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Compras, Loja, Moda, Hibu
©Ricardo LopesHibu

Vamos às compras: um roteiro da moda portuguesa em Lisboa

Das peças de autor ao streetwear e ao resgate dos velhos labores, sem nunca perder de vista a sustentabilidade – marcas e designers atestam a vitalidade da moda portuguesa.

Mauro Gonçalves
Escrito por
Mauro Gonçalves
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Nem só de marcas internacionais é feito o roteiro de compras em Lisboa. Pequenas lojas e ateliers à distância de um lance de escadas são algumas das paragens obrigatórias para quem procura aquela peça especial e, ao mesmo tempo, faz questão de comprar português. Visitámos alguns destes espaços e conversámos com os seus protagonistas — são designers e empreendedores, com provas dadas, quer em criatividade, quer na vontade de resgatar velhos labores portugueses, construir uma linguagem própria e até propor novos códigos de vestuário. São cinco lojas e ateliers, cinco histórias que se contam na cidade de Lisboa.

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Vamos às compras

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Uma casa para o minimalismo português

Ainda expressões como slow fashion ou sustentabilidade não tinham entrado no léxico do dia-a-dia, já Sérgio Gameiro e Filipe Cardigos ensaiavam a melhor forma de trazer os conceitos para dentro do guarda-roupa masculino. Prestes a completar 12 anos, a Wetheknot abriu a primeira loja própria (depois de um espaço partilhado no Bairro Alto), a dois passos do coração de Alfama. Minimal e a fazer realçar as cores e linhas das colecções, entramos num espaço pensado à imagem e semelhança da marca e damos de caras com os próprios designers.

“Faz toda a diferença estarmos aqui. Ganhamos uma proximidade totalmente diferente com os clientes porque conhecemos bem os materiais e conseguimos falar sobre como prolongar a vida das peças, até porque muitas pessoas ainda não estão despertas para isso”, comenta Filipe. Os materiais são a praia desta dupla, com o algodão orgânico no topo da lista e a pele sintética de que são feitas as mochilas, bolsas e carteiras logo a seguir. Mas há mais – os calções lançados em 2010, pensados para ir a banhos, continuam a ser feitos a partir de velhos guarda-chuvas estragados.

Para os dois criativos, os dias são divididos entre a loja e o atelier (localizado num outro bairro típico lisboeta, a Mouraria), onde uma nova colecção ameaça revelar um lado mais exuberante da marca portuguesa. A par de novos acessórios, mas também das novas peças adicionadas à colecção permanente de básicos, abre-se a porta a fibras recicladas e às primeiras roupas feitas em cânhamo. O lançamento está marcado para Abril.

Até lá, a escala de cores mantém a cadência perfeita nos expositores da loja. Aqui, entram sobretudo clientes ocasionais, turistas na sua maioria. Os portugueses, como explicam, preferem a loja online à medida que vão conhecendo o cair destas peças de design limpo e utilitário. São quase todas feitas em Lisboa, pelas mãos de Manuela e Sohil, os costureiros de serviço, deixando apenas uma pequena parte da produção a cargo de uma confecção industrial. Embora contem já com uma equipa de cinco pessoas, continua a caber aos dois fundadores gerir a Wetheknot, do design à venda ao público.

De porta aberta desde Novembro, a loja tem ainda despertado a curiosidade dos vizinhos. A montra destaca-se no bairro e pode ser a primeira de uma nova vaga de negócios. “Com o boom do turismo, o tecido do comércio alterou-se e muitas lojas tradicionais acabaram por fechar as portas. Acho que a nossa, com um estilo mais contemporâneo, pode recuperar essa proximidade”, conclui Filipe.

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As meninas da moda

É preciso recuar até à Primavera de 2016, altura em que a Les Filles nasceu como loja exclusivamente online. Desde o primeiro dia que a curadoria é repartida entre duas amigas de longa data. Joana Bernardo e Maria João Fialho estudaram moda, mas canalizaram todo o conhecimento na área, não para desenvolver uma marca própria, mas para reunir, debaixo do mesmo tecto, um sortido de marcas e peças orientado pelo seu próprio gosto.

O projecto acabou por se materializar numa loja física, onde peças de streetwear, projectos independentes e criativos em nome próprio surgem embrulhadas num ambiente cor-de-rosa, a fazer lembrar uma banca de doces. O equilíbrio entre etiquetas nacionais e estrangeiras mantém-se até hoje, embora a moda portuguesa esteja a ganhar cada vez mais expressão. “As marcas portuguesas amadureceram bastante desde que saímos da faculdade e isso nota-se. Apesar de continuarem a faltar os apoios, aparecem hoje propostas muito mais consistentes. O talento sempre esteve cá, mas agora vemos melhorias na qualidade das peças, da modelagem, dos acabamentos”, resume Maria João.

A dois passos da Avenida da Liberdade, a pequena loja cor-de-rosa conquistou um lugar próprio no roteiro de compras de Lisboa. Aqui, é possível encontrar peças de designers e marcas portuguesas, projectos sem ponto de venda físico que acabam por ter aqui uma possibilidade de representação. Alexandra Moura, João Magalhães, Hibu e Unflower são, por estes dias, as estrelas da companhia. “Há sempre aquela ideia um pouco intimidante de ir ao atelier do designer. Aqui, temos a experiência de ser um ponto de venda onde as pessoas se sentem mais à vontade e, por outro lado, como temos uma relação próxima com os criadores, temos facilidade em pedir peças, por exemplo”, completa Joana.

À loja, começam agora a regressar os habituais turistas. Fogem às grandes marcas de luxo da Avenida e procuram moda de autores locais, em alguns casos quase em jeito de souvenir. No site, a conversa é outra, com os Estados Unidos a dominar as encomendas. Mais uma vez, é na curadoria – propondo diferentes silhuetas e diversificando os preços – que parece estar o segredo deste negócio. “É o nosso gosto, além de tentarmos sempre ter uma selecção menos sazonal. A Les Filles não é uma loja de fast fashion e também não é uma loja de tendências”, resume Maria João.

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Da Madeira, com amor

Para Mariana Sousa, moda e artesanato sempre fizeram sentido juntos. Já lá vão quase oito anos, desde que terminou o curso de Design de Moda e Têxtil em Castelo Branco. Na altura, não pensou duas vezes e rumou de volta à terra natal, o Funchal. Foi lá que criou a Sous, uma marca de peças únicas, que tira partido de técnicas e bordados, herança de uma ilha, mas também da própria família da designer. “Todos gostamos de nos sentir especiais. No meu caso, essa sensação está muito ligada à minha infância. Era a minha mãe que me fazia as roupas praticamente todas, então lembro-me de ir para a escola com a noção de que mais ninguém ia ter igual. Sentia-me especial”, conta.

Por estes dias, a designer está a centenas de quilómetros. É a partir do Rio de Janeiro que recorda os primeiros passos de uma marca que se quer lenta e pautada pela exclusividade. Mais uma vez, as raízes vêm à baila. “Cresci no meio das minhas tias que, tal como a minha mãe, são costureiras e sempre tiveram os seus negócios”, continua. Entre artesãs e vários pares de mãos prendadas, as referências locais foram sendo incorporadas em peças de design contemporâneo. Tricot, crochet, missangas aplicadas e, claro, bordado da Madeira enaltecem tradição e feminilidade em cada desenho.

Tosco e sofisticado encontram-se a meio caminho. No atelier, seis mulheres dão forma a peças únicas, uma equipa que inclui a mãe e a avó da designer, que continua a bordar, mesmo quando o resultado final segue o gosto das novas gerações. Entre elas, está também uma artesã cuja especialidade é trabalhar o linho, da colheita até à concretização das peças. Aos 32 anos, Mariana tem planos ambiciosos para a marca, mas sem pressa. No Brasil, a jovem empreendedora apalpa o terreno para uma eventual travessia do Atlântico e, quem sabe, até para vir a produzir localmente. Depois de fechar a loja no Funchal, trouxe as suas criações para Lisboa, mais precisamente para a House of Curated, um espaço multimarca, onde etiquetas portuguesas e estrangeiras convivem debaixo do mesmo tecto. O futuro vai continuar a ser feito de pequenas colecções cápsula, desenhadas à imagem e semelhança de clientes de diferentes latitudes. Isto porque a “Sous é uma marca do mundo”.

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No novo bairro de Nuno Gama

Nunca é tarde para mudar de casa e este veterano da moda nacional sabe-o melhor do que ninguém. Habituado aos ares do Príncipe Real e do Chiado, onde foi pousando durante os últimos dez anos, assentou arraiais em frente ao Jardim Cesário Verde. “Ao fim do dia, temos sempre um concerto de passarinhos a cantar aqui em frente. A sensação é de que a cidade ficou lá longe”, descreve.

A nova loja de Nuno Gama, inaugurada no Verão passado, não é só pacata e ensolarada – também é grande e ampla e impressiona pelo pé direito. Na Estefânia, pode não partilhar da centralidade das antecessoras, mas quem procura as criações do designer está disposto a descobrir (ou redescobrir) o novo velho bairro. São mais de 350 metros quadrados, cobertos por um chão de terrazzo original. As colunas, ao estilo industrial, ditam a organização do espaço: as colecções de pronto a vestir, uma zona para atendimento personalizado e serviço de alfaiataria e ainda um recanto dedicado a peças de estações passadas a preço de saldo. Para não falar no pequeno pátio, apreciado sobretudo por Tejo e Sado, os dois cães enérgicos que vêm trabalhar nos dias sem escola.

“Precisava de um espaço maior e também comecei a questionar até que ponto fazia sentido estar tão no centro. Os clientes vêm ter connosco na mesma”, resume. Nuno não tem dúvidas: trata-se de uma nova fase da marca homónima, criada há mais de três décadas.

O momento é de plenitude para Nuno Gama. “Estou feliz por ter chegado até aqui. Houve momentos em que me senti a atravessar o deserto”. Sem a vertente performática que caracteriza os seus desfiles, a próxima apresentação seguirá um formato bem mais convencional. O mesmo não se poderá dizer do momento que está a ser preparado para a edição de Outubro. Ideias não lhe faltam, mas esta já está mais do que fechada.

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  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

À espera de levantar voo

Sobre criar raízes numa cidade como Lisboa e, ainda assim, estar pronta a levantar voo e aterrar em qualquer capital europeia, a Hibu tem uma palavra a dizer. A marca de Marta Gonçalves tem uma nova casa, um estúdio e showroom instalado a meia dúzia de passos do Marquês de Pombal. De acabamentos nobres e bem iluminado, foi inaugurado em ambiente de festa, com amigos e convidados. Uma comunidade reunida em torno de um streetwear minimal e sem género, mas que vai muito além da roupa.

“Continuo a achar que o meu principal objectivo é envolver as pessoas com a marca. Essencialmente, porque acredito que, cada vez mais, querem ligar-se umas às outras, ter este sentimento de comunidade. É por isso que tentamos sempre criar momentos diferentes”, explica a designer.

No estúdio, que serve também de atelier, Marta tem a ajuda preciosa de estagiários internacionais. Chegam de vários pontos da Europa e vêm para pôr as mãos na massa – planear colecções, gerir pedidos e fazer a ponte com a confecção, que fica a norte. “Gostava de começar a fazer mais modelagem aqui”, desabafa. Ao mesmo tempo que quer fomentar a experimentação, nos últimos tempos viu aumentar o interesse em torno da marca. Se é verdade que a criatividade nacional saiu valorizada destes dois anos de pandemia, também o é que a Hibu sempre viveu de uma legião de clientes portugueses fiéis. “O meu interesse é fazer roupa que as pessoas possam facilmente comprar e vestir. Ao mesmo tempo, as peças têm sempre uma identidade. Diria que estamos entre uma marca de designer e uma marca de pronto a vestir mais high end”, continua.

“Sinto que a marca está muito fechada aqui em Portugal”, remata. Neste capítulo, 2022 tem tudo para ser um ano promissor, a começar pelos planos para realizar duas lojas pop-up em Berlim e em Copenhaga, já depois de uma primeira experiência no último Verão, em Paris, ao abrigo do programa de promoção de marcas portuguesas Local Goes Global. A Hibu também chegou recentemente a Barcelona, mais precisamente à Vasquiat de Blanca Miró. Um passo importante para a internacionalização da marca, mas também uma valiosa ajuda para manter o frágil equilíbrio de uma pequena estrutura independente como esta. Para já, Marta vai continuar com os pés bem assentes na terra, porém de olhos postos no painel das partidas. Nunca sabe quando e para onde será o próximo voo.

Mais compras em português

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Estar atento à pegada ecológica e tornarmo-nos mais conscientes das nossas escolhas enquanto consumidores já se tornou habitual – comprar sustentável deixou de ser um bicho de sete cabeças e, para alguns, é já um estilo de vida. Também por isso Lisboa tem cada vez mais espaços e marcas que o promovem. Reunimos marcas sustentáveis que tem de conhecer, da cosmética ao calçado passando pelo vestuário feminino, masculino ou infantil, sem esquecer os sapatos ou até mesmo roupa de banho e decoração. São 31 projectos cujos valores éticos e ambientais fazem destacar-se.

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Dos modelos mais arrojados aos mais discretos, dos mais decotados aos fatos de banho mais tapadinhos, basta escolher aquele com que vai apanhar banhos de sol e de água salgada, ou doce se for o caso. Na dúvida escolha já mais do que um e use como desculpa o facto das tiras, recortes e folhos ficarem logo marcados na pele na primeira ida para o sol. Fizemos um roteiro pelas melhores lojas de marcas portuguesas de fatos de banho, biquínis e calções, para todos os gostos, carteiras e corpos. Haja calor, saúde e muito sol para ir desfilar para os areais.

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  • Cosmética

O que é natural é bom. E há cada vez mais marcas portuguesas de cosmética atentas ao que é natural e bom, apostando não só em produtos de beleza compostos por matéria-prima biológica, mas também produzindo e entregando-os ao cliente da forma o mais sustentável e amiga do planeta possível. Com ou sem loja física, para elas e para eles, estas marcas nacionais têm diferentes ofertas mas um elo que as liga: o de deixar uma pegada mais verde, o de tratar da beleza exterior (e também interior) sem massacrar o ambiente.

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  • Joalharia

Com cada vez mais marcas de jóias portuguesas em Lisboa, não há desculpas para não brilhar, quer em ocasiões especiais, quer para animar os dias cinzentos. Nesta lista, apresentamos as melhores lojas e ateliês para comprar jóias em Lisboa. Mas o melhor é mesmo não ser preciso endividar-se para levar uma peça para casa: há espaço para jóias acessíveis, sem descurar o design, mais orgânico ou mais geométrico, e para investimentos de uma vida. Brincos, pulseiras, colares, de todas as formas e feitios, em materiais nobres, mas não só. Tome nota da nossa selecção.

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