A Apple TV+ é um serviço de streaming jovem (nasceu no final de 2019) e de catálogo limitado, mas ao contrário do que possa parecer isso não é uma desvantagem. Em época de abundância, os espectadores encontram aqui um porto seguro, que tenta ter uma oferta mais apostada na qualidade do que na quantidade. O foco são as produções originais, que a pouco e pouco vão tornando o serviço incontornável para quem gosta de boa televisão. Há de tudo, das séries de grande orçamento (destaque para The Morning Show) às sitcoms surpreendentes (olá, Ted Lasso), da ficção científica (ponto extra por Fundação, adaptação dos livros Isaac Asimov) às séries documentais de fôlego (1971: The Year That Music Changed Everything é uma pérola para melómanos). Feitas as contas, há 20 séries da Apple TV+ que tem de ver. Ei-las.
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No dia 16 de Janeiro de 1969, Jan Palach, um estudante checo, imolou-se pelo fogo em Praga, em protesto contra a invasão da Checoslováquia pela URSS, seis meses antes, para acabar com a experiência liberalizadora do primeiro-ministro Alexandre Dubcek, a chamada “Primavera de Praga”. Com o seu sacrifício, Palach quis levantar os seus compatriotas contra o ocupante.
A minissérie Burning Bush (HBO) de Agnieszka Holland, rodada em 2013, abre com o trágico acto de Palach e segue para o processo posto pela mãe deste a um deputado comunista que se referiu insultuosamente ao filho em público. O caso foi aceite por uma advogada, Dagmar Buresóva, que pôs assim em risco a carreira e a sua segurança e da família.
Em três episódios dinâmicos, intensos e visualmente lúgubres, Holland filma a corajosa, penosa e infrutífera tentativa de um punhado de cidadãos de desafiar em tribunal um Estado totalitário. Parte thriller, parte drama jurídico com embrulho político, Burning Bush é tanto melhor porque a realizadora evita o maniqueísmo: um polícia destacado para o caso tem uma crise de consciência e foge com a família para a Áustria; o sócio de Buresóva rouba um precioso documento para safar a filha activista de ser expulsa da universidade. Televisão de primazia, ponto final.
