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Necrolojia: as lojas tradicionais que fecharam e deixam saudades

Necrolojia não é um erro ortográfico, mas o nome da rubrica que dá conta das lojas que vão parar ao cemitério lojístico.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
e
Luís Leal Miranda
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Nem todos os estabelecimentos históricos têm um final feliz, como foi o caso do restaurante Antiga Casa Faz Frio. Apesar de ter encerrado em 2017, regressou um ano depois de cara lavada e com a história intacta. Felizmente não entrou para a necrologia das lojas históricas, perdão, necrolojia. Uma lista um tanto ou quanto tristonha que fazemos, com algum sacrifício, sobre as lojas de Lisboa que fecharam para todo o sempre. De coração pesado, lavramos o epitáfio das baixas registadas nas fileiras do comércio histórico da cidade. Eis uma pequena amostra.

Recomendado: Lojas históricas em Lisboa: velhas, mas boas

1. Tabacaria Glória (1914-2016)

Saudosa amiga da Rua do Ouro, sempre lá para todos os amigos do noticiário e da revistaria. Com 102 anos, permaneceu sempre na mesma família e passou pelas mãos de três gerações. Apesar dos cigarros e charutos serem outra das especialidades, não foi o fumo que a levou. Que descanse em paz.

Drogaria Pereira Leão (1922-2016)

2. Drogaria Pereira Leão (1922-2016)

Revelou-se, até ao último suspiro, uma ilustre benemérita da Rua da Prata. Não quis levar nada com ela e, a dias do fim, vendeu dezenas de artigos ao desbarato. Na memória lisboeta ficarão para sempre os seus tempos áureos. Até 1980, a Pereira Leão produziu as suas próprias drogas na cave. Será para sempre recordada.

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3. Restaurante Pessoa (1852-2016)

Vizinho da também já desaparecida Adega dos Lombinhos, este restaurante foi, outrora, poiso habitual do poeta em pessoa. Mais do que qualquer iguaria da casa, é da presença do Sr. Bernardo, anfitrião do restaurante, que a Rua dos Douradores mais falta vai sentir. A todos os amigos da casa, os nossos pêsames.

Pirata (1921-2017)

4. Pirata (1921-2017)

Foi a primeira vítima de 2017 e apanhou a cidade de surpresa. O bar/tasca nos Restauradores fechou de repente, como se nos tirassem um chupa-chupa a meio de uma lambidela. Para o panteão das lojas históricas levou as receitas das especialidades alcoólicas da casa: o Pirata e o Perna de Pau.

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Casa Alves (1957-2016)

5. Casa Alves (1957-2016)

Jaz em Alfama uma das mercearias mais queridas de Lisboa. Um bem-haja a Catarina Portas pelas manobras de reanimação, mas a corrida aos hotéis e apartamentos turísticos não dá tréguas. Aos fregueses, as nossas condolências, agora que ir à rua comprar um pacote de leite é uma tarefa um pouco mais triste.

Video Teste (1980-2016)

6. Video Teste (1980-2016)

Estava longe de ser uma loja centenária, mas sempre que fecha um videoclube, morre um nerd dos anos 80. A eles, as nossas condolências. Este videoclube que ficava a dois passos da Praça do Chile, chegou a contar com mais de 600 sócios (dois deles desta redacção) e não resistiu à concorrência dos serviços on demand e à pirataria.

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Tavares (1793-2016)

7. Tavares (1793-2016)

Faleceu com 223 anos esta loja especializada na venda de panos a metro, linhos, atoalhados de mesa e bordados. Em vida trabalhou mais de 200 peças diferentes. Das lojas que fazem jus ao nome da Rua dos Fanqueiros (negociantes de fazendas de lã ou algodão), sobra a Tavares & Tavares.

8. Livraria Rodrigues (1863-2017)

Já não há nada a fazer. A segunda livraria mais antiga de Lisboa já tem as janelas forradas a papel, depois de, num último fôlego, ter feito uma tentativa de recurso ao serviço de petições. No início deste mês chegou a notícia do encerramento daquela que foi a primeira sede do modernismo em Portugal, onde funcionou a redacção da Orpheu.

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9. Ourivesaria Barreto e Gonçalves (1920-2018)

Não viveu para festejar o centenário, a ourivesaria das portas vermelhas na agitada Rua das Portas de Santo Antão. Quando abriu, em 1920, a Ourivesaria Barreto e Gonçalves especializava-se em trabalhos cinzelados: “águias de modelos exclusivos da casa, alfinetes de peito D. João V e pratas artísticas”. Foi ainda, durante muito tempo, uma casa especializada em pedras preciosas e na reparação de peças antigas.

Pastelaria Suíça (1922-2018)
DR

10. Pastelaria Suíça (1922-2018)

Talvez o mais sonante de todos os encerramentos de 2018. Fecha um ícone do Rossio e um símbolo da cidade. O fim da Suíça só é menos dramático porque nos últimos anos a qualidade do serviço diminuiu bastante e a pastelaria era preferida, sobretudo, por turistas e pombos. Durante décadas a Suíça foi o sítio “para ver e ser visto” da cidade, mas não resistiu às mudanças e extingue-se sem glória.

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11. Livraria Aillaud & Lellos (1931-2018)

A fachada com livros esculpidos e o interior art déco valiam, por si só, uma visita. Mas esta livraria que resultou da fusão de duas famílias de livreiros (isso mesmo, os Lellos são os da livraria Lello, no Porto) não resistiu aos ares do tempo e fechou as portas. É mais um nome para juntar à lista das livrarias extintas da Baixa, onde já estão a Portugália (2012), a Barateira (2012) e a Livraria do Diário de Notícias (2013).

12. Camisaria Pitta (1887-2018)

Era a camisaria mais antiga da Península Ibérica e uma das lojas mais bonitas da Rua Augusta. A Camisaria Pitta começou a fazer roupa à medida para os lisboetas em 1887 e terminou este Verão. Pelo meio vestiu reis, duques, condes, embaixadores e diplomatas. E ainda fez uma “presença” no filme O Costa do Castelo, de 1943, quando António Silva elogia a roupa de outro personagem com a frase: “Isso são camisas de qualidade, são Pitta”.

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13. Casa Frazão (1933-2018)

Fundada em 1933 por Manuel Alves Frazão, esta loja de tecidos foi uma referência para costureiras, alfaiates, modistas, estilistas e designers de moda – várias palavras que querem, essencialmente, designar pessoas que fazem roupa. Mas a Casa Frazão também era uma referência na altura do Carnaval, quando várias pessoas menos hábeis nas artes do corte e costura se juntavam ali para comprar uns trapos que transformariam em disfarce. Encerra por decisão dos sócios, que não se querem expor a um aumento de renda.

Biarritz (1962-2018)
Fotografia: Ana Luzia

14. Biarritz (1962-2018)

A pastelaria histórica de Alvalade fechou para férias em 2017 e nunca mais abriu. “Ricas férias”, pensaram alguns. “Já não volta a abrir”, disseram os mais desconfiados. E tinham razão. O fecho foi confirmado há menos de duas semanas, quando se soube que ali ia nascer uma cervejaria do grupo Portugália.

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15. Vendedores de Jornais Futebol Clube (1921-2018)

Em Agosto chegou ao fim a história de um clube com um passado curioso. O Vendedores de Jornais Futebol Clube foi isso mesmo, um lugar dedicado aos ardinas da cidade e ao desporto-rei. Mas a história desta associação da Rua das Trinas faz-se das vitórias nas Marchas de Lisboa – três vezes consecutivas – e pelo facto de ter tido como presidente o almirante Gago Coutinho. Esse mesmo, o aviador da travessia marítima.

Aníbal Gravador (1929-2018)
Fotografia: Manuel Manso

16. Aníbal Gravador (1929-2018)

Tempos houve em que a Baixa de Lisboa era um ninho de gravadores: a Casa do Carimbo, o Franco Gravador, entre muitos outros, enchiam pequenas montras com carimbos e sinalética. Alguns desses negócios eram belíssimos exemplares das antigas “lojas de vão de escada”, outra particularidade desta zona da cidade. O Aníbal Gravador era uma dessas lojas. Aqui podia mandar fazer carimbos, cartões de visita, placas comemorativas ou selos brancos. Está a precisar de mandar fazer um anel de brasão para si e para a sua família? Já vai tarde. Era no Aníbal Gravador que se tratava dessa heráldica de enfiar no dedo.

As melhores lojas de Lisboa

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Com cada vez mais marcas de jóias portuguesas em Lisboa, não há desculpas para não brilhar, quer em ocasiões especiais, quer para animar os dias cinzentos. Nesta lista, apresentamos as melhores lojas e ateliês para comprar jóias em Lisboa. Mas o melhor é mesmo não ser preciso endividar-se para levar uma peça para casa: há espaço para jóias acessíveis, sem descurar o design, mais orgânico ou mais geométrico, e para investimentos de uma vida. Brincos, pulseiras, colares, de todas as formas e feitios, em materiais nobres, mas não só. Tome nota da nossa selecção.

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Encontrar aquela peça que a mãe deitou fora nos anos 80 ou 90 pode ser difícil e só quem o conseguiu sabe exactamente a sensação. O cheiro, o toque, a torrente nostálgica que nos invade quando, no meio de prateleiras, cabides, arcas e baús, voltamos atrás no tempo. O truque é saber onde e o que procurar – e as opções são vastas. Roupa, mobiliário, raridades, discos, a lista do revivalismo adensa-se. Fique a conhecer as melhores lojas vintage em Lisboa. Vai ver que não cheiram a naftalina, cheiram a boas e velhas histórias.

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Pouco terá de se preocupar com colinas, é a vantagem de andar às compras na Baixa lisboetatudo plano para não se cansar (para isso já basta o peso dos sacos). Por entre armadilhas para turistas recheadinhas de souvenirs e restaurantes com relações públicas gastronómicos à porta, a Baixa está cheia de lojas tradicionais que ainda sobrevivem (algumas delas com estatuto de Loja com História) e que se misturam com outras representativas de grandes cadeias ou até mesmo marcas portuguesas. Do vinho aos produtos para o lar, passando pelo calçado ou roupa, veja este roteiro como um guia das melhores lojas da Baixa.

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