A Apple TV+ é um serviço de streaming jovem (nasceu no final de 2019) e de catálogo limitado, mas ao contrário do que possa parecer isso não é uma desvantagem. Em época de abundância, os espectadores encontram aqui um porto seguro, que tenta ter uma oferta mais apostada na qualidade do que na quantidade. O foco são as produções originais, que a pouco e pouco vão tornando o serviço incontornável para quem gosta de boa televisão. Há de tudo, das séries de grande orçamento (destaque para The Morning Show) às sitcoms surpreendentes (olá, Ted Lasso), da ficção científica (ponto extra por Fundação, adaptação dos livros Isaac Asimov) às séries documentais de fôlego (1971: The Year That Music Changed Everything é uma pérola para melómanos). Feitas as contas, há 20 séries da Apple TV+ que tem de ver. Ei-las.
★★★☆☆
Apenas com duas obras, a irlandesa Sally Rooney transformou-se numa coqueluche do mundo literário. A elogiadíssima série Normal People (HBO) é adaptada do seu segundo romance e Rooney participou no argumento. Marianne (Daisy Edgar-Jones) e Connell (Paul Mescal) são colegas de liceu que frequentam o último ano e começam a namorar às escondidas. Marianne pertence a uma família abastada e a mãe de Connell é mulher a dias em casa dela. Os dois jovens acabam por se separar e ir para a faculdade, aí prosseguindo um ciclo de reconciliações e separações.
Na televisão como no cinema e na literatura, os britânicos são exímios nesta modalidade de realismo ligado ao quotidiano tangível, e à representação das situações e relações da vida social, emocional e íntima das pessoas normais, com diálogos que parecem ter saltado da realidade para a boca de quem os diz. A que se junta o naturalismo das interpretações, criando um fortíssimo efeito de real e fazendo-nos identificar imediata e profundamente com personagens, acontecimentos e sentimentos. É o que acontece em Normal People, que é televisão de uma consistência, um vigor e uma verosimilhança acima da média – mas não uma obra-prima. Chamar-lhe isso é confundir esta boa norma britânica com o inédito ou o revolucionário.
