Mercado do Bolhão
© Alex Folguera / UnsplashMercado do Bolhão

Histórias à moda do Bolhão: as muitas vidas do mais famoso mercado do Porto

Os produtos são bons, já se sabe, mas são os comerciantes de pão ou de enchidos, as peixeiras, as floristas e tantos outros, que dão fama e vida ao icónico Mercado do Bolhão.

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Nascido de um lameiro, por onde corria um regato que ali formava uma bolha de água (conta-se que é daí que vem o nome Bolhão), o mais emblemático mercado do Porto foi erguido em 1839, contando hoje mais de 180 voltas ao sol. Em 1914 ergueu-se o actual edifício, conhecido pela sua monumentalidade, própria do estilo neoclássico, e que foi recentemente remodelado, depois de quatro longos anos de espera por parte dos comerciantes que, durante esse período, foram alocados no Mercado Temporário do Bolhão. Em Setembro de 2022 regressaram à casa que os viu crescer e que manteve a traça original, respeitando o tempo e a memória. Mas se as paredes cheiram a tinta fresca e a novos acabamentos, as histórias que se contam dentro delas têm muitos anos, saltam de geração em geração, e perduram no imaginário de quem ainda se lembra de as contar…

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Histórias à moda do Bolhão: as muitas vidas do mais famoso mercado do Porto

Peixaria do Bolhão

Maria Alice, 72 anos, há 56 anos no Mercado do Bolhão

“Estou muito contente de voltar ao meu mercado. Está mais bonito, está limpo, está moderno. As pessoas podiam era comprar mais, mas as coisas estão muito caras. O dinheiro está muito caro, é verdade [diz em tom pesaroso]. As coisas estão caras, mas mais caro está o dinheiro, que é pouco. Aqui na minha banca vendo de tudo. Robalo, dourada, peixe-espada, sardinha, pescada, linguado, de tudo um bocadinho. Vendi sempre peixe, mas não comecei aqui. Tinha 12 ou 13 anos quando fui para o Padrão trabalhar com a minha falecida mãe. Estive lá um anito, nem tanto, mas depois chateei-me e vim-me embora. Trabalhei numa fábrica de botões, depois numa fábrica de bonecos e de lá fui para a Mondex, trabalhar nas confecções. Nessa altura, aqui no Bolhão, estava uma tia minha. Antigamente passava aqui o eléctrico e ela ficou com o tacão do soco trilhado na coisa do eléctrico e partiu um pé. Lembrou-se de me pedir para vir para aqui para o Bolhão e desde então aqui fiquei. Até hoje. Gosto muito, filha. Tenho os meus clientes habituais – quando vão bem servidos não trocam – e que às vezes ficam um bocado chateados comigo porque eu digo muitas asneiras [e larga uma sonora gargalhada]. Já apareci numa novela e o Anthony Bourdain também esteve aqui comigo, quis conhecer-me, a mim e à minha irmã, e até pediu para tirar uma fotografia connosco com o telemóvel dele”.   

Padaria Madalena

Amélia Babo, 69 anos, há 40 anos no Mercado do Bolhão

“A minha mãe, que se chamava Madalena, teve esta lojinha durante 60 anos. Ficou velhinha e fiquei eu a substituí-la. Vendo tudo o que seja panificação, desde os biscoitos à broa, aos pães e à regueifa. Alguns vêm de Valongo, outros de Paços de Brandão, outros de uma padaria aqui do Porto, a Padaria Oriental. Tenho vários fornecedores com várias qualidades de pão. Mas o que vendo mais é natas, mandei vir 200 e já só tenho aquelas [apontando para a meia dúzia que sobra na vitrina]. É uma vida. Estou aqui há muitos anos. Qualquer dia reformo-me e vou para casa [risos]. Mas enquanto Deus me deixar, tiver saudinha e me sentir com forças para ir atendendo os meus clientes, cá estarei. Gostei muito desta obra. Olhe menina, aqui apanho ar, apanho vento, apanho chuva. Estou aqui dura como o aço. Lá dentro [referindo-se ao Mercado Temporário do Bolhão] estava sempre com a falta de ar. Era mais abafado e não entrava uma parte do [dinheiro] que entrava aqui. Fui e vim e voltei a encontrar os meus clientes. Neste velhinho mercado fizeram-se fortunas. A minha mãe e outras fizeram grandes impérios, mas também não havia nada destas lojas abertas a vender pães quentes, como os Continentes e... como é que se chama aquele espanhol? O Mercadona. Há 30 ou 40 anos havia isto tudo aberto? Não, atão... Agora até os cafés podem vender pão. Ó mor, isto está uma trenguice, é o que é.” E, virando-se para atender um cliente de avançada idade, solta um “olá, meu querido”, sugerindo que este leve um pão molinho por causa da sua dentadura.

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Florista Rosa Maria

Rosa Maria, 55 anos, há 47 anos no Mercado do Bolhão

“Vim para cá com sete aninhos com a minha avó, com a giga à cabeça [uma espécie de canastra], às duas e meia, três horas da manhã. Co’a giga cheia de flores, verdes e essas coisas todas. Eu adorava vir para aqui. Fugia da escola, dizia que não tinha aulas, para vir para aqui com a minha avó. Vínhamos muito cedo, porque antigamente o grosso do negócio era feito lá fora, na revenda, e como a minha avó tinha o campo dela, a gente vendia muito lá fora. Depois, quando o Bolhão abria as portas às sete horas, vinha eu com as cestas cá para dentro. Vendia muito ali à beira dos talhos, chamavam-me de A Pequenita – eu nunca fui grande, não é? Mas, efectivamente, vim para aqui com 13 anos, quando saí da escola. Estou aqui porque gosto, não fui obrigada, é onde faço a minha arte. Aprendi à minha custa, embora a minha avó, que era a Rosinha Grila, me desse umas dicas. Tinha 23 anos quando montei a minha primeira loja e passado um ano tive um filho. O meu filho é o menino do Bolhão, ele e outros mais, que foram criados aqui. Tenho de tudo na minha banca, querida. Tenho rosas, tenho gerberas, tenho gladíolos, tenho orquídeas, tenho marílias, tenho tulipas, tenho estrelícias. O que mais vendo são rosas, mas agora as pessoas têm pedido muito o ramo campestre. Aqui estou na minha casa. As pessoas que gostam do Bolhão antigo têm a mania de dizer que isto agora é para turista e eu meto-me com eles: Ó Sandra, para o turismo porquê, se eu vendo mais depressa para nós do que para o turista?”

Salsicharia Luísa

Maria Luísa, 63 anos, há 53 anos no Mercado do Bolhão

“Tinha dez anos quando vim para aqui trabalhar com a minha avó. Gostei e fiquei. Vendo carne de porco, tripas enfarinhadas, morcelas e enchidos. Mas a tripa é tradição da casa. Há sempre muita gente à minha procura derivada das tripas enfarinhadas. Podem não vir comprar nada ao Bolhão, mas as tripas vêm cá buscar. Se tenho segredo? É o carinho, é o amor, e é tudo feito pela minha mão, e isso conta muito. Não há nada de fábrica aqui e só trabalho com carne nacional seleccionada, por exemplo, e com fêmeas, porque a carne é mais saborosa e não corre o risco de cheirar mal como nos machos. Quanto ao mercado antigo, estava muito degradado e vinha muito pouca gente porque as pessoas tinham medo de cá entrar. Estava muito velho, muito escuro, muito degradado, muito mau mesmo, ainda bem que o presidente se lembrou de fazer isto porque senão, mais um ano ou dois, ia tudo abaixo. Agora, com o novo mercado restaurado, os primeiros dias, depois de quatro anos fechados, foi uma invasão. Andava tudo doido, estava tudo maluco. Vinha tudo atrás das tripas, eu não chegava a meia-missa. Quanto mais fazia, mais vendia, foi uma loucura. Mas agora andam muitos turistas por aí e compram para comer. Nós fazemos uns pratinhos para acompanhar umas copadas, porque há vinho a copo à venda por aí, e uma coisa ajuda a outra. E vamos vivendo. Há coisas que a gente gosta, outras que a gente não gosta. Deus que é Deus não agradou a todos e a gente nunca está bem com a vida que tem [risos]”. 

Mais onde fazer compras no Porto

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  • Mercearias

Adora os chocolates e os refrigerantes americanos? A paçoca e o pão de queijo brasileiros? Não passa sem os temperos asiáticos e quer provar todos os enchidos típicos da Europa de Leste? Não se preocupe porque nós estamos aqui para ajudar. Com esta lista das melhores mercearias e supermercados do mundo no Porto, metade do trabalho está feito. Agora, só precisa de sair de casa para encher a despensa como se tivesse acabado de chegar de viagem. Depois, convide os amigos e preparare um jantar como deve ser e com selo internacional.

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  • Mercearias finas

Queijos, azeites, compotas, charcutaria, bacalhau, frutos secos e conservas. Biológicos, lá da terra, gourmet ou que foram produzidos do outro lado do mundo. Fizemos-lhe uma lista com as melhores mercearias no Porto que lhe vendem tudo isto e muito mais. É que apoiar o comércio local nunca foi tão importante. Se ainda precisar de fazer mais compras, ligue para uma das peixarias que fazem entrega ao domicílio ou explore uma loja para comprar chá online. Quando tiver tudo em casa, aproveite para experimentar uma receita nova. Boas compras. 

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Num Porto cada vez mais virado para o turismo, em que vários estabelecimentos antigos fecham para dar lugar a hostels, apartamentos turísticos ou negócios turista-friendly, é preciso não esquecer quem cá esteve sempre a fazer a diferença, ao longo dos anos. Estas são apenas 10 das lojas históricas no Porto que tem mesmo de conhecer. Por dentro e por fora. Há espaços especialistas em livros, sementes, enchidos e queijos, tecidos ou até escovas de pêlo de porco. Muitas destas integram o programa municipal Porto de Tradição. Mas não fique por aqui, aproveite a boleia e vá conhecer outras porque há muitas lojas históricas na cidade que merecem uma visita. 

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OH VAI-ME À LOJA! Atenção: ninguém o quer insultar, apenas sugerir que conheça a fundo as melhores lojas no Porto. É que numa cidade como esta, tão ecléctica, há lojas para todos os gostos, idades e carteiras. Há espaços onde pode recordar algumas das marcas mais históricas da cidade, como também há outras mais modernas com peças de artistas conhecidos da nossa praça. Por aqui vai encontrar desde decoração para a casa, vestuário (vintage ou não), calçado, joalharia, e até sabonetes. E como a vida precisa de banda sonora, também há lojas para aqueles fãs de música que acham que o som do vinil é o mais incrível. 

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