhecedor dos restaurantes na cidade: “o que é o Antónia Petiscos?” De acordo com a revista, é um “sítio agradavelmente caseiro”, no meio de um Bairro Alto “cheio de turistas”.
O restaurante fica no número 49 na Rua do Norte. O Facebook, onde soma o valor de 4,8 (em cinco estrelas), tem o último post publicado a 9 de Maio de 2017, e nem disponibiliza o número de telefone; no TripAdvisor está em 960º lugar dos 4038 restaurantes de Lisboa, com 4 estrelas (em cinco); a Time Out, confessamos, nunca lá tinha entrado.
Em conversa com o Maheshwor Kunwor, o nepalês que está à frente do restaurante, percebemos que houve uma mudança de donos e cozinha em Janeiro de 2018. “Comprámos o restaurante este ano”, conta, referindo-se a mais dois sócios, um deles também nepalês e responsável pela cozinha, Chudamani Adhikari, e um silent partner.
Maheshwor estudou Hospitality Management em Londres, trabalhou alguns anos em Inglaterra e em 2013 mudou-se para Lisboa. Por cá, continuou a trabalhar como empregado, até ter comprado o restaurante Rosa & Cocktail Bar, no Bairro Alto, entre outros negócios que tem. Já Chudamani também passou por Londres e esteve cinco anos na cozinha do restaurante Pharmacia, da chef Susana Felicidade.
Quando o compraram, decidiram manter toda a decoração. Mesas e cadeiras de madeira escura, utensílios de cozinha espalhados pelas paredes e doses servidas ora no típico barro português, ora em travessas de loiça branca. “Não mudámos muito a carta das comidas, mas nas bebidas mudámos muito. Temos cocktails, mocktails e bebidas antigas, como groselha e capilé – e de facto elas estão no menu, numa subsecção de “Saboures antiga”. Há outras gralhas de português, como por exemplo o “bacalhau assado posto”, um bacalhau à posta, que é também um dos pratos mais pedidos. A par do camarão com alho, dos mexilhões à Bulhão Pato – a Monocle refere os “mexilhões em vinho” como excelentes, assim como o chouriço assado e as tábuas de queijos –, e dos cogumelos à Bulhão Pato (os petiscos andam entre os 6€ e os 9,50€).
Além dos petiscos, há pratos portugueses como o polvo grelhado com batatas a murro, em fotografia na Monocle, e um bife da vazia grelhado com ovo a cavalo e presunto (neste departamento os pratos vão dos 10,50€ aos 13€). De acordo com a Monocle, “a comida é uma visão contemporânea de Portugal e pode ser melhor apreciada com muito vinho verde” – que neste momento não se encontra no menu.
Maheshwor admite que 90% dos clientes são turistas e apenas 10% portugueses. Talvez isso explique que das colunas apenas tenham saído fados de Amália Rodrigues, que haja garrafas de vinho português espalhadas pelas prateleiras e até nas mesas – algumas com a referência de “vintage” aplicada a vinhos tintos de 2004 – e que por todo o lado estejam mensagens em quadros de ardósia escritas em inglês, como “A good day is a good day” e “Money doesn’t buy happiness unless you spend it on Mojito”.
O reconhecimento do prémio da Monocle chegou sob a forma de uma carta e um diploma, agora emoldurados e à vista dos clientes. Uma distinção que foi uma surpresa para a equipa. “Não fazemos ideia de quem é que veio”
Rua do Norte, 49 (Bairro Alto). Seg-Dom 12.30-17.00/ 18.00-00.00.