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Numa viagem à Áustria, os tios de Nino Redruello, chef e quarta geração da família La Ancha (proprietária de um grupo espanhol com oito restaurantes), comeram um schnitzel inesquecível. Onde? Ui, isso era mais difícil de lembrar – e principalmente de pronunciar. Seria num restaurante chamado... Fizzmuler? Dificilmente – Nino procurou, procurou e nunca encontrou nenhum com este nome, ou remotamente parecido, nos arredores de Viena. Mas duas heranças ficaram do episódio. A primeira foi o finíssimo bife de porco panado, que o chef apurou até chegar à perfeição – e que é um sucesso tal que já tem uma marca própria em Espanha, chamada Armando. A segunda foi Fismuler, o nome do restaurante com morada em Madrid e em Barcelona que chega agora a Lisboa – e onde o enorme Escalope San Román (29€) brilha entre outros pratos de inspiração nórdica. Dá para quatro pessoas, acompanha com puré de batata e é servido com uma surpreendente cobertura de ovo cozinhado a baixa temperatura, trufa e cebolinho que é finalizada à mesa, à frente dos clientes. A carne é tão tenra, que dá para partir com uma colher.

Deixemos as memórias familiares lá atrás e olhemos para o presente: abre esta sexta-feira, dia 1 de Agosto, o primeiro Fismuler fora de terras espanholas. O convite chegou do hotel Me, by Meliá, que se inaugura no mesmo dia em Lisboa e que acolhe o restaurante dos La Ancha no rés-do-chão (apesar deste ter uma entrada independente pela Avenida Fontes Pereira de Melo, enquanto a do hotel fica na António Augusto Aguiar).
O espaço tem uma decoração industrial, uma enorme cozinha aberta, onde se vê o movimento frenético da equipa e os frascos de fermentados caseiros, um balcão central para a finalização das bebidas, uma mesa de madeira comunitária entre dezenas de outras mais pequenas com tampos de mármore, e grandes janelões por onde entra luz natural.


A carta do restaurante – que não é de tapas nem é de fine dining, fica algures no meio – não é exactamente igual à de Espanha. Não é sequer igual todos os dias: varia consoante a estação e o produto disponível (e é impressa diariamente para distribuir pelos clientes). Mais de 640 pratos já foram criados, provados, testados e vendidos no Fismuler, que abriu em 2016 em Madrid e em 2018 em Barcelona, mas apenas entre 20 e 30 chegam ao menu a cada dia.
"Praticamos uma cozinha de produto, de partilha, e aqui faz sentido ter um toque de portugalidade", diz o chef residente Nuno Diniz, que passou por restaurantes como o BAHR, do Bairro Alto Hotel, antes de começar a trabalhar com Nino Redruello e o seu braço direito Manuel Villalba. Esse toque local está à vista, por exemplo, na tortilla de bacalhau e pimentos assados (19€).

Há clássicos que raramente saem da carta dividida entre entrantes (entradas para dividir e snacks) e principais – o escalope, como é óbvio, mas também a bocata de orelha crocante com salsa brava (7€), a tarte tatin de alho francês com mortadela trufada (21€), a "paella" de lentilhas, gambas e agrião (23€), o pregado grelhado com alface roxa, vagens e algas (29€); o bife tártaro Fismuler com torrada de massa-mãe (28€); ou o robalo confitado com gazpachuelo de codium (28€). Os tamanhos enganam: há entradas generosas, que podem virar principais; e principais que podem ser divididos por quatro, cinco pessoas.
Na visita da Time Out, a poucos dias da abertura oficial, começou-se pelo couvert, com pão de massa-mãe e paté de porco e frango, com pepino e teryaki, e provaram-se ainda umas zamburinhas com emulsão de piparras (9€), o fresquíssimo lírio com aguachile e espinafres (22€) e o arroz malandro de choco, algas e caranguejo frito (29€).

A carta de vinhos é composta, maioritariamente por vinhos portugueses, de várias regiões, mas também há algumas referências de Espanha, que este casamento quer-se duradouro.
Se nos pratos nada bate o super-panado, nas sobremesas a queridinha é a tarta de queso Fismuler (8€). Feita com uma mistura de três queijos – fumado, fresco e azul – chega à mesa como se quer: gulosíssima, bem cozida por fora e líquida no interior. Há outros doces a fazer-lhe companhia: o sundae caseiro com espuma de sésamo negro e arandos (6€), a tarte fluída de chocolate (8€), ou a fotogénica espuma de coco, talharim de manga com gelado de aipo, lima e gengibre (8€). Em Espanha, estas sobremesas acompanham com café de filtro, preparado à mesa, mas os portugueses podem optar pelo mais consensual (e rápido) expresso, de um lote especial, para encerrar a refeição.
Avenida Fontes Pereira de Melo 7F (também é possível entrar pelo Hotel Me Lisboa by Meliá, Avenida António Augusto Aguiar 2). 21 838 6096. Almoço: Seg-Qui 12.30-15.00, Sex-Dom 13.00-15.00; Jantar: Dom-Qui 19.00-22.30, Sex-Sáb 19.00-23.00
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